Tinha passado um bom tempo, e estava ficando inquieta com a demora. Como a casa estava cheia de gente, parecia que ninguém havia percebido a demora. Quando olhei em meu relógio de pulso reparei que haviam se passado quase uma hora, e o apartamento, como já disse, era perto. De inquieta passei a estar aflita.
Vi meu sogro atender ao telefone, tapando um dos ouvidos com a mão, para poder escutar o que diziam, pois o zunzunzun em volta estava alto. Num instante ele fechou a cara, e ficou pálido. Neste mesmo momento me vi sozinha na sala, o mundo havia calado e as pessoas a meu redor não passavam de borrões cinza. Meu coração apertou e minha respiração ficou ofegante, tive um pressentimento horrível, que teve origem em meu estomago e terminou com um zumbido nos ouvidos. Meu mundo nunca mais seria o mesmo, e isso incluía o Guga.

Na volta para casa dos pais, Hugo tinha parado no sinaleiro, e um caminhão acabara colidindo na parte traseira do carro. O motorista estava sob o efeito de estimulantes que provocaram um colapso, e ele terminara perdendo os sentidos e batendo. Pelo que disseram o Hugo viu tudo, pois estava virado para trás no momento do impacto, devia estar brincando com o Bruno. O Bruno. Ele só tinha seis anos... Hugo sofreu alguns ferimentos e fraturou o braço, mas o meu pequeno cunhadinho ele não...resistiu.

Desde esse dia até hoje passaram-se quase cinco anos. Hoje estou com vinte e quatro, tenho uma linda menina de dois anos. Hugo acabara de fazer vinte cinco. As coisas mudaram muito, nada do que lhes contei até agora continua igual. Não sou mais a mesma garota. Tive de crescer querendo ou não, tive de amadurecer sim ou sim, não tive opção.
Hugo nunca conseguiu superar aquele acidente, suas feridas não cicatrizaram. Se culpa pela morte de Bruno, e não enxerga mais nada além disso. Não estou sendo egoísta, lhe dei toda a força que pude, o máximo de tempo que pude, mas cinco anos, cinco anos é tempo demais. O Hugo se tornou depressivo e tem as vezes crises de alcoolismo.