— Que cara é essa, Jen? – Encarei Jethro pelo espelho... pela feição que ele tinha, acho que não era a primeira vez que ele me chamava.

— Sim? – Perguntei. Estava alheia ao que ele queria.

— Te perguntei que cara é essa, Jen. – Ele respondeu devagar como que conversando com uma criança de três anos.

— Só pensando em como o tempo passa rápido. – Dei de ombros e me concentrei no meu reflexo. Eu podia jurar que estava vendo mais de um fio branco na minha cabeça... será que aquela ruga já estava ali ou era só uma linha de expressão?

— Com relação a que? – Claro que ele não desistiria.

— Sophie.

Pelo espelho vi que ele tinha uma sobrancelha levantada.

— Parece que foi no ano passado e não há cinco anos que eu a deixava pela primeira vez na escola. Ela está crescendo tão rápido que às vezes tenho medo de estar perdendo algo importante ou deixando de estar ao lado dela por conta do trabalho.

— Você está fazendo tudo certo, Jen. E o tempo passa rápido mesmo. Um dia você está levando sua filha para o primeiro dia na escola, no outro, a levando até o altar...

Tive que rir.

— Para essa última parte, ainda falta tempo, Jethro. – Me virei para encará-lo. – E falando na Sophie, ela já acordou?

— Chamar eu já chamei... mas ela é sua filha, Jen, demora para acordar e quando acorda, está de mau humor.

— Vai começar cedo hoje? – O fuzilei com os olhos.

— Sua vez de tentar tirá-la da cama. – Ele disse e saiu do quarto.

Atravessei o corredor e abri a porta do quarto de Sophie. Ela estava enfiada no meio dos dois travesseiros e completamente tampada pelas cobertas, mesmo ainda sendo verão. E a cena me lembrou daquela manhã, onde ela se escondeu na minha cama para não ir para a escola pela primeira vez.

— Miniatura, bom dia! – Chamei, tirando os travesseiros de cima da cabeça dela.

— Não... – Ela murmurou e escondeu o rosto debaixo da coberta.

— Sophie... está na hora.

— Quero mais férias....

— Eu também... e olha que você estava de férias até ontem, e eu tenho anos que não tenho.

— Posso faltar hoje? – Ela perguntou tirando só um olho debaixo da coberta. – Meu pé tá doendo.

— Não está não... – Falei. – E se a senhorita demorar ainda mais para se levantar, eu vou puxar essas cobertas.

— Mamãe... por favor...

— Sophie, é só o primeiro dia e já estamos assim?!

Ela balançou a cabeça.

— Eu vou ter que chamar o seu pai para te tirar a força da cama? – Ameacei, mesmo sabendo que Jethro já estava subindo a escada.

— Não. – Ela me disse mal-humorada e jogou os pés para fora da cama. – Mas o mundo deveria começar a aceitar que nem todo mundo gosta de levantar cedo!

— Quando você crescer, tente fazer as pessoas aceitarem isso. Agora vamos começar a trocar de roupa, enquanto eu arrumo a sua cama. Mas não se acostume, já está mais do que na hora de você começar a arrumá-la de manhã!

— Eu vou ter que arrumar a minha cama também? Assim eu vou ter que madrugar! – Sophie reclamou.

— Segunda de manhã e a mocinha já está reclamando? – Jethro se escorou na porta e encarou a filha que ainda estava de pijama.

— Eu vou ter que passar a arrumar a minha cama, também!! Isso não é justo, papai! Fala isso para a mamãe! – Ela tentou ter alguém do lado dela.

— Já está passando da hora! – Jethro disse sem emoção e Sophie arregalou os olhos incrédula. – Falando em hora, o café está pronto e eu não quero chegar atrasado por culpa sua, acelera para se arrumar. – Terminou e desceu.

Minha filha ainda estava estática no meio do quarto olhando para onde o pai estava.

— Eu não acredito! – Murmurou e começou a trocar de roupa.

Quinze minutos depois, ela, já com o uniforme apareceu na sala, colocou a mochila em cima do sofá, e ainda descabelada e descalça, se sentou na cadeira.

— E um bom dia para você. Dormiu comigo, por acaso?

Sophie levantou uma sobrancelha e disse.

— Bom dia para senhora, mamãe. Bom dia, papai.

— Bom dia, filha. – Jethro respondeu vendo o que ela estava fazendo. – Ainda com sono?

— Sim... – Deu um bocejo. – Me desculpem. Eu só odeio segundas-feiras e levantar cedo...

— Só isso? – Perguntei.

— Sim... – Estava um tanto mal-humorada, o que só provou a teoria de Jethro, Sophie realmente tinha puxado a mim nesse quesito.

Já no caminho para a escola, Sophie estava mais falante, ansiosa e nervosa para o novo ano escolar, curiosa com quais matérias iria estudar, querendo que a aula acabasse, porque à tarde ela começaria a última semana na fisioterapia.

Jethro parou o carro perto do portão principal e minha filha se inclinou entre os bancos da frente.

— Me desejem sorte! – Ela falou e me deu um beijo na bochecha. – E que tudo dê certo! – Completou dando um beijo na bochecha do pai, se virou para sair até que Jethro disse.

— Não posso te levar até a porta da escola?

Sophie se virou para ele, inclinando na mesma posição em que estava e depois soltou...

— Mas... geralmente é.... não. Essa vai ser a primeira vez que o senhor vai me levar até a porta da escola no meu primeiro dia!! – Disse feliz, ao constatar o que eu já tinha pensado horas atrás.

— Então, eu posso?

Ela abriu a porta do carro, pulou para fora e depois parou ao lado da porta do motorista.

— Mas é claro papai!! Sempre!!!

Jethro saiu do carro e antes que os dois andassem até o portão, Sophie tornou a pular dentro do carro, dessa vez no banco do motorista e me deu um outro beijo.

— Tchau, mamãe!! Tenha um ótimo dia no trabalho! – Me abriu aquele sorriso enorme e que faltava dois dentes.

— Boa aula, banguela!!

Ela gargalhou, sem vergonha nenhuma do status temporário de seus dentes. Depois desceu do carro, deu a mão a Jethro e o rebocou até a porta da escola.

Eu me permiti ver a cena e me lembrei que dentro desse carro tem uma mochila equipada com as câmeras que usamos nas cenas dos crimes. Não hesitei nem por um momento, peguei a câmera e bati uma foto de pai e filha caminhando de mãos dadas até a escola. Precisou de sete anos para que essa cena se concretizasse.

Vi Jethro parar no portão, Sophie o puxar para baixo e o abraçar apertado, dando outro beijo na bochecha dele, depois ela acenou adeus para mim, e outro para o pai e foi saltitando pelo caminho até a porta, onde encontrou Emilly Fornell. O papai babão ficou no portão até que a filhota entrasse de vez no prédio, e foi só quando ele não podia mais vê-la que voltou para o carro. Devidamente acompanhado, pois Fornell vinha falando na cabeça dele.

— Sorte a sua que Sophie ainda te dá beijos de despedida na frente de todos. Emilly já está na fase do: “Eu sou grande demais para fazer isso na frente das minhas amigas, pai.” – Escutei-o dizer. - E eu nem sou mais papai!!

E pela minha mente passou que isso devia ser uma qualidade herdada de Diane.

Em resposta ao comentário de Tobias, Jethro apenas disse:

— Dias piores virão, Tobias. E eles se chamam adolescência.

Fornell o encarou e depois soltou:

— Obrigado pela ajuda. Te desejo o mesmo. Aquela Ruiva Espevitada não vai ser amorosa assim o resto da vida!

Eu torci que os dois não começassem uma briga sobre quais das filhas seria pior. Porém, eu devia saber melhor, pois Jethro ignorou o comentário, deixou Fornell falando sozinho e entrou no carro.

— Um dia, você vai me dizer como foi deixá-la na escola pela primeira vez? – Ele me perguntou depois que saímos do estacionamento.

— Foi a experiência mais traumática da minha vida. Senti naquele momento que eu não teria o controle absoluto sobre o que iria acontecer com ela. E eu nem quero pensar em como vai ser quando ela for para a Universidade. – Falei.

— Se eu já estou preocupado com ela aqui, imagina quando ela for para longe, porque conhecendo aquela lá...

— Você já pensou nisso também, não pensou?

— Harvard será a mais perto que ela poderá ir.

— Eu tenho esperanças de que ela não queira cruzar o Atlântico e fazer faculdade na Inglaterra, mas ela ama demais a Terra da Rainha para que essa ideia não passe por sua cabeça.

— Inglaterra... – Jethro murmurou. – Até lá eu já aposentei.

Comecei a rir.

— Não, Jethro, eu não te vejo aposentado em onze anos. Aceite isso. Essa é uma possibilidade real. Porém, vamos, por enquanto, nos preocupar só com o Ensino Fundamental I e tudo o que ela ainda vai aprender. Um ano de cada vez.

Ele não disse mais nada e seguimos em silêncio até o Estaleiro. Silêncio esse que foi interrompido no exato momento em que descemos do carro e Abby nos viu e veio correndo e gritando:

— MEU DEUS!! EU ME ESQUECI DE DAR BOA SORTE PARA A JIBBLET NO PRIMEIRO DIA DE AULA DELA!!

— Boa semana no escritório, Jethro! – Falei para ele antes de ser engolida por um dos abraços de urso de Abby.

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E o primeiro dia, a primeira semana e o primeiro mês de aulas passaram. Sophie já tinha terminado a fisioterapia e agora estava voltando a pegar o jeito com o balé.

Não era a hora mais fácil, contudo Jen não desistiu de ajudar a Ruiva e, sempre que podia, durante uma hora, calçava as sapatilhas e dançava com a filha dentro do salão que ela transformou em estúdio de balé e academia de artes marciais.

Às vezes eu ficava vendo as duas, mas na grande maioria dos dias era enxotado dali por Jen, que me falava para fazer qualquer coisa, a menos que eu quisesse aprender a dançar balé também.

Junto com o balé, mãe e filha tinham outra atividade conjunta.

Yoga.

E eu achando que era papo furado de Jenny essa história do Yoga, só que não era e três vezes por semana, as duas pegavam os seus tapetes e iam para a aula, para voltarem, uma hora depois, reclamando de dor.

— Mas se dói tanto, por que fazer? - Perguntei para as duas que faziam caretas só para levantar o pé.

— No início dói mesmo, até que nosso corpo se acostume com todo o alongamento, um dia ficará mais fácil e poderemos fazer em casa, não é filha? - Jen me respondeu.

Sophie, que tinha se jogado debaixo do esqueleto do barco só confirmou com a cabeça.

— Mas tudo o que eu sinto agora é dor... e eu nem sabia que poderia ser tão dolorido. – Jen completou o raciocínio e se sentou na bancada.

— Eu espero que até o Halloween eu não esteja sentindo tanta dor.... senão, como eu vou sair para pedir doces?? – Sophie falou.

— É claro que você estaria preocupada com o Halloween, não é mesmo? - Cutuquei a Ruiva #02 com o pé.

— Mas, papai, é a única época do ano em que me deixam comer doces até explodir!! – Ela retrucou. – E ainda tem a festa do NCIS!! Abby sempre monta a melhor das festas! A cada ano fica melhor.

— E você já sabe de que vai querer se vestir nesse ano, filha? – Jen perguntou. Ela, discretamente, tinha se esgueirado para fora do porão e voltado com uma bolsa de água quente que ela colocou nas costas.

— Ainda não... ou talvez... será que eu posso ir de Anastácia?? Pelo menos não vou precisar de uma peruca... meu cabelo tá enorme. Ou eu posso ir de Hermione Granger... ou até mesmo de Lucia ou Susanna Pevensie. – Ela começou a citar as suas personagens favoritas.

— Vou te dar uma semana para escolher, se você não se decidir, vai acabar indo de bruxa.

— Posso ir como uma das Irmãs Sanderson de Abracadabra? – E cada pensamento a história fica mais complicada.

— Uma semana, Sophie. Escolha direito, porque eu só vou te dar uma fantasia.

— Tudo bem... Será que se eu for de Lúcia, Tony pode ser o Sr. Tumnus?

Segurei a risada, tentando imaginar DiNozzo em uma fantasia de fauno.

— Creio que o DiNozzo não vai gostar da ideia de ser um fauno, Sophie. Mas você pode pedir para ele.

Sophie concordou com a mãe e depois começou a murmurar para si mesma de que ela iria. E, se deixasse, ia levar horas assim. Para a nossa sorte Abby não estava presente.

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E a vida seguiu sem problemas, casos apareceram e foram resolvidos, reuniões que pareciam tediosas e intermináveis não resultaram em nada, Kelly mandava notícias ocasionalmente e em uma delas chegou até mesmo a copiar uma frase minha:

Não se esqueça, Jen, de que notícia nenhuma é melhor do que uma notícia ruim.

E assim que li esta frase no último e-mail que ela havia mandado, tive que reclamar.

— Falando sozinha agora, Jen?

— Quando você vai aprender a tratar a minha porta como uma porta, Jethro? – Reclamei ainda mais.

Claro que a resposta dele era "nunca, Jen" e estava estampada no meio sorriso presunçoso que ele tinha.

— Eu deveria te ignorar e fingir que você não está aqui, mas como se trata da sua filha, creio que tenho que reclamar com você mesmo.

— O que a Ruiva aprontou agora?

— Não foi a Sophie, foi a Kelly!

— Você desistindo de defender Kelly? – Ele olhou com interesse para o tempo lá fora. – Creio que vai chover.

— Muito engraçado! – Disse sarcasticamente e aproveitei que ele estava do meu lado para dar um merecido chute nele. – Sabe o que ela fez?

— Para você estar com essa cara e esse humor, talvez tenha colocado fogo em algum dos sapatos que você deu a ela.

— Jethro!!! Mais uma dessas e eu te ponho para fora dessa sala na base do tiro!

Ele me encarou como que me testando.

— Duvido.

Bufei em resposta e decidi que dessa vez eu iria ignorá-lo. Mas quem disse que ele se permite ser ignorado? Claro que não, e com um movimento exagerado, puxou uma das cadeiras que ficam na frente da minha mesa e se jogou por lá.

— E então, o que Kells fez que te irritou tanto?

Tirei meus óculos e olhei para ele.

— Se alistou. Foi para o outro lado do mundo. Quase não manda notícias e quando manda... – Parei para respirar. – Ela copia uma frase minha de quase dez anos atrás! A Kelly acabou de jogar na minha cara as minhas próprias palavras, Jethro! – Disse revoltada.

— Jen...

— Que?

— Você está dando um ataque de mãe-ursa.

— Porque eu considero a Kelly minha filha, Jethro! Depois de todo esse tempo, se essa menina começar a me tratar assim ela pode esperar, porque eu vou tirá-la pela orelha de dentro do avião que irá trazê-la de volta! – Bati a mão da mesa e me levantei, começando a andar de um lado para outro dentro do meu escritório.

— Só quero ver quando for a Sophie. – Ele virou a cadeira para a minha direção e me estudava com um sorriso divertido nos lábios.

— Ela não ousaria fazer isso comigo, Jethro. Sophie pode ser muitas coisas e falar demais, mas ela jamais usaria as minhas palavras contra mim! – Alertei-o.

— Se você está dizendo, Jen. E tirando o que te deixou tão furiosa, Kelly deu mais alguma notícia? – Ele desviou o assunto.

— Só que tudo está bem. Contudo, eu vi que faltou algo... ela omitiu alguma informação. – Falei e agora eu tinha a completa atenção de Jethro.

— Como o que?

— Eu iria pesquisar, depois de xingar bastante Kelly. Porém você apareceu e está me impedindo de fazer isso. – Olhei sugestivamente para ele e para a porta.

— Pode pesquisar, não tenho nada para fazer. – Deu de ombros e tomou um gole do café.

— Vai ficar aqui me importunando? – Questionei assim que me sentei na minha mesa.

— Ficar lá embaixo com Abby e McGee falando na minha cabeça sobre Tony e Ziva que eu não vou ficar.

— Então a notícia se espalhou? – Perguntei interessada.

— Ao que parece, sim. Abby os viu juntos. E pela feição dela, bem juntos.

— Interessante que Sophie não está nessa bagunça. – Comentei e comecei a pesquisar o que Kelly poderia ter editado no último e-mail.

— A Ruiva vai ficar decepcionada quando souber. – Jethro falou.

— Isso se ela já não sabe. Não duvide da capacidade de sua filha saber de tudo.

Jethro deu uma risada e, finalmente, encontrei o que procurava.

— Achei.

E em uma batida de coração, ele estava do meu lado, tentando ler por cima dos meus ombros, o que estava na tela do meu computador. Como não conseguiu, roubou os meus óculos.

— Ficaram lindos em você. Quer descer com eles? – Perguntei sarcástica.

Ele só deu um tapinha no meu ombro e me mandou concentrar na tela.

— Então é isso. – Ele disse se afastando.

— Ela deveria ter nos contado. Será que ela achou que nós nunca olharíamos?

— É Kelly, ela sempre acha que pode esconder as coisas.

— E nunca conseguiu. – Comentei. – Ainda bem que não foi nada sério.

— Gostaria de ver por mim, se foi ou não sério, Jen.

— Posso tentar contatar o Daniel Webster.

— Com que pretexto?

— McGee já contatou um navio que estava próximo da Índia para que um filho pudesse ver a mãe, Jethro. Nós só queremos ver Kelly. Verificar se tudo está bem. Se estiver, será rápido.

— E se não estiver?

— Ela terá que voltar mais cedo para casa. – Disse finalista.

— Quando vai tentar? – Ele me perguntou e eu olhei minha agenda.

— Agora, tenho dois horários livres aqui. Assim que conseguir contato, te chamo.

Ele foi até a porta e a segurou aberta para mim. Dei uma olhada significativa para ele, como que dizendo se ele não havia esquecido de me devolver nada, porém Jethro se fez de lerdo.

Assim que passamos pela porta da sala de Cynthia, começamos a escutar a falação no andar de baixo. Abby e McGee estavam a todo vapor falando correndo, pude distinguir a voz de Jimmy e até mesmo as risadas de...

— Olha quem apareceu para a festa. – Jethro comentou assim que reconheceu a risada da filha.

Fui com ele até o corrimão e fiquei ali. Queria ver uma cena em particular. Jethro desceu as escadas e, de início os bagunceiros ficaram calados, até que Sophie notou uma certa particularidade.

— É... oi papai. – Ela disse, tentando conter o sorriso.

Jethro não entendeu a expressão da filha e assim que se virou para ela, McGee e Abby que estavam à suas costas começaram a rir. Jimmy fazia de tudo para não rir e começou a olhar para todas as direções.

— O que aconteceu aqui? – Jethro quis saber.

— Tirando o fato de todo mundo já sabe que Tiva está junto e eles não se assumem? – Abby falou animada.

— Quem?

— Tiva, Gibbs!! Tony + Ziva = Tiva. – Abby respondeu com um rodopio.

— Pare com esse apelido, não tem nada disso, Chefe. – Tony tentou se defender, mas também não encarou Gibbs.

— Realmente, Gibbs, nada do que Abby e McGee estão falando é verdade! – Ziva entrou na conversa, e depois mordeu o lábio para não rir.

— É verdade sim, Ziva!! Eu vi!! Eu tenho as provas! McGee coloca na tela! Eu te mandei tudo por e-mail! – Abby clamou, porém Tim estava um tanto distraído. Distraído por um certo acessório que Jethro usava.

— O que foi agora, McGee? – Jethro praticamente gritou com o pobre.

— N..Nada, Chefe. É só que... – E Tim parou.

— É só o que?

Os três agentes, Abby e Jimmy encaravam os próprios sapatos para não terem que responder. Já Sophie, ela não tem muito freio.

— Por acaso, papai... – Ela começou a falar, sentada em cima da mesa dele. – O senhor pegou os óculos da mamãe emprestados? – Perguntou e ficando de pé na dita mesa, tirou os óculos do rosto do pai e mostrou a ele.

As risadas abafadas e disfarçadas por tosses falsas foi tudo o que eu ouvi, enquanto Jethro encarava os meus óculos vermelhos.

— Vai lá e entrega para a sua mãe. – Ele falou de uma vez e passou meus óculos para Sophie, que subiu as escadas rindo.

— Bem, mamãe... a senhora deveria ter tirado do rosto dele... isso foi maldade! – Ela disse assim que me encontrou no alto das escadas.

Ao ouvir isso, Jethro só me encarou. E eu sabia que isso teria troco. Dei as costas para a sala do esquadrão e fui para o MTAC, tinha que localizar Kelly e dar um belo puxão de orelha nela. Contudo, antes de entrar, pude ouvir a seguinte frase:

— David, DiNozzo. Sala de Reunião. Agora.

Acho que agora não tinha como os dois despistarem mais.

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Segui para o elevador com Tony e Ziva atrás de mim, eles não falavam nada, mas nem era preciso, pois eu sabia que um encarava o outro tentado sincronizar respostas. Parados, perto das mesas, Abby, McGee e Palmer, Sophie, descaradamente, tinha subido na mesa de Tony para ver melhor.

Cheguei na frente do elevador e as portas se abriram, resultando no murmúrio de Abby:

— Agora ele controla até o elevador!!

Fiz menção para DiNozzo e David entrarem, Tony deu passagem para Ziva que entrou com a cabeça baixa, depois esperei que o Agente Sênior entrasse e o segui, antes das portas fecharem, escutei os passos de Abby e os gritinhos de Sophie, teríamos plateia tentando ouvir pelas portas.

Apertei o botão para o subsolo e assim que calculei que não estávamos à escuta dos quatro curiosos na sala do esquadrão, parei o elevador e encarei os dois, que falaram ao mesmo tempo.

— Chefe a Abby tá aumentado...

— Não tem nada demais, Gibbs, Abby só está fazendo uma trovoada em copo d’água!

— É tempestade em copo d’água, Zee-vah!

A israelense encarou Tony e depois o chutou, e eu esperei que os dois se lembrassem de onde estavam.

— Gibbs!! Não tem nada... foi.... – Ziva começou a falar e a balançar as mãos ao mesmo tempo, procurando as palavras que queria.

— Ela tropeçou e caiu em mim! – Tony deu uma saída.

Ziva tropeçar? Tão difícil de acontecer quanto Sophie não estar envolvida em alguma bagunça.

— Eu não tropeço, Tony! – Ziva atacou.

— Então como vamos explicar o...

Ela deu um tapa no braço dele e DiNozzo gemeu de dor.

— Explicar o que? – Quis saber apesar de já ter uma ideia do que era.

Vi Ziva ficar vermelha, Tony olhar para cima e depois para os próprios pés e tudo o que consegui pensar era que Kelly estaria rindo de chorar e pegando no pé dele nesse exato momento, se ela estivesse vendo essa cena.

— A gente sabe da regra #12... – Eles começaram, juntos e pararam, encabulados demais para continuarem.

— Chefe... é só... que... eu ainda não acredito que não foi a Peste Ruiva quem contou! – DiNozzo murmurou.

— O Pingo de Gente sabe manter a palavra dela! – Ziva falou.

Então Sophie já sabia disso... bem que Jenny tinha dito.

Os dois olharam na minha direção e depois se encararam, respirando fundo.

— Estamos juntos! Já tem quase um ano... – Tony soltou.

— E a Sophie já sabe disso há meses... – Ziva completou. – Eu sei que quebramos a sua regra, e foi justamente isso que você me disse para não fazer Gibbs, mas...

— Fui eu quem comecei tudo! – Tony tentou levar a culpa.

— A regra #12 não existe mais. – Falei por fim e pus o elevador em movimento.

Os dois ficaram calados. Assim que chegamos no andar da sala do esquadrão e as portas se abriram, McGee, Abby, Palmer e Sophie caíram dentro do elevador.

— Gibbs!! – Abby usou do seu status de favorita para tentar livrar todos. – Ficamos preocupados, vai que elevador tenha estragado! – Ela disse, mas olhava para o casal que estava atrás de mim.

— Eles estão vivos, né Jimbo? – Sophie murmurou para o Assistente de Ducky.

— Respirando estão, mas podem estar em choque. – Palmer sussurrou a resposta.

Tony e Ziva ainda não haviam se mexido.

— Jethro! Onde você estava, consegui conexão com o Daniel Webster! – A voz de Jen soou bem alta do alto da escada.

Deixei os quatro curiosos e o casal em choque no andar e fui ver se a minha primogênita estava bem.

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— Tony... Ziva.... – Ouvi Abby nos chamando.

— Tem certeza de que eles estão bem? – Essa foi a Peste Ruiva.

— Será que o Chefe bateu com mais força do que de costume e os dois ficaram assim? – McInocente falou.

— Acho que eles estão realmente em choque. – Jimmy disse.

— Vamos levá-los até o Tio Ducky!! Só ele pode nos ajudar! – A ruivinha entrou correndo no elevador e apertou o botão para o andar da autópsia.

Senti o elevador se mover, Ziva chegou mais perto de mim, ainda tinha os olhos arregalados.

E eu ainda não tinha acreditado que finalmente tínhamos contado para o Gibbs e muito menos que ele tinha aceitado tão bem.

Na verdade, eu estava pasmo com outro fato:

A regra #12 não existia mais?

O Chefe tinha se livrado de uma de suas regras?!

Desde quando??

O elevador parou e ouvi a Peste Ruiva sair correndo, gritando por Ducky, pedindo que ele viesse nos ver com urgência. Ela voltou segundos depois e aflita parou na nossa frente.

— Tá vendo, Tio Ducky, eles não se mexem há quase cinco minutos. Tem cinco minutos que o Tony não fala nada, e tem cinco minutos que a Tia Ziva não o ameaça!! Isso não é normal!

E o Bom Doutor nos puxou pelo braço até a autópsia, nós o acompanhamos no automático. Atrás de nós, McPreocupado, Abby e o Gremlin da Autópsia.

— Alguém sabe me informar o que aconteceu? – Ducky perguntou assim que nos fez sentar em uma das mesas.

— Papai os chamou para uma conversa dentro do elevador. Levou quase dez minutos!! – Sophie falou por nós.

Ducky nos encarou e depois se dirigiu até Abby.

— Isso tem a ver com as fotos que você me mostrou mais cedo?

— Sim... Ducky, tem!

Ducky começou a rir e eu comecei a sair do meu choque.

— Como se o Jethro jamais tivesse feito isso! Temos a prova bem aqui. Mas me surpreende que ele não tenha abolido a infame regra #12 depois que ele e a nossa querida Jennifer voltaram.

— Ele aboliu. – Ziva falou, parecia que ela estava engasgada.

— O QUE?? - Todos gritaram ao mesmo tempo.

— O Chefe aboliu a regra #12. Ele nos disse. - Confirmei.

— Então vocês estão assim mais porque o Chefe aboliu uma das regras dele do que... - McChocado começou.

— Ele nos fez confessar, mas... eu jamais pensei que um dia iria escutar que Gibbs tivesse aberto mão de uma das regras dele... – Ziva disse.

— E vocês confessaram? – Abby começou a pular.

— Você conseguiria esconder algo do Gibbs, Abbs? – Perguntei.

O sorriso dela era enorme, Peste Ruiva a essa altura, já tinha se sentado na cadeira de Ducky e estava rodopiando com ela.

— Não, Tony, eu não conseguiria mentir para ele!! – A gótica disse com um sorriso.

— Então, Tiva existe? - Agora que o prédio explodiria com a animação de Abby.

— Sim, estamos juntos! – Ziva falou e eu confirmei com um menear de cabeça.

— ALELUIA!! Agora eu posso comemorar de verdade que os meus casais favoritos estão juntos!! – Sophie falou.

— Ela sabia??

— Sempre soube! Eu sabia desde o primeiro dia que eles ficariam juntos!!

McPegoDeSurpresa, Abby e Palmer olharam para a pequena Ruiva que tinha um sorriso vitorioso nos lábios.

— Então... isso é motivo para comemorar!! – Abby já foi se lançando aos planos.

— Melhor irem devagar. – Ducky nos aconselhou. – Mas, meus parabéns, Anthony, Ziva. Sejam muito felizes juntos.

Olhei para Ziva que me retribuiu com um sorriso.

— Obrigada, Ducky! – Ela falou e foi abraçar o nosso Bom Doutor. – Creio que seremos!