''I didn't save you.

You saved me.''

>Evan
A Cassie acordou.
É estranho, passei estes últimos dias aterrorizado com medo que ela morresse. Por minha causa, porque eu disparei sobre ela. E agora que ela acordou não me sinto melhor.
Ela não confia em mim. Pensa que eu sou um Outro. Não gostou que eu a tivesse salvado, será que preferia ter morrido!? Também não gostou que eu lhe tivesse dado banho, mas eu desviei os olhos nas partes certas. Juro. E ela estava imunda. E o que me custa mais é saber que ela tem razão para não confiar em mim…
Sentia-me mal ao pensar que enquanto Cassie estava em minha casa debatendo-se por dentro sobre se devia ou não confiar em mim eu estava aqui, no meio da floresta, pronto a disparar sobre qualquer pessoa que se atravessasse à minha frente. Mas afinal não é esse o trabalho de um Silenciador?
Bem, qualquer pessoa não. Sobre a Cassie eu não tinha tido coragem de disparar. Eu devia tê-la morto tal como aos outros humanos que se tinham atravessado à minha frente. Não devia tê-la salvo após lhe ter dado um tiro.
Eu estava a trair a minha espécie. Porquê? Porque é que eu não posso ser como os outros que conseguem matar a sangue frio, que não se preocupam com os sentimentos dos humanos? Porque tenho eu de ser diferente?
Antes da chegada da nave mãe eu sentia-me estranho por ser diferente dos outros humanos, por ouvir vozes na minha cabeça que me preparavam para algo. Eu pensava que quando esse algo chegasse eu me iria sentir integrado, que ia deixar de ser diferente. Mas isso não tinha acontecido. Pelo contrário eu senti-me culpado pela morte da minha família, por ver tanta destruição e quando chegou a 4ª vaga, eu não era como os outros silenciadores. Eu não conseguia premir o gatilho assim que via um ser humano eu o observava primeiro por uns momentos antes de disparar, mas disparava.
Com a Cassie foi exatamente a mesma coisa. Quando a vi pela primeira vez na floresta encostada a uma árvore numa tenda improvisada e com uma M16 de um lado e um ursinho do outro, eu fiquei curioso. Não disparei logo, fiquei a observá-la. Parecia corajosa ali no meio da floresta sozinha. Qualquer outro humano tentaria procurar ajuda e abrigos com medo, mas ela parecia tentar afastar-se da civilização, não parecia ter medo de ficar sozinha. Inteligente da parte dela. Para além disso era bonita, tinha o cabelo loiro não muito comprido e ondulado, olhos verdes e várias sardas no nariz e nas bochechas. Não devia ter mais de 18 anos.
Com o passar do tempo ia perdendo cada vez mais a coragem de disparar. Continuava apenas a observá-la.
Mas eu tinha que me decidir. Eu tinha de fazer aquilo para que tinha sido criado. Eu tinha de silenciá-la.
Não consegui matá-la, pelo que decidi dar-lhe um tiro na perna. Quem sabe ela poderia conseguir sobreviver?
Passados uns dias encontrei-a no meio da neve, a morrer. O que fiz a seguir foi totalmente irracional, peguei nela e trouxe-a comigo.