Início da parte 2.

Lucy POV

Enquanto as lágrimas não terminavam de cair, senti um profundo alívio.

Mirajeene...

Então no fim, existiu esperança?

Eu estava errada em acreditar que não existia um jeito de trazer ela de volta.

Mas um milagre aconteceu.

— Mira-nee... -Elfman se escondeu nos braços grossos.

— Mi... -Lisanna nem conseguiu terminar. Se apoiando em Natsu.

— Crianças -o mestre vacilou, mas se colocou de pé firmemente em cima da bancada- Tudo pode ser superado, lembrem disso.

Minhas lágrimas caíram mais.

Nesse segundo uma voz apareceu atrás de todos nós.

— O que vocês estão todos chorando?

Congelei ao escutar essa voz. Arregalei meus olhos ao me virar roboticamente. E bem atrás de mim, estava ela.

Uma albina de cabelos compridos, apoiada em Laxus Dreyar. Ambos banhados pela luz do sol, como dois sobreviventes de uma batalha difícil, cheios de faixas em seus corpos.

Minha respiração estagnou, sem poder acreditar nessa visão.

Meu corpo todo tremeu. Então a mulher sorriu gentilmente.

— Lucy -ela me chamou.

Eu dei um passo para frente, mas tropecei.

— Opa -Laxus se curvou, pegando meu braço- Cuidado irmãzinha. Seria ruim se você se machucar.

— Mira...? -sussurrei, olhando para a pessoa na minha frente, como se fosse uma miragem- C... Como...

— Eu estou de volta -ela abriu os braços com um sorriso triunfante- Acharam mesmo que eu perderia?

As lágrimas caíram sem parar e a abracei.

— Mira... Mira... Eu realmente sinto muito...!

— Pelo o que você sente muito? -ela riu, alisando minhas costas.

Abri a minha boca, mas engasguei.

Aquela visão assustadora de Mira se tornando um demônio sanguinário. Como ela foi a escolhida e gritou de dor, enquanto eu sobrevivi com apenas alguns arranhões.

Apertei mais o abraço.

— Mira...

— Sim, Lucy? -ela calmamente me consolou, pacientemente.

— Obrigada... Obrigada por voltar.

— Lucy, a culpa nunca foi sua.

Sua risada alegre me fez chorar mais violentamente.

— Irmãzinha. Você é muito sentimental -Laxus sorriu ao meu lado. Me importunando.

Mesmo assim, não me importei. Jorrei todos os sentimentos sufocados, finalmente me libertando completamente. E todo esse tempo Mira me consolou.

Assim como a alma bonita dela, a sua gentileza foi o que cavou o meu coração com tanto pesar.

Por muito tempo me agarrei a ela, chorando e engasgando.

Então uma hora acabou. Fiquei cansada e engoli o resto das minhas lágrimas.

— Agora você está bem? -a mão dela acariciou a minha cabeça.

Eu assenti com a cabeça, sentindo meus olhos inchados. Dei um passo para trás. Olhei para aquelas duas pessoas lado a lado, radiantes embaixo do sol cegador.

— Eu realmente estou feliz que você esteja aqui -balbuciei.

Mira abriu um sorriso maior, sua mão se juntou com a de Laxus.

Olhei para o chão, uma lágrima caiu.

— Mas isso teria sido melhor se fosse verdade... -então voltei a encarar os olhos azuis de Mira- Não é mesmo?

O rosto dela ainda estava sorrindo gentilmente.

— Não tem como a sua alma devorada voltar ao normal -falei- Mas eu realmente fiquei feliz por te ver novamente... Mesmo que isso seja falso... Obrigada Mira.

Os olhos dela se fecharam lentamente.

Ah, ela parece real. E continua tão bonita quanto me lembro dela.

— Zeref. Pare com esse sonho -murmurei.

Então ao meu lado um homem de negro apareceu, olhando tristemente para mim.

— Achei que você não tinha percebido.

— Foi realmente muito real -concordei- As ações de todos na guilda foram muito convincentes.

Virei o rosto para trás. Todos eles sorriam. Agora pareciam apenas uma imagem congelada no tempo.

— Mas eu não quero viver em uma mentira.

Ele me fitou por alguns segundos, então falou:

— Lucy, eu queria que pelo menos no final, você vivesse nessa ilusão.

— Não -balancei a cabeça- Eu quero saber, por que você fez isso?

— ... Você não vai aguentar se souber a verdade.

— ... Eu quero voltar. Me leve de volta, Zeref.

— ... Então essa hora realmente chegou -ele olhou para o céu fabricado da ilusão- Desculpa, eu realmente desejei a sua felicidade dessa vez, Lucy.

Eu o encarei, Zeref sorriu ainda mais triste.

— Espero que... Não se arrependa -sua voz tinha honestidade profunda.

E abri os olhos abruptamente. Segurei o meu coração e respirei com falta de ar.

Virei o rosto para os lados, para ver se conseguia entender aonde estou. O trem.

As pessoas estão conversando e rindo. Algumas dormindo. Logo parou na estação, anunciando que chegamos ao destino.

— Por favor, que os passageiros desçam com cuidado, estaremos partindo em vinte minutos! Aos passageiros que irão descer em Magnólia, por favor, desçam com cautela!

Um sentimento sinistro se aprofundou no meu coração.

Me levantei.

— Com licença, por favor me deixem passar! -me enfiei entre as pessoas.

— Ei, cuidado! -alguém gritou.

— Desculpe, eu quero passar.

De alguma forma, saltei e estava na estação. As pessoas desembarcando, foi algo natural.

Toquei o meu peito, esse sentimento gritando que tem algo muito errado, não quis ir embora.

Comecei a correr, as ruas de Magnólia que me são tão familiares, deu um arrepio sinistro. Apenas os meus passos ecoaram ruidosamente.

Por que tudo está silencioso?

Olhei para os lados e então minha respiração parou por um momento. As pessoas da cidade estão todas caídas e imóveis.

O que aconteceu?

"Assim que a princesa espetou o dedo na agulha de ouro, ela entrou em um sono profundo, levando o seu reino em uma maldição."

Essa visão me lembrou aquele conto de fadas famoso. Fechei o meu punho e apressei meus passos.

Logo a guilda das fadas apareceu na minha frente.

Minha mão tremeu, com medo de saber o que iria encontrar aqui dentro. Está silencioso também. Esse lugar que sempre esteve tão animado, está tão calado quando o resto da cidade.

Respirei fundo e a porta se abriu com um rangido.

— Pessoal...? -minha voz ecoou.

A guilda está meio escura. Então entrei cautelosa.

Quando meus olhos se acostumaram com a pouca luz, pude ver os vultos um por um. Então congelei.

Todos... Todos estavam caídos.

— Gray...?

O homem deitado em cima da mesa não respondeu, usando apenas cuecas.

— Juvia?

A mulher atrás do poste não conseguia se esconder, pois se corpo todo ficou exposto no chão.

— Erza?

Até mesmo a titânia estava caída, ao lado de...

— Wendy? Charles?

Fiquei pálida e confusa. Não havia sinal de nenhuma luta. Eles apenas... Estavam assim, pareciam adormecidos.

Quanto mais olhava, mais pessoas eu reconhecia mais pessoas.

Então encontrei.

— Levy-chan! Gajeel!

Corri para eles dois, que estão sentados no chão de olhos fechados. O moreno estava abraçando-a. Minhas mãos trêmulas os encostou, e balancei levemente.

— Ei, isso não tem graça -sorri.

Mas seus corpos tombaram de lado. Minha mão paralisou no ar. O som alto da queda deles foi como um tambor batendo no meu ouvido.

Meus olhos se moveram rigidamente.

— Ei... Levy-chan...! Gajeel!

Minha respiração ficou errática.

— Acordem!

Encostei em seus corpos frios. Sem que eles respondessem.

Meus olhos marejaram e comecei a gaguejar.

— Po... Por favor... Ac... Cordem...

Implorei.

— O que está acontecendo!? -gritei.

Mas ninguém respondeu. Peguei a mão da minha amiga. Ela não está respirando. Na verdade, ela não está respirando...!

— Por... Quê...?

Quando a toquei, escutei um som estranho do seu punho firmemente fechado.

— O que é isso?

Me esforcei para abrir cada um dos seus dedos. Havia um papel amassado.

Quando o abri...

"Minha receita secreta para a Lu-chan! Já que você vai morar na Sabertooth, e não pode viver sem meu chocolate quente, vou passar para você a minha receita! Seja agradecida!"

E havia um desenho meio torto de uma carinha feliz.

As lágrimas caíram.

— Levy-chan...! -me curvei para frente, com o papel nas minhas mãos- Levy-chan! Você não pode fazer isso! Levy-chan!

O silencio continuou comigo, sem nenhuma resposta. Mordi os meus lábios e levantei o meu rosto novamente. Fiquei de pé.

— ZEREF! -gritei furiosa- AONDE VOCÊ ESTÁ!? ESSA É A VERDADE QUE NÃO POSSO AGUENTAR?

Meu rosto se manchou de lágrimas. E no meio da guilda, tinha uma poça de sangue. O único sinal de o que aconteceu por aqui.

As gotas vermelhas fizeram um trilho. E eu o segui, passando por uma porta.

As escadas escuras me saudaram. Fechei o punho sob meu peito e desci os degraus em espiral.

Parecia uma passagem de castelo velho e sombrio. Mas era apenas a rota para o subsolo da guilda. Ali, estava uma enorme porta entre aberta com luzes vindo de dentro dela.

O rastro de sangue continuou para essa entrada brilhante.

Eu continuei a seguir e abri a porta com as duas mãos. Ergui os olhos e vi...

Um cristal gigante com um corpo congelado.

— Mestra Mavis -sussurrei.

Ela dormia pacificamente, mas o rastro de sangue continuou até os pés dela.

Então caminhei e toquei levemente no cristal.

Crack! Crack!

Começou a quebrar como um vidro e caiu despedaçado. A imagem do corpo da Mestra Mavis sumiu nesse momento, como se fosse uma ilusão.

E em seu lugar, apareceu uma enorme bola negra.

Uma massa de energia sombria e arrepiante.

Ele girou em um vórtice, se tornando em um buraco negro.

— O que é isso...?

Então, como se encontrasse estabilidade, uma imagem apareceu na sua superfície.

Minhas pupilas tremeram.

Era um portal.

Quando entrei, uma terra vermelha sem fim se estendeu para todos os lados. Com enormes ossos espalhados, mostrando que cadáveres gigantes haviam se decomposto. E nesse lugar morto, um homem de negro se manteve de pé.

— O que você fez, Zeref!? -gritei- Isso é a sua magia, não é?

Ele deu alguns passos para perto, então sorriu.

— Por que você fez isso!? POR QUE VOCÊ MATOU TODO MUNDO?

— Eu disse... Você deveria ter ficado naquela ilusão.

— Você é um MONSTRO!

Caí de joelhos no chão. Com as lágrimas imparáveis escorrendo pelo meu rosto.

A mão do mago das trevas se ergueu e fui engolida pelas sombras.