Os olhos de chocolate

Rogue POV

Ela estava meio curvada para frente, o rosto escondido nas mãos, o cotovelo apoiado nas pernas. Que beleza, eu queria ficar sozinho... Bom, ela está silenciosa, então acho que não faz diferença.

— Posso me sentar?

Ela não me respondeu e eu dei de ombros, me sentando do lado dela.

Ficamos no silêncio. Eu gosto do silêncio, principalmente de noite, quando a escuridão tem força e as pequenas luzes do céu são bonitas.

Escutei um soluço... Espera, ela está chorando? Pelo que eu me lembre, das poucas vezes que nos vimos... Ela sempre sorria ou tinha uma expressão de força e determinação, é estranho ela estar chorando... Paecia que balbucitava algo também, algo sobre trevas e magos... Hum... Não é da minha conta...

Ela dava um ou dois soluços. Comecei a ficar desconfortável, desejando sair dali... Suspirei e me encostei no banco, falei calmo:

— Hoje... É casamento do seu amigo... Não chore...

Ela estremeceu, será que eu falei algo errado? Então mais alguns minutos silenciosos se passaram, e a voz trêmula dela, falha e frágil disse, ainda mantendo a posição em que a encontrei, escondendo o rosto.

— É... Verdade... Hoje é o casamento do Natsu, meu melhor amigo... Mas eu estou chorando assim... Eu não estou sorrindo por ele... Eu não estou rindo e felicitando por ele... Eu... Eu acho... Que isso me faz uma péssima amiga... Não é? Eu... -ela deu um soluço, e abaixou a voz, mas eu ouvi, dragon slayers tem bons ouvidos e não sou exceção- Eu devo der um coração negro... Cheio de inveja e ódio... Que não consegue ficar feliz pelo melhor amigo... -ela engoliu seco- Deve estar certo... Eu devo morrer sendo engolida pelas trevas...

Não entendi, por que essa garota está tão mal? Eu pensei que ela amasse Natsu e Natsu a ela, mas se os dois nunca ficaram juntos é porque eles não se amavam, certo? E pelo que eu fiquei sabendo essa garota foi a madrinha de casamento, então é completamente impossivel... Vai entender... Mas... Por que será? Não estou gostando de ver essa garota assim...

— Gosta das estrelas?

Ela pareceu surpresa, erguendo o rosto, encarando o céu. Está escuro, então levemente vi os olhos inchados dela. Eu olhei para cima também.

— Sim, eu gosto... Mas elas estão tão longe... -falou ela, parecendo solitária.

— ... Eu gosto das estrelas...

— Hum? Por quê? Você não é mago das sombras? As estrelas são pontos de luz! -indagou ela sem entender, eu suspirei, não acredito que teria de explicar isso para uma maga celestial.

— Gosto das estrelas porque fazem as trevas serem bonitas.

Ela me encarou, eu a olhei pelo canto do olho, vi as sobrancelhas dela frizarem, pensativa. Então seu rosto se iluminou em compreensão.

— Ah! Você quer dizer que as luzes do céu só são bonitas porque é de noite! Se a noite não existisse, as estrelas não seriam vistas por isso nem mesmo iriam ser reparadas! Como não existe o sol de noite para cobrir elas! Então, PRECISA que a noite exista, para as estrelas serem vistas... E como um “obrigado” elas brilham de noite o transformando em belo!

— Sim... As trevas nem sempre é ruim... Se não existisse, as estrelas não seriam percebidas. Ou seja, não são as estrelas que são belas, é as trevas da noite que completa a beleza de brilhar.

Ela voltou olhando para o céu.

— Eu nunca pensei assim... Mesmo sendo uma maga celestial... Meus amigos vem das estrelas e nunca pensei desse jeito, é engraçado... -ela riu- Obrigada.

Eu deveria ficar calado, quer dizer, eu sempre fico, mas acho que como comecei a falar filosofando, esqueci de brecar meu cérebro de continuar a pensar sobre a situação e continuei a falar:

— Seu nome é Lucy, certo?

— Sim. -ela parecia um pouco surpresa, mas já tinha voltado a olhar para o céu.

— Eu já vi muitas trevas Lucy, então sei que você não tem o coração negro. Se você não pode ser o sol que brilha até o último grão de areia do horizonte, então, você é uma estrela... E como as estrelas são rodeadas de trevas, é normal a luz delas falhem um pouco.

Ela me olhou de novo.

— É... Verdade?

Eu a encarei.

— Sim.

Então, a encarando de frente, vi seus puros olhos cheios de lágrimas. Olhos redondos e brilhantes, eram olhos de cor de chocolate.