''Promises matter.

They matter more now than ever''

>Cassie

Não ouvi o Evan chegar, adormeci instantaneamente mas quando acordei tinha mais uma tigela de caldo fumegante na mesa-de-cabeceira pelo que conclui que ele devia ter chegado bem.

Fiz um esforço por me sentar e comecei a beber o caldo, uns segundos depois Evan espreitou pela porta.

—Bom dia- saudei-o.

—Bom dia- respondeu ele visivelmente envergonhado por ter sido apanhado a espreitar.

—Como correu a caça ontem à noite?- perguntei para quebrar o gelo enquanto ele se sentava ao fundo da cama.

—Normal- respondeu ele simplesmente.

—E o que é para ti normal?

—Não encontrei nenhum Silenciador pronto a matar-me- arrepiei-me- não notei nada de estranho ou diferente desde a noite passada, portanto acho que continua a ser seguro ficar aqui. E se precisasse de comida vi vários animais que podia ter morto, mas ainda temos suficiente para os próximos dias.

—Ótimo- disse apenas- E já agora Evan, à quanto tempo estou aqui?

—Há quatro dias, porquê?

—Ah, vá lá não perdi muito tempo.

—Como assim perder tempo!? É agora que me vais contar o que estavas a fazer no meio da neve quando eu te encontrei?

—Eu… bom… como sabes levei um tiro… então era-me mais difícil avançar.

—Avançar!?

—Eu estava a caminho da base Wright Paterson.

—Porquê? Não me digas que estás à espera de encontrar ajuda lá! Para além da base estar desativada os Outros não são parvos, devem de ter ocupado esse género de lugares primeiro.

—Eu sei e é por esse mesmo motivo que vou para lá. Os Outros levaram o meu irmão e eu vou buscá-lo!

—O teu irmão?...-perguntou Evan atónito, eu acenei que sim- Como sabes que eles levaram para a base de Wright Paterson?

—Porque foi o que eles disseram…

—E tu acreditas neles!?

Ok, o Evan estava a troçar de mim. Mas na verdade nunca tinha pensado no facto deles poderem estar a mentir…

—Bom, tenho de começar por algum lado, não é?

—Lamento informar-te Cassie, mas se eles levaram o teu irmão foi por algum motivo, bom para eles e mau para nós. Ele pode já nem ser o teu irmão, a pessoa que tu conhecias. Ele pode até já estar morto.

Lancei-lhe um olhar feroz. Acho que ele entendeu porque meio que mudou de conversa.

—Como é que eles o levaram?

—Nós estávamos num abrigo em conjunto com outras pessoas depois da terceira vaga quando certo dia apareceram militares com autocarros escolares, eles disseram que só podiam levar as crianças que eram a sua prioridade e mais tarde voltariam para levarem os restantes.

—Autocarros escolares?- Evan encarou-me com uma expressão divertida.

—Sim, eu sei que parece estranho mas o que estou a dizer é verdade- disse sorrindo.

—Ok, eu acredito em ti.- disse soltando uma gargalhada- Já estou a imaginar, no meio de uma invasão extraterrestre a situação mais banal de todas, crianças em autocarros escolares.

Ri-me também um pouco com ele. Se bem que o assunto era sério. Depois dos acontecimentos dos últimos meses nunca pensei que coisas tão normais como rir pudessem voltar a ser possíveis.

Só neste momento reparei em Evan. No seu sorriso torto, nos seus olhos verdes e em como ele ficava sexy com aquela camisola justa que realçava o seu corpo musculado. Como é que eu só agora reparei que fui salva por um rapaz extremamente sexy!?

—Cassie?- chamou ele dispersando os meus pensamentos.

—Ah, desculpa. O que é que estavas a dizer?

—Eu estava a perguntar-te como é que sabes que os militares não são humanos.

—Ah, isso. Bom eu estava para ir no autocarro com o meu irmão mas voltei atrás porque ele tinha-se esquecido do seu urso…

—Bem me parecia que eras grande demais para andar com um urso atrás- interrompeu-me Evan lançando-me mais um sorriso e ensonpando-me no seu charme.

—Sim… mas como eu ia a dizer quando eu voltei dos dormitórios com o urso os autocarros tinham acabado de sair e os adultos encontravam-se no barracão que usávamos como cozinha e refeitório, eu estava para ir ter com o meu pai que estava lá mas parecia estar toda a gente a começar a discutir então deixei-me ficar cá fora até que de repente os militares começaram a disparar sobre toda a gente ,eu…- fiz uma pausa quando uma lágrima correu pelo meu rosto- eu só tive tempo de dar meia volta e sair dali antes… antes que me matassem também. Eles mataram o meu pai e eu sou a única esperança que resta ao meu irmão. Eu fiz-lhe uma promessa. Eu tenho de salvá-lo.

—Calma, Cassie.- disse sentando-se mais próximo de mim.

As suas mãos aproximaram-se da minha cara e limparam as lágrimas que nesta altura já corriam descontroladamente pela minha cara. O seu toque era suave.

Após limpar as minhas lágrimas puxou-me para ele e abraçou-me.

—Eu vou ajudar-te- murmurou ele aos meus ouvidos- Se tu quiseres, eu vou contigo.

Afastei-o apenas o suficiente para ficarmos frente a frente e disse:

—Porquê Evan? Tu não precisas de o fazer, tu já me ajudaste tanto! Não te precisas de arriscar tanto por minha causa.

—Mais cedo ou mais tarde eu tinha de sair daqui, não posso ficar nesta quinta para sempre. Acho que a tua chegada só veio adiantar essa partida.

—Obrigada- disse apenas sorrindo.

Evan voltou a abraçar-me durante uns momentos mas depois afastou-se, com muita pena minha, e disse:

—Mas primeiro tens de tratar de ficar boa, ok?- disse-me suavemente.

Eu acenei que sim e depois ele levantou-se e saiu.

Encostei-me à cabeceira da cama e suspirei. O que tinha sido aquilo? O que significava aquele momento?

Recordei o toque dele, o abraço dele, o sorriso…

‘’Cassie, concentra-te! Pensa no teu irmão!’’, censurei-me a mim mesma.

Bom, é difícil pensar noutra coisa quando se foi salva por um rapaz incrivelmente sexy,

''Ai, Cassie, és mesmo um caso perdido!''

O Evan já só voltou para me trazer o almoço.

Desta vez sentou-se a meu lado ao contrário das últimas vezes em que se tinha sentado ao fundo da cama. Confesso que fiquei ligeiramente nervosa ao senti-lo apenas a escassos centímetros de mim.

—Farta de caldo não?-disse ele sorrindo.

Oh meu Deus, como é possível o sorriso dele ser tão sexy!?

—Mais ou menos- disse eu- Já comi pior nos últimos meses.

—Deixa, logo vou caçar e amanhã, para o jantar, tenho planeado fazer algo melhor.

—O quê?- perguntei sem conseguir esconder a minha curiosidade.

—Logo vês.

—Uma surpresa, Evan Walker!?

—Mais ou menos.- respondeu ele simplesmente, voltado a lançar-me um dos seus sorrisos.

Estivemos uns momentos calados e depois eu ganhei coragem para lhe perguntar algo que me atormentava desde que tinha chegado.

—Evan, não leves a mal a minha pergunta. – comecei encarando-o- mas quando me encontraste para além da mochila e do urso eu não tinha mais nada comigo?

—Referes-te às tuas armas?-inquiriu ele.

Merda, ele vai pensar que eu não confio nele. Mas, será que confio?

—Eu trouxe-as comigo, Cassie, tanto a Luger como a M16. Mas se as tivesse deixado aqui aposto que tinhas atirado sobre mim sem me deixar explicar.

—Sim, hum, Evan eu sei. Eu confio em ti, é só que…

—Cassie- disse agarrando na minha mão- Eu entendo, mas tu aqui não precisas delas , tu estás segura aqui. Mas se ficas mais segura eu posso trazer-te Luger.

Não tive coragem de dizer mais nada, apenas acenti.

No dia a seguir, quando acordei a minha Luger estava sobre a mesa de cabeceira.

Prontos Cassie, já te chega agora? Já confias nele?

—Bom dia Cassie- disse ele aparecendo à porta.

—Bom dia- respondi.

—Vamos ver como está essa ferida?- perguntou ele.

—Hum- disse puxando os cobertores para trás e a camisa de dormir de Val ligeiramente para trás deixado à vista a ferida.

Evan trocou-me o penso e disse que a minha ferida estava a sarar como deve ser e que em breve ficaria tudo bem. Disse mais umas quantas coisas que eu deixei de ouvir, naquele momento a minha única preocupação eram as suas mãos delicadas roçando ao de leve na minha perna.

—Cassie?

—Sim- respondi levantando a cabeça para o poder encarar.

—Está tudo bem? Estás com dores? Se quiseres posso dar-te um comprimido.

—Sim, eu estou bem e não preciso de nenhum comprimido, não me está a doer.

—Ótimo.

Evan voltou à hora de almoço com mais uma taça de caldo.

—Eu prometo que é a última- apressou-se a dizer- pelo menos por agora.

E sorriu.

Escusado será dizer que eu me derreti toda.

Estivemos a falar um pouco sobre coisas banais, sobre o que o Evan fazia ao longo do dia e como é que ele conseguia arranjar comida, etc.

Quando Evan se levantou para ir preparar o nosso jantar especial eu ganhei coragem para lhe pedir mais uma coisa.

—Evan- disse- Eu sei que a minha perna ainda não está completamente bem mas eu estou a dar em doida fechada neste quarto, posso ao menos ir, sei lá, até à sala ou qualquer coisa do género?

—Claro- respondeu ele sem hesitar para meu espanto.

Aproximou-se de mim, puxou-me para ele e agarrou-me ao colo. Eu não estava à espera daquilo e fiquei ligeiramente constrangida. Mas por outro lado, sentia-me bem nos seus braços, sentia-me segura.