Após o incidente, Elizabeth e Darcy se juntaram novamente.

– Prossigamos.

"No mesmo dia.

Como Jane não melhorasse, Lizzie foi obrigada a aceitar mais algum tempo de estadia na casa. Odiava ter de aguentar aquele mauricinho por perto, mas ao menos a presença da irmã, de Charles e de Isadora melhorava as perspectivas da visita.

Nutria grande amizade por Bingley. Suas atenções para com a irmã eram excelentes, nunca existiria cavalheiro tão gentil. Se Jane espirrava, logo aparecia com lenços; mimava seu paladar com um delicioso chocolate quente. Por vezes os dois se encaminhavam à cozinha para preparar o típico chá inglês.

Sabia que o rapaz não se aproveitaria de sua irmã naquele estado, mas Jane era bem crescida e seu afeto pelo irmão de Caroline aumentava a cada dia. As escapulidas dos dois só deixavam Lizzie mais encantada. Que casal maravilhoso! Não poderia querer ninguém melhor para Jane.

Por outro lado, somente este parecia notar sua presença. Caroline sempre estava pendurada em Darcy, o que enojava a menina Bennet.

Após o jantar, decidiu ir para junto de Jane e não ouviu o que os outros diriam. "

– Novamente, Caroline tentou de todas as maneiras denegri-la perante os presentes. Isadora a defendeu e saiu junto ao pai do recinto. Ao tentar me retirar, Caroline me provocou com o assunto de seus olhos - e corou nervosamente. - Mas temo dizer, Lizzie, que os achei ainda mais brilhantes e assustadoramente fantásticos naquele dia.

Desviaram o olhar e ficaram em silêncio por algum tempo. Querendo terminar logo aquele conto inacabável, Lizzie prosseguiu:

"Na mesma noite.

Muito tarde Jane dormiu. Lizzie não se separou dela até ter certeza de que estava confortável e que descansaria bem.

Ao descer, foi convidada a jogar, mas odiava apostas. Desculpou-se e afirmou que preferiria um livro.

O pai de Isadora se espantou.

– Minha querida, sei o quanto é culta. Mas preferir livros a jogos tão deliciosos como este? Não consigo compreender.

– Lizzie despreza os jogos, tio. - Elizabeth odiou-se por ouvir Caroline dizer seu nome com tamanha intimidade, mas engoliu a raiva. - Nada no mundo lhe dá mais prazer que sentir-se superior aos demais.

– Não mereço estes elogios e críticas. Muitas outras coisas me dão prazer.

– Cuidar da irmã, por exemplo - retorquiu Bingley. - E espero que em breve Jane esteja completamente recuperada.

Elizabeth agradeceu de coração e seu afeto por Charles aumentou consideravelmente.

– Sinta-se à vontade para ler todos os livros que desejar de nossa biblioteca, querida. - Disse o pai de Isadora.

A menina Bennet agradeceu a gentileza e pôs-se a escolher um volume.

– Muito me espanta a coleção pequena que possui, titio. O senhor precisa ver a de Darcy: reúne os títulos mais cultos e as edições mais sofisticadas de que se tem notícia.

– Uma coleção cultivada há gerações - respondeu Darcy.

– Em minha propriedade, quando a possuir, haverá uma vasta biblioteca. E espero que faça o mesmo, Charles.

– Acho mais fácil comprar a de Darcy a montar uma própria.

Lizzie deleitou-se com a cena e colocou-se entre os Bingley.

– Como vai Georgiana, Darcy? Já cresceu muito? - Perguntou Caroline.

– Se desenvolve muito bem, deve possuir a altura de Elizabeth.

– Me orgulho muito de conhecer menina tão habilidosa. É a primeira de sua turma, toca piano e desenha tão bem quanto o irmão.

– Que paciência! - Exclamou Bingley. - E não conheço nenhuma outra moça que não possua ao menos a metade desta descrição. Como aguentam tamanha pressão? Todas as moças, então, devem ser bem dotadas.

– Todas? Charles, o que está dizendo? - exclamou Caroline, chocada.

– Todas as moças que conheço são estudiosas, pintam e leem exaustivamente.

– O conceito é aplicado de forma exagerada. Não conheço mais de meia dúzia que mereçam este elogio - retorquiu Darcy.

Lizzie não conseguiu evitar:

– Deve esperar muito de uma mulher, eu suponho.

– Claro! Para ser considerada, deve ter lido os grandes clássicos, Maquiavel, Voltaire. Além disso, deve saber reconhecer os mestres da pintura e saber pintar. E, é claro, falar mais de uma língua, o que é obrigatório nos tempos atuais. - Intrometeu-se Caroline.

– Concordo, mas reafirmo a parte da leitura. Deve ser bem informada sobre todos os momentos da história e, essencialmente, sobre a atualidade.

Lizzie não conseguiu conceber tamanha arrogância.

– Não me admira agora que só conheça meia dúzia de mulheres prendadas. Me surpreende que conheça meia dúzia de seres humanos assim, sejam eles de qualquer gênero. Que exigência absurda! Como se os homens fossem tão dignos deste elogio.

– Concordo com Lizzie - disse Bingley, recebendo um olhar mortal da irmã. - Eu mesmo posso afirmar que não li nenhum dos autores que citaram e me considero um homem astuto e de boa influência.

Lizzie sentiu-se triunfar. Darcy ainda tentou remediar:

– Despreza tanto a humanidade a ponto de não acreditar ser possível?

– Nunca encontrei este indivíduo e, se me perdoa, não quero conhecê-lo jamais.

Tal conversa absurda cansou demais a moça. Decidiu juntar-se à irmã e abandonou o recinto."

– Ainda não acredito que pensava assim na época.

Ele riu.

– Posso assegurar que aquele Fitzwilliam é bem diferente deste.

Os dois sorriram e assinalaram a trégua.