Carta para você

Regra #1 da Kelly: Nunca confie em uma dorminhoca e nem na sua sogra


Mas é claro que Sophie iria me deixar na mão. Por que eu fui confiar o nosso álibi em uma dorminhoca?

— Sophie! Acorda! – Comecei a balançar minha irmã.

E com uma cara emburrada ela se levantou, olhou em volta e se sentou no sofá.

— Que foi?

— Que foi?! Como assim ‘Que foi?’ o que nós combinamos? – Eu falei com raiva.

Minha irmã me encarou, depois olhou para cada um ali na sala e parou nos pais.

— A Kelly é doida! – Ela apontou na minha direção, depois pegou o cobertor e enrolada nele, caminhou em direção à escada, sendo parada por papai que a olhou feio. Quero ver se ela vai soltar um “que foi?” para ele também.

— O que aconteceu aqui? – Ele perguntou para ela.

— Eu não tenho culpa de nada. Kelly quem me deixou comer sorvete e ficar acordada até tarde. – Ela garantiu, me encrencado ainda mais.

— E? – Jenny continuou.

— Agora eu sei como é uma festa do pijama tipicamente americana. – Ela terminou com um sorriso.

— E? – Meu pai não estava satisfeito com a explicação da sonolenta ruiva que estava bocejando na frente dele.

Sophie que não entendeu a última pergunta, olhou para Tony:

— O que que eu falo agora, Tony?

DiNozzo deu um pulo e olhou para Ziva. Ziva por sua vez, devolveu a pergunta:

— Pergunte para Kelly, Pingo de Gente.

— Eu não vou conversar com a Kelly, ela me deu uma travesseirada na cara e me acordou cedo em um sábado. Ela é doida!

Papai olhava de Sophie para mim, e Jenny encarava o restante da equipe.

— A festa foi ótima! – Abby disse. - E nem fizemos tanta bagunça assim.

— A única bagunça foi quando jogamos Jenga. – Sophie completou.

— O McGee perdeu! E perdeu feio! – Ziva entrou na animação da última noite.

Todos encararam a israelense.

— Tia Ziva.... você derrubou a torre três vezes!

— Mas o último que a derrubou foi o McGee. Significa que ele perdeu. – Ziva retrucou com um sorriso vitorioso.

Papai olhou para Jen que só deu de ombros.

Abby, Tim e eu encaramos a ninja. Às vezes eu duvidava que ela era tão mortal assim...

— Que foi? – Ela perguntou ao ver todos os olhares direcionados a ela.

— Nada. – Tony falou, mas o sorriso de deboche ele não conseguiu esconder.

— Você quer ser morto por... – Ziva olhou em volta e achou o DVD da Era do Gelo que estávamos vendo. – Por isso? – Ela estreitou os olhos na direção do italiano.

— Ninguém será morto antes que essa bagunça seja arrumada. – Jenny avisou. – E você... - apontou para a filha. – que cara é essa?

Sophie estranhamente estava ficando esverdeada.

— Eu não tô passando bem não, mamãe.

— Não use dupla negativa perto da Ziva, Peste Ruiva, ela ainda não pegou essa referência.

Mas Sophie não escutou nenhuma palavra que Tony disse, já que ela jogou o cobertor no chão e saiu correndo para o banheiro mais próximo.

— Quem deu sorvete para ela? – A voz de meu pai não permitia nenhuma saída pela tangente.

— Todo mundo... – Dissemos juntos.

— Ela parecia feliz comendo aquele pote de sorvete. – Abby falou.

— Abbs! – Sibilei.

— Sophie, você comeu um pote de sorvete, sozinha? – Era a voz de Jenny que vinha alta de dentro do banheiro.

Papai nos fez a mesma pergunta com o olhar.

— É... sabe como é, né, Chefe? ... Ela só foi pegando...

— E agora está passando mal, DiNozzo.

— Não foi por mal Gibbs, ela ama sorvete... – Abby tentou se safar.

Nesse momento, Jenny vinha com Sophie no colo, e a pequena estava mais branca que papel, quem foi o simpático da vez foi Tim, que assim que Jenny se sentou com a filha no sofá, foi até lá para entregar o Mike Wazowski dela.

— Está um pouco melhor, Sophie? – Ele perguntou todo educadinho.

— Eu vou ficar, meu Bichão de Pelúcia preferido! – Ela respondeu com um sorriso e apertando a ponta do nariz dele. Pelo visto ela jamais irá esquecer a fantasia de Tim no Halloween.

— Aí, ela tá melhor, já está até sorrindo! – Abby soltou.

Papai encarou a gótica saltitante.

— Um pouquinho melhor? – Abbs abaixou o tom, mas não perdeu o otimismo.

Papai teve que respirar fundo para não brigar com ninguém, quando foi para a cozinha.

— De quem foi a ideia dessa festa? – Jenny parecia conformada com a bagunça, só não estava gostando da aparência da filha.

— Nossa. – Ziva deu a cara a tapa.

— Da próxima vez, não a deixem comer tanto doce, por favor. – Ela pediu encarando Sophie que continuava a fazer cara de que algo estava doendo.

— Não vai brigar com a gente? – Abby pareceu se animar.

— Vai adiantar, Abby? A festa já aconteceu, e pelo visto foi boa, se um jogo de Jenga está rendendo até agora, mas da próxima, maneirem no açúcar perto dessa aqui.

Respirei aliviada, era menos um problema. Agora eu tinha outro...

Notei que Ziva e Tony começaram a juntar a bagunça, Abby e Tim estavam catando o lixo. Ponderei, era melhor ajudar do que ficar e escutar um sermão sobre um assunto do qual eu ainda não estava preparada para falar.

— Ele vai conversar com você sobre isso, Kelly. – Jen me avisou baixinho.

— Eu sei, mas antes vou organizar tudo isso. – Falei e sai na direção de Tony e Ziva, ali era onde a maior parte da bagunça estava concentrada.

Foquei no trabalho em minhas mãos, mas podia jurar que cada vez que papai aparecia para checar Sophie – que agora estava começando com uma pequena febre, ótimo, lá vinha uma infecção! – ele praticamente me fuzilava com os olhos.

Mais ou menos perto da hora do almoço, a casa já estava toda organizada, a equipe já ia se despedindo quando a própria Jen os convidou para o almoço. Papai não gostou, mas não falou nada.

Almoçamos por ali mesmo, Tony disse que conhecia um restaurante que ficava perto e, em menos de quarenta minutos, uma refeição quentinha e feita na hora estava em cima da mesa.

A falação foi sem fim, Abby contou da festa, Ziva toda hora falava que o grande perdedor da noite era Tim, ela até o chamou de McPerdedor. A única peça que faltava na mesa era Sophie que estava oficialmente de cama.

— Para a Peste Ruiva eu trouxe uma sopa. – Tony disse todo preocupado. – Ela tem que comer algo. – Deu de ombros, como se não soubesse ao certo como cuidar de uma criança.

Eu já tinha ido checá-la, e a febre não tinha mudado, ela ficaria bem, assim que conseguisse desintoxicar todo o organismo.

— Obrigada, Tony. Vou ver se ela come algo. – Jen agradeceu e subiu para o quarto onde Sophie estava. Voltou menos de dois minutos depois, com a vasilha cheia, Sophie tinha pegado no sono. Assim ela se juntou a nós na mesa. E claro, nós tínhamos perguntas também... muitas.

Afinal, todos viram o casal saindo arrumadinho do NCIS, ela com um lindo vestido de gala e ele com a farda completa e ambos apareceram na nossa frente com roupas bem casuais na manhã seguinte.

Abby começou o interrogatório, e somente recebeu como respostas, “sim”, “não”, “mais ou menos”.

— E quem estava lá? – Tony perguntou com a boca cheia de canolli.

O olhar de papai na minha direção foi tudo, menos discreto.

— O Senador Sanders e a Esposa. E eles tinham notícias interessantes. – Falou.

Involuntariamente me encolhi.

— Caroline Sanders é a pessoa mais fofoqueira que eu conheço, ela ganha de você, DiNozzo. – Jenny mudou o foco.

— Por que diz isso? – Ziva quis saber.

— Você a conhece? – Tim cortou a israelense.

Ziva, dando de ombros, apenas respondeu:

— Não. Mas acho muito difícil alguém ser mais fofoqueiro que o DiNozzo.

— Concordo com você. – Tim respondeu com um sorriso.

— Mas voltando ao assunto, - Abby interrompeu a falação dos dois antes que Tony pudesse puxar o ar para soltar uma resposta indignada. – Por quê?

— Ela espalhou para D.C. inteira sobre Sophie. Esposas de políticos comentaram sobre ela, sendo que eu sequer as conheciam. – Jenny não parecia feliz ao dizer isso.

E outra vez me encolhi. Eu tinha uma parcela de culpa nisso.

— Sophie vai passar a andar com segurança agora? – Perguntei.

Papai e Jen me olharam.

— Até segunda ordem, não vejo necessidade. – Jenny falou tranquila.

Porém, eu vi que ali tinha um “mas”.

— Contudo...

— Paparazzi vão querer fotos dela. E isso nós tentaremos evitar. – Foi papai quem respondeu.

— Se precisar de qualquer coisa. Eu me ofereço para ser a segurança do Pingo de Gente até a primeira onda de curiosidade passar. – Ziva se ofereceu.

Pensei o quão errado isso poderia dar. Ziva adora a minha irmã, não tem lá muito senso ao medir a força e dirige feito uma louca – pelo menos foi o que eu ouvi. Definitivamente não daria certo, ela ia perder o controle e coitado de quem estivesse ao alcance da mão dela.

— Agradeço a oferta, Ziva. E não vou dispensá-la, pode ser que precisemos. – Jenny falou e eu gelei. – De início eu vou deixar tudo como está, se algo muito extraordinário acontecer, veremos como vamos agir.

E com essa frase eu fiz uma nota mental para avisar a Henry para calar a boca da mãe dele. Ô mulherzinha mais chata e aparecida.

Todos me olharam assustados.

— Que foi? – Retribui a olhada.

— Nossa, você ama a sua sogra, hein, Kelly? – Tony tinha um sorriso enorme ao falar isso.

Fiquei sem entender.

— Acho que você só pensou alto demais. – Foi Abby quem me respondeu.

Fiquei sem graça. Eu detestava dar mais um pouco de munição ao meu pai contra a família de Henry, mas isso foi a gota d’água.

— Bem... – falei sem graça. – Eu vou lá dar uma olhada na Sophie. – Avisei e subi correndo as escadas. Tentando a todo custo esconder a minha cara mais vermelha que um tomate...

Céus, eu só me metia em enrascada!

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Com pouco que Kelly subiu, Abby, Tim, Ziva e Tony resolveram que era hora de ir embora, Abby prometeu que ainda iria perguntar mais sobre o baile, ela poderia perguntar, só não teria as respostas que queria.

Antes de irem, um por um foram ao quarto ver Sophie, ela ainda deveria estar dormindo e eu comecei a me preocupar.

— Me lembre de deixar Noemi responsável por Sophie da próxima vez. – Falei com Jethro e subi para ver a minha filha.

Sophie estava acordada, Tony tinha conseguido a façanha de acordá-la ao se despedir, e Kelly tentava convencê-la a tomar a sopa.

— Deixa comigo, Kelly. – Estendi a mão para a tigela.

— Não quero, mamãe, minha barriga ainda tá doendo.

— Excesso de açúcar faz isso, mas você precisa comer. – Avisei. Quando ela fez outra careta para o prato, emendei: - Foi o Tony quem comprou para você, vai fazer essa desfeita com ele? Ele parecia bastante preocupado. – Apelei para o bom coração da minha filha.

— Tudo bem... eu como. – Ela falou estendendo os braços e pegando a bandeja.

— Cuidado para não sujar a cama. – Avisei.

Notei que Kelly estava sentada na beirada da cama, calada, olhando para um ponto distante no corredor.

— Adiar o inevitável não vai ajudá-la agora. Sua sogra contou o que você está fazendo. – Falei baixo com ela, pois tinha certeza de que Jethro estava por perto.

Kelly se virou para mim, com os olhos arregalados.

— Não era para ter escapado nada perto dela. Aliás, ela deduziu tudo por ela mesma, e quando perguntou para Henry, exigiu uma data. E ele deu.

— Vocês dois estavam de acordo com isso, ou foi imposto por Henry? – Perguntei.

— Já tínhamos marcado, vai ser mais ou menos no final da minha residência, achei uma boa época, porque eu serei mandada para algum hospital aqui perto antes de atuar em algum navio médico. – Ela se explicou.

— Por que a mudança de ideia? – Era um olho nas reações de Kelly e o outro em Sophie que comia a sopa devagar.

— Não sei... talvez o fato de que sei que serei mandada para longe em pouco tempo, ou já são tantos anos de namoro que já está passando da hora. Só sei que decidimos isso em uma conversa e no outro dia marcamos a data. Estranho, eu sei. Mas era o certo para nós dois. É o certo!— Kelly terminou e nessa hora ficou com as bochechas de um vermelho escarlate; assim que segui a direção de seu olhar, vi Jethro parado na porta, um ar de quem não tinha gostado de nada do que havia escutado.

— Poderia ter avisado, Kelly. – Ele falou seco. – Fiquei sabendo que você se casa em dezoito meses pela boca da sua sogra. – Jethro entrou e se sentou ao lado de Sophie, que ficou toda feliz por ter alguém que estava prestando um pouco mais de atenção nela, agora que ela tinha acabado de tomar toda a sopa.

— Eu sei que foi errado não contar de cara, mas queríamos liberdade para poder adiantar tudo. Iríamos contar... – Kelly pareceu um pouco mais agitada. – quando tudo já estivesse mais encaminhado. Porém, a Sra. Sanders viu uma revista sobre vestido de noiva dentro da minha bolsa, e já foi tirando todas as conclusões. Agora ela não para de me atrapalhar! – E a noiva do ano deu um suspiro exasperado ao terminar.

— Quer dizer que ela quer tomar as rédeas da organização do casamento para ela? – Perguntei.

— Exatamente. Chamou um monte de “especialistas em casamento de celebridades”, passou o meu número para eles. Ela quer opinar sobre o vestido e não abre mão de ter Sophie como a única Dama de Honra. Ela está falando em ir a Itália atrás de um vestido de noiva para mim e quer combinar o vestido da Sophie com o meu. Eu não quero que meu casamento vire um circo. Não mesmo, mas ela insiste em chamar quinhentos dos amigos mais chegados da família, quer fazer a cerimônia no rancho da família no Texas, e até decidiu onde será a lua de mel! A minha lua de mel!— Kelly ardia em fúria e tinha os olhos marejados.

Fez-se um silêncio até que Sophie perguntou:

— O que é uma Dama de Honra, e por que eu tenho que me vestir como uma noiva? É a Kells quem está se casando, não eu.

E só assim para Kelly abrir um sorriso.

— Culpe a mãe do Henry. – Respondeu à irmã.

— Eu sabia que tinha um motivo para eu não gostar dela! – Sophie se ajeitou ao lado do pai, se deitando com a cabeça no colo dele.

Olhei para Jethro que tinha um discreto sorriso nos lábios enquanto acariciava os cabelos da caçula.

— O que eu faço para que ela pare de decidir tudo? Eu não quero o dinheiro da família, não quero a opinião dela e muito menos convidar quem ela quer. Minha família é pequena, mas ela deliberadamente está excluindo todo mundo. – Kelly perguntou desesperada.

— Tem duas maneiras. – Jethro começou e Kelly o olhou com toda a atenção do mundo. - Ou você troca a data ou não faz nada do que ela quer.

Era opções válidas, mas como mandar passear a sogra chata?

— E o senhor faria o que? – Kelly perguntou sem graça.

— Passaria por cima da sogra. É o seu casamento afinal, filha.

— Mas eu preciso de ajuda, tem muito o que organizar.

— E eu sirvo para que? – Perguntei.

— E eu? – Sophie fez coro. – E a Tia Ziva? A Abbs pode ajudar também. É só explicar que não tem nada de pôr preto e teias de aranha em tudo.

Kelly suspirou em alívio. Mas tinha algo que ainda não fora resolvido por completo, Jethro ainda não aceitava ter sido preterido e aceitava ainda menos o fato de que sua mais velha já tinha uma data final para sair debaixo da asa dele.

Seriam longos meses, esses dezoito.

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Sophie passou o sábado todo de cama, não estava tão mal assim, mas bem que estava gostando do carinho extra que estava recebendo, principalmente de papai.

Sim, ele resolveu que iria me ignorar por um tempo, assim, ficou no quarto com minha irmã e me deu um gelo.

Não era a reação que eu queria quando contasse para ele sobre a data do casamento. Na verdade, até achei que ele poderia ficar feliz no fim das contas. Estava remoendo tudo isso, enquanto esperava o lesado do meu noivo dar notícias, tinha contado para ele sobre a fofoca que a mãe dele fez, e não só sobre a data do casamento, mas, e essa era a mais importante, sobre o fato dela ter espalhado pelo Capitólio afora a existência da minha irmã caçula.

E muito estranhamente, Henry estava calado. Não mandou nada. E isso já estava me matando de ódio.

— Quando eu te pegar você vai ouvir, Henry Sanders, ah, mas você vai. – Falei olhando para o celular.

— Ficar encarando o celular e xingando não vai fazer a mensagem que você quer, aparecer. – Jenny falou vindo da cozinha.

— Deveria.

— Se isso desse certo Kelly, muitos dos meus problemas teriam se resolvido mais cedo.

Eu entendi o que ela queria fizer.

— Jen... – Comecei.

— Lá vem bomba. Quando você começa com “Jen” e Sophie com “Mamãe”, eu sei que não vem coisa boa por aí.

— Posso te chamar de mamãe então... se você preferir. – Fiz uma carinha de inocente, mas não consegui conter a risada.

Ela gargalhou alto.

— Kelly, eu sou velha, mas nem tanto para ser a sua mãe, pode ir parando com isso! Mas, voltando ao assunto, do que você precisa?

— De ajuda. Eu não sei se consigo organizar um casamento sozinha.

Jen fez uma careta.

— Eu não sou a melhor pessoa do mundo para te ajudar... o que eu comecei a organizar não chegou até o sim.

— E eu fico feliz por isso. Ou eu não teria uma irmã hoje. – Brinquei. – Porém... é sério. Eu não sei como ajeitar tudo isso.

— Você falou que tinha uma revista com vestidos de noiva...

— Sim.

— Bem, na internet tem muita coisa, e eu conheço algumas pessoas, podemos ver. Mas já aviso, só vou te apresentar a estas pessoas, não vou dar palpite, é o seu casamento.

— Já é um começo. Tem certeza de que não quer me levar para a Itália para escolher o meu vestido?

— Os vestidos de noiva mais bonitos que já vi são feitos em Nova York... – Ela me garantiu.

— Olha... você chegou a comprar o vestido? – Perguntei espantada.

— Sim. Era até bonito.

— E nunca usou?

— Não. Nunca usei. – Ela me respondeu sem nenhum remorso.

— E onde ele está?

— Você não vai usar um vestido que eu comprei para mim, mesmo se eu não o tivesse queimado.

— VOCÊ QUEIMOU O SEU VESTIDO DE NOIVA? - Dei um grito. Estava perplexa.

— O que eu faria com aquilo? Além do casamento, esse tipo de vestido não serve para mais nada!

— Mas Jen! Você o escolheu.

— E não usei. E não queria que mais ninguém pensasse em usá-lo, para ter mesmo azar que eu tive. Assim, ele morreu.

— Você não teve dó do tanto de dinheiro que você gastou nele?

Jen parou para pensar.

— Nada. Aquela coisa deu um azar danado, foi muito melhor assim. Não sobrou nem cinza daquilo.

Olhei horrorizada para ela.

— Era sob medida?

— Era.

Céus...

— Eu ainda não acredito que você fez isso!

Jenny deu uma risada.

— Era só um vestido, Kelly. E um vestido não define a noiva, se definisse, coitadas das que se casam em Las Vegas.

— Ir para Las Vegas pareceu tão tentador agora. – Falei. – Imagina me casar em uma capela onde o Elvis Presley é o celebrante?

— Imagina o tanto que você vai ouvir do seu pai se você e o Henry fugirem para Las Vegas para se casarem? Se ele já está daquele jeito porque você não avisou que tinha marcado a data, se você se casar sem a presença dele... eu nem quero saber o que ele vai fazer.

— Las Vegas já não é tão tentadora assim... – Falei depois de mentalizar meu pai quase dando um AVC quando descobrisse que eu havia me casado escondido. – Mas, falando no Marine de mau-humor lá em cima, acha que ele vai superar isso?

Jen deu um sorriso, e olhou para o alto da escada, em direção ao quarto onde Sophie estava.

— Ele já superou Kelly. É só uma data. Ele só não está gostando de uma coisa. – Ela falou baixo.

— Que é? – Acompanhei o tom de voz dela.

— Que você vai deixá-lo em definitivo, Kelly. E isso vai levar tempo até que ele se acostume.

— Mas isso acontece com todo mundo! – Protestei.

— Sim, acontece. Mas sempre foram vocês dois, Kelly. Você foi o mundo do seu pai por todos esses anos. Tente entender. Não será fácil para ele ver você partir. E você sabe tão bem quanto eu que ele não vai falar nada, porque ele não se abre facilmente.

Mordi o lábio inferior. Isso eu não tinha pensado.

— Ele tem a Sophie agora...

— Não é a mesma coisa, Kelly. Vocês são completamente diferentes, e, apesar de serem irmãs, têm histórias completamente distintas. Não tem nem comparação.

— Um dia ela vai fazer isso também. – Argumentei.

— Vai. Ela vai sair de casa, ela vai ter a vida dela, e ele vai ter uma reação como essa também. O seu pai é assim, Kelly. Ele faz qualquer coisa para proteger as meninas dele e quanto mais distantes elas estiverem, mais difícil é para ele. Contudo, acredite em mim, ele vai aceitar, só dê tempo a ele e não o pressione muito.

— E Jennifer Shepard mais uma vez me dando conselhos. Por que eu não conversei com você assim que marcamos a data?

— Porque você gosta de sofrer, Kelly. E quanto à sua sogra, se você não bater o pé, não mostrar que está no comando, ela não vai te deixar em paz. Às vezes, todo mundo precisa deixar a diplomacia de lado para poder se impor. Como seu pai disse, é o seu casamento, suas escolhas e decisões.

Concordei com ela.

— Bem, se você não precisa mais de mim por aqui, eu vou ver como a minha filha está, apesar de que acho que já é mais manha do que tudo. – Ela deu um sorriso e se levantou do sofá. - Se precisar de algo, pode contar comigo.

Jen não tinha dado dois passos e meu celular tocou.

— Henry? – Ela perguntou.

— Sim. Acho que ele deve ter ouvido nossa conversa.

— Mostre para ele e para a família dele um pouquinho do sangue Gibbs, Kelly. Já está passando da hora. – Jen me aconselhou.

E essa também não era má ideia.

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Assim que pisei no quarto encontrei pai e filha dormindo, bem, a Sophie estava dormindo, Jethro não me enganava.

— Fingir que está dormindo para poder escutar a minha conversa com a Kelly foi muito feio. – Falei dando um tapa na cabeça dele.

Jethro me encarou feio.

— Falei alguma mentira?

— Não, mas gostei do que você falou no final – Ele me respondeu.

— Você já teria perdido a paciência há muito tempo. Ainda bem que Kelly não herdou todos esses genes...

— Não sei se isso é bom ou ruim.

Ficamos em silêncio por um tempo e era possível pegar algumas frases do que Kelly estava conversando. Quando ela perdeu a paciência de vez, escutamos:

— Não Henry, sua mãe não vai planejar o nosso casamento. E não, eu não quero todos os políticos lá, meu pai odeia política e não se esqueça, eu sou a noiva, se eu não for, não tem casamento.

Olhei para Jethro. Agora ele estava orgulhoso da filha.

Não sei o que Henry respondeu, mas Kelly retrucou na hora.

— E não coloque a minha irmã nesse meio. Se ela quiser, ela será a Dama de Honra. E se eu quiser, eu chamo a Abby, a Ziva e a Jenny como madrinhas. Sua mãe não vai mandar em nada. E por falar nela, de novo, diga para ela parar de fofocar sobre a Sophie. Ninguém em D.C., precisa ficar sabendo sobre ela, e, se por acaso algum paparazzo começar a perseguir a minha irmãzinha, Henry, você sabe que eu serei o menor dos seus problemas, não sabe?

A conversa parou por instante, mas Kelly voltou a falar ainda mais brava.

— Eu?! Henry o máximo que eu vou fazer é terminar com você, meu pai e a Jen vai te trucidar, te ressuscitar e te matar de novo, isso depois que a Ziva te torturar. E pode ter certeza de que ninguém vai saber sobre isso porque a Abby é a única pessoa que pode desaparecer com um corpo sem deixar rastros. Então, amor, você tá ferrado, ou a sua mãe cala a boca ou você já era.

E não escutamos mais nada...

— Isso foi para impor mais do que respeito. – Comentei.

— Se fosse o suficiente para deixar o Engomadinho longe. – Jethro respondeu.

Com pouco escutamos os passos de Kelly na escada. Eu fingi estar muito ocupada medindo a febre de Sophie quando notei o que minha filha vestia.

— Que moletom é esse? – Ela estava vestida com um moletom vermelho com as letras USMC estampadas em amarelo.

— Ela não me pediu um? – Foi a resposta de Jethro.

— Não é o aniversário dela, Jethro. Eu não gosto que ela ganhe presentes fora das datas, quer que ela cresça mimada?

— Jen, é o primeiro presente que eu dou a ela. E Sophie ficou verdadeiramente feliz com ele.

Quanto a isso eu não poderia falar mais nada. Ele tinha razão.

— Vermelho?

— Foi o que sobrou. – Foi a explicação dele.

Eu tive que rir.

— Não. Eu me lembro de um preto, vermelho, azul e um cinza....

— O preto despareceu com a Kelly. O azul você sabe onde está.

— E entre o cinza e o vermelho, a Sophie ganhou o vermelho?

— Combina com o cabelo dela.

Acabei por dar um tapa nele. Coitada da minha filha.

— Na verdade, tem dois pretos. O outro tá no porão... – Kelly respondeu da porta.

— E então, como foi? – Perguntei depois de ter encarado vitoriosamente Jethro.

— Henry vai ter que ser bem criativo para desfazer a bagunça, mas posso dizer que nem ele gostou da fofoca que a mãe fez.

— O que não adianta mais em nada, já sabem sobre ela. – Jethro falou, ajeitando Sophie no colo dele, e ela dormia sem nem se perturbar com o barulho.

— Acha que vão atrás dela? – Kelly perguntou incerta.

— Sim, vão. Só nos resta tentar protegê-la. – Falei por fim.

— Regra #01: Nunca confie na sua sogra. – Kelly disse e foi saindo do quarto. – Eu juro que essa Caroline ainda vai me tirar do sério. – Falava enquanto descia as escadas.

— Essa regra da Kelly poderia estar no meio das suas, afinal, Jethro, eu duvido que você goste de alguma das suas sogras. – Brinquei.

— Precisaria me preocupar com a Sra. Shepard? – Ele pareceu preocupado.

— Para a sua sorte, não. Mas tenho certeza de que ela não iria se opor a você, minha mãe era gente boa, quem não ia gostar de você era meu pai...

— Isso não seria novidade. – Foi o que ele me respondeu.

— Então foi daí que você aprendeu a não gostar do seu genro, Jethro?

E em menos de um segundo ele deu a conversa por encerrada.

— Homens, sempre tão previsíveis. – Falei. – Vai continuar com ela ou quer mudar o turno.

— Vai lá ajudar a Kells com o casamento.

— Jethro, isso ainda vai demorar.

— Confio mais em você para ajudá-la do que a Senhora Sanders.

Ótimo, acabaram de me incumbir para ser a ajudante oficial de Kelly.

— Eu só vou porque você está cuidando direito da minha filha. – Falei antes de dar um beijo na cabeça dela.

— E eu? – Ele perguntou injuriado.

Olhei para ele e acabei me levantando.

— Não. Vai ficar sem beijinho. – E o deixei encarando a porta enquanto ia tentar acalmar a Noivinha do Ano.