No natal, estávamos na casa dos pais de Hugo. A árvore reluzia de tantas luzes que haviam colocado, a na lareira o fogo crepitava suavemente, e as risadas do Bruno, o irmão casula do Hugo, iluminavam toda a sala. Bruno estava eufórico para abrir os presentes, mas ninguém o deixava fazer isso, como só tinha seis ano, fiquei com o coração partido com o bico que ele fez por causa dos presentes, e sem que ninguém percebesse, lhe confessei o que Hugo e eu lhe daríamos. Ele pulou no meu colo feliz e sorridente, e quase me enforcou em seu abraço.

– hei! A mulher é minha sabia? Hugo falou torcendo o nariz para o irmão, que estava com a cabeça afundada em meu pescoço.
– não é mais! Ele me abraçou mais forte, e mostrou a língua para Hugo. Eu sou muito mais bonito, as garotas me adoram. Se gabou.
– meu bem. Eu disse. Seu pijama do Bob Esponja me deixa apaixonada. Ele estava com um pijama azul do Bob Esponja. Mas olha só para ele, é um charme, não resisto! Me referia a Hugo, que logo sorriu. Mesmo você sendo lindo, foi com esse ai que me casei, mas sempre há um divorcio, certo?! Daqui há uns quinze anos você me pede em casamento que eu aceito, mas até lá... Me contento com seu irmão. Soltei o Bruno e beijei o Hugo, que logo parou o beijo e arcou uma sobrancelha fazendo careta para o irmão, como quem diz “Ela é minha”. Lhe dei um tapa no braço e ele me puxou de novo para o beijo. – o presente! Hugo exclamou.
– o que? Perguntei confusa.
– esqueci seu presente em casa. Ele disse prendendo a respiração.
– deixa pra lá. Me dá amanhã. Tentei acalmá-lo.
– não. Ele se tranqüilizou e sorriu. O natal é hoje, vou até me casa buscar.
Morávamos há poucas quadras dali, num apartamento em um belo edifício. Presente de casamento dos meus pais. Ele tinha vista panorâmica da cidade. Três quartos, sala de estar e jantar, cozinha, suíte, área de serviço, varanda e dois banheiros, além de ser muito bem arejado, mas minha parte preferida era a enorme janela na sala de estar, que na verdade era uma parede envidraçada. Era dela a vista panorâmica da cidade. Era sem duvida um apartamento magnífico. O edifício contava com piscina, playground, e mais uma porção de outras coisas.
– não precisa. Tia! Chemei pela minha sogra. Seu filho quer ir até em casa só para buscar meu presente de natal.
– ele faz bem! Disse ela num tom de voz bem forte, que chegou a me cortar.
– viu! Ele me deu um selinho e atravessou a sala. Fui, volto logo. Fiquei com cara de boba olhando ele sair.
Derrepente Bruno saltou em uma das pernas de Hugo. “Eu vou junto”, gritou ele sem se soltar. Hugo tentou dar alguns passou negando-se a levar o irmão, mas de nada adiantou, porque o danadinho não largou. “Ta bom, vamos”, disse após minutos de relutância. Ele riu, ao dizer: “Vamos Bob Esponja”. “Para você é senhor Bob Esponja” retrucou Bruno, saindo pela porta da frente de pantufas.
Fiquei admirando os dois saírem, achei tão engraçado. Uma voz aguda me tirou do transe, e me agarrou por trás.– Amor da minha vida, deixa eles irem, logo voltam. Disse bebericando uma taça de vinho. Era a Daniela, minha melhor amiga e colega de faculdade. É isso mesmo, estava fazendo faculdade e o Hugo também. Era divertido, não era como as festinhas do colegial, mas ainda sim, muito divertidas. E Daniela as fazia ainda melhor, era a única das garotas que acompanhava o meu pique de festas.
A olhei e assenti, logo eles voltavam. Só esperava que o Bruno não contasse ao Hugo que eu tinha contado que daríamos a ele um daqueles bonecos de ação da TV. O único que ele ainda não tinha, já que seus pais compravam todos. Mas esse em especial era raridade, Hugo o tinha conseguido em uma loja virtual da Rússia, e havia custado realmente caro.