Depois do aniversário de Jethro o tempo pareceu passar ainda mais rápido. Kelly voltou para Anápolis e só dava notícias por telefone, sua residência e treinamento se intensificando à medida que o ano se acabava.

Na agência, apesar de Abby e Tony ainda tentarem discretamente saber sobre nossas alianças, não conseguiram nada. Ziva, por outro lado, foi bem direta, perguntando sem rodeios quem casaria primeiro, eu e Jethro ou Kelly e Henry, a resposta que ela recebeu? A de que nem todo mundo precisa de casamento para ser feliz, porém Sophie não se importaria de ser a Dama de Honra do casamento da Tia Ziva com o Italiano de Araque preferido dela. Ziva ficou tão desconcertada que depois dessa nunca mais mencionou as alianças.

Não foi nem uma, nem duas vezes que paparazzis tentaram perseguir Sophie. E Melvin, foi um santo salvador nessas horas, sempre conseguindo despistar os mais atrevidos que chegaram a ficar na porta da minha casa para terem uma foto exclusiva da filha da diretora do NCIS. Quem acabou resolvendo o problema todo foi a própria Sophie, que cansada de ficar presa dentro de casa e ainda mais irritada de não poder mais nos visitar no Estaleiro, resolveu, por conta própria enquanto saía da escola, parar na frente de um dos fotógrafos e muito deliberadamente perguntar:

— Você não tem mais o que fazer não? – Ela encarava zangada o paparazzo que, de tão aturdido, nem conseguiu tirar a foto.

Quando um outro veio com a câmera para perto dela, Sophie soltou:

— E você, tá tirando foto minha por quê? Eu não sou famosa! Quer um famoso, vai para Los Angeles.

Toda essa cena foi gravada por um vespertino de fofoca e passava em loop durante a programação.

Estava na sala do esquadrão, tentando entender o motivo de Jethro ter derrubado uma repórter no chão quando Cynthia me informou que a minha filha estava na TV e eu quase dei um infarto com essa notícia. Peguei o controle da mão de Tony e liguei a TV no canal que Cynthia me informara, e lá estava toda a cena passando em reprise.

Os apresentadores riam do que ela havia falado, achando a atitude dela muito parecida com a da mãe. Outro comentou sobre a personalidade forte que ela já tinha, e foi além, disse que quando for adolescente vai ser terrível. Por fim, uma das mulheres cheia de botox na cara falava:

— Será que o pai dela é o bonitão que foi com a Diretora Shepard no baile dos Fuzileiros?

O outro que ainda estava dando gargalhadas da pergunta de Sophie, disse:

— Eu tenho quase certeza que é. Ele não é aquele agente que derrubou uma jornalista hoje de manhã? Tal pai, tal filha.

E para piorar ainda mais a situação, colocaram as duas cenas lado-a-lado.

Eu quis morrer. Aquilo era o pesadelo das Relações Públicas.

Jethro encarava a tela com interesse, tentando conter o riso e a cara de orgulhoso enquanto via a filha encurralando o paparazzo. Ziva e McGee se mantiveram quietos. Abby surgiu das profundezas do seu laboratório para comentar o que ela tinha acabado de descobrir e ficou para ver o programa. Foi Tony quem soltou a pérola e eu me pergunto: por que sempre ele?

— Sabe, Chefe, olhando assim, ela tem a mesma encarada que você! – Ele apontou para a imagem de Sophie, de braços cruzados encarando o fotógrafo.

Foi Tony comentar isso, e um dos apresentadores notar a semelhança. Era a gota d’água. Saí da sala e tentei buscar paz no meu escritório, foi inútil, a secretária de SECNAV me ligou na minha linha pessoal me informando que o próprio queria uma reunião urgente comigo, no MTAC, dentro de quinze minutos.

Eu só tinha que pensar na melhor desculpa do mundo para tentar acalmar a fera.

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Eu nem sei o porquê de Jen ter ficado tão chateada com a história da repórter. Nem foi minha culpa, ela derrubou o meu café e depois aconteceu aquilo. É claro que a mídia iria fazer uma bagunça, eles vêm tentando qualquer coisa para tentar derrubar a diretora, e um descuido lá estava o NCIS nas últimas notícias.

Eu pouco me importava com o que a repórter estava passando, se ela ficou ofendida ou não. Eu tinha um caso para resolver e o resolveria com ou sem repórteres. E estava pronto para falar isso com Jen quando Cynthia apareceu e cochichou algo no ouvido da Chefe.

Jenny ficou lívida e apavorada, em um piscar de olhos tinha tomado o controle remoto das mãos de DiNozzo e ligava a TV em um canal qualquer.

Eu nunca vira aquele programa, mas eu conhecia a garotinha que estava estampando a tela. Era a minha filha mais nova.

De início eu quis saber o motivo de ter tantas lentes atrás dela, e por um segundo achei que eu era o culpado, porém não era pelo o que eu havia feito. Todas aquelas câmeras estavam ali por outro motivo, mais precisamente, queriam uma foto da tão falada filha da Diretora do NCIS.

Acontece que Sophie não tem lá muita paciência com tudo isso de mídia e já vinha reclamando que não estava gostando de tantas câmeras todas as vezes que ela tinha que ir a algum lugar. E sempre completava: “Nós não somos famosos. Ninguém aqui está em algum filme.”

E pelo visto hoje foi a gota d’água para ela também.

A cena era tudo o que não se espera de uma garota de cinco anos. Ela vem com a cara emburrada e direto para um dos fotógrafos, parou bem na frente dele, pôs as mãos na cintura e disparou:

— Você não tem mais nada para fazer não?

Esse não soube nem o nome dele depois dessa, mas os demais aproveitaram para tirar o máximo de fotos que conseguiam. E quando a ruivinha notou isso, soltou outra pérola:

— E você, tá tirando foto minha por quê? Eu não sou famosa. Quer um famoso, vai para Los Angeles.

Eu quis gargalhar da pergunta. Só Sophie para perguntar isso diante de mais de vinte câmeras.

E as imagens ficaram em reprise enquanto quatro pessoas que são tão a toas quanto os paparazzi comentavam sobre a personalidade de Sophie. Até que alguém fez a associação da Ruiva comigo.

Até que demoraram...

E a tela foi dividida com a cena de Sophie e o que havia acontecido na cena do crime.

Definitivamente, Sophie herdou a minha encarada.

Ia comentar algo, porém a comparação foi demais para Jen, que subiu as escadas tão depressa quanto seus saltos lhe permitiam.

Depois de dez minutos, vi que ela, ainda com uma feição não muito boa, entrava no MTAC. Muito provavelmente SECNAV queria encher a paciência dela também.

Acabei por me dedicar ao caso, a TV ainda estava ligada no mesmo canal e, antes que o tal programa acabasse, os apresentadores ainda comentaram mais um pouco sobre minha filha. A última frase que ouvi:

— Espero que ela seja a Diretora do NCIS um dia ou que entre para a política, porque com essa personalidade, essa Ruivinha aí vai longe.

Ziva, DiNozzo e McGee também ouviram o comentário e olharam da televisão para mim.

— Voltem ao trabalho. – Ordenei.

— Sim, Chefe. – Tony falou, mas notei o sorriso dele. Esse aí era outro que não ia aguentar esperar por ver Sophie em uma dessas duas posições.

Nem vinte minutos depois, minha atenção foi atraída por passos que eram bastante incomuns em um prédio federal. Quando levantei a cabeça, Sophie vinha pulando por entre as mesas e parava na frente da minha.

— Oi papai! – Ela estava mais do que feliz.

— Posso saber o motivo do seu sorriso? – Perguntei.

Ela deu a volta e veio se sentar no meu colo.

— Pode. Primeiro, eu acertei todas as questões da prova de matemática. Fui a única da sala a fazer isso. – Ela me garantiu e abriu um sorriso ainda maior. - E depois, não tinha mais nenhum repórter atrás da gente, quando Melvin foi me buscar na aula de kung fu. E é por isso que eu estou aqui!

— Parabéns pela nota. – Comentei. – E será que a falta de fotógrafos atrás de você não tem nada a ver com o fato de que a mocinha perguntou se eles não tinham nada melhor para fazer?

Sophie me encarou com os olhos arregalados.

— Como o senhor sabe disso? – Ela estava apavorada.

Tony começou a tossir e atraiu a atenção da garota.

— Tony? Tim? Tia Ziva? – Ela pediu por ajuda.

— Você apareceu na tv, Peste Ruiva.

E Sophie ficou sem entender nada.

— Por quê?

— Por que, o que? – Tony retrucou.

— Por que eu apareci na tv?

— Por ser filha da sua mãe. Ela é importante. E logo, queriam saber como você é. – Tentei explicar.

— Para que?

— Só curiosidade.

Sophie não gostou nada disso. E todo o bom humor dela foi embora.

— Não gostei. Por conta dessa gente, eu não posso nem brincar no gramado da frente....

— Eu sei, filha. Mas acho que agora eles não vão mais te perturbar. – Tentei alegrá-la. E até tinha funcionado, porque ela abriu um sorriso, porém não durou muito, logo Abby apareceu e soltou:

— Olha, se não é a marrentinha do NCIS! Você pode ter puxado a Jenny em muitas coisas, mas no quesito, odiar repórteres, tenho certeza de que isso é 100% DNA do Raposa Prateada.

Sophie olhou para Abby e depois escondeu o rosto no meu peito.

— O que eu falei demais? – Abbs perguntou.

— Nada, Abby. Encontrou algo?

— Mas é claro, Gibbs, ou eu não teria vindo aqui. – E ela começou a falar das descobertas que fez.

Mandei Tony e Ziva atrás da pista e achei que não seria uma boa ideia ter Sophie por ali enquanto esse caso era resolvido.

— Hey, Ruiva. Vamos ver a sua mãe?

— O senhor me promete que a mamãe não tá chateada comigo?

— Com você? Não. A sua mãe está chateada é com outra pessoa.

— Tudo bem. – Ela pulou do meu colo e ficou me esperando depois de pegar a mochila e a blusa de frio.

Subimos as escadas devagar, era impressionante o quanto de novidades Sophie sempre tinha para contar. Assim que entramos na antessala onde Cynthia ficava, esta começou a me impedir de tentar entrar no escritório da Diretora, até que ela viu Sophie.

— Olá, Sophie! Tudo bem?

— Oi Cynthia!!! Tava com saudades! – Sophie foi lá e abraçou a assistente da mãe. – Mamãe tá ocupada? – Perguntou assim que voltou para o meu lado.

Não dei tempo de Cynthia responder e fui logo abrindo a porta.

Jen deu um suspiro cansado, já sabendo quem era.

Agente Gibbs, o que posso fazer por você? – Ela começou com o papo de Diretora.

— A Madame tem visita. – Informei.

Jen tirou os óculos e olhou desconfiada para a porta. Sophie entrou logo em seguida e, ao invés de ficar do meu lado, foi logo falando:

— Papai, por que o senhor não bateu na porta? A mamãe poderia estar ocupada!

Encarei a miniatura de ruiva que esperava uma resposta e pelo canto do olho vi o sorriso presunçoso de Jen.

— Acho que isso ela puxou de mim, Jethro. – Foi o que ela me respondeu.

Dessa vez Sophie tinha jogado contra mim.

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Mas é claro que Jethro viria me perturbar mais cedo ou mais tarde, ele simplesmente não entendia o conceito de “diplomacia”. E, também não sabia me deixar em paz enquanto eu tento consertar o que ele fez, quando isso é o mínimo que ele tem que fazer. Assim, ele que resolva o caso dele, enquanto eu faço o meu trabalho, que ele adora dizer que se resume em puxar-saco.

E era exatamente isso que eu estava fazendo, bancando a diplomata entre o NCIS, SECNAV e a mídia, quando ele invadiu a minha sala.

Nessas horas eu tinha um milhão de pensamentos doidos para serem verbalizados, porém, por respeito ao cargo que ocupo, eu não soltaria nenhum.

Agente Gibbs, o que eu posso fazer por você? - Foi o que eu disse no lugar de cada um dos pensamentos impróprios.

— A Madame tem visita. – Ele veio com aquele sorriso presunçoso de quem sabe muito bem que está me irritando. E novamente eu quis soltar o que estava pensando.

E ainda bem que mesmo querendo pular no pescoço de Jethro, eu não disse nada, afinal, logo atrás dele, entrou a nossa filha. E, diga-se de passagem, eu nunca amei tanto a minha pequena quanto naquele momento, pois assim que ela entrou na sala, ao invés de me cumprimentar, foi logo dizendo:

— Papai, por que o senhor não bateu na porta? A mamãe poderia estar ocupada!

Jethro a encarou completamente aturdido, acho que ele esperava que Sophie o acompanhasse na falta de educação. A pequena ainda o encarava, querendo respostas. E eu não contive o sorriso vitorioso que se espalhou pelos meus lábios.

— Acho que isso ela puxou de mim, Jethro. – Olhei para ele e Jethro tinha um olhar que misturava fúria e a certeza de que isso teria troco.

— Papai. – Sophie o chamou.

Ele olhou para baixo, ainda não muito satisfeito com o que a filha tinha dito. Me levantei da minha cadeira e dei a volta na mesa, parando de frente para os dois. Eu esperava que Sophie viesse com aquele sermão para cima do próprio pai.

— Não se pode ir entrando nas salas, quartos e escritórios das pessoas sem bater. É feio. E além do mais, a pessoa pode estar ocupada com outra coisa e o senhor pode acabar atrapalhando! Imagina se a mamãe estivesse em reunião com alguém importante? Isso poderia prejudicar algum caso ou até mesmo o NCIS!

Se fosse fisicamente possível, creio que os olhos de Jethro teriam saltado das órbitas. Pelo bem da minha filha, eu contive a risada, o Grande Leroy Jethro Gibbs tinha acabado de levar uma bronca de uma garotinha de um pouco mais de um metro de altura e de apenas cinco anos! O que certos agentes não pagariam para ver essa cena!

Bem, enquanto eu mantinha a compostura, pude ouvir que Cynthia não conseguiu. Ela, que tanto sofria nas mãos Jethro, tinha ouvido tudo, pois Sophie não tinha fechado a porta, e agora estava tentando abafar as risadas.

— Agora, papai, peça desculpas para a mamãe e me prometa que vai passar a bater na porta quando vier conversar com ela!

Olhei para Jethro com interesse. Ele encarava a filha mais nova, e eu sabia, internamente ele estava recusando qualquer ideia que se resumisse a pedir desculpas para mim e passar a tratar a minha porta como uma porta.

— Eu vou ver o que vou fazer. – Ele respondeu entredentes e foi em direção à porta. – Fique aqui com a sua mãe. – Ele saiu sem falar mais nada, batendo a porta em seguida.

Eu vi Sophie correr para abrir a porta e sabia exatamente o que ela iria dizer se conseguisse esse intento.

— A mocinha pode ficar onde está. – Falei. Sophie parou e se virou na minha direção.

— Mas mamãe, o papai bateu a porta ao invés de fechar! – Ela protestou. – Eu tenho que falar para ele que isso também é falta de educação.

— Vamos combinar que você vai fazer isso em outro dia...

— Por que não hoje? – Ela me olhou espantada.

— Porque seu pai é teimoso e detesta que chamem a atenção dele. E você já fez isso hoje, ele não precisa escutar dois sermões no mesmo dia.

— Mas eu não dei um sermão em ninguém, só perguntei o porquê ele não bateu na porta! – Sophie me olhava ainda intrigada.

— Para o seu pai foi como um sermão, acredite em mim. E por mais que ele seja um Fuzileiro e esteja acostumado a cumprir ordens, filha, tem um lado dele que se rebela em receber ordens de mulheres, principalmente da filha. Assim, deixe o assunto “não se bate uma porta ao sair de um lugar” para outro dia.

— Mas quando eu vou poder falar com ele isso?

Pensei.

— Daqui um mês.

— Ele não vai se lembrar que bateu a porta! – A ruivinha protestou.

— Ah, ele vai, Sophie, pode ter certeza de que ele vai se lembrar. – Garanti a ela. Desnecessário dizer para a minha filha que era o costume do pai dela não bater na porta ao chegar, mas ele sempre a batia quando saía.

Sophie não pareceu muito contente com a explicação que dei, mas a aceitou. Ela deu uma boa olhada no escritório e me perguntou:

— Posso me sentar no chão perto da mesinha para fazer o meu dever de casa?

— Deve. Mas antes, como foi na escola? – Perguntei, querendo saber se ela me contaria sobre o que havia feito com os paparazzi.

— Foi tudo bem. Eu fechei a minha prova de matemática. Fui a única da sala.

— Meus parabéns. Viu como estudar dá resultado?

— É. Eu vi. Mas não tava fácil não.

Estava fácil. – A corrigi.

Sophie me encarou como Jethro me encara toda vez que eu o corrijo.

— Mais alguma coisa? – Instei.

Sophie mordeu o lábio e olhou para os próprios pés.

— A senhora não tá com raiva, né?

Pelo visto já tinham contado para ela que eu já sabia o que ela havia feito.

— Quem te contou?

— Eu falei para o papai. E Tony disse que eu apareci na tv. Eu não queria isso! Juro! Eu só queria que aqueles fotógrafos parassem de ficar tentando tirar fotos nossas! Eu não gosto disso! – Ela terminou com um beicinho.

— Eu não estou com raiva, filha. Mas eu não quero você chegando perto de nenhum deles. Repórteres, e na grande maioria paparazzi como os que estão nos seguindo nas últimas semanas, tendem a aumentar ou inventar histórias. Assim, toda vez que você ver algum, eu somente quero que você mantenha a cabeça erguida e vá para o carro. Não fale mais nada, não chegue perto e se algum deles começar a fazer perguntas, finja que não escutou, tudo bem?

— Sim. Manter a cabeça erguida e não falar nada. Eu posso fazer isso. Mas mamãe, é verdade o que o papai disse?

— O que o seu pai falou?

— Que eles só querem a minha foto porque sou sua filha.

— Em parte, sim.

— Mas nós moramos aqui desde maio, e já estamos no final de novembro, por que só agora? A senhora é diretora há um tempão e só começaram a seguir a gente depois do aniversário do papai!

— Vamos dizer que descobriram sobre você, filha. Alguém contou para a imprensa sobre a sua existência, e como eu tentei te manter afastada de tudo isso por um tempo, agora eles querem saber todos os motivos por trás disso. Querem a sua foto, sua imagem, uma foto nossa junta, querem saber quem é o seu pai, onde moramos...

— E isso é certo?

— Não. Não é. E eles nunca vão embora de verdade, sempre vai ter algum que vai tentar tirar uma foto nossa em algum momento de distração, e eu sinto muito por isso, filha.

Sophie parou na minha frente e me abraçando, me disse:

— Não tem problema, mamãe. Eu sei que não foi a senhora que quis isso. Mas eu queria saber quem contou a nossa vida para a imprensa.

— E por que você quer saber disso?

— Para perguntar se a pessoa não tem mais nada o que fazer! O que essa pessoa ganhou com isso?

— Nada, Sophie. Absolutamente nada, mas tem gente que adora falar da vida das outras pessoas, para não ter que falar da própria. E isso é muito feio, fofoca é muito feio.

— Eu sei que é. A gente nunca deve passar para frente o que ouviu sem querer ou um segredo que te contarem, não é? – Minha menina me olhou, cheia de certeza.

— Isso mesmo. – Dei um beijo no alto da cabeça dela. – Agora vá fazer o seu dever de casa que eu ainda tenho muito o que fazer.

— Tá bom, mamãe. – A pequena pegou a mochila e foi para trás da mesa, fazer a tarefa.

— Qualquer dúvida pode me chamar.

— Chamo sim.

E Sophie se concentrou no que tinha que fazer mais rápido que eu. Eu ainda estava pensando em como arrumar a bagunça que Jethro havia feito e como eu ia tentar livrar a minha filha da imprensa, quando Cynthia bateu na porta.

— Senhora, SecNav novamente no MTAC.

— Obrigada, Cynthia. Tem como você dar uma olhada naquela ali por mim. – Apontei para uma muito concentrada Sophie que parecia fazer um exercício de matemática.

— Sem problemas.

— Qualquer coisa mais urgente, chame Jethro. Mas acho que ela vai ficar ali quietinha. – Avisei.

— Sim, Senhora. – Cynthia saiu da sala e me vi obrigada a quebrar a concentração se Sophie.

— Filha? – Chamei.

— Sim, mamãe?

- Eu tenho uma reunião no MTAC. Cynthia está na sala ao lado, qualquer coisa que você precisar é só chamá-la. Eu só te peço que não saia daqui, e não a chame à toa, pois ela também está trabalhando e está me fazendo um favor além das funções dela.

— Pode deixar, eu só vou lá fora caso eu realmente precise. Assim que acabar esse dever eu vou passar para o de história. – Ela me informou apontando o livro e o caderno.

— Ótimo. Eu vou conferir tudo com você assim que chegarmos em casa. – Dei outro beijo nela e fui para o MTAC, certa de que o assunto ainda seria o mesmo.

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O caso da modelo foi resolvido e eu ainda tentava entender como um pai poderia matar a própria filha. Era inconcebível para mim que isso pudesse acontecer.

Dispensei a equipe e assim que todos saíram ainda comentando o final inesperado, subi para o quarto andar. Iria mostrar para Sophie que tinha aprendido a lição e pelo menos nos momentos em que ela estivesse dentro do prédio, eu passaria a bater na porta da sala da Diretora.

Porém não precisou, a porta estava aberta. Justo quando eu quero ser um pouco mais educado.

Cynthia ao me ver, apenas disse:

— A Diretora não está. E Sophie está fazendo as tarefas.

— Tem muito tempo que Jenny saiu?

— Uma hora mais ou menos. Não se preocupe, agente Gibbs, Sophie está bem, eu estou de olho nela e ela está quietinha estudando.

— Obrigado por ficar de olho nela. – Agradeci, não era função de Cynthia tomar conta da Ruivinha.

— Não há de que, Agente Gibbs. Apesar de que ela não deu trabalho nenhum. – A Assistente de Jen me falou, mas notei que ela tinha ficado espantada por tê-la agradecido.

Meneei a cabeça em concordância e entrei no escritório, deixei a porta aberta, afinal nada de importante seria discutido ali.

Vi Sophie sentada no chão, debruçada sobre a mesinha de centro que tinha perto do sofá, mordia a ponta do lápis enquanto lia algo em um livro, a imagem da concentração, muito parecida com a própria mãe. Para não a assustar, parei perto da mesa e a chamei.

— Soph?

Ela levantou a cabeça na hora.

— Oi papai!! – Abriu um sorriso ao me ver.

— Fazendo o dever de casa?

— Na verdade, já terminei. Eu só tô lendo o livro de história mesmo.

— Matéria que já foi dada?

— Não. Acho que a Sra. Mackenzie só vai nos ensinar isso na semana que vem, mas achei interessante. – Ela falou marcando a página do livro antes de fechá-lo.

— Sei. E o que a senhorita vai ficar fazendo enquanto ela explica essa matéria?

— Prestando a atenção. Eu estou lendo, mas tem coisa que não tô entendendo.

— Qual a matéria?

— História.

— Bem, podemos sempre chamar o Ducky caso você não entenda alguma coisa. – Brinquei e me sentei no sofá atrás dela.

— O Tio Ducky sabe muita coisa! Eu adoro conversar com ele. – Ela me garantiu, enquanto guardava os materiais na mochila, com tudo arrumado, se sentou do meu lado, com outro livro na mão.

— E esse aí? Também é matéria da escola?

— Não. Esse aqui é meu mesmo. – Ela me estendeu o livro para que eu veja.

O Jardim Secreto?

— Sim. – Ela me falou toda empolgada. – Comecei a ler ontem. Mamãe falou que tem um filme.

— Falou a palavra preferida do DiNozzo.

Sophie riu mais ainda.

— Eu pensei em chamar o Tony e todo mundo para ver o filme, mas só depois que eu terminar de ler. – Ela disse e se ajeitou para ler o livro do meu lado.

— Se você conseguir fazer o Tony ler esse livro antes seria muito melhor. – Comentei.

Sophie levantou a cabeça para me encarar e franziu o nariz.

— Eu acho que o Tony não gosta muito de ler não... – Falou por fim.

Tive que segurar a risada.

— Continue com sua leitura até a sua mãe chegar. – Falei e passei meu braço pelos ombros dela, que sem pestanejar, escorou em mim e colocou os pés no sofá, se fazendo o mais confortável possível.

Ficamos ali por um tempo, Sophie concentrada no seu livro e eu apenas fiquei de olhos fechando, aproveitando o raro momento de paz. Pouco depois, antes mesmo que Jen entrasse na sala, escutei seus saltos, e só pela forma como ela andava, eu sabia que a reunião não tinha sido muito boa.

Da porta ela me lançou um olhar de poucos amigos, porém, suavizou quando notou que Sophie estava acordada.

— Ela te chamou? – Seu tom preocupado.

— Não. Eu subi para vê-la e como você não estava e já encerramos o caso, resolvi ficar aqui.

Sophie parou de ler e esfregou os olhos.

— Já vamos para casa?

— Sim, filha. Vamos. – Jenny a respondeu.

— A senhora demorou... – Sophie comentou.

— Tem dia que as reuniões demoram mais. – Jen tentou explicar.

— Eu sei! – Sophie respondeu, já guardando o livro. – Papai, o senhor vai com a gente?

Dei uma olhada para Jen, ela respirou fundo, mas não falou nada. E só para irritá-la, eu tive que dar uma resposta positiva para minha filha.

— Vou sim, alguém tem que garantir que você e a sua mãe cheguem em segurança em casa.

Sophie ficou alegre, já a mãe dela...

— Já guardou tudo na mochila, filha? – Jenny perguntou, tentando ignorar a minha presença.

— Tuuuuuddddoooo pronto, mamãe! – A pequena pulou e assim que conseguiu jogar a mochila nas costas saiu correndo para dar a mão para a mãe.

Acompanhei as duas um pouco mais afastado, estava escutando Sophie tagarelar sobre o livro que estava lendo, conversa que durou até Georgetown, e terminou de uma forma bem engraçada.

— Mamãe. – Sophie chamou Jen pela centésima vez desde que entrou no carro.

A paciência de Shepard, que nunca foi muita, estava por um fio, e se nossa filha continuasse a chamá-la insistentemente, eu teria que tirar Sophie de casa nessa noite.

— Diga. – Foi tudo o que Jen conseguiu falar, depois de apoiar a cabeça com a mão, e respirar fundo novamente.

— Eu tava pensando... – Ela começou, e eu tentei segurar a risada ao ver a carinha de sapeca que ela tinha ao falar. – Será que a gente podia convidar todo mundo para ver um filme e tomar sorvete no final de semana?

— Vamos ver....

— Ih... isso tá mais para um não do que para um sim...

Jen olhou pela janela e tentou não se desesperar, pois Sophie tinha acabado de começar a cantarolar uma música qualquer. Eu tentei, mas não consegui não rir da situação. E ao escutar a minha risada, Jenny me olhou torto.

— Não comece. – Ela sibilou.

— Não fiz nada. – Respondi no mesmo tom.

— Acha que não percebi? - Os olhos dela faiscaram.

— Percebeu o que? – Eu sabia do que ela estava falando, mas queria ver até onde ela conseguiria levar a conversa sem estourar.

— Que vocês dois tiraram o dia para me irritarem. – Sibilou baixo o bastante para que Sophie não a ouvisse.

— Isso é coisa da sua cabeça, Jen. Nós não fizemos um complô contra você.

E antes que Jen respondesse....

— Mamãe...

— Eu não aguento mais isso. Não hoje! – Ela estava a beira de estourar.

— Jen...

— Não comece!! Não comece! – Ela me avisou. – Com a Sophie eu não falo nada, mas com você.... lembre-se da Regra #09.

— Jen...

— Mamãe! – Soph clamou.

— Tal pai, tal filha! – Ela suspirou em derrota, assim que abriu a porta do carro e se foi para destrancar a casa.

— Mas o que eu fiz de errado? – Sophie me perguntou assim que desceu do carro.

— Sua mãe só precisa de uma folga, Ruiva. Então, por hoje, vamos ficar quietos.

Jenny só deu uma risada sarcástica antes de entrar em casa.

— Como se isso fosse possível! – Disse para ninguém em particular.

Sophie ficou muito injuriada com a fala da mãe e sobrou para mim, tentar não a deixar chateada.

— Vamos apostar com ela que conseguimos? – Pisquei para a minha filha.

— Valendo um final de semana de filme e sorvete e pipoca? – Ela se animou.

— Jethro. Não prometa o que você não vai cumprir. E os dois para dentro, está congelando aí fora.

— Acho melhor a gente entrar, ou a mamãe vai cortar a nossa sobremesa. – Sophie correu para dentro de casa.

Quando eu passei, Jen só soltou:

— Eu vou cortar muito mais do que a sua sobremesa, Jethro.

Eu ia ter que controlar a Sophie até a hora de dela ir para a cama, se quisesse sobreviver.