— GIBBS!! – Abby veio na minha direção assim que entrei na sala do esquadrão e me deu um abraço apertado.

— Oi, Abbs!

— Como a Jenny está? E a Kelly? E você?

— Jen está estável, pela última explicação de Kelly. Minha filha está aguentando bem, Henry foi para San Diego.

— E você?

— Vou ficar melhor quando tudo isso acabar. Onde está Sophie?

— Ziva acabou de levá-la para o local onde você mandou, Chefe. – Tony me explicou. – E não, ela não me falou para onde estavam indo.

— A mudança?

— Na sua casa em Alexandria. – McGee falou.

— Com a exceção de algumas coisinhas da Sophie que foram com ela e Ziva.

— Certo, mais alguma novidade?

— Ducky terminou as autópsias, e o reconhecimento facial ainda não me deu nenhum nome. Mas vai me dar. – Abbs me respondeu.

— Chefe... quem está com a Jenny?

Gibbs abriu um sorriso estranho.

— O escritório de LA descobriu que tem um informante dentro do hospital e outro dentro do NCIS. Para manter tudo certo, um boato, com fundo de verdade, começou a circular que os aparelhos que mantém a Diretora do NCIS viva, estão para ser desligados.

Abby prendeu a respiração do meu lado.

— Então a sua saída repentina do Hospital? – McGee perguntou.

— Está sendo explicada como uma viagem para levar a filha da Diretora para dar adeus à mãe, e até que me provem o contrário, Jen estará segura, pois o intento de Svetlana foi concluído, Jen, para ela, está morta, agora ela vai atrás do alvo restante.

— Você e a Peste Ruiva. – Tony concluiu.

— Na verdade, de mim.

— E se alguém descobrir a verdade? – Abby perguntou preocupada.

— Hetty Lange já tem tudo sobre controle em LA e só me pediu uma coisa em troca.

Abby deu um pulo de nervosa.

— Quer conhecer Sophie quando tudo isso acabar.

— Então, Chefe, com Sophie escondida com Ziva, como vamos fazer?

— Vocês vão manter a rotina, quero todos indo para casa no final do dia, mas eu vou precisar de uma boneca.

— Para fingir ser Sophie. – McGee adivinhou.

— Sim, e quem estiver me seguindo, verá um pai carregando a filha desolada no colo, ao chegar em casa.

— E nós, entramos quando, como seu backup?

— Dessa vez, Tony. Vocês ficam de longe.

— Isso não seria quebrar a regra #15? – Ele me desafiou pela primeira vez.

Eu só olhei para Tony.

— Chefe, com todo respeito, se com a Jenny não deu certo, por que daria certo agora? – Ele não desistiria.

— Tony, se qualquer um de vocês aparecer na porta da casa de Jen, o plano vai para água abaixo. Para todos os efeitos, eu vou contar a notícia para Sophie em casa, e só eu e ela estaremos lá. Vocês ficaram sabendo disso aqui e por isso cada um segue com a sua vida.

— Mas está faltando Ziva... – Abby falou.

— Outro ponto já organizado.

— Como assim?

— Tem um motivo, DiNozzo, de eu ter entregado Sophie nas mãos de Ziver e não é só porque minha filha a chama de tia. Com a falsa morte da Diretora Shepard, o cargo de Agente de Ligação entre Mossad e NCIS que David ocupa seria o primeiro ato a ser revogado, assim, Ziva está, teoricamente, juntando as suas coisas e voltando para Israel nesse momento...

— Isso foi muito inteligente... A Ziva chegou aqui por conta da Jenny, com a “morte” dela, Ziva tem que ir embora. - Tony concluiu e eu só concordei.

— E vocês discutiram tudo isso.... – McGee tentava entender o restante do raciocínio.

— Com Vance fora do país, quem assume a Vice Diretoria do NCIS é Hetty, foi fácil para ela mexer os pauzinhos e soltar essas informações perto da informante.

— Então Sophie está segura?

— 100% segura, Abby.

— Mas você não vai estar... - Continuou.

— Até que se prove o contrário, eu sou um alvo.

— GIBBS... – Ela choramingou igual a Sophie. – Tome cuidado.

— Eu vou tomar Abbs. Agora... preciso da boneca.

O restante da tarde passamos organizando o meu plano, a certa altura, o reconhecimento facial que Abbs rodava nos mostrou quem eram os mortos do Restaurante.

Todos gângsteres russos, com ligação com Zukhov no passado. Coloquei McGee para descobrir mais, porém nem a CIA nem a interPol foram de grande ajuda, essa última tinha até as fotos dos quatro mortos em seu banco de mais procurados, mas informações concretas sobre a organização para a qual eles trabalhavam, não havia.

No fim do expediente, cada um saiu em direção ao seu carro, com direito a uma atuação de Abby que faria qualquer um acreditar na história de que a Diretora do NCIS não tem muitas horas de vida.

Eu sai carregando a boneca, que foi vestida com o uniforme de minha filha, fingi murmurar algo no ouvido dela e ainda a coloquei propriamente no banco de trás do carro de Jenny.

DiNozzo, McGee e Abby se foram, Ducky ficou ao meu lado, como que observando a minha filha e para quem olhasse de longe, estávamos conversando sobre ela.

— Jethro, eu sei o que você pretende fazer, só quero que se lembre que Jennifer ainda não está fora de perigo e, até que Kelly nos dê uma posição certa, você é o único parente que Sophie tem. Não faça nada que possa por em risco a sua vida e que deixe a pequena ruiva órfã. Até porque eu sei que Jennifer jamais se perdoaria se algo acontecesse com você.

— Essa história acaba hoje, Ducky. Para o bem o ou para o mal.

O médico legista foi para o seu carro e eu para a casa de Jen. No meio do caminho percebi que estava sendo seguido, era tudo o que eu queria.

Parei o carro na porta da garagem, tirei minha “filha” do banco traseiro e antes que fechasse a porta, vi o SUV preto passar em frente à casa.

Não demoraria muito mais.

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Eu estava a cada segundo mais nervosa. Vi trocarem o detalhamento de segurança de Jenny pela quarta vez, agora era uma agente quem fazia a guarda, a pequenina Hetty tinha acabado de sair para conversar com a Senhorita Blye e eu fiquei aqui, sentada no quarto, observando os monitores que indicavam que Jen estava viva.

Ainda tinha um bolo enorme no estômago só de pensar no que meu pai, Hetty e Ducky tinham planejado. Forjar a morte de Jenny não era lá a melhor das ideias, não quando tudo o que ela precisava era de pensamentos e energias positivas.

— Vai dar tudo certo, Kells.

Olhei para o meu marido que tinha chegado há um par de horas e vindo direto para o hospital.

— Espero que sim. Minha família tá toda espalhada, e minha irmã caçula está não sei onde com Ziva.

— De todas as pessoas que poderiam tomar conta e proteger Sophie ao mesmo tempo, Ziva é a mais indicada, Kelly. Aquela mulher foi treinada para isso desde sempre.

Henry tinha razão, mas o fato de que a minha irmã, de oito anos, estava sendo protegida por uma assassina do Mossad, ainda me dava arrepios, colocava toda uma perspectiva diferente no caso.

E essa perspectiva era: Isso está muito ruim e pode piorar.

Hetty voltou para dentro do quarto e me deu as minhas instruções.

— Está na hora, Doutora Gibbs, precisamos desses exames adulterados dentro de meia hora.

— Sim, Hetty, vocês os terão.

— Quer me perguntar mais alguma coisa? – A baixinha me encarava como que me lendo e seu olhar me dava mais medo que a encarada do meu pai.

— Alguma notícia de Washington?

Ela abriu um meio sorriso enigmático.

— Sem notícias significa que tudo está indo bem, faça a sua parte, Doutora, que da nossa, tudo está controlado.

Meneei a cabeça, não sabia exatamente o que falar para a figura na minha frente, tudo o que fiquei sabendo sobre Henrietta Lange foi que ela trabalhou como espiã na CIA por muito tempo, tinha o estranho dom de adotar e tomar conta de órfãos com habilidades muito específicas e que foi a primeira chefe de Jenny.

— Eu sempre soube que a Diretora Shepard era capaz de fazer qualquer coisa por quem ela amava. – Hetty falou me assustando e Henry começou a prestar atenção na conversa. – Ela sempre teve estampado na testa que faria o que fosse preciso pela família, foi um dos motivos pelos quais eu a escolhi para a minha equipe. Além da sua lealdade, sua ambição foi o outro fator. E eu não estava enganada. Me pergunto como será a pequena Senhorita Shepard-Gibbs. Creio que deva ter uma personalidade bem interessante.

Larguei os exames que estava vendo, os de Jen iam normais, até demonstravam um pequeno quadro de melhora, e foi ela escutar o nome da filha que tivemos uma pequena alteração em seus batimentos.

— Sophie é única, senhora. Eu não posso te explicar como ela é, você teria que conhecê-la pessoalmente.

Outro dos sorrisos enigmáticos e ela falou.

— E vou conhecê-la, muito em breve. Aguardo os resultados da Diretora em meia hora, pode entregá-los para a Srta. Blye que chegarão até mim. E Doutora Gibbs?

— Sim? – Levantei meus olhos dos resultados adulterados que estava colhendo e encarei a pequena figura.

— Tudo vai dar certo no final. O melhor agente do NCIS está encabeçando o plano.

Agradeci e voltei ao meu trabalho, assim que Hetty saiu do quarto, Henry abriu a boca pela primeira vez.

— Sou só eu, ou aquela mulher também te dá arrepios?

Eu tive que rir.

— Sim, Henry, ela também me dá arrepios, até porque parece que ela sabe exatamente quais serão as respostas que iremos dar e as perguntas que iremos fazer.

— E como ela foi parar no NCIS?

— Perguntei isso para o meu pai ontem... tudo o que consegui saber foi que Henrietta Lange é uma lenda nos corredores de Washington. E que ninguém, mas ninguém, tem coragem de mexer com ela.

— Não duvido. Ela parece saber os maiores segredos do governo.

— Quiçá do mundo. – Falei. – E é melhor eu terminar isso aqui, antes que Hetty arranque a minha cabeça!

Meia hora depois, exatamente, Kensi Blye abria a porta do quarto e me pedia os resultados. Entreguei-os para a agente que só me disse a seguinte frase:

— Hetty gosta de você, ou não teria falado tanto!

Fiquei aliviada ao saber disso, era uma pessoa a menos que poderia querer a minha morte nesse mundo.

—----------------------

Estava sentado no escritório de Jen, de frente para a porta, tomando um copo de Bourbon e esperando. Aos meus pés, estava deitado Jet, que permanecia atendo ao seu entorno. A equipe tinha esvaziado a casa com o que eles pensaram que seria importante, assim, não sobrou nenhum vestígio da minha filha aqui dentro.

Nos quartos não ficou nada além da mobília, no restante da casa tudo parecia normal para quem olhasse de fora, o único cômodo onde não tinham mexido era aqui, no escritório.

Enquanto esperava, comecei a mexer nas gavetas que notei terem ficado intocadas. Tirei vários blocos de anotações, alguns com listas que Jen havia feito, ora com o que precisava comprar, ora listas futuras relacionadas a Sophie.

E mais papeis foram aparecendo até que vi três envelopes.

Tirei-os da gaveta e li para quem era destinados, um para Kelly, um para Sophie e um para mim.

Um aperto subiu por minha garganta, cartas de Jen nunca me trariam uma boa memória.

Por um segundo fiquei com receio de abrir o envelope que continha o meu nome, por outro lado, havia mais dois além do meu, Jen não escreveria nada que pudesse nos ferir.

Respirando fundo, rasguei a aba do envelope com a abridor de cartas que estava na mesa e comecei a ler o que Jen tinha para me falar.

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Querido Jethro,

Não, essa não é uma reprise da carta que te escrevi há nove anos, não passa nem perto do que te escrevi naquela noite.

Isso é somente uma ideia que tive nos últimos dias, que foi tomando conta da minha mente e virou uma compulsão após a morte de Will.

Eu percebi que, não importa o que você estiver fazendo, quando for a sua hora, será. Não importa a idade, não importa a sua história, o fim chega para todos.

E foi pensando nesse fim que resolvi por em palavras aquilo que não falo muito. Porém, deveria falar.

Uma vez eu te agradeci pelo melhor e maior presente que você me deu Jethro, te agradeci por você ter me dado Sophie. E como eu disse, foi uma vez. Eu deveria ter te agradecido mais vezes, na verdade, eu deveria ter te falado o quão grata eu sou por hoje ter uma família. E não digo só pela presença da nossa filha, quando eu digo família, eu digo todos que às vezes tomam posse da sala da nossa casa, se jogam nos sofás, no chão, nas cadeiras e ficam assistindo TV ao nosso lado.

Eu sei que você sabe que perdi a referência de família há muito tempo, e quando o meu pai me foi tirado, eu não tinha esperanças de que um dia eu faria parte de uma família novamente, que um dia eu seria aquela que seria chamada de "mamãe".

Você não tem ideia, Jethro, do que eu senti quando Sophie me chamou de “mama” pela primeira vez, o que foi para mim saber que pelo resto da minha vida eu teria alguém do meu lado... E, não consegue imaginar o que eu sinto cada vez que vejo a minha casa cheia de pessoas, cada vez que escuto as risadas ecoando pelo corredor e pelos cômodos. Eu me sinto viva, me sinto querida, me sinto amada, mesmo que cada um expresse os seus sentimentos de forma única, eu sei que, no meio daquela bagunça, há amor. E por isso, eu tenho que te dizer OBRIGADA! Se não fosse por você ter montado essa equipe, tê-los tratado como seus filhos, eu não teria isso.

Eu ainda tenho que te agradecer por mais um ponto, não é o último, mas talvez, tenha sido esse que nos fez chegar até aqui, nos fez ter o que acabei de descrever: obrigada por ter me aceitado de volta, por ter me perdoado quando tudo o que eu fiz foi te magoar. Eu fui covarde em 1999 quando parti, eu deveria ter te perguntado, ter conversado com você, ter te contado que eu não matei Svetlana. E fui dez vezes mais idiota quando eu não te contei sobre Sophie quando eu tive as chances. E mesmo com tudo isso, você ainda está aqui, não foi um caminho fácil, isso não foi. Mas o importante é que conseguimos superar todos os problemas e estamos juntos. Somos um casal, uma família.

Jethro, eu não sei o que o futuro nos reserva, eu não faço ideia do que me espera amanhã, eu não sei quanto tempo eu ainda tenho nesse planeta, porém, eu quero que saiba que, passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer, eu sempre vou te amar. Não só nessa vida, mas em todas as outras.

Eu te amo e deveria repetir isso mais vezes para você.

Para sempre sua,

Jenny.

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Como ela havia dito no primeiro parágrafo, essa carta não era uma reprise da primeira. Na verdade, era completamente diferente da que ela havia escrito.

E eu só conseguia pensar se estas eram as últimas palavras que eu ouviria de Jen, porque não nego, eu ouvi a voz dela enquanto lia a carta.

— É muito bom essas não terem sido as suas últimas palavras, Jen. Como você me disse, você precisa repetir por muitos anos que me ama. – Murmurei para ninguém.

Na minha mão ainda havia os outros dois envelopes. O de Kelly e o de Sophie. Minha curiosidade para saber o que Jen escrevera para nossas filhas era grande, contudo, decidi por não os abrir, ainda com a gaveta aberta, vi não eram os únicos envelopes ali. Havia outros seis, um para cada membro da equipe, equipe não, família.

Tirei-os da gaveta e guardei no bolso interno do meu paletó, fechando a gaveta logo em seguida. Me recostei novamente na cadeira e me permiti voltar no tempo, ao dia em que Sophie e eu mostramos o escritório de Jen a ela pela primeira vez.

— Você vai me odiar pelo que estou prestes a fazer, Jen. Mas saiba que é necessário.

Se passaram dez minutos e escutei o som de uma chave sendo virada na fechadura da porta da cozinha. Jet, no seu lugar ao meu lado, rosnou e se pôs de pé.

— Quieto, Fuzileiro. Deite. – Ordenei e o cachorro me obedeceu, porém, não deixou de rosnar baixo.

Saltos ecoaram no chão, internamente eu desejei que fossem os saltos de Jen, mas eram de outra pessoa. Da mulher que queria a minha mulher e filha mortas.

— Eu poderia te chamar de Mareau, mas esse não é o seu verdadeiro nome, não é, Agente Gibbs? – O forte sotaque russo de Svetlana preencheu o ambiente.

— É corajosa de entrar aqui sozinha. – Falei em russo.

— Para um americano, você fala bem russo. E eu não preciso de ajuda, não quando a única pessoa que pode tentar me impedir é uma garotinha de oito anos.

Mal sabia ela que Sophie estava segura e muito longe daqui.

— E o que você pretende aqui, Svetlana? Ou deveria te chamar pelo seu novo nome, Natasha Lenkov? – Perguntei e notei que ela não tirava os olhos da arma que estava em cima da mesa. Estava avaliando as opções que tinha. Se eu seria rápido para pegar a arma e atirar antes que ela atirasse em mim.

— Você irá morrer. – Seu sotaque estendendo todos os “R” da última palavra. – Quanto à sua filha, ainda não me decidi, talvez eu a mate, talvez eu a venda no mercado negro, uma garota como ela... – apontou para o retrato de Sophie em cima da mesa de centro. – tem muito valor... ela é muito talentosa e muitos vão querê-la.... – Ela terminou com um sorriso, creio que imaginando o futuro que ela acabara de descrever para a minha filha e como Sophie seria vendida e tratada.

Tudo o que eu pude fazer foi fingir que aquilo não em irritava, contudo, a imagem de cada uma das meninas que vi ser leiloada naquela casa em Paris voltaram em minha mente e só a hipótese de a minha Ruiva pudesse ser uma daquelas garotas, ferveu o meu sangue.

— Vocês mataram o meu Anatholy. – Svetlana ainda falava, fazia seu pequeno discurso. – Vocês tiraram tudo o que eu tinha.

— Até onde eu sei, você foi deixada viva, porque estava grávida. Deveria ter aproveitado a chance que Jenny te deu.

— E você achou que eu nunca procuraria por ela? Achou que eu nunca vingaria a morte do meu marido? Eu me mantive calada cada vez que aquela vadia aparecia na frente dele, porque eu sabia que ela não passava de uma mulher que ele usaria e jogaria fora, mas eu jurei que ela pagaria por aquilo. Então... meses depois, vocês me tiraram Anatholy... e naquela noite, enquanto eu velava o corpo do meu marido, eu jurei que vocês morreriam. Ela já estava jurada há meses, mas seria interessante tirar dela tudo o que ela mais amava. Você. Eu demorei para restaurar tudo, para achar alguém disposto a me ajudar, porém eu achei. Dentro do próprio NCIS, e bastou o empurrão certo, a conversa certa, e eu descobri que Isabelle era na verdade, a Diretora Shepard, e com que surpresa eu descobri depois de meses, que ela ainda estava casada com o mesmo agente... e que os dois agora tinham uma filha, uma filha da idade exata que meu pequeno Sasha teria se eu não o tivesse perdido no parto! – Ela terminou de falar e apontou a arma que carregava para mim. – Eu acabei com ela primeiro, porque queria que ela soubesse quem estava atrás dela, queria que ela me reconhecesse. Agora que ela está para morrer em uma cama de hospital sem ninguém, se é que já não morreu e o NCIS está escondendo a notícia, eu mesma vim terminar o serviço. Você morre por ter matado o meu Anatholy. E vai morrer sem saber o destino de sua amada filha. – Ela mirou e antes que apertasse o gatilho, eu tirei a minha arma da cintura e atirei no meio dos olhos dela.

- Não hoje. – Murmurei quando vi que ela não tinha pulso e algo chamou a minha atenção, caído do bolso do sobretudo que ela usava, estava um distintivo do NCIS. O mesmo que ela roubara do quarto da minha filha. Peguei-o, coloquei no meu bolso, pelo menos uma das promessas que fizeram à Sophie no dia que entraram nesta casa, seria cumprida. Recolhi todas as provas inclusive a arma de Jen e parti para a parte mais importante. Encobrir toda essa história.

Afinal, explicar um cadáver dentro da casa da Diretora do NCIS seria complicado e levaria à identificação de quem era Svetlana e de tudo o que deveria ter acontecido em 99 e não aconteceu, daria muito trabalho, envolveria a corregedoria (novamente) e manchetes pipocariam em todos os jornais e canais de televisão, assim, só me restava uma saída.

Mesmo sendo quase junho, a lareira estava acessa, e não foi difícil de se armar um vazamento de gás na cozinha que se espalhasse por toda a casa e resultasse em um acidente sem precedentes. Eu já poderia imaginar as manchetes de um roubo que dera errado enquanto a família estava fora...

Me levantei, e saí do escritório, carregando as cartas, a foto da minha filha e o par de óculos de Jen que havia ficado sob a mesa e claro, as armas. Jet me seguiu e parou perto da porta. Fui até a cozinha, onde abri minimamente o gás de um dos bocais. Voltei para o hall de entrada, dei uma olhada na casa e, principalmente na porta, me lembrando da ameaça que Jen havia me feito se eu fizesse algo com isso. Ela teria que se conformar em perder tudo e recomeçar do zero quando acordasse.

— Vamos, Fuzileiro. Hora de buscar a Ruiva. – Falei com o cão de guarda da minha filha e abri a porta saindo para a noite como se estivesse indo passear com o cachorro da família.

Tinha parado o meu carro bem longe da casa, em frente à sorveteria que levei Sophie no dia do casamento de Kelly. Assim, fui andando devagar, fingindo realmente estar passeando com cachorro que estava na guia, quando escutei o som da explosão e os gritos das pessoas que estavam próximas a mim. Olhei por sobre o ombro, só para constatar o que já sabia.

Com pouco, caminhões dos bombeiros passaram por mim e, em uma loja de eletrodomésticos, as televisões que ainda estavam ligadas, noticiavam a explosão de uma casa em um bairro chique de Georgetown.

Última atualização, a casa que explodiu há poucos minutos pertencia à Diretora do NCIS, Jennifer Shepard. Ainda não há informações sobre o motivo da explosão ou se há feridos ou mortos, qualquer nova informação será passada durante a nossa programação.— Dizia a repórter da ZNN.

— Ainda bem que onde a Ruiva está não tem televisão.

Puxei Jet pela coleira e o guiei até minha caminhonete.

Tudo estava feito, nenhuma ponta solta tinha ficado, era hora de tentar colocar minha vida e de minha família nos eixos novamente.

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— Tia Ziva... para onde você está me levando? – Sophie me perguntou depois de quase uma hora calada, olhando para o seu dragão de pelúcia.

— Para um lugar seguro.

Ela suspirou audivelmente.

— Que lugar é esse, tia? – Era perceptível o cansaço misturado com ansiedade na voz dela.

— Um lugar onde o seu pai me mandou te levar, não sei onde é, só tenho as coordenadas.

— Papai vai estar lá? Mas ele tinha que estar na Califórnia, tomando conta da mamãe!

— Não, ninguém vai estar lá. Só nós duas.

Pelo retrovisor vi a pequena olhar confusa para fora. Eu também não sabia para onde estava indo, só tinha resolvido que confiaria nas ordens de Gibbs, ele, junto com Jenny, eram os que sabiam o que era melhor para a ansiosa e nervosa garotinha que eu tinha como companhia.

Saí da rodovia principal e entrei em uma estrada de terra, completamente cercada de árvores. Conferi o GPS do carro, estava no lugar e caminho certos.

— Que lugar é esse? – Sophie murmurou do banco de trás.

Pelas instruções que Gibbs tinha me dado, agora eu andaria quase trinta quilômetros dentro dessa floresta no Parque Nacional da Virgínia e encontraria, nas coordenadas exatas, o local onde deveria manter Sophie segura.

Os trinta quilômetros foram sofríveis, a estrada era péssima e Sophie desistiu de me perguntar se já havíamos chegado na terceira vez que tentou falar e único som que conseguiu emitir foi:

— Jjjjjjjjjjjjaaaaaaa – Antes de morder a ponta da língua.

Precisos trinta quilômetros e a estrada se abriu em uma clareira, onde tinha uma....

— Aquilo é uma cabana? – Sophie falou.

— Sim. – Respondi, e conferi o GPS, eram as exatas coordenadas que Gibbs havia passado. – E, pelo visto, pertence ao seu pai.

— Por que papai teria uma cabana no meio do nada? – A Ruivinha questionou desafivelando o cinto e se enfiando no meio dos bancos da frente.

— Isso você terá que perguntar a ele. – Respondi. – Agora fique aqui dentro enquanto eu dou uma checada no local.

— Posso ligar o rádio?

— Não. Até porque nem sei se vai pegar alguma estação aqui.

— Deve pegar só o Canal Rural.... – Ela murmurou se voltando para o banco de trás. – Vou ficar aqui até que me diga que é seguro sair, Tia Ziva!

— Ótimo! Não vou demorar! – Falei, peguei minha lanterna e desci do carro, deixando os faróis acessos.

Vasculhei a propriedade e não achei nada. A cabana em si não era grande e não parecia ter luz, algo que não agradaria a garotinha que estava comigo, mas tinha uma ótima lareira, o que seria uma fonte de luz e calor, já que fazia frio ali.

— Tudo limpo. Pode sair, Pingo de Gente.

Sophie pulou do carro na mesma hora.

— Pegue a sua bolsa. É aqui que vamos ficar.

— Tá bom, tia Ziva, mas acende a luz, por favor!

— Não tem luz aqui!

Escutei a menina se engasgar.

— E como eu vou tomar banho??

Só mesmo a filha de Jenny Shepard para se preocupar em tomar banho enquanto estava fugindo de alguém que a quer morta!

— Sem banho hoje!

— Mas eu estou parecendo um gambá.

— Gambás não têm mau-cheiro, Pingo de Gente. A urina deles é o que fede.

Vi Sophie puxar a bolsa dela e abraçar o dragão com mais força, estava um tanto inconformada por ficar sem banho e em um lugar sem luz, mas não reclamou. Antes que chegasse perto de mim, parou e ficou olhando para uma bancada.

— Na casa do vovô Jack tem uma casinha de passarinho igual a esta! – Apontou para o objeto.

— É mesmo?

— Sim... agora eu não sei se a que tem lá foi o papai quem fez ou se foi o vovô... falando no vovô... ele tá seguro lá em Stillwater, não está?

— Sim, seu avô está, e eu não me preocuparia com ele.

— Por quê? – Sophie me olhou como se eu fosse doida em dizer aquilo.

— Simples. Vocês não vivem dizendo aqui na América: “Tal pai, tal filho!” ou “A fruta não cai muito longe do pé”?

— É a “maçã não cai muito longe da árvore”, tia Ziva! Mas sim, falamos muito isso. E o que tem a ver?

— Se o seu pai sabe fazer tudo aquilo, imagina o que seu avô não sabe fazer?

Sophie arregalou os olhos.

— Eu nunca tinha pensado nisso! – Me falou.

— Então pense mais um pouco, mas dentro a cabana, eu vou esconder o carro.

E ela arrastou a bolsa pelos degraus da cabana e olhou desconfiada para o interior.

— Tem certeza de que não tem aranha?

— Para dentro! – Ordenei antes de subir no carro. Ela fez uma careta, mas entrou. Consegui um bom lugar não muito longe da cabana, mas escondido o suficiente para que ninguém que estivesse nas trilhas por perto o vissem e escondi o carro de Tony, pegando uma bolsa com tudo o que poderíamos precisar pela noite.

Voltei para dentro da cabana e fechei a porta, Sophie tinha tirado uma lanterna de dentro da bolsa dela e agora tentava acender o fogo da lareira.

— Sabe fazer isso? – Perguntei intrigada.

— Sim, o Tim me ensinou a fazer fogo. Achei que nunca iria precisar, mas olha só! – Ela apontou para a brasa que tinha conseguido fazer e que agora levava para a lareira.

Deixei que ela se virasse, já estava na idade de aprender um pouco a sobreviver longe dos pais. Dez minutos depois, Sophie conseguiu fazer com que o fogo realmente pegasse e ficou toda feliz.

— Poderia ter sido mais rápido, mas parabéns, sua primeira lareira acessa sem a ajuda de um fósforo ou isqueiro.

— Obrigada. – Ela murmurou. – Como vamos fazer? Estou com fome!

— Sei pai não te ensinou a fazer steak na lareira? – Perguntei fingindo estar assustada com esse lapso de Gibbs. E Sophie só riu.

— Mamãe odeia que eu fique perto do fogo, diz que eu ainda sou um pouquinho desastrada. E, acho que não temos nenhum steak por aqui. – Ela apontou para o lugar. – Nem camas!

Tirei da bolsa a comida semipronta que tinha trazido e um saquinho de milho, que deixou minha companheira de acampamento muito feliz.

— Primeiro vamos jantar. Depois, se você se comportar, podemos comer pipoca enquanto conversamos na frente da lareira! – Falei.

— Isso!! – Começou a pular.

— Como a sua mãe não gosta de você muito perto do fogo, vou fazer isso aqui, enquanto você ajeita e arruma as nossas camas. – Apontei para os sacos de dormir que tinha trazido.

Sophie pegou os sacos e começou a arrastá-los pelo chão empoeirado da cabana, depois os abriu e foi arrumando as cobertas e os dois travesseiros em cima deles.

- Aqui tá bom?

— Sim, a uma distância segura do fogo, mas que nos manterá aquecidas. Continue assim e eu vou te levar para ser treinada pelo Mossad.

— Pode tentar, mas ninguém vai me deixar ir! – Ela falou séria.

— E se te sequestrar? – Entrei na brincadeira.

— Mamãe sabe tudo sobre o Mossad! Ela trabalha há um tempão com vocês de Israel.

— Não tudo. Ainda tenho mais cartas na manga.

Ela abriu um sorriso ainda maior.

— Tem o papai.

— DiNozzo e McGee não sobreviveriam ao Mossad. – Falei confiante, mas ela não desistiu e abriu um sorriso presunçoso.

— Isso não sei dizer, mas não ia falar deles...

— E ia falar de quem? – Me sentei em um dos sacos e encarei a garotinha na minha frente.

— Dos Marines! Com certeza papai conhece um monte de Fuzileiros e iria pedir ajuda para me encontrar. E o Mossad não seria páreo para uma boa parte da Corporação! – Ela tinha um sorriso vitorioso nos lábios. – E eles não parariam de me procurar até me encontrarem ou me vingarem. Nem o NCIS!

— Tudo bem, nada de sequestrar a filha do Agente Gibbs. Aprendi a lição, agora vamos comer!

— Ei! – A pequena ruiva me olhou injuriada. – Não sou só “filha do Gibbs”! – Fez aspas com as mãos. – Também sou filha da Diretora Shepard!

E era isso o que eu mais gostava nessa pequena. Sempre defendendo a mãe!

— Então, Senhorita Shepard-Gibbs, vamos comer. – Entreguei a nossa sopa e ela fez uma careta para o cheiro. – Eu sei que não é a comida da Noemi, mas é o que temos.

— Eu sei... mas isso aqui não tem um cheiro muito bom. Como podem dar esse tipo de coisa para quem está na guerra? – Perguntou pra lá de injuriada. Eu só soube gargalhar.

— Pingo de Gente, isso aqui seria um banquete. – Comentei e comecei a tomar a sopa. – Não é tão ruim quanto parece.

— Deveriam tratar quem nos protege melhor. – Foi o comentário dela ao levar a colherada à boca. – Muito melhor.

Minhas próximas horas ao lada dessa menina seriam divertidas.

Assim que acabamos de comer, minha companheira de acampamento colocou a sua cama mais próxima à lareira e me olhou em expectativa.

— O que você quer agora, Pingo de Gente?

— Me conta uma das histórias de quando você e a mamãe eram agentes, Tia Ziva?

Tive que pensar, não porque não havia histórias. Isso havia. Mas porque eu teria que editar vários momentos, principalmente os interrogatórios.

— Bem... – Comecei. – Teve uma vez, no leste europeu, uma das nossas primeiras missões. Eu ainda não conhecia a sua mãe muito bem, apesar de já ter trabalhado com ela em uma missão conjunta com o escritório de Londres. Nós descemos do avião na capital da Sérvia. Estava nevando muito, e eu nunca gostei muito de neve, mas isso não vem ao caso. O Mossad tinha nos reservado um carro, um velho BMW, como Jenny não fez questão de dirigir, eu peguei as chaves e depois de conferir se não havia nenhuma bomba, subi do lado do motorista.

Sophie fez uma careta. Acho que ela já sabia o que eu iria contar...

— Não me diga que você conseguiu apavorar a mamãe!

— Sim, eu consegui! E ela ficou tão apavorada, que começou a rezar!

Sophie começou a rir.

— Bem, depois que eu desviei de um caminhão...

— Na contramão? – Ela me perguntou.

— Não tinha muito contramão naquela estrada.... – Relembrei o desfiladeiro por onde passamos. - a carreta tinha feito um L... passamos por baixo dela mesmo.

Sophie arregalou os olhos.

— Então foi por isso que mamãe começou a rezar!!! Quase que vocês duas morreram!

— Não foi para tanto, Pingo de Gente.

Ela me olhou descrente.

— Foi divertido. – Falei com um sorriso... e realmente tinha sido, mas Jenny não achou nada engraçado.

— Tia Ziva! Você quase matou a minha mamãe!

— Antes de me xingar, espera que eu vou chegar na melhor parte.

— Tem melhor parte? Tipo aquela em que você derrapou o carro em um lago congelado, tirou a arma e atirou no bandido?

— Não, a parte em que a sua mãe ficou tremendo até o final da viagem e quando parei o carro, ela simplesmente desceu e gritou essas exatas palavras: “PELO AMOR DE DEUS! Eu tenho uma filha! E você dirige pior que o pai dela!”. – Caí na gargalhada ao lembrar da cena que a hoje poderosa diretora tinha feito no meio de um estacionamento de um hotel de quinta categoria. E Sophie me acompanhou na risada.

— Só faltou uma coisa. – Ela disse depois que conseguiu parar de rir.

— O que?

E a garota se levantou da cama improvisada, levou as mãos à cintura e imitou com perfeição a mãe, com o mesmo tom de voz e trejeitos que Jenny tem. E foi a minha vez de cair na risada!

Contei mais alguns casos, e comemos a pipoca que foi estourada em uma panela que achamos na cabana. Sophie também contou alguns casos que ela sabia, principalmente má-notas de Kelly. E algumas de DiNozzo que eu nunca tinha ouvido, principalmente uma de quando ele beijou um travesti, Sophie, claro não viu nada de mais, mas ela não entendeu o que isso significava para Tony e sua masculinidade, um dia ela entenderia e riria muito da cara dele!

— Será que tem algum lugar onde eu possa escovar os dentes? – Ela me perguntou depois que olhou para o fundo da panela de pipoca, agora vazia.

— Vi um banheiro lá fora...

— Você foi lá dentro? – Ela quis saber.

— Quer saber se tem ou não aranhas, não é?

— É... não gosto de bichos de muitas patas...

— Medrosa! – Falei e me levantei. – Você seria uma péssima oficial do Mossad tendo medo de tudo! Vem, eu vou com você, mas não se acostume. Medo é uma sensação que você escolhe ter.

— Ensinamentos do Mossad, tia?

— Da minha mãe. – Respondi.

— Ahn... sim. – Ela me acompanhou em um passo rápido até o banheiro, e depois de escovar os dentes e reclamar que estava precisando de um banho, parou e ficou olhando para o céu. – Daqui dá para ver as estrelas! – Murmurou. – Qual delas você acha que é a sua irmã, a Tali, Tia Ziva?

Olhei para o céu, estava realmente bonito, completamente estrelado, a falta de luzes da cidade, possibilitavam essa vista.

— Se eu disser que é a que brilha mais forte...

— Então aquela lá é a Tali! – Sophie apontou para a estrela. – Agora temos que achar o vovô Jasper, a Tia Shannon, a Vovó Ann, a Kate... – Começou a falar e se jogou no chão, se deitando com o rosto voltado ao céu. – Eu não conheci nenhum deles, mas eu acho que aquela estrela bonita deve ser a tia Shannon! – Começou a murmurar. E, por incrível que se possa parecer, fiz o mesmo que ela e me deitei no chão, olhando as estrelas e procurando nelas outra pessoa, minha mãe.

Deixei que Sophie ficasse vendo as estrelas por um tempo, ela parecia gostar de fazer aquilo, só que esfriou muito e o chão ficou ainda mais gelado.

— Vamos entrar? Está esfriando ainda mais e eu não quero que fique doente.

— Tudo bem! – Ela se levantou e saiu andando até a porta da cabana, de onde se despediu de todas as estrelas, inclusive da minha mãe e irmã. – Tem muita gente nos olhando lá de cima... – Comentou quando fechei a porta.

— Sim, tem. – Falei. – Agora venha aqui. – Ela parou e me encarou. – Você está com as costas completamente tomada de grama. Não pode dormir assim!

Sophie só tirou o moletom e depois correu para a beirada do fogo.

— Eu acho que vou dormir. – Disse com um bocejo. – Posso?

— Deve! – Falei. – Precisa de alguma coisa?

— Queria a minha mãe e meu pai e o Jet, estou com saudades deles. Mas não preciso de nada, não, tia Ziva. Muito obrigada por tomar conta de mim. – Ela voltou até onde eu estava e me deu um abraço, tão apertado quanto o primeiro que ela havia me dado tantos anos antes.

— Boa noite, Pingo de Gente! – Beijei o alto da cabeça dela.

Sophie logo estava dormindo, já eu fiquei acordada, escutando os arredores e prestando atenção nas sombras da noite. E, no fundo de minha mente, me perguntava se o plano que Gibbs não compartilhou com ninguém, tinha dado certo.

Me sentei em uma das cadeiras, atrás da porta e perto de uma das janelas, e só dois sons preenchiam o silêncio, o crepitar do fogo e o ressonar tranquilo da respiração de Sophie.

Conferi o relógio. Era uma da manhã. Mais cinco horas. Se até as seis da manhã Gibbs não aparecesse aqui, eu tinha que entrar em contato com Abby e pedir que ela reservasse duas passagens para fora do país, e depois, colocar Tony a par do plano.

Internamente eu torcia para que não precisasse fazer isso.

Duas da manhã e nada. Tive que reviver o fogo para que o Pingo de Gente não ficasse com frio e depois voltei para a minha vigília.

Quase as três da manhã eu pensei ter escutado o som de pneus no cascalho. Peguei minha arma e a preparei. Voltei para onde Sophie estava, busquei na minha mochila munição extra e outra faca. E parei próxima à janela, longe da vista de quem quer que estivesse chegando.

O som dos pneus ficou mais alto, o ronco de um motor também.

Me preparei para defender a ruivinha que dormia sem saber a verdade sobre tudo o que acontecia na vida da sua família. Pelo canto da janela, vi o farol ser apagado, porém eu acabei por reconhecer o barulho do carro.

A menos que algo muito ruim tenha acontecido, aquela velha caminhonete era a de Gibbs e só ele sabia a localização desse lugar.

Ouvi passos e antes que pudesse fazer qualquer coisa, o alerta:

— Não atire, Ziver. Sou eu!

Guardei minha arma na cintura e destranquei a porta.

— Deu tudo certo, Gibbs? – Perguntei, porém antes que ele entrasse na cabana, o enorme Pastor Alemão da família correu para dentro e parou perto de Sophie, farejando-a e depois de saber que tudo estava bem com a sua dona, se deitou ao lado dela e ficou nos encarando. – Aquilo foi estranho.

— Tudo certo, Ziva. Acabou. E por aqui?

— Tirando a reclamação por ficar sem banho. Tudo bem.

— Somente Sophie para se preocupar com banho... – Gibbs comentou e foi para perto da filha.

— Qual é o plano agora? – Perguntei ao fechar a porta, o frio da madrugada estava realmente forte.

— Vou levá-la para a Califórnia. Ela precisa ver a mãe.

— Já tem as passagens? – Perguntei e comecei a guardar as minhas coisas.

— Ainda não, posso arrumar isso pela manhã. Mas vou tirá-la daqui.

Gibbs tentou acordar a filha de todas as formas, mas não conseguiu, por fim, decidiu que a levaria dormindo mesmo.

— Muito obrigado, Ziver. – Ele me falou quando fechou a porta do passageiro.

— Não foi nada, Gibbs. Eu estava te devendo, depois do que aconteceu com a Jenny. E nem é tão difícil assim tomar conta da Sophie. Ela não me deu trabalho nenhum.

Gibbs me deu um beijo na testa, algo que meu pai nunca fez, depois me disse:

— Vai para casa, aposto que DiNozzo ainda não deve ter dormido querendo saber o que aconteceu.

— Não duvido.

— E Ziva?

Olhei para ele.

— Saiba que foi necessário. – Me disse e depois entrou na caminhonete e foi embora. Acabei de guardar as coisas e parti também, prometendo não contar para ninguém a localização daquele esconderijo e intrigada com a última frase que Gibbs havia me dito.

Quando estava na rodovia, quase na metade do caminho, liguei o rádio para poder preencher o silêncio e me manter acordada. Foi quando escutei:

E novas informações sobre a explosão na casa da Diretora do NCIS, Jennifer Shepard. Encontraram um corpo carbonizado no meio dos escombros. Ainda não se tem a identificação, mas ao que parece, isso foi um roubo que deu errado, tendo em vista que a Diretora Shepard e sua família não estão em D.C., pois ela está passando por um tratamento de saúde na Califórnia. A família ainda não se pronunciou e o NCIS disse que tudo será investigado internamente.

Então era isso que Gibbs tinha dito ser necessário. Porém, explodir a casa de Jenny, eu, Ziva David, achei ser um pouco exagerado. E nem queria pensar em como ela vai reagir quando acordar e ficar sabendo disso.