Capitão Marvel & os Vingadores
Conversa franca, parte 1
Tão logo Rudolph parara de falar, Claire se desvencilhou da chave de braço e contra-atacou, empurrando o super-soldado para longe de si.
Rudolph, mesmo surpreendido, tentou reagir, mas Claire se moveu mais rapidamente e aplicou uma chave de braço nele, atirando-o ao chão em seguida.
— Se era só uma conversa que você desejava, não creio que precisasse ser tão agressivo com uma colega, agente Fuentes – disse ela, enquanto pressionava o peitoral do capitão da equipe com o braço, para segurá-lo junto ao chão. - Eu te defendi agora há pouco na reunião com os demais Vingadores. Você precisava responder com violência?
As palavras dela ressoaram no latino, e ele cessou de resistir. Ergueu os braços como quem se rendia.
— Certo, não foi a melhor abordagem.
— E nem um pouco cavalheiro ou educado, devo acrescentar – respondeu a agente britânica.
Ela se levantou e estendeu a mão para ele. Hesitante, Rudolph aceitou a mão dela, mas sem tirar os olhos da agente, para o caso de um novo mini duelo.
— Peço desculpas.
— Aceitas. Agora, vai me explicar o que você tinha em mente ao tentar me pressionar?
— Agente Finn, você certamente entenderá que eu estou tendo dúvidas ao ter que trabalhar com alguém que mal conheço.
Claire demorou um pouco para processar o que ele havia dito.
— Mas a qual dos integrantes da equipe você está se refe...
O olhar indagador do agente porto-riquenho em direção a ela a fez parar no meio da frase, permitindo que “a ficha caísse” para a moça.
— Ah. Eu.
— Claro. Você é habilidosa em combate, cheia de recursos, inteligente..., mas é uma incógnita. Faz com que eu me questione de porquê Fury colocou você nesta equipe, justamente alguém de quem eu não tinha nenhuma informação prévia, ao contrário dos Vingadores.
— Suas dúvidas irão cessar mais rápido do que você imagina, Rudolph. E respondendo ao seu questionamento, Diretor Fury me colocou para observá-lo, evidentemente.
Rudolph franziu a testa.
— Está dizendo que Fury te colocou aqui para me vigiar??
— Pode interpretar dessa forma, se quiser. Mas não creio que seja estritamente esse o caso.
— Ora. Por que raios Fury ia querer me vigiar?
— Rudolph, você há pouco expressou sua dúvida sobre mim – pontuou Claire. – Acha que Fury não tem dúvidas sobre você, também?
Os punhos fechados de Rudolph tremeram.
— Esse safado me recrutou pessoalmente. Supervisionou meu treinamento como agente. Como ainda tem dúvidas sobre mim?
— Para alguém como o diretor Fury, isso é natural. O sr. Stark diria... Como era mesmo a frase no arquivo sobre ele? “Os segredos dele possuem segredos”, ou coisa do tipo. Desconfiar é a natureza dele. Ou melhor, “confiar desconfiando” como ele mesmo gosta de dizer. E bom, se isso serve de consolo, a dúvida é menos sobre você, e mais sobre o tal soro experimental que injetaram em você.
— Fury... tem dúvidas sobre a minha fórmula?
— É seguro dizer que ele trabalha com duas hipóteses. A primeira é a de que a fórmula pode acabar se manifestando em você da mesma forma que com o Coulson. Coulson passou por uns momentos bem instáveis de sanidade nos primeiros dois anos após o soro. A segunda... é de que a fórmula pode se manifestar em você da mesma forma que se manifestou no Johann Schmidt, “Caveira Vermelha” ... e em outros que receberam o soro de forma incompleta ou experimental.
— Mas o meu soro não é o mesmo do Capitão América e nem do Caveira Vermelha.
— Não, mas é uma fórmula desconhecida, com apenas o precedente do Coulson, que, convenhamos, não é lá um bom precedente. Torça pelo melhor, mas se prepare para o pior. É algo que o Diretor Fury sempre nos diz. Em todo o caso, ele teme que você se torne um empecilho. Poderia virar um Hulk, se tornar como um desses soldados do Sheik ou coisa pior. Eu tinha ordens para neutralizá-lo caso a situação saísse do controle.
— Neutralizar, você diz... Como em...
— Como em te matar. Sim.
Rudolph suspirou profundamente.
— Acho que não é tão surpreendente assim. Nem eu as vezes sei se posso confiar em toda essa força que a fórmula me concede. Por mais que eu esteja odiando o Fury agora, não posso dizer que, no lugar dele, eu não teria feito a mesma coisa.
— Está começando a entender. E a agir não só como membro dos Vingadores, mas como um verdadeiro agente da SHIELD.
— Sim, isso é realmente um grande consolo no momento, então... Espera aí.
Rudolph voltou a fitar a agente, como se tentasse se lembrar de algo que ela dissera.
— Você disse que “tinha” ordens para me neutralizar. Suas ordens mudaram, por acaso?
Claire mordeu levemente o lábio antes de responder.
— As ordens também diziam que eu deveria abandonar essa diretriz caso você se mostrasse digno de confiança, caso as suspeitas de Fury se mostrassem infundadas. Minha avaliação é de que, sim, elas são infundadas, agente Fuentes.
— Parece estar se submetendo a um alto risco com essa avaliação.
— Com base no seu desempenho em combate e na pequena reunião de agora com os Vingadores, acredito que esse risco é baixo. Você demonstrou que o soro não te controla, Rudolph. Quando muito, eu diria... que você está se tornando melhor devido ao soro, talvez seja até mesmo você quem esteja influenciando a forma como o soro afeta o seu organismo. Você é confiável. Eu tenho certeza.
— Gostaria de também ter essa sua certeza – confidenciou Rudolph. – Liderar esses “semideuses” não está se mostrando nada fácil. Por isso eu me questiono tanto. Eu me transformar num Hulk ou num super-soldado assassino descontrolado, nesse momento, seria a menor das minhas preocupações. Preocupo-me em falhar com eles, em falhar como líder e como agente... a SHIELD não deve proteger a humanidade? Que belo trabalho eu estou fazendo, então.
Claire chegou mais perto dele, e colocou a mão no rosto de Rudolph, acariciando-o. O homem fechou os olhos brevemente ao sentir aquele contato.
— Não desanime. Todos temos que passar por provações. Você disse que tinha dúvidas sobre mim. Certamente você já percebeu, também... que disponho de certas habilidades.
Rudolph tornou a abrir os olhos.
— Habilidades, você diz...
— Sobre-humanas, claro. Você elogiou minha inteligência, elogiou minha destreza e minha agilidade, minha aptidão em combate... Você não acha que eu nasci assim, certo?
— Eu estava atribuindo isso ao seu treinamento – admitiu Rudolph.
— Boa hipótese, mas ainda assim. Rudolph, mesmo o melhor dos treinamentos não seria tãaaaao bom. Assim como você, eu também fui um experimento.
— Experimento?
— Também recebi uma fórmula, embora não a mesma que a sua ou a do Coulson, nem mesmo a do Capitão Rogers. Talvez seja por isso, inclusive, que eu esteja mais propensa a confiar em você depois de tê-lo visto em ação. Eu me reconheço em alguns dos seus traços.
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