Não esperava encontrar ninguém em um sábado à noite no prédio, e muito menos Jen. Mas lá estava ela, de pé, perto do corrimão como quase todos os dias ela faz. Só que hoje tinha duas mudanças.

Primeiro suas roupas, eram informais e estavam empoeiradas e segundo, ela estava nervosa. Ficava olhando para baixo e depois para a direção de seu escritório.

— Fazendo hora extra, Jen? – Usei o apelido que ela tanto gostava, mas que havia me proibido de usar durante o expediente. Enquanto olhava em volta e notei que haviam mexido na minha mesa. Será que fora ela? Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela me retrucou com outra pergunta:

— Pergunto o mesmo, Jethro. – E lá estava, o nervosismo presente em sua voz.

— Só adiantando umas coisas. Veio para poder me dar a autorização? – Respondi olhando para ela, e Jen tinha os olhos focados em mim.

— Sim. Já está tudo pronto. Dentro do MTAC. Segunda os técnicos vão te entregar. – Ela disse, quase como querendo encerrar o assunto, tinha algo ali.

— Vou facilitar o trabalho deles e pegar por mim mesmo. – Disse me encaminhando para a escada, e subindo de dois em dois degraus, além de pegar o documento, eu queria verificar uma coisa.

Assim que cheguei ao topo, Jen me deu passagem, e, deliberadamente encarou as janelas. O que você está escondendo, quis perguntar... só tinha um motivo que a deixaria desconfortável na minha presença, então resolvi jogar com ela.

— Está tudo bem, Jen? Você está um tanto pálida. – Parei deliberadamente na frente dela, invadindo o seu espaço pessoal, e encarei seus olhos verdes, tentando ler a verdade por eles. Vi uma espécie de receio, e algo mais...

— Cansada. Detesto trabalhar na minha folga. – Foi a resposta rápida dela.

Continuei a observá-la, tinha algo de diferente nela, eu pude notar desde o primeiro dia do nosso reencontro. Algo nela, como um todo havia mudado. Por um lado, era a mesma Jen, mesmos olhos, cabelo, por outro ela tinha voltado diferente, não experiente ou madura tanto pelo tempo ou por tudo que viu. Ela tinha um olhar, uma expressão que eu não conhecia, que quando nós ficamos juntos, não estava ali.

— Parece mesmo. Ainda mais com essas roupas empoeiradas. Onde você esteve? Algum encontro em algum haras, Jen? – Não consegui disfarçar o ciúme que me tomou quando percebi que o nervosismo dela poderia ser por ter alguém com ela ali dentro... e eu quis invadir a sala dela e mandar o idiota para o inferno.

— Não... não estava em um encontro, mas porque tanta curiosidade? – Ela tornou a lançar um olhar para a porta da sala, contudo não conseguiu se conter e me provocou. E eu não tive como responder. Essa forma de me perturbar era tão característica dela, que me levou de volta para seis anos atrás. E se ela iria começar esse jogo, eu não ficaria atrás, cheguei bem perto dela, meus lábios quase encostando na sua orelha:

— Apenas mantendo um olho no que me interessa, Jen. Você sabe disso. – Falei baixo, somente para que ela ouvisse, e seu corpo respondeu a isso, vi ela se arrepiar ao som da minha voz. Ela ainda sentia algo. E, para poder me mostrar o quanto ela ainda poderia amar, coloquei uma mecha de seu cabelo vermelho atrás de sua orelha. Gastando mais tempo do que necessário para tirar a minha mão depois, observando seu corpo responder a mim. Sentindo o seu perfume e outro mais... Jen tinha um outro perfume impregnando a sua pele, o cheiro sendo até infantil demais. Foi quando ela me pegou de surpresa:

— Para quantas outras ruivas você disse a mesma coisa? – Seu tom de voz era neutro, mas vi uma pontada de tristeza na sua tentativa de me afastar.

Olhei demoradamente para ela, se Jen ainda tinha o poder de me ler, ela entenderia, e parti rumo ao MTAC.

Não me demorei lá dentro, ainda esperava vê-la parada ali fora, como que me obrigando a reconhecer que ela havia vindo ao Estaleiro somente para me ajudar, mas ela não estava mais lá, olhei em volta e a vi dentro do elevador, as portas estavam se fechando, mas eu pude jurar que havia outra pessoa ali dentro, de longe parecia uma criança, porém, rápido demais as portas de fecharam e eu não pude confirmar.

Fiquei com a cena na cabeça. Todo o nervosismo dela fazendo sentido se realmente houvesse outra pessoa com ela, mas uma criança? Se é que eu vira direito. Mas então tinha o perfume, infantil demais para ela. Parecia aqueles shampoos com cheiro de fruta que Kelly usava quando mais nova...

Na minha curiosidade acabei por entrar na sala dela. Tudo parecia normal, a não ser a cadeira fora do lugar, alguém se sentou ali e ficou brincando de rodar. Observei o local atentamente, uma das gavetas estava entreaberta, contudo, não vi nada que não deveria ali. Quando peguei a cadeira para colocá-la no lugar, o mesmo perfume infantil invadiu minhas narinas. Adocicado, com cheiro de morango e framboesa. Definitivamente de menina. Uma menina tinha estado dentro desse escritório. E a mesma menina estava com ela dentro do elevador.

Que criança poderia ser aquela?

Quando sai do Estaleiro, me peguei indo em direção ao endereço dela, até parei o carro na frente ao prédio, mas não desci, fiquei observando as sombras por trás das cortinas. E tudo o que pude ver era ela e nada mais.

Mas a imagem de uma Jen com uma criança ficou gravada em minha mente, não uma criança qualquer, a menina ruiva que estava sempre em meus sonhos.

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O restante do final de semana passou sem nenhum problema, nosso domingo foi calmo, mesmo que eu tenha ficado com receio de Jethro aparecer depois de termos trombado no sábado, mas ele não veio.

Sophie dormia um sono solto em meu colo enquanto eu pensava no que faria. Eu simplesmente não poderia escondê-la para sempre. Alguma hora ele iria acabar trombado com ela, ou pior, ela apareceria no NCIS por algum motivo. Isso sem contar que Kelly vinha insistindo em apresentá-la para o restante da equipe e a queria de todas as formas na sua formatura.

Teria sido tudo mais fácil se ele não tivesse se casado com a Stephanie há seis anos. Ou melhor, se eu não tivesse fugido...

E com esses pensamentos, acabei por acompanhar Sophie e adormeci. Tenho uma semana cheia pela frente, mas nada me tirava da cabeça que Jethro, de alguma forma, tinha visto algo.

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Depois de um final de semana parado, era hora de voltar ao trabalho. Bem, é verdade que essa era somente a minha oitava semana no NCIS. Eu já esperava de tudo, menos isso.

Mal tinha pisado na área das mesas da equipe, quando notei que tinham mexido nas minhas coisas. Não acredito que Tony teve essa audácia.

Revirei minhas coisas na mesa e dei uma conferida na minha cadeira. Nada de anormal estava ali...

Mas alguém tinha mexido ali. E com esse pensamento na cabeça, guardei a minha arma e estava pensando em como iria dar o troco em DiNozzo quando minha mão esbarrou em algo dentro da gaveta.

Um post it?

Descolei o pedacinho de papel da gaveta e fui lê-lo a letra de criança me chamando a atenção.

“Oi Tia Ziva!!!

Olha quem veio conhecer o prédio do NCIS!!

Eu tô com saudades!! Por que você não foi mais me visitar?

Xoxo

Sophie”

Eu não consegui conter o sorriso. Jenny deveria estar muito doida para trazer o Pingo de Gente aqui... se alguém a visse.

Foi com um sorriso no rosto que Tony e McGee me pegaram.

— Olha só, McNovato, parece que a ninja do Mossad teve um ótimo final de semana.

McGee, sensatamente, não disse nada.

— Qual é, McSilencioso, você viu! Ela estava sorrindo. Diz aí, Zee-vah, quem era ele?

— Pare de ser tão mexido!

— É enxerido, Ziva. – McGee me corrigiu

— Vocês me entenderam.

— Quem era ele?

— Pare com isso, Tony! Não tem nada aqui.

— Então eu vou olhar...

E DiNozzo começou a querer procurar na minha mesa.

— Eu juro, Tony. Se você encostar em algo, eu vou te matar com um clip de papel!!

— Isso é a prova de que você está escondendo algo... vamos ver. – ele veio para minha mesa.

— Eu vou arrancar...

— O que você vai arrancar, David? – Gibbs entrou de uma vez.

— Nada...

— O que tem no post it?

— DiNozzo! – Gibbs chamou o italiano.

— Mas Chefe...

Gibbs só deu um tapa atrás da cabeça dele.

— Já calando, Chefe!

— Comandante da Marinha desaparecido em um parque de diversões... peguem suas coisas.

— Nós sempre atendemos chamados desse tipo tão rápido?

— Neste caso sim, Ziva, o filho de seis anos do Comandante foi quem ligou para o NCIS, agora peguem suas coisas.

Fomos para o elevador com Tony e McGee discutindo sobre quem iria dirigir, eu acabei pegando as chaves. Já lá dentro, Tony, mesmo depois de Gibbs ter batido nele, continuou a me perturbar sobre o post it.

— Eu ainda vou descobrir o que tinha no post it, Zee-vah!

— Nem nos seus sonhos mais infames.

— INSANOS, David! – Os três agentes falaram comigo ao mesmo tempo.

— Vocês entenderam, não entenderam? Que coisa?!

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Na segunda cedo, fui a primeira a chegar no prédio. Algo me dizia que Jethro tinha feito uma visita ao meu escritório depois que saí com Sophie. E eu esperava que ele não tenha visto nada demais.

Passei pela sala do esquadrão, DiNozzo, Ziva e McGee ainda não tinham chegado, mas ele sim, porém não estava à vista. E isso me alarmou.

Subi as escadas, já esperando para encontrá-lo em minha sala. E não deu outra. Quando abri a porta, lá estava ele, parado no mesmo local onde a filha ficou observando o destroier no sábado à noite.

— Bom dia, Jethro. Há algo que possa fazer por você? – Perguntei ao me dirigir à minha mesa.

— Dia, Jen. Conseguiu descansar depois da hora extra de sábado? – Ele tinha um copo de café na mão e não me olhou quando fez a pergunta.

— Sim. Consegui. Espero que você também. – Respondi dando as costas a ele e vendo que em minha mesa tinha um copo de café também. Nunca era bom sinal quando Jethro estava amistoso a este ponto. Ele queria algo.

Rapidamente dei uma conferida em minha mesa, nada ali estava fora do lugar, a não ser a gaveta, onde guardo a minha arma, que estava entreaberta.

Jethro não disse mais nada continuava a tomar o seu café e a observar o porto.

— E então, o que te traz na minha sala a essa hora da manhã, Jethro? E obrigada pelo café.

— Só pensando, aqui tem uma boa vista para se fazer isso... – notei que ele me olhava de lado, como se testando os limites.

— Fique à vontade. – Dei de ombros, tirei a minha arma da cintura e fui guardá-la na gaveta. Quando o fiz, minha mão esbarrou em um papelzinho.

Um post it.

Precisei de todo o meu autocontrole para não reagir.

Eu sabia quem o tinha deixado ali. Era uma surpresa. Se estivesse sozinha eu já tinha pegado o papelzinho e lido e relido até a exaustão. Era uma boa forma de se começar a semana.

Contudo, eu não estava sozinha. Jethro estava a menos de um metro de distância e eu podia sentir o seu olhar poderoso em minhas costas. Ele estava me analisando com cuidado.

Fechei a gaveta, deixando o bilhetinho de Sophie lá dentro, trancado e longe dos olhos daquele que, até então, a ignorava por completo.

Pelo canto do olho vi que ele havia se movido. Vinha na direção da minha mesa. E, na beirada dela, à distância de um braço, parou e se encostou.

Levantei a minha sobrancelha em sua direção e escondi metade da minha face atrás do copo de café.

Era agora que a conversa mais desagradável que teríamos em tempos começaria.

Sem aviso, ele virou a minha cadeira em sua direção e me encarou.

— Se você não colocar isso para fora, pode acabar te matando. – Eu falei.

Jethro chegou mais perto e se ajeitou.

— Você não estava sozinha no sábado à noite.

E aí estava. Mentir era fora de cogitação. Dizer a verdade, agora? Também não era o momento.

— Por que diz isso? – Joguei verde, testando até onde ele estava disposto a ir.

— Sua sala ficou desarrumada depois que você saiu. E você não é disso.

— Você invadiu o meu escritório no sábado à noite, Agente Gibbs? Posso saber o motivo?

E aqui ele deu um passo para trás. Ele tinha admitido com todas as letras que tinha entrado ali, e isso era um atestado de que ele estava, de fato, querendo saber o que eu andava fazendo, mas ele deu a volta e veio com a pergunta mais estranha.

— Você trocou de perfume?

— Eu o que? Que história é essa, Jethro? – Respondi sem pensar.

— Parece que senti um perfume diferente em você... morango e framboesa. – Ele me encarava. Não tinha como eu sair dessa agora. Era o cheiro do shampoo da Sophie.

— E isso te incomoda? - Sorri em direção a ele.

— Meio infantil para você.

Eu gargalhei para esconder o meu nervosismo.

— É só um sal de banho, Jethro. Mas acho que isso não faz o seu estilo...

Ele coçou a cabeça, não sei o quanto que ele acreditou dessa história.

Ele iria dizer algo, mas o celular tocou. Salva pelo gongo.

— Um caso? – Perguntei sem querer.

— Sim. – A resposta foi automática. E, então, ele olhou de novo para mim. – Nós não terminamos essa conversa. – Avisou antes de deixar a minha sala.

Soltei o ar que não sabia que prendia e levei minha cabeça até as minhas mãos.

Como eu iria lidar com isso agora? – Pensei.

Respirei fundo e tentei me concentrar no que teria que fazer durante o dia. Nem dez minutos depois, estava pensando novamente no que Jethro dissera e em como iríamos resolver isso.

Eu ainda devia uma conversa a ele. Era para ter sido na sexta passada, mas o caso em que ele trabalhara, se estendeu até no sábado de tarde, e agora ele vinha com essa.

Nunca imaginei que uma conversa sobre um término pudesse ser tão complicada.

Encostei minha cabeça do apoio da cadeira e suspirei. Lá ia a minha segunda-feira embora. Foi então que lembrei, eu tinha algo para me fazer feliz bem ali do meu lado,

Abri a gaveta e tirei o post it de lá.

“Oi mamãe!

Como eu vi que a senhora ficou com ciúmes por eu ter escrito um bilhetinho para a tia Ziva, eu estou deixando esse para a senhora!

Tenha uma ótima semana! E não se esqueça, a senhora é a melhor e maior mãe do mundo!

Te amo!

Sophie.”

Li, reli, e fiquei encarando o post it. Minha pequena tinha o dom de ter sempre as palavras certas! Tirei o papelzinho da gaveta e o colei na contracapa da pasta que carregava comigo para todo o lado. Quando as coisas estivessem ruins bastava me lembrar que tinha alguém que me desejava uma ótima semana.

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Fiquei mais de uma hora presa em uma conferência com os Diretores do FBI, NSA e Segurança Nacional, tudo por conta do último caso da MCRT. Iria descer para poder saber se já havia alguma novidade, se o software já havia sido recuperado quando me deparei com uma cena mais do que inusitada para uma Agência Federal.

Jethro estava com um garotinho que presumi ser o filho do Comandante Tanner e os dois estavam conversando, o garotinho claramente se dando bem com Gibbs, enquanto este fazia às vezes de protetor do menino, agindo exatamente como um pai cuidadoso faria. E tal cena fez meu coração ficar apertado, pois, há meia hora de distância, tinha uma garotinha ruiva, mais ou menos da idade do menino, que ansiava mais do que tudo em conhecer o pai. Fiquei observando até que Tony e Ziva desceram as escadas e me tiraram do meu devaneio.

— Tudo bem, Madame Diretora?

— Vejo que você não leu o memorando, DiNozzo.

— Que memorando? – Ele me perguntou espantado.

— Aquele em que a Diretora fala que qualquer um que a chamar de Madame será extirpado...

Tony arregalou os olhos assustado. Para cortar o papo, pedi que avisassem a Gibbs que subisse, eu precisava conversar com ele.

Dois minutos depois ele estava parando do meu lado, na sacada em frente ao MTAC.

— Tinha me esquecido como você era com as crianças. – Falei sem pensar. – Já pensou em ter outra, além de Kelly?

— Isso é uma oferta, Jen?

Eu o olhei espantada. Não entendendo aonde ele queria chegar com tais palavras.

— Não, Jethro, não é. – Respondi.

— Tem algo de bonito nas crianças. – Ele falou, observando Zach conversando com Tony.

— E o que é?

— Quando elas mentem, elas não têm a malícia de tentar esconder. – Jethro me respondeu olhando em meus olhos. E eu entendi a mensagem. Ele falava de toda a encenação no avião e a carta que havia deixado.

Resolvi voltar ao caso, essa conversa não era apropriada para o local onde estávamos. Como eu desconfiava, Jethro estava certo de que o Comandante não era o culpado, era a vítima, mesmo que as provas dissessem ao contrário, ele acreditava nas palavras do garoto, e estava disposto a provar isto, tão disposto que até mesmo hospedou Zach em sua casa. Tentei não ficar pessoalmente ofendida por ele ter feito isso. Afinal, ele teve a escolha, nada mais justo do que eu fingir não ligar. Porém, quando fui até a casa dele para perguntar algo, não consegui tratar bem o pobre garoto, eu sei, ele não tinha culpa, mas eu tinha pegado as dores da minha filha, era para Sophie estar ali, naquele porão, com uma camisa velha do NIS, ajudando o pai a construir um barco.

Acabei por falar demais e esqueci que Zach poderia estar escutando, ele estava... e clamou que o pai era inocente. Que era realmente inocente. Crianças tendem a ver a bondade em tudo, mas nada é mais sincero do que a crença delas de que os pais não fazem nada de errado. Eu sei disso, Sophie jamais culpou Jethro por não ir vê-la, ela simplesmente aceita que ele está ocupado demais e que um dia irá.

Olhei para Jethro, o que nós faríamos se ao final, as provas contradissessem as crenças do pequeno?

Foi um excelente trabalho de todos, e, ao final, eu tive que admitir que estava errada, o Comandante Tanner não fez nada além de proteger o filho, estava à caminho do elevador quando vi Zach ao lado de Jethro, nas janelas que dão para o porto, os dois com um copo na mão, os movimentos sincronizados.

Por um momento, Jethro se abaixou e conversou algo com Zach, limpando o que presumi ser um bigode de leite do rosto do menino, as ações de Gibbs não era nada mais do que carinhosas. E a feição que ele fez quando Zach correu para encontrar o pai foi a de quem sente falta de ter uma criança em casa, de ter mais uma para chamá-lo de papai e correr de encontro a ele.

Balancei minha cabeça e apressei meus passos, eu poderia me esconder dele e de toda a equipe dentro daquele elevador, mas não poderia fugir dos meus pensamentos.

E se – uma vozinha no fundo da minha mente começou – e se ele nunca abriu as cartas, nunca ouviu a gravação da secretária eletrônica? E se ele nunca soube que Sophie existe? Será que eu tirei conclusões precipitadas de tudo? Será que eu privei a minha filha de ter um pai? Será que eu privara Jethro de ser o pai de uma menina nos últimos cinco anos?

Não consegui evitar o sentimento de culpa que me atingiu. Não, definitivamente eu estava exagerando, eu estava com ciúmes da cena que vira, porque eu queria que fosse a minha filha ali.

Mas o “E se” não saiu da minha cabeça, e me perturbou ainda mais quando cheguei em casa e fui recebida por Sophie e seu grito de “mamãe” e seu abraço de urso.

E se eu tivesse contado para Jethro?

E se eu tivesse insistido?

E se eu tivesse falado algo?

Será que seria ele, hoje, quem também estaria recebendo esse abraço de urso?