Naquele dia, decidiram não abrir mais nenhum envelope, pois ambos estavam exaustos e, se se lembravam do que estava por vir, havia fortes emoções a caminho.

Elizabeth, deitada em sua cama, pensava em Darcy, tentava identificar o que havia entre eles e o que ela mesma sentia. Era um homem bom e honesto, Lizzie o sabia. Ele, em vários momentos do passado, agira de modo a alertá-la, a protegê-la e – como odiava admitir – estava certo em muitos aspectos. A moça, porém, não conseguia definir que sentimentos dedicava a Darcy.

Havia nascido um companheirismo entre eles durante os últimos dias! Parecia que a confiança que nunca se concretizara no passado finalmente surgira. Em contrapartida, Elizabeth sabia que não poderia perdoá-lo pelo que fizera a Jane, pois as consequências daquele ato perduravam até o momento presente.

O objeto dos pensamentos de Lizzie, que estava no quarto ao lado, ponderava também sobre a situação dos dois. Darcy sabia que errara no passado. Sabia, também, que não poderia haver nada entre os dois: ela se casara com seu pior inimigo. Deveria odiá-la!

– Céus – e se remexeu na cama, indignado. Não possuía uma prova concreta, mas nada conseguia dissuadi-lo de que ela se unira a Wickham devido a uma grande necessidade. Tomara conhecimento, por alto, de que este nem se importava em esconder os casos extraconjugais. Se Elizabeth sabia disso e permanecia casada por 10 anos, havia certamente outra motivação para aquele arranjo continuar em pé: dinheiro. Sendo Wickham um parasita, Lizzie é quem deveria carregá-lo nas costas.

Darcy arregalou os olhos, subitamente consciente do significado daquilo. Já pensara no assunto muitas e muitas vezes, mas nunca percebera a gravidade da situação: Wickham estava extorquindo Elizabeth por algum motivo que, no momento, não saberia definir. Estava diante de um crime e temeu por Lizzie.

Confiante de ter, enfim, percebido o que aquela situação desconexa representava, Fitzwilliam buscou seu celular (que mantivera desligado durante a “missão”) e ligou para Brandon.

– Darcy – O outro parecia genuinamente espantado. – Por que está me ligando? Não posso falar com você, Gigi me mataria e...

– Brandon! – Interrompeu Darcy. – É uma emergência. Elizabeth pode ser vítima de um crime!

– Um crime?! Tem certeza?

– Ainda não, mas suspeito fortemente. – Respirou fundo. – Sei que se afastou da polícia por causa de Gigi e do bebê, mas não poderia me fazer este último favor? Contrate um dos melhores detetives que conhece e peça para nossos conhecidos na cúpula de arte italiana o infiltrarem, o apresentarem como parte da classe. Gigi poderá ajudá-lo, a Universidade possui o contato de muitos deles e ela saberá quais são os mais confiáveis. – Parou e pensou. – Odeio-me por esta sugestão machista, mas contrate uma mulher. Wickham não resistirá a ela e, como Lizzie está ausente, é possível que a detetive consiga descobrir algo na casa dos dois.

Brandon ficou em silêncio por algum tempo.

– Está bem, Darcy, mas não fique muito esperançoso. Quero tanto quanto você acreditar que não, mas Elizabeth pode ter se casado por amor e não conseguir se separar por algum motivo subjetivo. – Ouve-se um longo suspiro. – Não se apaixone de novo, amigo – e desligou.

As palavras flutuaram no ar. Embora reconhecesse que a hipótese era válida, acreditava piamente na índole de Elizabeth, sabia que ela não se sujeitaria a nada tão embaraçoso por amor. Ele mesmo presenciara uma situação do gênero.

Quanto a se apaixonar, o alerta não era necessário, pois não se apaixonaria de novo por Elizabeth.

Olhou para o teto desconsolado e reconheceu:

– Brandon, como recomeçar algo que nunca acabou?