Como era de se esperar, a Ruiva dormiu por todo o caminho, não acordou nem quando eu a tirei de dentro da caminhonete e a coloquei no sofá. O dia já estava amanhecendo e mais cedo ou mais tarde, ela acabaria acordando por si.

Comecei a organizar uma mala com as coisas que ela iria precisar, não sabia quantos dias ficaríamos na Califórnia, mas, com certeza, Kelly não se importaria de sair com a irmã e comprar algo se fosse necessário. Enquanto andava no segundo andar, procurando pelas roupas certas, dentro das malas que Tony e Tim haviam deixado aqui, escutei o grito, acompanhado de um uivo.

Desci a escada correndo, para encontrar minha filha acordada e desorientada.

— Calma, filha. Está tudo bem! – Falei ao abraçá-la.

Ela ainda olhava os arredores.

— Eu não dormi aqui... estava em uma cabana no meio do mato... – Ela murmurou.

— Não, filha. Você realmente dormiu na cabana, mas eu te peguei de madrugada...

E foi só então que ela acordou de verdade.

— PAPAI?!! – Me encarou com um par de olhos verdes que eu senti muita falta nos últimos cinco dias. – O senhor deveria estar tomando conta da mamãe na Califórnia! Ou a mamãe está aqui? – Saiu do meu abraço e começou a chamar pela mãe. – Mamãe? Mamãe?!

— Sua mãe ainda está no hospital, na Califórnia. Kells está com ela, e tem pessoas tomando conta dela lá.

Minha filha me olhou como se tivesse cometido o pior dos crimes.

— NÃO!! PAPAI! Ela não pode ficar sozinha! E se... e se... – Começou a chorar.

— Sophie, olhe para mim! – Ordenei e ela fez o que pedi. – Eu vim te buscar para que você veja a sua mãe. E você nesse estado não está me ajudando.

Ela arregalou ainda mais os olhos.

— Preciso que você suba para o seu quarto, tome um banho, me ajude a arrumar uma mala para você e outra para a sua mãe. Depois nós vamos pegar um voo para San Diego.

Ela nem se dignou a responder, subiu correndo as escadas e a ouvi entrar no quarto e tropeçar nas malas. Subi logo atrás para encontrá-la praticamente dentro de uma das malas que, na pressa de ir acudi-la, acabei por deixar aberta.

— Cai em cima dela... – Me explicou.

— Sei. - Levantei-a do chão.

— Papai. – Ela me perguntou olhando em volta. – Por que todas as minhas coisas foram trazidas para cá?

— Prometo de explicar mais tarde, filha. Agora, banho.

Como ela tinha ajudado as meninas a guardar os seus pertences, Sophie abriu a mala certa e pegou o que ela iria precisar, depois correu para o banheiro, prometendo não demorar.

A promessa de não demorar levou quase uma hora, mas ela apareceu na minha frente, com o cabelo úmido, e pronta para viajar, já que a mochila dela estava nas costas e ela estava abraçada com a velha boneca de pano, a Annia.

— Estou aqui.

— E isso foi o seu “prometo não demorar”?

Minha filha ficou vermelhinha.

— Sim... – Me respondeu olhando para o chão. – uhn... papai. Onde o Jet vai ficar?

Nesse momento, alguém bateu na porta e entrou na casa. Eram Abby e Tim.

— Gibbs! Jibblet!! – Abby gritou como sempre e correu para abraçar a minha filha. – Ainda bem que tudo está bem! – Ela disse.

Encarei os dois, não os tinha chamado, porém Tim foi o primeiro a falar.

— Ziva nos ligou, explicou por alto o que aconteceu e disse que você, Chefe, vai voltar para a Califórnia. Assim...

- Reservamos as passagens! – Abby completou. – E não se preocupem. Eu vou tomar conta do Jet enquanto vocês tomam conta da Jenny! – Ela já estava ajoelhada perto do pastor alemão e acariciava as orelhas dele.

— E sobre o que aconteceu de madrugada... – Tim começou em um tom mais baixo, depois que Sophie se juntou a Abbs perto do cachorro. – O corpo foi levado para o NCIS. Ducky irá fazer a autópsia, mas está carbonizado demais para ser identificado, a explosão garantiu que nenhuma parte do DNA ficasse intacta.

Era o que eu queria ouvir.

— Mais alguma coisa?

— Da casa não sobrou muito... o escritório da Diretora foi o mais atingido, assim como o quarto que ficava bem em cima. De verdade, só duas coisas ficaram intactas, mesmo depois do trabalho dos bombeiros.

— Que foram?

— A cama elástica e a porta da frente.

— A porta? – Perguntei descrente.

— Sim... ninguém entendeu como. A equipe da noite a tirou e a levou para a garagem de provas, para procurar por alguma digital se possível... Devemos guardá-la?

— Sim... deixa-a lá.

— Gibbs! – Abby me chamou. – Vocês têm que ir! O voo decola em uma hora! – Me informou.

Vi Sophie se despedir de Jet e abraçar Tim e Abby, agradecendo que os dois iriam tomar conta do cachorro dela, depois me acompanhou até o carro.

Já acomodada do meu lado, afinal estávamos na caminhonete, ela falou.

— Onde nós vamos morar, agora que a nossa casa explodiu?

Olhei de relance para ela, e Sophie estava séria.

— Eu escutei o que Timmy falou. E, também escutei que só sobrou a porta de pé... que perdemos tudo...

— Vamos dar um jeito, filha. Primeiro devemos trazer a sua mãe de volta, depois podemos olhar uma nova casa, ou reformar aquela...

Ela concordou com a cabeça.

— A parte ruim é que todo o trabalho que o senhor teve de fazer os móveis para o meu quarto e para o escritório da mamãe foi em vão... tudo queimou...

— Eu posso fazer tudo de novo, se você me prometer que vai me ajudar! – Falei e dei um peteleco no nariz dela.

— Isso vai demorar.... mas eu te ajudo papai! - Me garantiu com um sorriso.

Chegamos no aeroporto com poucos minutos de folga. Fiz o nosso check in e guiei Sophie pelo saguão lotado, para muitos era o início das férias de verão... férias que Jenny estava planejando levar Sophie para a Europa e agora, mais uma vez, ela ficaria por aqui.

Nosso voo foi chamado e Sophie me olhou nervosa.

— Você não tem medo de voar, tem? – Perguntei, já que eu nunca a tinha levado a uma viagem de avião.

Ela abriu um sorriso.

— Claro que não! Adoro quando o avião decola naquela velocidade toda! Só estou com medo de como vou encontrar a mamãe quando chegarmos lá.

— Ela vai estar bem, Ruiva.

— Quem está tomando conta dela, depois da Kells?

— Os agentes do Escritório de Los Angeles.

— Conheço alguém?

— Não. Creio que não. - Mas então lancei uma olhada para a boneca ruiva na mão da minha filha e me lembrei quem a deu para ela. – Na verdade, conhece sim...

— Quem? – Ela em perguntou curiosa.

— Se lembra do Callen?

O TIO CALLEN? – Ela ficou animada. – Foi ele quem me deu a Annia! - Ela abraçou forte a boneca como se assim estivesse abraçando o próprio Callen.

— Sim, ele está lá.

— Tem um tempão que eu não o vejo, a mamãe me falou dele há um tempo... mas não me disse que ele estava no país! Eu tô saudade do Tio Callen!

— É, ele me perguntou de você. Mas acho que não vai ter reconhecer... você cresceu muito desde a última vez que ele te viu.

Ela começou a balançar os pezinhos nervosa e animada em rever uma pessoa que eu nem sabia como, ela ainda se lembrava. e foi nesse estado eufórico que ouvimos que nossa decolagem foi autorizada.

— Precisa que eu segure a sua mão? – Perguntei para ela.

— Nah!! Mamãe é quem tem medo da decolagem. Eu adoro! – Disse com um sorriso. – Eu acho que dirigir um carro de corrida deve dar essa mesma sensação. – Apontou para a tela na poltrona da frente e ficou contando os números que subiam rápido. Assim que o avião saiu do chão ela exclamou: - Quase 300 km/h antes de subir!! – Exclamou.

Eu torci para que ela não fizesse isso perto de Jen, ou eu ainda seria o culpado por essa paixão inexplicável da pequena pela velocidade.

O voo de mais de cinco horas acabou passando rápido, não sei se foi porque eu estava pensando em tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, ou se foi porque Sophie dormiu logo após que entramos em velocidade de cruzeiro.

— Hei, Ruiva. Acorde! – Chamei pela dorminhoca que tinha abraçado a boneca e se deitado no meu colo.

Sophie se espreguiçou.

— Chegamos?

— Vamos aterrissar, e você sabe o que fazer...

Ela se levantou, ainda esfregando os olhos, se sentou direito na poltrona e afivelou o cinto, começando a balançar as pernas assim que conseguiu ver a cidade abaixo.

Com a aterrisagem tranquila, logo liberam a nossa saída da aeronave, Sophie agarrou a minha mão enquanto íamos para a área das esteiras, recuperar as bagagens. E por todo o tempo ela apertava a minha mão e olhava em volta.

— O que foi? – Perguntei, estranhando a atitude dela.

— Nada... é que a mamãe sempre me pediu para segurar a mão dela enquanto estamos dentro do aeroporto ou na estação de trem. Ela diz que é para que eu não me perca e para que ninguém me leve e sempre me disse para ficar alerta quanto a qualquer pessoa.

— Ela fez bem. – E foi a minha vez de olhar em volta.

— Ei, papai! – Sophie me chamou. – Minha mala. A outra tá bem atrás!

Peguei as malas, coloquei em um carrinho e saí para o saguão principal. Sophie a essa altura estava agarrada à manga do meu paletó.

Como já estava planejado, um carro nos esperava no estacionamento, e tinha todas as características de ser de Hetty.

— Vamos nesse carro? – Minha filha perguntou espantada ao olhar o Mercedes que nos esperava.

— Sim.

— E tem... – Ela começou a perguntar enquanto abria a porta de trás. – É tem o assento sim. É seu, papai?

— Não. De uma conhecida.

— E ela sabia que eu vinha?

— Sabia. E quer te conhecer.

— Quem ela é? – A essa altura, já estava manobrando para sair do estacionamento.

— Henrietta Lange.

— E eu vou gostar dela?

Olhei para a minha filha. De quem ela não gostava?

— Então tá bom. – Se conformou e abraçou a boneca, ficando um tempo calada, até que escutei ela se engasgar.

— O que foi?

— É a primeira vez que venho para a Costa Oeste e vejo o Oceano Pacífico. E é bonito aqui! Na verdade. – Ela começou. – Parece com uma das fotos que a Kells me mandou! Será que foi aqui que ela tirou a foto?

— Não sei, filha. Terá que perguntar a ela.

— Eu vou fazer isso. Será que ela vai estar no hospital na hora que a gente chegar lá?

— Sim, ela vai. – E foi só falar em Kelly que meu telefone tocou.

— É ela? – Sophie perguntou sorrindo.

— Diga Kells! – Atendi o telefone no viva-voz e Sophie riu da coincidência.

— Já chegaram? E oi para você, Moranguinho!

— Oi, Kells!!! – Sophie cumprimentou a irmã mais velha.

— Sim, já estamos a caminho. Dentro de meia hora estaremos aí. Alguma notícia?

— Tivemos melhoras no quadro geral e resolvi suspender a sedação. Mas explico para o senhor quando chegar. E, bem, aviso que Hetty e Callen estão aqui.

Sophie ficou animada quando ouviu o nome de Callen.

— Certo, filha.

— Já avisou o pessoal de D.C.?

— Ainda não.

— Vou fazer isso. E pai, por favor, não precisa vir igual a um maluco. Já basta a Jen internada. Vejo vocês daqui a pouco. – E desligou a chamada.

Atrás de mim, Sophie que ainda observava a cidade, como se tentando decidir se gostava dali ou não, falou.

— Como Kelly é boba... ela diz essas coisas como se o senhor fosse dirigir devagar... nem o senhor ou a Tia Ziva fazem isso. Jamais.

Não concordei nem discordei de Sophie, mas no fundo ela estava certa.

Ao chegar no hospital, Sophie observou o prédio.

— É um hospital da Marinha?

— Sim, filha.

— Tipo o Bethesda?

— Exato.

— Ahn... – Disse e ficou vendo o pessoal entrar e sair, alguns andando normalmente e outros em cadeiras de rodas, usando muletas.

Entramos e tive que identificar quem éramos, mas parecia que Kelly já tinha ajeitado tudo, só nos entregaram um cartão com o número do quarto onde Jen estava. Para chegar até lá, tivemos que pegar o elevador, Sophie, mais uma vez, agarrou a minha mão e abraçou a boneca de pano. Quando as portas estavam para se fechar, pediram que eu as segurasse, fiz isso e dentro do elevador entraram dois fuzileiros. Todos dois com próteses na perna.

Para mim, não tinha nada demais, mas percebi, um pouco tarde, que Sophie nunca tinha visto um amputado antes e isso a deixou desconcertada e os dois fuzileiros notaram o olhar dela.

— Oi, ruiva! – Um deles mexeu com ela.

— Oi. - Respondeu sem graça e se encolheu atrás de mim, tentando de todas as formas não olhar para as próteses.

— Não precisa ficar assim, não somos ETs. – O mesmo fuzileiro disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo o que aconteceu com ele.

— Eu sei que não são. São Fuzileiros.

O outro só gritou:

— Hurra!

— Mas... – Ela ficou muito vermelha. – Não dói? – Apontou para as pernas.

— Agora não mais. Já me acostumei.

— Mas doeu?

— Sim.

— Muito?

— O boot camp foi muito pior, garotinha. – Ele falou com um sorriso. E ia começar a explicar o que era boot camp..

— Eu sei o que é... é o que muitos chamam de iniciação para ser um Marine.

— Vai ser uma Fuzileira? Nunca vi uma ruiva na Corporação.

— Não. Vou ser agente do NCIS. Igual aos meus pais. – Sophie exclamou orgulhosa.

Os dois fuzileiros encararam minha filha, creio que tentando imaginar a garotinha ruiva que abraçava uma boneca igualmente ruiva, como uma agente federal.

— Então, Senhorita Agente do NCIS, fico muito feliz em saber que tem gente que quer tomar conta das nossas famílias enquanto estamos fora...

— Mas vocês vão poder voltar a servir? – Sophie perguntou genuinamente curiosa.

— Não na guerra. Mas nada nos impede de ajudar aqueles que estão passando pelo que já passamos.

— Claro... Porque uma vez Fuzileiro, sempre Fuzileiro! – Minha filha disse.

O elevador parou dois andares abaixo de onde íamos.

— Exatamente, ruiva. Sempre fuzileiros e...

Semper Fi! – Ela terminou a frase.

— Hurra! E eu acho que você deveria considerar a possibilidade de se juntar à Corporação. – Disse o Marine antes de sair. – Já tem os Marines no coração! – Falou e antes que as portas se fechassem, fez uma continência na direção dela.

— Nunca pensei que uma pessoa que perdeu a perna pudesse ser tão feliz. – Sophie me falou. – Sempre pensei que ficavam tristes... mas aqueles dois provaram o contrário...

Ela ia terminar de falar alguma coisa, contudo, chegamos no andar onde Jen estava e mal as portas se abriram, Kelly já foi nos puxando porta afora e nos rebocando pelo corredor.

— Kells! – Sophie a chamou. – Kells!!

— Kelly, o que aconteceu?

Kelly não me respondeu, apenas intensificou o seu aperto em meu braço e acelerou os passos, até que parou na porta do quarto de Jen e me falou.

— Jen acordou momentos depois que desliguei a chamada. Parecia que estava só esperando vocês chegarem aqui. – Falou com um sorriso. – Ela está fazendo uma bateria de exames nesse momento, deve voltar dentro de meia hora, podem esperar aqui. Eu não contei a ela que vocês já estavam em San Diego, para não a deixar ainda mais ansiosa. Quero ver a cara dela quando ver vocês! - E antes que eu pudesse entrar no quarto, escutei alguém chamando por minha filha.

— Por acaso essa é a Pequena Ruiva para quem um dia eu dei uma boneca de pano tão ruiva quanto? – Callen perguntou.

Sophie se virou na hora e, abraçada à boneca, arregalou os olhos e gritou:

— Tio Callen?! É você?

— Eu costumava ganhar sorrisos de você, será que não posso ganhar um abraço?

Kelly olhou a cena e me encarou.

— Ela conhece o Callen?

— Sim... Ele e Jen trabalharam juntos em Londres. E a Annia, foi ele quem deu a ela.

Sophie correu para Callen, o chamando de Tio, atrás dele, pude ver, Hanna, Deeks, Kensi e Hetty.

— Tio Callen!! – Sophie o abraçou. – Tem um tempão que não te vejo... você está aqui na América e nem foi me ver! – Ela demandou e vi que os outros quatro esconderam a risada.

— Muito trabalho por aqui. Sua mãe não pega leve com ninguém, Pequena. Mas me diga uma coisa...

— O que? – Minha filha tinha dado um passo atrás e tombado a cabeça. Ao fundo, Hetty a estudava atentamente e abriu um sorriso.

— Essa boneca... – Callen puxou a barra do vestido da boneca.

— É a Annia e é a boneca que você me deu. – Minha filha respondeu toda feliz.

— Mas isso foi a o que? Quatro anos atrás? – Ele brincou com ela.

— Tio... eu já tenho oito anos! – Sophie falou.

Callen fingiu ficar surpreso com a informação e depois soltou.

— Isso é mentira!

— É claro que não! Eu nasci em 2000. E já estamos em 2008! É só fazer as contas!!

— E como essa boneca ainda está inteira?

— Porque eu tomo conta dela direitinho.

— Me parece que você só tem ela. Ou não a teria trazido. – Callen a desafiou.

Sophie entregou a boneca a G. e depois se ajoelhou, tirando a mochila das costas e a abrindo, para mostrar...

— Eu não acredito que ela trouxe o Mushu! – Kelly murmurou incrédula.

— Não tenho só a Annia. Tenho ele! – Mostrou o dragão. – E outros que não couberam na mochila!

— Sua mãe te deixa ter um dragão?

— É o Mushu! E sim, foi a mamãe quem me deu, ela ganhou ele em uma barraca de tiro ao alvo. Acertou os três tiros e me deixou escolher o bichinho que queria.

— Ainda acho que um dragão não é um bichinho para crianças.

— Tio... se o senhor está inconformado com o “dragão”, – Ela fez aspas com os dedos. - deveria conhecer o meu cachorro.

— Um Lulu da Pomerania, aposto!

— Não. Um pastor alemão, e adivinha só!

— Adivinhar o que, Pequena?

— Ele era um Fuzileiro.

Callen caiu na gargalhada.

— É claro que você colocaria um cachorro treinado pelos Marines para tomar conta de uma das suas filhas, não é Gibbs? – Callen me perguntou rindo. Depois veio na minha direção para me atualizar sobre a investigação que ele e sua equipe estavam fazendo. Enquanto Sophie foi cercada pelos outros três agentes e por Hetty, que começaram a conversar com ela. Kensi chegou ao ponto de se sentar no chão para ver a boneca dela.

— Já descobrimos quem é o informante daqui do hospital e principalmente quem é o agente do NCIS que vazou as informações. Sabemos onde está e o que vai fazer pelas próximas quarenta e oito horas. Pensamos que você gostaria de se juntar a nós para prendê-lo.

Olhei para a minha filha, já a vontade na presença dos demais agentes e depois para Kelly, que mordia o lábio, nervosa, como se me dissesse: “papai, o importante é a Jen, esquece isso!”

— Quando vai ser? – Perguntei e escutei Kelly suspirar.

— Podemos vigiá-lo até amanhã cedo, assim você tem tempo de conversar com...

Eu tenho certeza de que ele iria completar com “A Jenny”, porém ela entrou no nosso campo de visão antes e já foi logo falando:

— Até no meio do hospital, você consegue fazer bagunça, Miniatura?

Sophie, que não tinha visto a mãe, se virou na direção da voz dela e, em menos de dois segundos, a expressão relaxada e alegre que ela tinha se transformou em susto, preocupação e alívio ao ver que a mãe estava bem e logo correu de encontro a Jen, que a esperava com um braço estendido, já que o outro estava em uma tipoia.

— Devagar, Moranguinho. Sua mãe ainda precisa que você tome cuidado ao abraçá-la.

Sophie chorava quando encontrou a mãe.

— Mamãe! A senhora está bem? Tá doendo? Eu tô tão aliviada que a senhora esteja viva.... eu tive um monte de pesadelos com a senhora, ainda bem que não foi igual ao que sonhei!! Mas eu fiquei com tanto medo da senhora não voltar para casa!

— Xii, Miniatura. Eu estou bem. Agora tudo vai ficar bem. Eu te prometo.

— Eu não gosto de promessas.

— Confie em mim, filha. Tudo vai terminar bem.

Mesmo que Sophie não quisesse se soltar da mãe, Kelly pediu que ela o fizesse, pois Jen tinha que ser colocada na cama para descansar.

— Vá pegar as suas coisas e se despedir de seus novos amigos. – Kelly disse séria.

E Sophie, bem, ela foi ela e não deixou por menos.

— Você está com ciúmes, Kells? Igual você ficou quando eu conheci o Tony?? – Ela encarou a irmã mais velha com um sorriso no rosto.

Kelly só ficou vermelha, mas foi o que bastou para Hetty sorrir.

— Tinham me falado que ela era única, agora vejo o motivo... – Disse a baixinha para Jenny.

— Ela ainda é muito nova para ser treinada por você, Hetty. – Jen falou enquanto nossa filha ia até Kensi para guardar as coisas e se despedir, com um abraço e um beijo dela e de Hanna e Deeks.

— Nunca é cedo demais. E eu sei quem a treina de vez em quando, uma Oficial do Mossad, chamada Ziva David. Se um dia você quiser que ela passe um verão na Califórnia, eu posso ensiná-la uma ou duas coisinhas.

Kelly tinha os olhos arregalados de susto. Jen se limitou a sorrir, Callen falou.

— Eu sabia... esses agentes estão cada dia mais novos. Aposto que ela pega o meu lugar antes dos doze anos, e aos dezoito vai ser a nova diretora! – Brincou.

Todos caíram na gargalhada. E essa frase dele me lembrou que ainda tinha que entregar algo para Sophie, mas poderia ser mais tarde.

— Então, Gibbs, até amanhã. Nos encontramos no prédio das Operações Especiais. – Se despediu de mim. – Tchau, Jenny. Vê se fica boa logo, para levar essa aqui para conhecer o restante da turma. – Ele bagunçou os cabelos de Sophie antes de sair.

— Tchau pequena Ruiva.

— Tchau Tio Callen. Tchau Deeks, Hanna! Tchau Hetty!! E a gente conversa depois, Kensi!

— E é claro que você vai se unir a eles, para pegar McAllister. – Jenny me falou.

— Como você sabe quem é? – Perguntei para ela enquanto empurrava a cadeira para dentro do quarto.

— Estava em coma, Jethro, não morta. Escutei muita coisa que foi falada perto de mim. – Ela me deu um sorriso cansado. – Agora, eu quero saber de uma única coisa... – Se dirigiu às duas filhas. – Quem vai pegar um sorvete para mim?

Nem precisava perguntar. Sophie logo se prontificou. E ela e Kelly saíram do quarto. Pelo visto, Jen queria ficar sozinha comigo.

— E você, Jethro? Quer me perguntar algo? – Me olhou nos olhos ao fazer a pergunta, depois que se ajeitou na cama.

— Sobre o que?

— Você sabe muito bem sobre o que... – Ela não disse com raiva.

— Está disposta a se explicar?

— Na verdade, estou disposta a implorar se for necessário.

Nossa conversa seria longa. E apesar de ter tido vontade de matá-la quando fiquei sabendo o que ela tinha feito e como ela havia se ferido, eu percebi que não importava mais. Ela estava aqui, afinal. Mas seria interessante vê-la se explicar.