Rogue POV

Assim que terminamos de descer a escadaria, encontramos a passagem que usamos para entrar na montanha, Lucy passou primeiro, junto com Frosch e eu olhei para trás. Aquele grande salão tinha sido o lar de um dragão...

— Pode passar Rogue! -escutei a voz da loira.

Sem esperar mais um segundo, dei as costas para a fortaleza e passei pela entrada. Não demorou para ver a floresta e o rosto do exceed e da Heartphilia.

— Rogue, Fro está com fome... -o gato verde murmurou.

— Ah... Eu também -disse a loira, tocando no próprio estômago.

— ... -eu disse nada, mas devo admitir, estou faminto também- Vamos pedir comida para a vila. Concertamos a nascente, pelo menos isso poderiam nos arranjar.

Eles assentiram e começamos uma caminhada, mas era uma floresta que parecia um labirinto. Paramos na margem do rio que se formou e bebericamos sua água.

— Essa água está deliciosa! -exclamou Lucy em tom surpreso- Nunca pensei que poderia existir uma fonte de água tão boa.

Frosch tinha mergulhado no rio. Ele era largo, límpido e raso, sem correntezas.

— Cuidado Frosch -falei.

— Fro acha muito divertido! -respondeu, inocentemente.

— Ora, não seja chato! -sorriu a loira, retirando sua bolsa e seus sapatos indo para o rio jogando água para todo o lado com sua corrida- Espere por mim Fro!

Dei um suspiro, me sentei e vi os dois brincarem na água. Logo Tern vai aparecer, provavelmente. Ele disse que viria nos buscar sempre que o dia amanhecer. Espero que ele nos encontre.

Engoli seco ao sentir tontura, creio que perdi sangue demais e não sei por quanto tempo passei naquela sala do ritual. Não devo demonstrar cansaço... Não quero preocupar esses dois.

Olhei para a loira. Ela está rindo e se divertindo com o meu exceed... Eu não paro de me surpreender com a maga celestial, para aguentar em rever seu passado, não culpar ninguém, não se irritar com o dragão que a fez rever tudo... Pelo contrário, ela foi compreensiva com ele, chorou por ele. E agora brinca com Frosch no rio.

Me pergunto o quão doloroso é para você, Lucy. Como consegue ser tão forte?

Enquanto estava perdido nos meus pensamentos, não percebi que a Heartphilia me tacou água, me acertando em cheio no rosto.

— Vem para cá também! -chamou ela num sorriso brincalhão. Estava completamente encharcada.

— Não, obrigado -recusei. Passando a mão no meu cabelo que agora estava muito molhado e minha franja grudando no lado direito do meu rosto.

— Vamos! -insistiu ela, com a bochecha inflada.

— Não.

— Rogueeee... Vem! A água está boa! -sua voz tremulou de forma persistente. E eu estava quase caindo em redenção, virei o rosto pro outro lado.

— Não.

Receoso, lancei um olhar para a loira e vi uma centelha de estar fazendo uma pacto de cúmplice com Frosch. E antes que eu pudesse fazer algo, os dois jogaram água em mim, me deixando mais encharcado ainda.

— Vem! -falaram eles ao mesmo tempo.

— Não!

Ela ia protestar, mas escutei uma voz e pus meu dedo indicador em meus lábios. Ordenando silêncio.

— Eeei! -era a voz- Luuucy!? Rogueeee!? Froooosch!? Vocês saíram da montanha?

— Tern! -exclamou a loira na hora, saindo da água e se podo ao meu lado- Estamos na beira do rio!

Logo um rapaz jovem de cabelos brancos surgiu dentre a floresta. Era o nosso guia.

— Finalmente apareceram! -ele exclamou correndo para nós- Fazem pelo menos uns três dias que estão na montanha!

— T... Três dias!? -exclamamos eu e Lucy ao mesmo tempo, surpresos.

— Sim, por aí -sorriu ele, então lágrimas brotaram dos olhos do rapaz, isso nos fez mais surpresos ainda, Tern cambaleou para mais perto e com cada mão segurou a minha e a mão da loira- Obrigado... Realmente muito obrigado... Com isso, nossa vila foi salva, não passaremos fome ou a seca.

Eu troquei olhares com Lucy, ela esboçou um sorriso.

— Não precisa agradecer por fazermos o nosso trabalho Tern, foi um prazer poder cumpri-lo -a loira disse gentilmente.

— Mas é impressionante que essa floresta esteja tão viva sem um rio -observei. O rapaz largou nossas mãos e respondeu, encarando a copa das árvores:

— Aah, isto é porque corre água no mais fundo da montanha e isso alimenta a floresta, mas nós da vila não importa o quanto cavemos, não conseguimos encontrar a fonte de água.

— Hum... -a Maga Celestial olhou para as árvores também- Realmente uma montanha cheia de magia.

Escutei um fungar e quando vi, Frosch tinha o nariz escorrendo.

— AAAH! -exclamei, pegando o gato na hora e de alguma forma tentando secá-lo com a minha capa, atraindo o olhar dos outros dois- Olha só isso! Quem mandou se encharcar tanto? Vai ficar gripado!

Assim que falei isso um vento frio passou, eu e a loira espirramos.

— Corrigindo, vamos todos ficar gripados -grasnei.

— Aqui -falou Tern, erguendo toalhas, para a minha surpresa e os peguei- Pensei que vocês precisariam de algo depois dessa missão, então eu trouxe algumas coisas.

Ele puxou uma mochila que pendia em suas costas. O rapaz se sentou e abriu o zíper. Lucy secava o cabelo e se sentou também, eu pendurei a minha toalha na minha cabeça, me sentei e passei a enxugar Frosch.

Minha cabeça está meio tonta, meu corpo está ficando fraco... Se passei naquelas condições, estirado ao chão perdendo tanto sangue, por dois ou três dias, me surpreende o fato de ainda estar vivo.

— Querem um chocolate quente? -Tern ofereceu três copos, que saia fumaça de vapor.

— Obrigada -a loira sorriu, pegando a bebida de bom grado.

— Obrigado -falei, pegando dois copos, um passei para o exceed do meu colo. Pelo canto do olho vi a loira sentir o cheiro do chocolate quente, esboçando um sorriso entristecido e tomou um gole.

Sem muito me importar com essa ligeira centelha, tomei o meu chocolate. Está adocicado de forma leve, impedindo de ser enjoante, o pouco amargo combinando com o leite.

— Está uma delícia! -exclamou a loira, lambendo os beiços.

— Tenho que concordar -murmurei surpreso, nunca sonhei que uma bebida tão simples poderia ser tão boa.

— Fro também acha! -o exceed sorriu, como se nunca tivesse ter quase pego uma gripe.

— Obrigado -riu Tern- Foi minha mãe que o fez.

— Hummm... -fiquei pensativo, tomando mais da bebida.

— Agradeça a ela por mim -sorriu Lucy.

— Mas tudo fica gostoso quando se está com fome -falou o garoto, enfiando a mão na mochila mais uma vez.

Pelo canto do olho vi frosch estar com a boca toda lambuzada de chocolate, peguei a toalha e passei a limpá-lo.

— Aqui -Tern ofereceu sanduíches com carne e salada, dando uma visão suculenta e gorda de sanduíches- Sinceramente, três dias devem ter deixado vocês com fome, não?

Pegamos sem hesitar para aquela coisa abençoada, Lucy comeu com gosto, Frosch quase devorou numa rapidez que poderiam ser comparadas com um recordista de quem come mais rápido, eu comi tranquilamente, até porque parece que até mesmo comer me dava uma sensação de desconforto, provavelmente foi pela forma em que dormi no chão do ritual.

— Bom, sobre a recompensa -foi dizendo o rapaz assim que terminamos de comer- Precisamos chegar até o portão da vila.

Em seus olhos se sombrearam um pouco, fingi não perceber. Lucy pareceu perceber também, mas não comentou, em vez disso, abriu um sorriso.

— Tudo bem -se levantou ela, botando a mão na cintura.

Tern forçou um sorriso e guardou suas coisas, pegando-as trêmulas, então se levantou, mostrando o caminho. Eu começo a ter dores de cabeça, sinto meu corpo se aquecer em um nível febril.

O rapaz, nosso guia, parou abruptamente, fechando os punhos e de costas para nós, abaixou a cabeça.

— E... Eu tenho um pedido egoísta para vocês... Q... Quero que fuj... -exclamava ele, como se fosse a coisa mais difícil do mundo.

Mas meus olhos e pernas pesaram demais para escutar a continuação.

Lucy POV

Estranhei o comportamento de Tern, parece que algo o abala... Mas não tenho certeza se devo perguntar. Ele nos levava de volta pra vila, quando parou abruptamente, fechando os punhos e exclamou:

— E... Eu tenho um pedido egoista para vocês... -sua voz tremia.

Eu não escutei a continuação pois o som de um arfar pesado preencheu meus ouvidos. Olhei pro meu lado em susto e apenas vi Rogue Cheney começar a desabar no ar, de olhos fechados.

— ROGUE! -berrei, erguendo os braços pra segurá-lo. Frosch que estava em meu colo, ergueu as asas e flutuou de olhos arregalados, que aos poucos, foram se inchando em lágrimas.

Eu peguei o moreno e cai de joelhos no chão, por ele ser pesado. O susto nos abalou, um segundo silencioso pairou em nós, encarando o Dragon Slayer das Sombras que arfava sofrido.

— Rogue! -chamou o exceed pondo as patinhas frágeis no ombro grande do rapaz, inutilmente tentando acordá-lo.

Num flash, recordei da imagem do momento em que vi Rogue na sala do ritual ensanguentado, tão imóvel que eu tinha pensado que ele estava morto. A culpa me corrompeu, pelas coisas que aconteceram, o sorriso reconfortante dele tinham me tranquilizado aquela hora, por isso me esqueci... Me esqueci do quanto ele estava sofrendo. Ele me deu toda a sua atenção. Mas era o Cheney quem precisava ser salvo.

Minhas lágrimas caíram uma atrás da outra, ergui os olhos par Tern.

— Por favor... Nos ajude.

O rapaz estava em choque, de olhos arregalados.

— Tern!? -o chamei.

Ele piscou uma ou duas vezes e assentiu sério, correndo para dar o ombro e apoiar o moreno.

— Rogue... ROGUE... -chamava cada vez mais alto o exceed. Ele nem mesmo acionava Aera e ficou no chão de pé sem saber o que fazer.

Frisei as sobrancelhas e dei um sorriso determinado, mas as lágrimas se recusaram de serem engolidas.

— Não se preocupe Fro, eu irei salvar o Rogue.

Ele me encarou por uns segundos. E finalmente assentiu.

— Podemos ajudá-lo na vila, Tern? -questionei temerosa da resposta, vi o quanto os aldeões tinham preconceito de nós.

— E... Eu não sei... -foi sua resposta.

Engoli seco. Rogue era pesado, eu e Tern o segurávamos com todas as nossas forças. Respirei fundo, com uma pequena dificuldade, peguei uma de minhas chaves.

— Abra-te portão do touro! Taurus!

— Muuu! -ele apareceu num sorriso- Oh Lucy-san! Como sempre, está divina...

— Taurus, pode segurar o Rogue para mim, por favor? -esbocei um pequeno sorriso.

Ele nos encarou um pouco, achei que iria recusar falando algo que ele só se interessava por corpos bem definidos como os de uma mulher, mas obedeceu.

— Pela Lucy-san, farei qualquer coisa.

— Obrigada -abaixei a cabeça. Eu peguei o Frosch do chão que soluçava e dei um passo à frente.

— L... Lucy? -chamou Tern, correndo pro meu lado.

Olhei para frente, determinada.

— Apenas mostre o caminho, Tern.

Sem retrucar, deu um passo na minha frente e eu o segui, com Taurus atrás de mim. Frosch quis colocar sua cabeça em meu ombro direito para poder olhar para o seu Dragon Slayer. Eu fiquei sem saber o que responder.

Logo vi os altos muros da vila, meu coração saltou de esperança, mesmo que eu soubesse que eles poderiam recusar em nos ajudar.

— Espere aqui... -murmurou Tern, desviando o olhar.

Paramos faltando alguns metros do portão e esperamos, vendo o rapaz correr. Uma porta foi aberta e ele sumiu. Não demorou muito para vê-lo correr de volta para nós, numa cara que suava frio e sobrancelhas frisadas.

— E? -fiquei em expectativa, ele abaixou os olhos.

— E... Eu... Desculpe... Eu...

Meu coração parou por um segundo. Os aldeões recusaram o pedido.

Tern começou a tremer.

— Sinto muito... Eu...

Olhei a cabeça dele, o rapaz era mais baixinho do que eu, tinha a idade de Wendy, provavelmente... Sorri. Lucy, o que está fazendo? Deixando a responsabilidade nos ombros dessa criança? Você é adulta!

Coloquei a mão nos cabelos dele.

— Tudo bem Tern, sinto muito por pedir isso.

Ele ergueu os olhos lacrimejados, eu dei mais um passo pra frente, olhando o muro alto e intimidador.

— EU SEI QUE ESTÃO AÍ! POR FAVOR, NOS AJUDE!! MEU PARCEIRO ESTÁ COM FEBRE E... COM ANEMIA! PERDEU MUITO SANGUE! POR FAVOR, NOS AJUDE!

Algumas pessoas apareceram na portinha do grande muro, um deles berrou:

— O QUE É ESSE SER ASSUSTADOR AO SEU LADO?

Encarei Taurus.

— L... Lucy-san? -o espírito celestial murmurou, eu peguei minha chave- Lucy-san, não faça isso, não confio nessas pessoas...

Eles estão com medo dele... Os aldeões estão com medo de Taurus...

— Sinto muito Taurus. Forçar fechamento do portão.

O espírito sumiu e eu peguei Rogue com dificuldade, Tern correu para ajudar mais uma vez e Frosch pousou ao chão.

— E agora? Podem nos ajudar? -exclamei.

Eles ficaram silenciosos e se movimentaram de leve, então veio uma resposta.

— V... Você invocou essa coisa? Esse demônio?

Abri e fechei a boca. Meus espíritos não são demônios! Mordi os lábios, meus ombros já ficavam doloridos por carregar Rogue, e nem tinham se passado cinco minutos.

— Tern, segure Rogue -murmurei, largando o moreno deixando toda a carga pro rapaz, me ajoelhando e colando a testa no chão, exclamei- POR FAVOR! NOS AJUDE! EU IMPLORO!

Não há outras vilas por perto... Temos que conseguir ajuda aqui... Vamos Lucy... Você é mesmo uma inútil, a cura que Loke deu para Rogue não poderia curá-lo totalmente e esqueceu até mesmo disso! Não pode segurar o Cheney nos próprios ombros por muito tempo, porque é fraca! Por isso, nem que precise se humilhar, consiga ajuda!

Eles não responderam.

— EU IMPLORO! EU... EU... MINHA MAGIA VEM DESSAS CHAVES! SE VOCÊS SE SENTEM MELHOR, AS ENTREGAREI A VOCÊS!

Escutei a voz de Loke tentar reclamar através da chave, mas o bloqueei e mandei confiar em mim.

Ainda com a testa colada ao chão, escutei o palpitar de meu coração, o suor escorrer até meu nariz, sem falar da terra molhada que tinha um cheiro forte

— Muito bem, entrem! -foi a resposta mais aliviante que escutei em minha vida.