Carta para você

Momentos entre mãe e filha


Demorou, mas depois de uma semana indo e vindo, mal tendo tempo de ver minha filha, eu tinha o final de semana de folga. Kelly tinha passado a semana com ela, alguns dias dormindo aqui, outros na casa dela, até mesmo Henry veio. A conta era simples, todo dia, depois da aula de Sophie, Kelly dava um jeito de vir, e nessa confusão, a semana passou rápida, e eu só tive tempo de curtir as minhas duas filhas, na terça, quando saímos, já tarde, para que Kelly pudesse escolher a roupa que usaria na sua formatura. Ontem, Kelly se despedira de todos no estaleiro, intimando todo mundo para ir na formatura dela, depois, passou por aqui com Henry e os se despediram de Sophie, saindo para aproveitar o final de semana.

Assim, o sábado veio e, oficialmente, eu não tinha que trabalhar, tudo estava tranquilo no mundo e eu poderia tirar o dia para passear com a minha filha e compensar a falta de tempo das últimas semanas, isso se ela resolvesse acordar...

— Hei, bom dia, Ruiva! Vamos levantando?

Sophie só rolou na cama – minha cama, já que depois da nossa sessão de filmes da sexta-feira à noite (Anastácia pela milésima vez), ela apagou e eu fiquei com dó de tirá-la daqui – e disse qualquer coisa incoerente.

— Será que você se esqueceu que hoje é meu dia de folga e que eu te disse que poderíamos nos divertir depois das suas primeiras semanas de aula? – Falei acariciando os cabelos dela.

Foi como colocar fogo na pólvora, no mesmo momento ela acordou agitada.

— Mamãe!!! Isso quer dizer o que eu acho que quer dizer? – Ela se sentou na cama, seus cabelos parecendo uma pequena juba de leão.

— Se essa sua enrolação significa que vamos passear durante o dia todo, sim!

— EBA!!! – Ela começou a pular na cama.

— E bom dia para você também, espoleta.

— Bom dia, mamãe! – Ela veio pulando em minha direção e me deu um abraço e um beijo na bochecha.

— Agora vai lá trocar a sua roupa. Não se esqueça de que está esfriando cedo! – Tive que gritar, pois ela já estava do outro lado do corredor.

— A Kelly vai também? – Ouvi a pergunta da minha filha.

— Não. Ela está viajando com o Henry!

— Ah... eu queria que ela fosse... foi legal sair para comprar a roupa para a formatura dela!

Eu também queria, mas quanto mais ela andasse ou fosse vista comigo, maior era a probabilidade de Jethro ou alguém da equipe descobrir sobre Sophie e eu não queria isso. Apesar de saber que ela não será um segredo por muito tempo, mais cedo ou mais tarde algum tabloide vai conseguir fotografá-la ao meu lado e isso será a fofoca do mês.

Tinha acabado de ajeitar o quarto e me arrumar e nada de Sophie...

— Vai demorar muito? – Perguntei e, sem querer, acabei voltando para uma noite em Londres, quando Jethro fez a mesma pergunta um milhão de vezes.

— Eu tô quase escolhendo...

Quase... às vezes fico imaginando o que ele diria sobre a filha mais nova e todas as manias iguais as minhas e iguais as dele que ela tem...

— Vamos logo, Sophie, não temos o dia todo... – Fui apressá-la na porta do quarto. Para falar a verdade, ela já estava vestida, só faltava arrumar o cabelo.

— E que tal? Essa roupa tá boa? – Ela perguntou.

— No dia que jeans e sapatilha não estiver bom, me avise! – Eu brinquei com ela.

— Mas a senhora está de salto.... – Ela disse em um muxoxo.

— Um dia será a sua vez. E o cabelo, vai com ele solto assim?

— Vou...

— Então, deixa eu penteá-lo para você! – E ela correu para a beirada da cama e se sentou, enquanto eu colocava ordem naquela jubinha. – Estamos prontas, então?

— Sim!!! - Sophie pulou e depois correu até a cozinha para poder tomar o café da manhã.

—-------------------

Logo depois do café saímos. Dessa vez eu tentei deixar meus seguranças em casa, quanto mais gente, maior a probabilidade de se chamar atenção.

Levar Sophie para um parque de diversões tem lá as suas partes boas, a melhor de todas, ninguém, absolutamente ninguém, me reconheceu naquele lugar. Ali só tinha pais e mães que estavam levando suas crianças para passar um dia fora de casa, aproveitando os últimos dias antes que o frio tomasse conta de vez.

A melhor parte – tirando a montanha-russa que nós duas sempre adoramos – foi a barraca de tiro ao alvo. Sim, Sophie quis porque quis que eu tentasse a sorte naquela coisa, tudo porque tinha o bendito do Mushu de pelúcia e ela queria o dragão do desenho da Mulan de qualquer jeito.

— Mas mamãe, por favor! Imagina se a senhora ganha! – Ela me implorou, seus olhos azuis iguais aos do pai me fazendo titubear.

— Você já tem muitos bichinhos, por que mais um?

— Mas eu não tenho um Mushu! – Foi a resposta pronta dela.

E aqui ela era definitivamente a minha cópia, essa era a mesma desculpa que eu dava a mim mesma quando queria comprar outro par de sapatos...

— Tudo bem, mas nada de ficar chorando e implorando mais, ouviu?

— Sim! Eu ouvi!! E tenho certeza de que a senhora vai ganhar o Mushu para mim!! – Ela disse feliz, como se eu ser uma agente federal fosse um segredo só nosso.

Cheguei na barraca, pedi duas fichas, só para garantir. O rapaz, bem entediado para falar a verdade, me disse que teria três chances de derrubar três garrafas. Se as três caíssem, poderia escolher o presente que quisesse.

Olhei para Sophie e pisquei em sua direção, ela deu uma gargalhada e olhou com expectativa para os alvos.

— Onde? – apontei para as garrafas em uma distância ridícula para mim.

Ela se balançou nos próprios pés e me apontou, uma em cada canto superior e outra no meio.

O atendente deu uma risada, claramente achando que eu não derrubaria.

— Pronta? – Perguntei para ela.

— SIM! – Sophie ficou na ponta dos pés e tampou os ouvidos para não ouvir o estampido.

Uma garrafa...

Duas garrafas... – o sorriso de Sophie aumentando.

Três garrafas.

— Mamãe você conseguiu!! – Minha filhota pulou e me abraçou.

O atendente estava de boca aberta. Eu queria rir da cara dele, mas me contive. Era bom ainda conseguir surpreender alguém.

— Eu preciso perguntar qual bichinho você vai querer? – Perguntei olhando para minha filha que agora estava em meu colo.

MUSHU!!! – Ela cantarolou.

— O Mushu, por favor. – Pedi e o rapazinho assustado me entregou o dragão.

— A senhora é policial? Porque só uma para dar três tiros assim...

— Quase isso, garoto. E muita obrigada. – Me despedi do rapaz e segui para os próximos brinquedos.

Andamos pelo parque procurando o nosso próximo destino. E o único que restava era o trem fantasma.

— Vai encarar aquele ali?

Sophie apenas se escondeu atrás de minha perna e negou com a cabeça.

— Então já acabamos por aqui. Que tal irmos almoçar?

— Eu tô morrendo de fome! Podemos comer comida italiana?

— Mas é claro! Daquele restaurante do qual você gosta?

— Com certeza.

Chegamos ao carro, antes de colocar Sophie na cadeirinha, ou melhor, antes mesmo de abrir o carro, dei uma checada, para ver ser nada fora do normal tinha sido colocado ali. Não encontrei nada, então, ajeitei Sophie na cadeirinha do banco traseiro e fomos almoçar.

No caminho, liguei o som do carro e fomos cantando Beatles e os sucessos dos anos 80. Ensinar a minha filha a cantar Every Breath You Take era tudo o que eu queria,

O restaurante era mais um lugar onde ninguém que pudesse me reconhecer apareceria. Às vezes eu realmente amo o fato da minha filha ter puxado o pai e odiar lugares cheios de gente.

Comemos em paz, sempre brincando uma com a outra, às vezes ela roubava um pouco da minha comida e eu ia lá e fazia o mesmo. Algumas pessoas ficaram nos encarando, mas, a essa altura, depois de cinco anos, eu já nem ligava, estava mais do que acostumada a andar por aí com a minha filha, sem o pai dela ao lado.

Depois do almoço ainda nos restava um bom tempo pela frente, o dia estava ficando cada hora mais frio, porém, ainda dava para aproveitar muito.

— Shopping? – Perguntei.

— Não... vai que encontramos alguém lá! Sempre tem alguém que aparece do nada para nos assustar... – Sophie disse na sua simplicidade.

— Parque? – Tentei outra vez.

— Vou poder subir em alguma árvore?

— Nem pensar! Lembra de quando você caiu naquela vez em Londres?

— Lembro... doeu.

— Então, nada de subir em árvores.

— Tudo bem... mas mamãe, acabo de me lembrar que preciso de outra sapatilha de balé. A minha tá me machucando.

— Está com a ponteira quebrada ou está pequena?

— Tá pequena....

— Então temos que ir atrás de uma nova para a senhorita que não para de crescer!! – Dei um peteleco no nariz dela e, pegando a sua mão, fomos procurar uma loja de artigos de balé.

Como não era novidade, todo lugar em que Sophie entrava todo mundo perguntava sobre a cor dos olhos dela, a pobrezinha faltava pouco enterrar o rosto em minhas pernas de tanta vergonha. Suas bochechas ficavam vermelhas da cor de seu cabelo. E esta cena sempre me remetia a Jethro e como ele ficava todo sem graça quando ganhava um elogio.

— Já tem a sua sapatilha? – Perguntei para uma ainda muito vermelha Sophie que estava calçando várias e testando.

— Acho que essa aqui vai dar.... – Ela respondeu em dúvida.

— Acha?!

— É que tem algo nela que ainda está me incomodando... mas as outras estão todas grandes!

— Bem, temos um problema para resolver aqui... quanto tempo durou a sua última, você se lembra?

Sophie mordeu o lábio e franziu a testa, pensando.

— Acho que não deu um ano...

— Dá para dançar com essa que está um pouquinho maior?

— Se eu amarrar bem, sim.

— Melhor uma bem amarradinha do que uma machucando, não é?

— Sim... e, também, a gente não sabe quando vai dar para sair assim de novo, não é?

— Esse é o meu ponto, Ruiva!

— Mamãe... – e lá vinha ela de novo. – A senhora dançou balé, não foi?

— Dancei. Por muito tempo.

— Por que não dança mais?

— Parei há muitos anos, filha. E o balé assim como todas as outras danças requer prática constante.

— Mas a gente nunca esquece o que aprendeu... a senhora vive falando isso!

— Qual é a sua ideia, Sophie?

— Por que a senhora não compra uma sapatilha para você também? Assim a gente pode dançar juntas!! – os olhinhos dela brilharam com a possibilidade de poder dançar balé ao meu lado.

Pensei... tinha muito tempo que eu não dançava, tempo demais. Mas que mal poderia fazer colocar uma sapatilha no pé? Tirando, é lógico, a dor que vou ficar sentindo no outro dia.

— Como você consegue ser tão persuasiva, assim? Me explica e depois me ensine! – Fiz cócegas na barriga dela.

— Eu não sei, mamãe... mas para... – Ela dizia em meio às gargalhadas.

Depois de comprarmos as sapatilhas e mais algumas coisinhas. Decidimos dar uma voltinha no parque mais próximo. Não queria voltar para casa, pois sabia que tinha uma pilha de serviço me esperando.

Tinha um café na mão e Sophie um copo de chocolate quente. Às vezes ela saía correndo só para me perturbar, outras era eu quem a deixava um pouco para trás, fingindo me esconder dela.

O sol estava a ponto de se pôr quando meu celular tocou. Peguei Sophie pelo braço e mantive parada perto de mim.

— Diretora Shepard. – Atendi curiosa.

— Mil desculpas, Diretora. Mas precisamos da senhora no Estaleiro. – A voz de um dos técnicos do MTAC soava nervosa.

— É de extrema importância?

— Sim, tem relação com um dos casos abertos. E se isso não estiver na mesa do Agente Gibbs na segunda...

Respirei fundo. Eu sei o caos que vai virar a Agência se Gibbs não tiver com o que foi pedido na mão dele na primeira hora.

— Tudo bem. Dentro de pouco estarei aí. – E encerrei a ligação.

Olhei para Sophie e seus dois grandes olhos azuis me fitavam curiosos.

— Acho que um dos seus desejos vai se realizar hoje, mocinha.

Ela só tombou a cabeça e me olhou sem entender nada.

— Vou te levar para conhecer o Estaleiro.

— JURA?! – Ela gritou feliz.

— Sim. Vamos que eu tenho que chegar lá em tempo recorde.

— Indo para o carro!! – Ela começou a me rebocar.

Nada poderia acontecer de ruim em um sábado à tardinha.

—----------------

— Eu nem acredito que estou aqui!! – Sophie pulava e olhava tudo a sua volta.

E eu também conferia o lugar. Nenhum carro que eu reconhecesse como sendo dos membros da MCRT.

A levei para a entrada do prédio, e ela adorou o fato dos fuzileiros prestarem continência em minha direção.

— Isso acontece sempre? – Ela perguntou assim que entramos no elevador.

— Sim. Sempre.

— UAU!! – Seus olhinhos brilharam. – E os uniformes são tão bonitos.

Tive que conter o desespero e a risada.

— Papai usava uniforme quando vocês dois moraram no mesmo país? – Ela soltou do nada.

— Não. Ele já estava na reserva quando eu o conheci. – Respondi com a verdade.

— Será que Kelly tem uma foto dele de uniforme?

— Isso é só com ela.

— Eu vou pedir na próxima vez que eu encontrar com ela!! – Eu ri para o que ela disse, mas no fundo, fiquei bem curiosa, nunca tinha visto Jethro com o uniforme dos Marines.

E, assim, chegamos ao quarto andar. Por vias de dúvidas, não quis arriscar a presença de Sophie na sala dos agentes. Poderia ter alguém ali que passasse a informação para frente.

— Eu não acredito!! – Minha filha correu para corrimão e olhou para a sala embaixo, exatamente como eu sempre faço. – É enormeeee!

- Não é?

— Onde a Tia Ziva fica?

— Naquela área ali. – Apontei para o conjunto de mesas da MCRT.

— Depois posso ir lá?

— Eu vou te levar para conhecer o prédio. Só tenha um pouquinho de paciência que eu preciso resolver um problema.

— E onde eu vou ficar?

— Aqui, na minha sala. – Abri a porta e dei passagem ela.

A primeira coisa que Sophie fez foi correr para as janelas e observar o porto.

— Que vista linda! Dá pra ver bem longe daqui!! E olha! Tem um destroier ali!! – Ela apontou para o navio. – Dá para ver as estrelas?

— Sim. Dá. – Eu ri da empolgação dela. – Me promete que vai ficar quietinha aqui, até que eu volte.

— Prometo! Posso me sentar na sua cadeira?

— Pode. Mas não saia dessa sala, por nada, hein Sophie? – Pedi.

— Não vou sair, mamãe. Pode ir... aonde a senhora vai?

— No MTAC.

— A sala sem janelas?

— Sim... sem janelas.

— Ah....

— Vai ficar bem aqui? – Olhei bem nos olhos dela.

— Vou sim. – Ela me respondeu sincera.

Dei um beijo em sua cabeça dela e sai, antes de fechar a porta tive o vislumbre do enorme sorriso dela ao se sentar na minha cadeira e fingir que era a Diretora.

Me dirigi apressada para o MTAC, quanto mais rápido eu fosse para lá e resolvesse esse problema, menos tempo Sophie ficaria sozinha.

—---------------------

Tudo não demorou vinte minutos, e quando eu pude voltar para a minha sala, a porta estava aberta. Xinguei mentalmente, onde ela tinha se metido se eu a tinha mandado ela ficar ali dentro?

Mas ao chegar perto da porta aberta de meu escritório, pude ouvir a voz de Cynthia e de Sophie.

Ótimo. Agora minha fiel assistente sabia que eu tinha uma filha...

— Boa noite, Cynthia. Fazendo hora extra? – Perguntei assim que entrei.

— Senhora! Ahn.. Boa noite. Eu só vim entregar esses relatórios financeiros. Estava adiantando para a semana que vem.

— Sim. Muito obrigada. – Peguei os relatórios da mão dela. – Vejo que conheceu a minha filha.

— Se me permite dizer, senhora, ela se parece muito com você. E é muito linda.

Sophie corou com o elogio.

— Muito obrigada. – Agradeci o elogio e olhei em direção a ela.

— Uma pena que ela ainda não tinha aparecido por aqui. Mas fico feliz em conhecê-la. – Minha secretária me disse.

— Sobre isso. Por favor, mantenha silêncio. Mais ninguém aqui no prédio precisa descobrir sobre ela. – Pedi para Cynthia, certa de que ela entenderia o recado.

— Eu não vou tomar mais seu tempo. Tchauzinho Sophie! Foi um prazer te conhecer. Diretora, tenha um bom final de semana.

— Você também, Cynthia, até segunda.

— Tchauzinho para você também, Cynthia!! – Sophie acenou para ela.

Quando percebi que Cynthia não estava mais em sua sala, chamei por minha filha:

— Hei, Ruiva, vamos conhecer o prédio?

—-----------------------------

Eu nem sei o motivo de ter perguntando se Sophie queria conhecer o prédio... mal tinha fechado a boca e ela já estava parada na porta da minha sala, saltitando de ansiedade.

— Então vamos, mamãe... – Ela continuava pulando sem sair do lugar, algo que me lembrou em muito Abby e, por que não, a própria Kelly.

— Então vamos, senhorita apressada. – Dei a mão para ela e saímos do meu escritório.

Resolvi mostrar o prédio de baixo para cima. Tudo bem que a autópsia não é um local para crianças, mas em um sábado à noite, não teria absolutamente ninguém.

— E nós começamos por onde o Tio Ducky trabalha, junto com o Jimmy Palmer. – Falei da porta. Sempre detestei o necrotério, e não entraria lá por nada.

— Tá fechado? – Sophie foi logo chegando nas portas e ficando na ponta dos pés para ver lá dentro.

— Não. Mas não tem nada de importante aí dentro...

— E o Tio Ducky? Cadê ele?

— É sábado à noite, querida, ele está de folga!

— Ah, é!! Tinha esquecido... a senhora tá trabalhando por isso achei que todo mundo estaria aqui.

— Não, Ruiva. Só eu, os agentes estão descansando, só voltam na segunda-feira.

— Então a minha chance de finalmente conhecer a equipe do Agente Gibbs não vai acontecer, né?

Eu quase engasguei, justamente a equipe de Jethro que ela queria conhecer?

— Por que justo a MCRT que você quer conhecer? – Perguntei curiosa.

— Oras, mamãe! A senhora vive falando que eles são os melhores, mas que vivem te dando dor de cabeça. E pelo que fala, o Tony deve ser bem legal, e tem a tia Ziva na equipe. Eu tô com saudade da Tia Ziva!

— A Ziva anda ocupada. E o restante da equipe, quem sabe um dia, não é? Agora vamos para o próximo andar?

— E o que tem lá? – Sophie perguntou curiosa enquanto subíamos as escadas, eu evitava o elevador a todo custo, nunca se sabe com quem posso topar quando as portas se abrirem.

— Neste andar temos a garagem, o cofre e sala de evidências e um dos lugares mais legais do prédio... O Laboratório de Ciências Forenses, ou como é conhecido, o Laboratório da Abby! – Mostrei para ela.

— Podemos entrar?

— Aqui sim. Só não me pergunte para que servem todos estes equipamentos, porque não sei. É a Abby quem faz as mágicas aqui.

— Legal! E o que ela descobre? – Sophie parou observando o Espectrômetro de Massa.

— Bem, ela pode identificar as pessoas pelo DNA ou digitais, e pode descobrir o que era uma substância que foi encontrada na cena do crime. Sem contar que ela é capaz de fazer coisas que você nem imagina com um computador.

— Nossa!! A Abby deve ser demais!!

— Sim, ela é.

— E ela trabalha aqui sozinha?

— Sim... não deveria, mas ela prefere assim.

Sophie deu uma outra olhada no laboratório, indo para a parte de escritório.

— Mamãe, o que é CAF-POW!?

— É o café da Abby.

— Mas gelado? – Ela colocou a cabeça para fora ao me perguntar isso.

— Gelado?!

— Sim. Esse copo tá gelado!

Isso era um péssimo sinal. Abby estava no prédio.

— Quer ver mais alguma coisa por aqui?

— Acho que não. Deve ser legal vir aqui com tudo funcionando!

— E não esqueça da música alta. Abby só trabalha com a música no último volume.

— Nem conheço, mas já gostei dela!!

— É, ela também gostaria de você. Pronta para o cofre de evidências?

— É para onde?

Levei Sophie para o outro lado do andar. Com todo cuidado e ouvindo tudo, não queria trombar com ninguém.

A garagem e a sala de evidências não eram lá tão interessantes quanto o laboratório, principalmente porque não tinha nenhuma demonstração de alguma cena.

— E agora para onde? – Sophie me perguntou.

— Salas de interrogatório.

- Legal. Tem alguém lá?

— Não comece...

— Tudo bem. – Ela fez um bico.

Entramos no corredor, não sei porquê, mas minha intuição me dizia para ser rápida ali. Alguém estava nesse prédio e eu temia que fosse ele.

Mostrei tanto a sala de interrogatório quanto a de observação. Sophie ficou encantada com o vidro espelhado.

— Mas isso aqui é muito legal. De um lado se pode ver, do outro não! – Ela corria entre as duas salas para ver ou não ver nada. Mas a melhor parte foi quando eu liguei o intercomunicador da sala de observação e a chamei. Ela não esperava por isso e levou o maior susto.

— Mamãe!! Eu quase tive um treco!

— Nada disso. Pare de drama.

— Mas a senhora me assustou! Não me disse que tinha como conversar com quem está do outro lado do vidro!

Eu ria da sua cara emburrada. Até que chegamos na Sala do Esquadrão. Dei uma olhada e não vi ninguém.

— E aqui, é onde os agentes ficam. – Apresentei a sala.

— Nossa!! Olha essas janelas!!! – Minha filha correu para ver a vista. – Mas por que laranja?

— Já eram assim.

— Quem senta aonde? – Ela perguntou olhando em volta.

— Olhe as placas. Cada divisória representa um setor.

— Oriente Médio... Leste Europeu... MCRT. É aqui que a Tia Ziva trabalha!!! – Sophie apontou feliz.

— Sim.

— E qual é a mesa dela? – Sophie dava voltas olhando para as quatro mesas.

— Tente adivinhar. Você conhece a Ziva. – Brinquei com ela.

E a pequena olhou, olhou. Parou na mesa do Tony e algo que ela viu ali, não a agradou.

— A Tia Ziva não teria um grampeador do Super-Mouse, seja lá quem esse for. Nunca vi esse desenho...

Na próxima mesa – a de McGee – ela descartou na hora.

— Não... só tem computadores aqui... Tia Ziva é esperta, mas não.

E sobraram duas mesas. A de Ziva e a de Jethro.

Sophie parou bem na Jethro e ficou olhando. Depois se sentou na cadeira – e tal gesto me deu calafrios, ele perceberia que alguém esteve ali. – e disse, rodando na cadeira:

— Esse lugar tem cheiro de café, madeira e daquela coisa que a senhora bebe de vez em quando.... – Ela disse, e eu tive que conter a gargalhada. O que será que Jethro diria se ouvisse isso?

— Bem, na eliminação, é essa aqui a mesa da Tia Ziva!!! – Sophie correu para a mesa em questão. – Eu posso deixar um bilhete dizendo que estive aqui?

Pensei bem no assunto. Jethro não é de mexer nas coisas dos agentes, já Tony e McGee, e, sinceramente, a própria Ziva... Privacidade aqui é algo que falta. Mas, lembrei que a israelense era uma das primeiras a chegar, ela saberia esconder muito bem o bilhetinho.

— Pode, só não deixe tão à vista!

— Eba! – E Sophie pegou uma caneta e um post it para deixar uma mensagem para a tia. – Pronto! Agora eu vou colar dentro da gaveta dela, tenho certeza de que ela vai ver!!

— O que você escreveu? – Cheguei perto da mesa com o intuito de tirá-la dali, tive a pequena impressão de ouvir a voz de Jethro.

— Segredo!! Só a Tia Ziva vai saber!! – Sophie respondeu com um olhar zombeteiro a minha direção.

— Só uma coisinha, mocinha, eu chego primeiro que a Ziva, posso muito bem olhar o que você escreveu naquele bilhete.

— Sem graça!

Dei um tapa de leve na cabeça dela, e a levei para o meu andar.

— Mas já estamos aqui? – Ela disse contrariada.

— A senhorita faz ideia de que horas são?

— Não...

— Tarde o suficiente para voltarmos para casa!

— Já tá tão tarde assim? – Minha filha disse surpresa.

— Sim. Agora vai na minha sala e pegue os nossos casacos e a minha bolsa.

— Estou indo.

No exato momento que Sophie entrou no meu escritório, Jethro apareceu na sala do esquadrão. Quando ele me viu parada perto do corrimão, levantou uma sobrancelha.

— Fazendo hora extra, Jen? – Ele perguntou quando chegou na sua mesa e olhava em volta.

Engoli em seco, eu sabia que ele perceberia que alguém esteve ali.

— Pergunto o mesmo, Jethro. – Respondi. E eu estava nervosa. Era um olho nele e outro na porta do meu escritório.

— Só adiantando umas coisas. Veio para poder me dar a autorização? – Ele continuou.

— Sim. Já está tudo pronto. Dentro do MTAC. Segunda os técnicos vão te entregar.

— Vou facilitar o trabalho deles e pegar por mim mesmo. – Ele disse se encaminhando para a escada, que ele subiu de dois em dois degraus.

Dei passagem para ele, não queria encará-lo agora.

— Está tudo bem, Jen? Você está um tanto pálida. – Jethro parou na minha frente, invadindo o meu espaço pessoal e me encarava, tentando ler a verdade pelos meus olhos.

— Cansada. Detesto trabalhar na minha folga. – Respondi seca.

Ele me analisou de cima a baixo.

— Parece mesmo. Ainda mais com essas roupas empoeiradas. Onde você esteve? Algum encontro em algum haras, Jen? – O tom de voz dele era sombrio e eu pode notar uma nota de ciúmes.

— Não... não estava em um encontro, mas por que tanta curiosidade? – Eu sabia que a minha, nossa, filha, podia aparecer a qualquer momento, mas não resisti em não o perturbar.

Jethro não respondeu nada. Apenas chegou muito perto de mim, seus lábios encostando em minha orelha.

— Apenas mantendo um olho no que me interessa, Jen. Você sabe disso. – Ele disse baixo. Sua voz me fazendo arrepiar. E para completar, ele teve a audácia de colocar uma mexa do meu cabelo atrás de minha orelha.

— Para quantas outras ruivas você disse a mesma coisa? – Encarei seus olhos azuis, e me arrependi, eu já vira aquele olhar escuro uma vez. Ciúme puro, como naquela tarde em Marselha quando Zukhov beijou a minha mão e me elogiou.

Como resposta, recebi um meio sorriso e um aceno de cabeça. Ele rumara para o MTAC.

Respirei aliviada, pois quando a porta fechou atrás dele, Sophie apareceu saltitando.

— Estou aqui, mamãe... demorei um pouquinho, né? Estão manobrando o destroier, eu queria ver...

— Sem problemas, pimentinha. Vamos para casa?

— Mas e o MTAC? – Ela puxou a minha mão até a entrada.

— Viu que ali está escrito área restrita?

— Sim...

— Então, lá você não pode entrar.

— Tudo bem... então vamos para casa. Vamos ter pizza hoje?

— Posso pensar no assunto. – Levei Sophie para o elevador, quando as portas estavam se fechando, Jethro saiu do MTAC e me acenou. Prendi a respiração, será que ele tinha visto Sophie?

Quando finalmente chegamos no estacionamento, ao colocar Sophie na cadeirinha, ela simplesmente disse:

— Mamãe, por que a senhora está com cheiro de madeira, café e daquela bebida, parece que a senhora se sentou naquela mesa ao lado da mesa da Tia Ziva...

Por que Jethro tinha que ficar tão perto? E por que Sophie tinha que ter um olfato tão bom?