Logo no dia seguinte, levei o bilhete que fora jogado na minha porta para que Abby analisasse. Ela revirou o pedaço de papel do avesso. E não achou nada. Não tinha impressões digitais, não tinha nenhum DNA, não tinha uma mísera pista.

Claro que quando ela leu o que estava escrito, entrou em desespero. Perguntou o porquê de Sophie não estar dentro do prédio, perguntou o porquê de ela não estar escondida debaixo de nossas asas.

— Ela tem que ir para a escola e tentar manter uma vida normal, Abbs. – Era a nossa resposta a cada uma das perguntas.

— Mas a Jibblet!! Ela está em perigo! – Ela chorou.

Foi nesse momento que DiNozzo, Ziva e McGee chegaram, sem terem o que fazer e vendo que o “Chefe” estava desaparecido, resolveram descer até o laboratório para fofocarem. Quando chegaram, a única coisa que escutaram foram as palavras “Jibblet” e “perigo”. Foi o suficiente para que os três já chegassem com as armas nas mãos.

— O que aconteceu, Chefe? Como a Peste Ruiva está?

— Quem está mexendo com o Pingo de Gente?

— O que querem com a Pequena?

Encarei os três e Abby que andava de um lado para o outro murmurando qualquer coisa como detestar pessoas que limpam todas as pistas. Diante disso não me restou alternativa a não ser convocá-los para a minha sala e contar sobre a operação que eu estava coordenando.

Todos me seguiram e eu comecei a explicar, deixei de lado uma parte do que Tony fez, não querendo que ele e Ziva se estranhassem, por mais que ela soubesse o que operações infiltradas são. Ao final, relatei os acontecimentos do dia anterior a perseguição de Trent Kort à Sophie e a mim.

— Eu sabia que não tinha gostado dele à toda... – Abby murmurou.

— Deveríamos tê-lo prendido naquele dia! – Ziva foi além. – Ou melhor, eu deveria ter atirado nele ali!

— E você estaria presa agora, Ziva. – Alertei. Ela não gostou do comentário, mas o aceitou.

— Mas, e agora, como fazemos com a Sophie? – Tony perguntou, e ele estava levando a situação tão à sério que nem chamou minha filha pelo apelido.

Foi Jethro quem explicou o que ele queria que cada um fizesse. E a única certeza que eu tinha era a de que Sophie não ia gostar nada disso.

Sophie foi colocada sob proteção 24/7. Não saía da observação de ninguém. Por ordens de Jethro e, também para meu sossego, tinha sempre alguém da MCRT seu ao lado quando ela tinha que se deslocar. Para chamar menos atenção possível, preferi não usar os carros oficiais, pois esperava que ficaria mais difícil de segui-la, caso alguém planejasse isso.

Assim, passaram-se três semanas desde que fomos seguidas. Não ouve mais incidentes, mas nada me tirava da cabeça que alguém ainda nos mantinha sob vigilância constante e repassava os meus movimentos para Benoit.

Não demorou muito tempo e o próprio apareceu. No meio de uma investigação sobre um sistema de mísseis da Marinha, descobrimos que ele era um dos interessados na compra do software. Eu não duvidava que ele o compraria para revender mais tarde, por mais do que o dobro do preço.

Quando o nome dele e de Trent Kort apareceu nas telas da Sala do Esquadrão, a equipe ficou em alerta. Cada um tendo um plano particular para pôr as mãos na pessoa que teve a audácia de fazer de Sophie um alvo.

Foi preciso muito tempo para convencê-los de que a discrição era o melhor caminho. Que teríamos que enganar Benoit se quiséssemos pegá-lo. E essa conversa tomou boa parte do dia. A certa altura, quando começamos a traçar o planejamento para entregar o ARES ao La Grenouille, Jethro simplesmente pegou as suas coisas e foi em direção ao elevador.

Olhamos para ele assustados.

— É a minha vez de ser a escolta de Sophie. – Disse simplesmente.

— Não precisa ser a escolta dela. Só a pegue na escola e a traga para o Estaleiro. Prefiro ela aqui do que pensar que vocês dois estão fora. – Disse cansada, sentada em sua mesa – algo que ele não gostou muito.

Jethro saiu e eu me vi pensando em como enganar La Grenouille. Isso tinha que acabar o mais cedo possível... ou eu não aguentaria a pressão.

Quando minha filha chegou no prédio, nem tão feliz por ter perdido a aula de balé, estando tão próxima da apresentação de primavera, eu já tinha um plano em andamento.

— Posso ficar por aqui? – Ela pediu.

— Melhor você subir, Ruiva. – Jethro disse a escoltando até o meu escritório. Sophie não gostou de ter sido separada de nós e subiu emburrada.

Ouvimos a porta ser aberta e depois fechada, Jethro passou alguma instrução para Cynthia e depois desceu, me encarando como se quisesse saber o que eu tinha bolado.

— Ducky irá infiltrado. Ele tem as características necessárias. – Disse a ele enquanto observávamos McGee e Abby darem as instruções a Ducky.

— Mas e a parte técnica, ele vai se lembrar de tudo isso?

— McGee será a consciência dele. Espero que não se importe, vamos fazer uma pequena viagem pela fronteira.

Jethro levantou uma sobrancelha na minha direção.

— Cinquenta quilômetros dentro do território do Canadá.

— Sophie?

— Pode ficar aqui com Abby, é um voo de três horas para ir, sei que é um tanto longe, mas prefiro ela dentro desse prédio do que dentro da minha casa, aqui ela vai ter toda a proteção que precisa.

— Passagens?

— Jethro... não me subestime. Iremos de jato particular. Espero estar aqui antes da meia-noite.

Quarenta minutos depois partimos. Essa era a minha chance.

— Se você vai comandar a operação, quem vai dar o tiro?

— E você ainda me pergunta, Jethro? Tem outro sniper nessa equipe? – O encarei. Pelo menos dessa parte ele gostou.

Tudo estava indo bem, mesmo depois de Ducky ter dado uma escorregada e entregado o seu apelido. E quando eu achei que Jethro poderia dar o tiro e livrar o mundo daquele lixo que é Benoit, eu recebi uma ligação. Era da emergência. Atendi pensando que algo pudesse ter acontecido no Estaleiro.

Só que não era lá que algo acontecia, era aqui. E quem me ligava era o Diretor da CIA, me mandando recuar, pois aquela troca de informações era uma operação da sua agência, supervisionada por Kort.

- Não dê o tiro. Repito, não dê o tiro. – Disse para Jethro e Ziva que estavam posicionados. Frustrada, joguei o telefone longe. Minha chance mais clara em anos e eu tive que abrir mão. Eu estava possessa!

Kort ainda fez questão de pegar o comunicador de Ducky e ter certeza de que eu não faria nada.

O avião levando Benoit para qualquer lugar desse mundo decolou e eu fiquei ainda mais furiosa.

— Posso saber o motivo de nada ter dado certo nesta noite, minha querida? – Ducky me perguntou quando já estávamos voltando para D.C.

— A CIA, Ducky. Eles nos pararam. – Fui sucinta.

— E o que eu faço com isso? – Ele me entregou uma maleta.

Olhei para a pequena caixa preta no meu colo. Ali estava o pagamento pelo Ares. Cinco milhões de dólares em diamantes.

Já de volta à D.C e ao Estaleiro, a primeira coisa que fiz foi procurar a minha filha, ela dormia no laboratório de Abby, enquanto e cientista fazia outras análises para outros casos.

— Ela descarregou há duas horas. Mas pode ter certeza de que ela fez todas as tarefas, me mostrou os passos para a apresentação de balé dela, tomou banho, jantou e agora está de pijamas. Só a deixei aqui para que eu ficasse de olho nela enquanto eu trabalhava. – Abby me informou e eu me perguntei como Sophie pôde dormir com aquela música tão alta.

— Muito obrigada, Abbs. Fico te devendo uma! – Disse.

— Eu amo a Sophie, Jenny. E adoro crianças. Além do mais, não é trabalho algum!

— Agora, você junte as suas coisas, desligue os seus computadores e vá para casa. Pode chegar na hora do almoço para compensar as horas extras de hoje.

— Não precisa, Jenny.

— Faço questão, Abby. Ser babá não é sua tarefa.

Ela começou a desligar tudo enquanto eu fui para dentro do escritório, Abby tinha colocado um colchão de ar no chão, arrumado um cobertor estampado com caveiras e um travesseiro, além de ter emprestado Bert para que Sophie o abraçasse.

Jethro vez menção de pegar a filha no colo.

— Não, você vai escoltar Abbs até o carro dela, já está tarde, Jethro. Eu levo a Ruiva para o meu escritório.

— Você também deveria ir para casa, Jen.

— E vou. Mas antes tenho que colocar todos estes diamantes em um local seguro. – Lembrei a ele.

Peguei Sophie e ele guardou a cama improvisada para que o escritório não ficasse desarrumado, Abby nos esperava na porta. Seguimos para o elevador, os dois pararam no terceiro andar, para que a cientista pudesse ir para o seu carro e eu segui para a minha sala.

Lá dentro, ajeitei Sophie no meu colo e tive a curiosidade de ver os diamantes. Como eu tinha imaginado. Diamantes de sangue, nenhum marcado. Pensei na quantidade de pessoas que morreram para que aquelas pedras chegassem até aqui.

Meu telefone tocou. Estranhei a hora. No meu colo, minha filha se remexeu, incomodada com o barulho.

Era o Diretor da CIA, me colocando a par da operação que, sem saber, acabei participando. Ele me explicou tudo, disse que Kort tinha se infiltrado e estava coordenando tudo de dentro. Não sei o motivo, mas não acreditei piamente que Kort fosse o bonzinho. Ele parecia agir só sobre os seus interesses.

Eu brincava com uma das pedras preciosas enquanto era posta a par de tudo, Sophie ressonava em meus braços. Ao fim da ligação, ainda não entendia o motivo de ter ficado sabendo de tudo. Levantei meus olhos e vi Jethro parado na frente da minha mesa.

Contei para ele o que haviam me contado.

— Você não precisava ter me contado, Jen.

— Eu também não precisava ficar sabendo, mas alguém acha que sou de confiança. E eu confio em você Jethro.

— E o que vai fazer com esses diamantes?

— Entregá-los para o Diretor da CIA. Não quero isso aqui dentro do NCIS. – Guardei as pedras no saquinho de veludo e dentro da maleta, para então guardá-las no cofre da minha sala. A essa altura, Jethro já estava com Sophie no colo, ela deveria estar tão cansada que nem sentiu a mudança de braços.

Tranquei a minha sala e fui para casa. Sem saber o que os próximos meses me aguardavam.

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Depois da fuga de Benoit, Jen ficou ainda mais obcecada com a sua vingança, não importava o quanto eu falava ou quem falasse algo, sempre que ela podia estava monitorando os passos dele ou vendo as últimas fotos de vigilância que seus contatos tinham mandado.

Sim, virou obsessão. Ela tinha os seus motivos, é claro. Acontece que toda essa caçada acabou tirando ela do seu foco principal.

Nossa filha.

Sophie percebeu que a mãe andava estranha e notou que algo não ia bem. Chegou até mesmo a me encurralar na cozinha e soltar:

— Papai, o senhor não voltou a namorar com a Mala Sem Alça não, né?

— O que?! – Eu não sabia de quem ela falava ou se ficava abismado que ela pudesse pensar que eu estava traindo a Jen.

— O senhor voltou com a Coronel? – Ela resumiu a pergunta.

— Não, Ruiva. Por quê?

— Então por que a mamãe tá tão estranha? – Quis saber.

Como eu explicaria toda essa situação para ela?

— Bem, filha... - Vi que na cozinha era um local que Jen poderia aparecer a qualquer momento, atrás de um refil para o seu café, assim decidi levar Sophie para o quarto e tentar explicar o básico da situação. – Sua mãe está liderando uma operação complicada, há alguns dias o alvo acabou fugindo para fora do país e agora ela tem que descobrir onde ele está.

— Por acaso isso tem a ver com o careca que nos seguiu?

Essa Ruiva é esperta!

— Tem...

— E é por isso que cada dia é um da equipe que me busca e eu nunca fico mais em casa sozinha com a Noemi?

— Sim.

— E por que o senhor não tá ajudando a mamãe nisso?

Por que sempre tem que sobrar para mim?

— Eu estou, filha. Mas tem hora que a sua mãe precisa ficar sozinha para colocar os pensamentos dela no lugar.

Sophie estreitou os olhos na minha direção, tombou a cabeça e colocou as mãos na cintura.

— O senhor não tá gostando disso. – Ela soltou.

— Do que?

— Da mamãe toda concentrada em pegar essa pessoa.

— Não posso dizer que estou....

— É perigoso? – Agora ela ficou alarmada.

— Nosso trabalho sempre é perigoso.

— Mas isso é mais, não é?

Minha filha estava me interrogando?

— Sempre é perigoso, Sophie. – Cortei o assunto.

— Se esse não é o mais perigoso, por que a MCRT tá me vigiando, e o senhor tá aqui sempre e aumentou o número de agentes do lado de fora da casa?

Eu disse que ela é esperta...

— E a senhorita passe a se concentrar mais nos seus estudos e deixe que os adultos tomem conta da sua segurança.

— Falou igual à mamãe.... vocês combinaram?

— Sophie, pode parar com o interrogatório!

— Só estou treinando! Para quando eu for uma agente especial... – Ela abriu um sorriso.

— Nem agente você é, filha!

Sou agente baby!!! Empossada e com juramento!!! – Ela disse pulando na beirada da cama para tentar ficar da minha altura. – Tenho até distintivo! – Apontou para o distintivo que um dia foi meu.

— Tudo bem, você venceu. Agora pare de pular na cama antes que a sua mãe...

— Antes que a sua mãe o que? – Jen apareceu na porta.

Sophie deu um último pulo e se sentou toda princesinha, olhando para a mãe com grandes olhos inocentes.

- E essa sua carinha não me compra, Sophie.

A pequena fez uma careta e olhou para mim.

— O que a gente fala? – Lançou a granada na minha direção.

Jen me olhou.

— Antes que você fique irritada por ela estar fazendo hora para tomar banho. – Falei e Sophie entendeu o recado e correu para pegar o que ela iria precisar.

Jenny não comprou a saída pela tangente e nossa filha só perguntou:

— É para lavar o cabelo?

— Se você for lavar o cabelo, é trabalho da sua mãe... eu já tive muito desse ser com vontade própria que é o seu cabelo, filha.

Jenny deu uma gargalhada e seguiu a filha para dentro do banheiro.

E eu fiquei pensando no que a pequena tinha dito. Se até ela notou a mudança no comportamento da mãe – e Jen vinha agindo bem normal dentro de casa – imagina o que os demais agentes do NCIS não estavam falando da Diretora.

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Jethro tem ficado cismado com os apelidos que eu ganhei. Rainha de Gelo do Quarto Andar, Coração de Gelo e Bruxa do MTAC eram alguns deles. Eu não me importava. Tudo o que eu queria era pegar Benoit e fazê-lo pagar. Ele já tinha tirado tudo de mim, não tiraria mais nenhuma noite de sono, se eu o tivesse na minha frente agora.

Outro ponto que o incomodava: Sophie. Ele disse que ela notou que a minha atenção estava tomada pelo trabalho e perguntou se era perigoso. Nesse ponto dei razão a ele. Sophie era muito perceptiva e se algo estivesse me consumindo, ela começaria a se preocupar comigo e esqueceria que ela só tem que ser criança e ser feliz. Prometi a Jethro e a mim mesma que me policiaria dentro de casa e, enquanto Sophie estivesse por perto ou acordada eu não falaria ou pensaria no trabalho. Até porque o aniversário dela estava chegando e neste ano ela teria uma festa, mesmo com todos os problemas que estavam nos cercando.

Assim, estava cumprindo a minha promessa e dando os últimos ajustes para a festa de Sophie. Seria nesse sábado e, tirando toda a equipe, Kelly, Henry e Claire, sua irmã do meio, viriam, o restante dos convidados seriam as crianças da sala de Sophie mais algumas das meninas que faziam balé com ela. Ou seja, eu teria quase vinte crianças correndo por esse gramado em bem pouco tempo. E esse pensamento me trouxe uma memória. Comecei a rir sozinha.

— Uma moeda por seus pensamentos. – Jethro me perguntou chegando atrás de mim.

— Só lembrando do aniversário de três anos de Sophie, quando ela quis uma festa e chamou todas as vinte crianças da sala dela...

Ele levantou uma sobrancelha.

— Sim, vinte crianças dentro daquele apartamento... você pode imaginar o tamanho da bagunça! – Comecei a rir ao lembrar que levei quase uma semana para conseguir organizar tudo. - Achei brigadeiros enfiados até dentro de um dos meus sapatos! A confusão foi tamanha que no ano seguinte ela me pediu para viajar e fomos esquiar. Basicamente virou uma tradição depois... ou teria virado se eu não tivesse sido promovida à diretora. – Terminei.

— Eu só tenho a agradecer ao fato de você ter sido promovida. – Foi a resposta de Jethro.

E me pus a pensar, se eu jamais voltasse para o país, será que teríamos nos esbarrado? O casamento de Kelly com certeza seria um momento de encontro, mas fora isso... eu não saberia dizer se nossos caminhos teriam se encontrado novamente. Para sair dessa linha de raciocínio, apenas disse:

— Quero ver se você vai dizer isso quando vinte crianças estiverem correndo e gritando por esse jardim... – Dei uma cotovelada nas costelas dele e sai para procurar Sophie, que a essa altura já deveria estar praticamente pronta.

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Não, eu não estava preparado para ter vinte e nove crianças correndo pelo jardim e brincando e gritando e clamando qualquer coisa. Sim, vinte e nove, porque tive que incluir na conta Kelly, o Engomadinho, Claire, DiNozzo, Davi, McGee, Palmer e Abby, e eles eram piores que as outras vinte e uma juntas.

Sophie foi a melhor anfitriã possível. Não deixou de conversar com ninguém, brincou com todo mundo, deixou todos à vontade e, impressionantemente todas as crianças a seguiam onde ela estivesse. Acho que a minha filha tinha um imã que atraia a todos.

Algumas mães ficaram para tomar conta dos filhos – graças a Deus não foi Diane quem ficou para tomar conta de Emilly, mas sim Fornell. - e até elas ficaram acompanhando os passos da minha filha.

Depois de várias brincadeiras, a grande maioria inventada por Abby, era hora de cantar os parabéns.

— Como você quer sair bonita na foto se a senhorita não parou de correr por um minuto sequer? – Jenny puxou Sophie e foi tentar dar uma arrumada no cabelo dela.

— Mas mamãe, é a minha festa... – A Ruiva fez um bico tentando se explicar e, logicamente, se esgueirar do abraço da mãe para poder cantar os parabéns e comer o bolo.

— E você não precisava correr o tempo inteiro, filha, agora espere um pouco, deixe-me te arrumar, ou será você quem vai estragar a foto dessa vez.

Sophie se aquietou por um tempo, até ouvir DiNozzo chamando por ela.

— Peste Ruiva, anda logo ou eu vou comer todo esse bolo de chocolate!!!

— Mamãe.... – Ela se desesperou.

— Tony, se você quiser ter o seu emprego na segunda-feira pela manhã, fique calado por alguns minutos. – Jen ameaçou, mas pelas costas dela, Tony fez questão de roubar um docinho e comê-lo na frente de Sophie.

Quando as duas voltaram para o deck, onde a mesa com o bolo e os docinhos estavam, todos já tinha se posicionado em volta e pelo o que os meninos diziam, eles não estavam interessados em desejar felicidades para a amiga, eles queriam os doces.

Foi Abby e Kelly quem começaram a cantar, logo todos batiam palmas e cantavam juntos e toda essa atenção reunida vez com que a minha filha começasse a ficar vermelha, ao final da canção, ela estava da cor do próprio cabelo.

— Viva a Peste Ruiva!! – Tony gritou no momento em que ela foi assoprar as sete velas que estavam em cima do bolo. Não sei quem foi, mas alguém apertou uma buzina de ar, assustando a aniversariante que quase caiu de cara no bolo, sorte que eu a segurei a tempo.

— Quem foi? – Ela perguntou, olhando em volta.

Fiz a mesma coisa, e nosso olhar parou em Kelly.

— Tá sem bolo!! – Sophie disse em direção à irmã o que arrancou risadas dos demais.

— Parte logo esse bolo que eu quero comer!!! – Tony chiou.

— Não!! Temos que tirar as fotos primeiro!! – Abby disse e a sessão de fotos começou.

Sophie tirou fotos com todo mundo, algumas eu bem que gostaria de guardar.

— Não... espera, só mais essa. – Abby implorou, reunindo todos que trabalhavam na agência e eu não duvidava que estaria em algum lugar do laboratório dela logo na segunda de manhã.

— Agora, pode partir o bolo! – Kelly gritou. – E o primeiro pedaço não pode ser para os pais. – Ordenou, claramente achando que ela seria a destinatária do pedaço.

Sophie com a ajuda de Jen partiu o bolo, colocou o pedaço em um pratinho foi em direção de Kelly e quando estava quase na frente da irmã, se desviou e entregou o doce para Noemi.

— Para você, Noemi, que me atura desde sempre!! – Disse surpreendendo a todos.

Depois disso ela ainda fez questão de entregar os pedaços de bolo de meu pai e Ducky. Foi quando um dos meninos que estavam na festa simplesmente gritou:

— Hora de atacar os docinhos!!!

Parecia um batalhão indo para guerra, em menos de cinco minutos não tinha um brigadeiro em cima da mesa.

Daí para o final da festa foi um pulo, as crianças com uma dose cavalar de açúcar voltaram a correr e a brincar e quando a energia começou a acabar e o dia a esfriar, começaram a se despedir da aniversariante e irem embora.

Uma hora depois, só restou a família. E Sophie tinha resolvido comer mais bolo, com a desculpa de não conseguiu comer docinhos.

— Esse é o último pedaço! – Jen avisou enquanto a Ruivinha levava uma garfada à boca.

— Mamãe!! – Ela chiou. – Eu não comi docinho!!

— Ninguém mandou ser lenta para chegar até eles. – Tony cutucou, ele também comia um pedaço de bolo.

— Eu consegui! – Ziva disse alegre.

— É a gente viu, foi você dar um passo para frente e todas as crianças no raio de dez metros saírem correndo! – Henry comentou.

— Mas eu cheguei lá, você não. – Ziva devolveu apontando um garfo na direção do Engomadinho.

Foi nessa hora que Jenny voltou com uma caixa.

— Quem está reclamando que não comeu docinho?

Sophie pulou do colo do meu pai e saiu em disparada em direção à mãe.

— Isso é? – Ela perguntou pulando perto da mãe.

— Sim... eu sabia que nem todo mundo conseguiria comer algum.

— Com todos esses doces dá até para fazer outra festa! – Jimmy comentou.

— Não!!! Esses doces são nossos, não precisamos dividir com ninguém! – Sophie falou enquanto pegava dois brigadeiros.

— Tá bem, temos doces, mas será que sou só eu que estou curiosa com os presentes? – Kelly falou mostrando um embrulho.

— É meu!! Você vai abrir os do seu casamento!! – Minha caçula soltou, ainda muito concentrada nos docinhos.

— Você está mais interessada nos doces do que nos presentes? – Kelly disse em descrença.

Sophie levantou a cabeça e apenas disse:

— Eu estou a quase um mês sem comer chocolate. Isso aqui é chocolate, eu vou comer agora, antes que a mamãe resolva me fazer voltar à minha dieta da enxaqueca.

— Eu acho mais do que justo! – Tony e Ziva concordaram com a pequena enquanto buscavam por algum doce dentro da caixa.

— Vocês não estão nem um pouquinho curiosos? – Kelly ainda tentou e os três olharam para ela com cara feia. – Tudo bem, entendi o recado! – Ela colocou o presente na caixa e se sentou ao lado de Henry, com cara fechada.

Sophie, Tony, Ziva, Tim e Abby só foram parar de comer doces quando eu tirei a caixa de perto deles.

— Chefe!! – Chiaram McGee e DiNozzo.

— Vão esperar acabar?

— Mas estão gostosos! – Abby tentou buscar mais um doce.

— Chega de açúcar por hoje. – Jenny tomou a caixa da minha mão e foi guardá-la.

— Agora podemos ir para os presentes? – Kelly perguntou.

Entramos e levamos a caixa até a sala de televisão. Sophie se sentou no chão enquanto Kelly se sentou perto da caixa e passava para ela cada um dos presentes.

— Não comecem sem nós! – Abby gritou da porta, ela, Ziva, McGee, Palmer e Tony tinham saído para buscar algo no carro.

— Por que não fizeram isso antes? – Kelly perguntou zangada.

— Mas você, Kells, está mais curiosa do que a sua irmã, hein?

— Vovô!!! Eu sempre adorei abrir presentes! – Ela passou um para Sophie, mas a pequena não iria decepcionar Abby e muito menos Tony. – Mas parece que isso não é uma característica que divido com ela. – Olhou feio para Sophie que devolveu a encarada.

Meu pai começou a rir.

Tony, McGee e Palmer carregavam uma caixa enorme, Abby e Ziva apenas indicavam o caminho que eles deveriam seguir para não quebrarem nada.

— O que é isso?! – Jenny se assustou olhando para caixa.

— Esse aqui é o nosso presente para a Peste Ruiva! – Tony falou, apontando para os cinco.

Foi o que bastou para Sophie deixar a caixa que Kelly havia lhe entregado de lado e corresse para os cinco.

— Vai abrir esse primeiro? – Kelly perguntou em claro ciúme, acho que aquela caixa era o presente dela.

— Mas é claro!!! – Sophie respondeu sem se virar para a irmã.

Abby fez uma mesura mostrando a caixa e a Ruivinha apenas pegou um lado e começou a rasgar o papel cor de rosa. Quando todo o papel tinha sido rasgado, pudemos ver o que se tratava o presente.

Uma enorme cama elástica.

Jenny gemeu em desespero do meu lado.

— Eu amei!! Eu amei!! Eu amei!!!! – Sophie pulava, gritava e abraçava cada um dos agentes que ela carinhosamente considerava como seus irmãos. – Podemos montar agora?

— Acho melhor ficar para amanhã, filha. – Jenny disse. – Já está tarde, frio e você não vai poder brincar agora. Amanhã montamos e você pode gastar toda essa energia de açúcar acumulado, pulando.

Achei que Sophie iria protestar, ou pelo menos Abby ou Tony fariam isso, mas eles aceitaram bem a proposta e Sophie se voltou para perto da caixa.

— Agora, Kells, me passe o presente que você me deu!

— Como você sabe que esse é o meu presente?

Sophie deu uma risada.

— Sou filha de agentes do NCIS e sou tão boa investigadora quanto eles. Foi fácil saber que esse era o seu!

Kelly ficou boquiaberta, mas a resposta foi o suficiente para que caíssemos na gargalhada.

— Então, Senhorita Agente Especial do NCIS, abra logo o presente!!

— Por que você quer que eu abra o seu logo de cara? E se eu quiser deixar por último, Kells?

Eu vi a hora em que Kelly iria agarrar Sophie pelo pescoço.

— Tudo bem, não abra! – Ela tomou o presente da mão da irmã. – Só não se esqueça que a primeira pessoa que te deu um presente foi eu!!

— Eu sei disso, Kells!! Sei tão bem que a Moranguinho que você me deu está no meu quarto até hoje... ela só perdeu o cheirinho de morango, mas tá inteira! Agora, me devolve o meu presente!

— Não!! – Kelly retrucou.

Sophie parou na frente da irmã mais velha.

— Você não quer entrar em uma briga comigo, quer?

— Quem tem mais treinamento aqui, Baixinha?

— Mas você não está sendo treinada por uma Oficial do Mossad! Eu estou!

— Não vai fazer diferença, você não tem tamanho, nem força! – Kelly disse se levantando.

Foi em um piscar de olhos, Kelly mal tinha ficado de pé e quando deu por si, Sophie estava pulando atrás dela no sofá para tomar a caixa da mão dela e aterrissar no chão.

— Acho que eu ganhei!! – A ruivinha disse com um sorriso sapeca. – Kells, você precisa melhorar os seus reflexos!

— Mas como você fez isso?!

— Eu falei... estou sendo treinada pelo Ninja do Mossad! E esse foi o meu golpe Ninja!! Quer uma revanche?

— Nada de revanche!! Ou abre os presentes agora, ou só amanhã! Você escolhe, Sophie! – Jenny pôs fim à contenda. Só restou à Sophie se sentar no chão e começar a desembrulhar os presentes.

O presente que Kelly tanto tinha feito questão de que Sophie abrisse era uma coleção de cadernos, cada um com um tema diferente e as folhas viravam papel de carta.

Sophie olhou para irmã questionando.

— Sabe por quê? Porque eu quero que você me escreva toda semana enquanto eu estiver fora. Quero saber todas as fofocas da família! – Ela explicou.

— E-mail não é mais fácil? – A ruiva perguntou, olhando para cada um dos cadernos, e vendo que cada folha tinha um desenho diferente.

— Sim, mas e-mail não tem como ser guardado... e eu gosto de cartas.

— Mas carta é coisa de gente velha!!! – A pequena protestou.

Kelly, Jenny e eu começamos a rir.

— Qual é a graça?! – Sophie perguntou, mas agora estava mais interessada no conjunto de canetas coloridas que veio dentro da enorme caixa que Kelly tinha dado.

— Nenhuma! – As mulheres responderam.

— Papai? - Ela não desistiria.

— Sua irmã costumava me escrever cartas, enquanto eu estava fora. – Expliquei.

— Tudo bem... eu acho.... não sei se eu vou ter todo esse assunto para encher tanto papel, mas eu vou escrever para você Kelly. Com uma condição.

— Que é?

— Você vai ter que me responder! Nem que seja com um cartão postal!

— Feito! Eu vou te responder sim!! Nem que eu mande um sinal de fumaça ou um pombo correio!

— Por que não uma coruja igual no Harry Potter?

— Você por acaso tem uma Edwiges escondida nessa casa?

— Não... eu não tenho nem um cachorro! Quem dirá uma coruja. Será que tem um filhotinho dentro de um desse embrulhos? – Sophie praticamente mergulhou dentro da caixa procurando por um filhote de cachorro.

— Não tem não. Sophie. Ou o pobrezinho já estaria ganindo desesperado! – Abby falou.

E todo mundo resolveu ajudar a abrir os presentes, Sophie ganhou vários brinquedos, que ela jurou que não precisava. E queria dá-los para um orfanato. Jenny disse que era para dar os brinquedos mais velhos, para que os amigos dela não ficassem chateados.

— Tudo bem... eu vou separar alguns depois.

Quando ela chegou em um certo embrulho, disse.

— Olha, esse aqui é o da Emily!!

— Emily Fornell? – Tony perguntou.

— Sim!

Olhei para Jen.

— Tem certeza de que a Diane não colocou nada de estranho dentro daquele embrulho?

— A filha dela carregou o presente, Jethro. E ela não seria doida de mexer com a minha filha de novo!

No final das contas era uma boneca, uma Moranguinho. Aposto que foi Emilly quem escolheu o presente e que foi Fornell quem a levou para comprar, porque Diane compraria qualquer coisa bem mórbida para a minha filha.

Assim que todos os presentes foram abertos e todo mundo discutiu a sua utilidade, o restante da família começou a ir embora. Prometendo voltar no domingo para montar a cama elástica.

Sophie foi dormir mais contente com a festa em si do que com os presentes que ela tinha ganhado, mas prometeu que escreveria um bilhete agradecendo a cada um.

Jen deu uma última olhada pelo andar de baixo, se certificando de que tudo estava fechado e eu tive uma ideia.

— Sabe que a história de um cachorro dentro dessa casa não é má ideia? – Comentei com ela.

Jen parou no meio da escada e me encarou.

— Não!! Eu não quero um cachorro correndo aqui dentro, sujando tudo e ainda tentando dormir em cima da cama de Sophie. Não leve essa história para frente, por favor! – Ela me pediu.

— Mas é um excelente guarda. E a qualquer barulho ou cheiro diferente ele daria o alarme.

— Jethro, não! – E com isso ela encerrou a conversa. Mas eu continuava a achar a ideia de ter um cachorro interessante.

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Depois da festa de aniversário de Sophie, nosso próximo compromisso foi o balé de Primavera. Dessa vez ela não foi só mais uma coadjuvante e teve o seu momento para brilhar sozinha no palco. Jamais vou admitir, mas ver a minha filha tendo cinco minutos para dançar sozinha do palco foi emocionante. E sim, eu chorei. A filha é minha e eu sou uma mãe orgulhosa de cada conquista dela! Mesmo que para que ela chegasse a esse ponto eu tenha precisado ter muita paciência.

Como era de se esperar, logo depois do espetáculo, todos tiveram que sair para comemorar o primeiro solo de balé de Sophie em uma apresentação. Abby que tinha gravado tudo, ficou passando e repassando os cinco minutos, e cada vez que eu via, eu ficava ainda mais emocionada.

— Vai chorar de novo, Jen? – Jethro me perguntou, testando a minha paciência.

— Sim. Eu tenho esse direito! Afinal, quem ensaiou com ela fui eu! – Disse enxugando os olhos.

Depois dessa noite, as coisas ficaram ainda mais tranquilas. La Grenouille não tinha mais dado sinais, eu o tinha perdido em algum lugar no meio do Continente Africano e, aos poucos, comecei a aceitar que talvez jamais o pegaria.

Mesmo assim, a vigilância em Sophie continuava, cada dia era um que a pegava. Não tinha dia certo e muito menos uma rota que eles deveriam seguir, o que tornava a tentativa de se montar uma rotina muito difícil.

Alguns dias se passaram, estava no MTAC esperando uma chamada de SECNAV quando um dos técnicos soltou uma exclamação.

— Meu Deus! Um carro explodiu no centro de D.C.!

Quando a palavra explosão ou seus derivados é dita, eu já entro no modo de alerta, pois a possibilidade de ser algo ruim é imensa.

Logo a imagem do carro pegando fogo estava na tela principal. E eu não sei o motivo, só de ver aquele carro daquele jeito me deu um aperto no peito, parecia que eu conhecia aquele automóvel em particular e o local onde a explosão ocorrera.

— Não é um Mustang? Um modelo mais velho? – Sarah perguntou.

— Sim, é! Eu reconheço aquele modelo de longe. É o mesmo modelo que o Agente DiNozzo tem. – Morgan respondeu.

Assim que registrei as palavras “mesmo modelo” e “Agente DiNozzo” entrei em desespero. Ele era o responsável por pegar Sophie hoje e como de costume, era certo que ele tivesse passado com ela em alguma sorveteria. E os dois tinham uma sorveteria preferida. Bem no centro de D.C. que ficava a poucos metros do cruzamento onde, agora, tinha um Mustang pegando fogo.

Eu perdi o meu chão. O carro em chamas na tela me deixou enjoada. Em minha mente rodava milhares de possibilidades sobre o que tinha acontecido. Mas meus olhos só me mostravam uma, que eu não queria acreditar.

Desesperada eu peguei meu celular e disquei os números de DiNozzo, uma parte de mim sendo racional e me dizendo que existe centenas de carros como o de Tony.

Caiu direto na caixa posta.

Tentei novamente.

Este aparelho encontra-se desligado ou fora da área de cobertura.

E de novo...

A mesma mensagem.

Mais uma vez.

Nada.

Meus olhos começaram a arder. Eu começava hiperventilar, o ar que entrava pelo meu nariz não era o suficiente para que eu pudesse respirar.

A realidade era cruel.

Minha filha tinha acabado de ser assassinada.

E eu era a culpada.

E tinham levado uma pessoa completamente inocente junto. Tony não merecia esse final. Ele não tinha nada a ver com a minha vingança.

Minha obsessão tinha me tirado um amigo e a pessoa mais importante da minha vida.

Desnorteada, me levantei da cadeira e com passos incertos fiz meu caminho para a porta, quando saí daquela sala escura, a imagem do carro em chamas não me deixou. Muito pelo contrário, ficou mais nítida, pois lá de cima eu tinha uma visão clara da mesa de DiNozzo. E ele não estava ali.

Ele jamais voltaria.

Minha filha jamais voltaria.

Eu não sei o que aconteceu, só sei que quando dei por mim eu saí correndo para a minha sala e estava dentro do meu banheiro colocando o meu almoço para fora, quando senti duas mãos segurando o meu cabelo.

Era a última pessoa que eu queria ver. Como eu falaria para ele?

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Foi uma cena estranha. Incomum. Tinha visto Jen entrar no MTAC, pasta em mãos e aquela cara que ela sempre fazia quando tinha que explicar algo para SECNAV. Com certeza uma reunião que demoraria.

Assim que as portas se fecharam me concentrei no relatório à minha frente. Era de DiNozzo que, na pressa de sair para pegar Sophie, – já que ele tinha insistido que queria ir hoje. – fez um relatório pífio, isso porque eu estava descontando os erros de gramática.

Suspirei. Quando Tony tinha outras ideias na cabeça, seus relatórios eram péssimos. Tentei voltar a ler o que ele tinha escrito e enquanto eu tentava decifrar sua letra, me peguei pensando nos relatórios perfeitos e na letra legível de Kate. Eu nem precisava ler o que Todd escrevia, era só assinar, já DiNozzo... eu tenho que ser até professor de gramática e ortografia.

Escutei a porta do MTAC ser fechada com força e olhei para ver o que tinha enfurecido Jen, mas ela não tinha a já conhecida expressão de fúria em seu rosto, ela estava pálida e, mesmo à distância eu via que ela estava tremendo. Algo atraiu o olhar dela até a sala do esquadrão e depois ela acabou por soltar as pastas e sair correndo.

Eu não fui o único que viu a cena, mas só eu saí para ajudá-la. Estava no meio da escada quando ouvi a porta da sala dela bater na parede com força. Apressei as passadas e pulei os últimos degraus, corri até a antessala e vi Cynthia assustada com a reação da Chefe. Estava na porta da sala dela quando ouvi o som dela tossindo.

O primeiro pensamento que tive foi que o almoço a fez passar mal, assim fui até o banheiro e me pus atrás de Jen para segurar os seus cabelos enquanto ela esvaziava o estômago. Assim que sentiu as minhas mãos ela se contraiu e nem quando terminou olhou na minha direção.

— Jen, o que aconteceu? – Perguntei enquanto ela enxaguava a boca. Como estava de costas para mim, fixei o meu olhar na sua imagem no espelho. E assim que fiz a pergunta seus olhos brilharam e lágrimas começaram a brotar nos cantos. – Jen?

Ela me encarou pelo espelho e simplesmente disse:

— Eles estão mortos, Jethro. La Grenouille os matou. O carro de Tony explodiu no centro de D.C. há menos de dez minutos. – Ela disse e não controlava a torrente de água começou a descer de seus olhos.

Levei um tempo para processar o que ela havia dito.

Eles estão mortos.

Carro do Tony explodido.

Não! Tony deixara o Estaleiro para buscar Sophie...

Eles estão mortos.

Eles...

Tony e Sophie.

O Agente Sênior da minha equipe e minha filha caçula.

Mortos.

Eu não sabia como reagir a isso.