Rogue POV

Está frio. Movi levemente os dedos. Abri as pálpebras e respirei fundo.

Tudo é escuridão. Com um choque na minha memória, as lembranças voltaram pouco a pouco.

Bom dia, bela adormecida.

— O que aconteceu? -a dor picou, então massageei a testa com a mão.

Eu estou flutuando, mas logo meus pés tocaram o chão.

Já que Rogue Cheney é mais inútil que um cachorro molhado, eu te protegi. Que tal me agradecer?

Não respondi à sua provocação.

— Você pode encontrar Lucy? -minha voz rouca murmurou.

Até nessa situação, a única coisa que você pensa é naque a loira? Incrível! Não tem medo de morrer um dia, por proteger ela com seu corpo e alma?

Ele riu.

— Que tal voltar a falar como gente em vez de se misturar com meus pensamentos? -me irritei.

— Pfff... Ok, ok -a voz zombeteira debochou- Rogue, você está pedindo minha ajuda? Quer que eu te empreste um mãozinha?

— Você pode encontra-la? -perguntei friamente.

Meus braços latejam de dor. Mas minha mente estava ocupada demais pensando na segurança de Lucy.

— Eu tô dizendo. Um dia você ainda vai morrer para proteger essa mulher!

— Pode ou não? -grasnei.

— Hummm... É possível. Mas sabe... -seu tom era de um cobrador charlatão. Mas é a única coisa que posso confiar por agora- Sabe o que tem que fazer. Certo?

Sim, ele quer dizer que preciso me entregar para a escuridão.

— Eu não me importo -respondi.

— Ótimo! -como um demônio contratista, riu parecendo que fechou um bom negócio- Não se arrependa, sim?

E meus braços se encheram de aura escura. A cúpula que me rodeia como uma proteção, sumiu.

A bainha do meu vestido flutuou. Olhei à minha volta. Os ursinhos avançaram com alegria ao me ver.

Um círculo no chão me rodeou, e cada um dos bichos que pisou no fogo negro foi cortado.

Pano encardido e peças de metal foram espalhadas sem piedade.

Dei um passo. Existe um teto. Olhei para meus lados. Estou rodeados de espelhos.

É uma casa de labirinto de reflexos.

Na superfície, encarei a estranha loli com fumaça negra a rodeando.

Minha mente ficou tonta, metade da minha energia estava sendo sugada para algo e sumindo, então precisei usar magia em dobro.

Dei um sorriso insano.

— Você parece ter saído do próprio inferno com essa aparência -a voz riu.

Pisei passo a passo. Meu cabelo flutuou levemente.

Seja devorado. Fique louco. É delicioso certo? Essa sensação de poder. Esse ódio infinito que corre nas suas veias.

Abri os lábios, e a garota bonita no reflexo fez o mesmo.

— Hahaha... -dei um rodopio, a energia correndo pelo meu corpo desenfreado era revigorante e sedutora.

Um sentimento leve como se pudesse voar.

— Que tal? Não é incrível. Não quer estar assim para sempre? Você só precisa fazer um pequeno sacrifício! Esquecer tudo que te prende.

Esquecer Lucy Heartphilia!

Balancei a cabeça. Dei outro passo. No meu pulso, um pequeno pedaço de couro me roçou. Era o presente de aniversário que Lucy me deu, naquela noite desesperada.

— Massive Magic: Domination Natch!

Ergui os braços. Dos meus pés a escuridão se expandiu para todos os lados.

— Não adianta o quanto você me seduza. Eu ainda vou manter o controle -ri.

Minha mente estava um caos, metade se tomando em instintos e a outra metade lutando para manter a consciência.

Ainda assim, estava confiante.

— Oh... -a voz obscura suspirou- Mas a cada dia, sempre que você me usa, mais você perde. Percebeu, Rogue?

Os ursinhos vinham um atrás do outro, incansáveis. E todos eles foram cortados, de forma fria e cruel. Sem hesitação.

Era outro efeito da escuridão entorpecer meus sentimentos.

As sombras cobriram todo o prédio. Pouco a pouco pude sentir se expandir mais e mais para o restante do parque.

É uma magia de rastreio, então não é daninho. Mas um pouco diferente da última que usei quando Lucy foi raptada pelo cirurgião maluco.

Essa cobria cada superfície com sombras como se tivesse jogando piche em todo lugar. Era temporário, porém mais forte, porque ainda é de dia e a escuridão não tem um bom poder na luz, teve que ser mais potente. De noite, a outra magia que era mais simples é melhor.

"Blackout" também cobria a luz, mas a noite ajudou, então não usei muita magia. E assim como agora, cobri a luz mais uma vez. Só que é mais difícil de suportar pela quantidade de magia derramada.

Meu corpo tremeu. A energia sendo sugada para fora do meu corpo é massivo. Senti dor.

Senti como se...

— Estivesse ficando louco? -a voz riu.

Louco de dor.

— Argh!

Fechei meus punhos com força, a ponto que começaram a sangrar.

Então... O pompom em minha cabeça tremeu. A região aonde ele está grudado, picou.

Ergui minha mão para aperta-lo. E o monstro parasita se desprendeu.

Arregalei meus olhos de surpresa, puxando a coisa que deslizou do meu cabelo facilmente.

O pompom branco e fofo estava negro. Logo virou pó e escorregou dos meus dedos.

— Ugh.... -a magia explosiva saiu em dobro, já que não tinha ninguém para devorar minha energia.

Expandiu para todos os lados, em uma velocidade assustadora.

Caminhei passo a passo para fora do prédio, e a cada centímetro que me movi, me senti mais alto.

O vestido foi se apertando. Até que se rasgou. Pude ver a sombra negra no espelho se contorcer e mostrar minha figura ficando maior.

Assim que pisei fora, atravessando a porta, me apoiei na moldura de madeira. Encarei minha palma.

A mão familiar, grande e com veias pulsantes me fez entender. Eu voltei ao normal.

O monstro parasita não aguentou. Parece que meu poder foi tóxico para ele, ou talvez, era muita mana para ele absorver.

Passei os dedos no meu cabelo que voltou a ser curto, tirando a presilha que prendeu minha franja.

Ergui meus olhos. O céu se escondeu em um sinistro domo contorcente. Mas não era completamente impenetrável. Pontos de sol podia ser vistos, criando uma silhueta crepuscular em todo o parque. Fazendo brilhar as luzes das atrações de brinquedos mais fortemente.

Assisti como meu poder cobria a cada pedra na minha frente.

Infelizmente não pude usar isso contra os milhões de ursinhos que fui sentindo fora do prédio, espalhados por todo o parque. Pude cobri-los, porque são objetos, mas não destrui-los. Descobri que os brinquedos se moviam por energia. Sou um mago das sombras e não dá eletricidade, não pude desliga-los.

Tudo foi sendo engolido pela escuridão.

Sim, um sentimento satisfatório passou pelo meu peito. Essa cor familiar e confortável me fez sentir a vontade.

Mas um pensamento me trouxe de volta, me impedindo de ser levado pela correnteza do desejo de se perder nesse sentimento.

Lucy. Aonde está Lucy?

Fechei meus olhos. Busquei entre os destroços das barracas. Encontrei Milianna e os exceeds. Estavam protegidos em uma bola forte o suficiente para os ursinhos não encostarem nem um fio de pelo deles.

Passei pela casa mal assombrada. Minerva, Arana e Kagura parecem muito feridas. Mas respiravam.

Passei pela montanha russa. Há muitos ursinhos caminhando por lá. Senti o brinquedo arranha céu. Os carrinhos bate bate.

Lucy. Por favor, por favor esteja bem.

Passei pela roda gigante.

Ali senti duas presenças. Uma era Sting. Outra era... Um desconhecido?

Ambos estavam escondidos em uma cabine diferente.

Mas não era isso que busquei.

Comecei a tremer, quanto mais poder usava, mais minha mente se distanciou da realidade, mergulhando no êxtase em desejos de querer destruir e matar.

Me deixe sair, me deixe sair!! Eu quero é fazer uma bagunça! Destruir! Explodir!

A fera grasnou dentro de mim.

Eu preciso encontrar Lucy. O desejo foi maior.

Arfei, tendo dificuldade de concentração. Agarrei fortemente minha pulseira. Ergui aos meus lábios dando um beijo no objeto.

— Lucy -sussurrei.

Preciso continuar firme. Tenho que continuar são.

— Por que simplesmente não desiste? Não é ruim lutar contra a coisa que está dentro de você? -a voz aconselhou- Deixe se levar Rogue. Isso faz parte da sua alma. Essa coisa abominável e violento. Apenas aceite.

Balancei a cabeça levemente.

Caminhei para frente. Era muito mais doloroso que as outra vezes. Foi porque usei uma quantidade de magia maior agora?

Meus pés doeram, estavam sendo esmagados pelo sapato que ficou muito pequeno. As joguei fora.

Caminhei meio arrastado e a sola do pé descalça, senti o chão frio. Parecia que toda minha pele se rasgou. Não, isso está próximo da realidade. Olhei para trás e um rastro de sangue me seguiu.

Só porque mudei de forma, não significa que minhas feridas se curaram milagrosamente.

A roupa se tornou irreconhecível, com seus trapos colando no meu corpo pelo líquido vermelho. Na minha cintura a saia estava fracamente presa.

Mas a energia dentro de mim girava em um turbilhão de caos. Mordi meu maxilar, engoli seco.

Eu devo parecer muito horrível agora. Sorri.

Será que ela vai ficar preocupada quando me ver?

Quando pensei nos seus olhos achocolatados, no meio de todos os sentimentos turbulentos, uma corrente calma passou pelo meu coração.

Cambaleei. Minha visão estava turva e tonta. Parece que perdi muito sangue. Olhei para trás. Sim, parece ser muito sangue...

— Essa garota vale tanto a pena? -a outra voz desaprovou minhas ações- Se você morrer, eu quem vou estar em problemas, sabe?

Quase ergui minha magia por todo parque, junto com o domo no céu também sendo engolido. Falta pouco. Me concentrei.

O castelo. Faltava o enorme castelo no coração desse maldito lugar.

Avancei com magia, busquei em cada canto. Mentalizei cada pedra. Tudo para buscar uma pessoa.

— Encontrei -sorri.

Existe uma passagem secreta, em um salão escondido dentro do castelo. Ela foi levada para lá, e tem um homem desconhecido com ela.

Ela está viva.

Resolvi não colocar magia na sala aonde está Lucy. Não queria que ela ficasse com medo por estar em um lugar totalmente escuro.

Saltei e comecei a correr. Fiz uma careta de dor.

— Lucy, eu estou indo -minha visão borrada ficou estranha. Mas eu não precisava ver nesse breu que criei. Minha magia estava vendo todo o parque por mim.

Os ursinhos continuaram a me emboscar, e cada um deles foi cortado com facilidade. Por causa da minha magia, tudo ao meu redor está escuro. Parece que eles tem dificuldade de me ver, isso ajudou a não ter todos os ursinhos atrás de mim. Tenho que continuar com a magia, se quiser passar despercebido.

Esse encantamento suga minha mana igual ar. Para mante-la, senti meu corpo enfraquecer gradualmente.

— Rogue, destrua tudo. É muito mais fácil -a voz sugeriu.

A tontura era tão grande, que podia desmaiar a qualquer segundo.

— Não.

Era um engano. Se eu usasse mais mana para destruir todo o parque, mais da minha sanidade será consumida, então as trevas irá tomar o controle. Você é muito esperto.

— Hah! -ele riu- Sou melhor que você, pelo menos não jogo a própria vida fora por uma maguinha lixo que precisa dos outros pra se proteger.

Saltei os destroços do meio do caminho. Pude ver o arco de entrada do castelo.

— Tem uma coisa que você não entendeu da essência de um mago estelar -murmurei.

Ao entrar no castelo, meus passos ecoaram claramente. Passei por várias salas, até chegar na biblioteca de livros em forma de morangos.

— Não importa o quanto eu seja devorado pelas sombras -tateei a parede- Não preciso ter medo. Porque existe alguém que precisa de mim. Que está esperando por mim. E essa pessoa confia no meu potencial, se ela acredita, então como eu posso desaponta-la?

Sorri ao escutar o clique da passagem secreta. Apenas esse esconderijo não estava pintado de piche negro.

Entrei naquele lugar, passo a passo descendo as escadas.

— Não importa o quanto escuro esteja. Existe uma estrela brilhante chamada esperança. Que está alí, me mostrando para aonde ir. Esse é o sentido da magia de Lucy, que você não conseguiu compreender.

A voz se calou.

Logo apareceu uma sala de observação.

— Huh!? Como você entrou aqui? -um estranho homem com tiara de orelhas de urso se virou para mim, com olhos assustados.

Olhei para as televisões da esquerda, pude ver como ele estava nos monitorando.

E então olhei para a direita. Minha respiração parou.

Havia uma mulher que eu conheço bem, de pé, olhando vazia. Como se houvesse perdido a alma. E uma horrível trilha de sangue estava em seu nariz.

— Lucy? -chamei. Mas não respondeu.

O que aconteceu? Frizei as sobrancelhas.

— O que você fez!? -grasnei para o homem.

— E... Eu... -ele deu um passo para trás. Seus olhos tremeram em pânico.

— Eu perguntei. O que você fez com ela!?

O agarrei pelo pescoço, estrangulando. Nesse segundo tudo começou a tremer. Pela minha magia que ainda cobria as superfícies, percebi que milhares de ursinhos começaram a amontoar no castelo.

O terremoto estava sendo causado pelo peso extra aumentando freneticamente. As janelas estourando e as paredes rachando.

Mas não me importei com nada.

— O que. Você. Fez. Com. Lucy!!

Perdi completamente a paciência. O rosto do homem ficou vermelho por não conseguir respirar, suas unhas arranharam meu braço desesperadamente, arrancando sangue das feridas abertas.

Eu parecia o demônio de olhos vermelhos e encharcado de sangue, dos pés à cabeça.

Lágrimas caíram desse homem. Em desespero.

Isso, apenas o sufoque até a morte. Esse homem fez alguma coisa com Lucy. Não é um mago que está controlando as coisas lá fora? Olha, assim que ele entrou em pânico, perdeu o controle. Tudo isso é culpa dele!

A névoa negra em minha volta condensou. Pelo canto do olho vi a loira nem piscar. Com a mente fora desse mundo.

Tudo vai voltar ao normal se matar ele.

Uma magia se desfaz se matarmos o seu conjurador. Concordei com essa lógica.

Os olhos arregalados e cheio de medo do homem na minha frente me fez sentir que eu era muito mais superior.

— Eu vou matar você -sussurrei. Fechando lentamente meus dedos.

O humano na minha mão se debateu mais ainda, com mais lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Bong

Parei. Virei o rosto e percebi a testa da loira colada no vidro. Embora seus olhos estivessem opacos como peixe morto.

Não.

E se Lucy não voltar ao normal mesmo matando esse homem?

Não custa tentar.

Mordi o maxilar. Quase fui seduzido. Lembrei que Minerva conjurou um encantamento que bloqueia a magia, não funcionou.

Se eu matar esse homem, vai mesmo quebrar a magia? Não, para quebrar um encantamento, nem mesmo precisa matar.

— Há. -ri.

Joguei a pessoa com violência. Ele bateu a cabeça na parede e desmaiou.

Como pensei. Mesmo que ele fique inconsciente, o castelo continuou tremendo. Fiquei mais convencido que estava a ponto de ser enganado.

Apenas suspirei e me aproximei do vidro.

— Lucy -chamei gentilmente.

Ela não me encarou. Procurei com o olhar a sala que eu estou. De alguma forma ela entrou ali, deve ter como tira-la.

E como adivinhei. Existe um botão na parede, depois de pressionar com urgência, uma porta se abriu em um clic.

Corri para dentro da sala. Havia um cheiro estranho e doce no ar. Mas ignorei.

— Lucy?

Abaixei mais a minha coluna, para poder ficar na altura dos olhos dela.

Ergui minha mão. Estremeci um pouco, mas no segundo em que toquei sua bochecha quente, fiquei aliviado.

Lucy está aqui. Não é uma miragem.

Mas logo a preocupação pintou no meu rosto ao ver sua expressão morta.

— Lucy. -chamei novamente.

Então seus olhos opacos ganharam vida. Ela piscou lenta. E suas orbes me focaram.

Ela sorriu. Com olhos lacrimejantes.

— Você me encontrou! -seu rosto tinha uma cor viva em tons de pêssego.

— É claro que eu te encontrei. Vamos sair daqui.

Suspirei, sorrindo para ela. A peguei no colo. Na verdade, isso vai ser difícil. Meu corpo estava completamente fraco e machucado. Respirei fundo e sai da sala.

Precisamos vazar antes que o castelo desmorone. Comecei a subir as escadas, ignorando a areia caindo do teto, fazendo o chão ficar escorregadio.

Os olhos da loira refletiram alegria, apoiando a cabeça no meu ombro.

— Eu sabia que você viria, Natsu.

Congelei. Parando meus passos no meio da escada.

Lucy me chamou pelo nome de outro homem, com um belo sorriso.

Senti algo dentro de mim trincar estranhamente.