Caminhantes

Conversas entre duas pessoas


Natsu POV

Tem um sonho estranho que me persegue faz um tempo, mas ficou mais frequente nesses últimos dias... Um sonho diferente dos que Luce e Happy morrem.

Estou sentado no balcão da guilda, sorrindo. O mestre está na sacada do segundo andar dando mais um de seus discursos, então ele ergue a mão e aponta para o teto, fazendo o nosso sinal “Não importa o quanto longe estamos, sempre te observarei”.

NÃO! EU NÃO QUERO! NÃO QUERO FAZER ESSE SINAL!

Um por um as pessoas vão erguendo a mão. Eu fico trêmulo, não quero fazer o sinal, mas o meu braço desobedece e contra mim, ele se ergue. Todos fizeram o sinal, meu corpo petrifica e todos da guilda congelam, parecendo estátuas vivas. Eles estavam sorrindo mas eu fechei a cara, meu coração dói, não consigo me mexer. Mordo o maxilar fortemente.

Então todos começam a sumir. Todos.

Cana, Romeo, Jet, Droy, Warren... Todos eles vão desaparecendo como mágica. Minha mão treme mas continuo a fazer o sinal. Eu quero gritar:

“NÃO SUMAM!”

Mesmo assim eles vão indo para algum lugar. Elfman, Mirageene, Laxus, o Raijinshuu, Gajeel, Levy, Wendy, Lily, Charles... Lisanna... Happy... Até o mestre...

Meus olhos marejam. Por que isso está acontecendo? Por que eu só posso observá-los sumir? Por que eles congelaram? Por que estão sorrindo enquanto estou chorando? NÃO SUMAM! POR FAVOR... NÃO... NÃO ME DEIXEM SOZINHO!

Até que sobram três, mas eles vão desaparecendo também.

Erza... Gray... E... E Luce...

A ruiva e o moreno desaparecem. No segundo em que Luce começa a desaparecer, em um dos olhos dela cai uma lágrima de seu rosto petrificado e sorridente.

Eu descongelo, posso me mover de novo. Mas já é tarde demais... Estou sozinho na guilda.

Salto do balcão com raiva, dou um soco forte no chão criando uma cratera. Entre as lágrimas, murmurei:

— Eu não entendo... Vocês estão longe demais para eu observar... Para aonde foram? Por que tenho tantos pesadelos?

E tudo vai ficando escuro, como se algo negro fosse engolindo a guilda, me cercando por todos os lados. Entre a escuridão, vejo um rosto. O rosto monocromático de...

— Zeref... -grunhi. O mago negro sorriu triste.

Acordei num pulo, suando frio. Olhei para os lados frenético, assustado. Suspirei aliviado ao saber que saí do pesadelo.

Estou em casa e Happy dormia ao meu lado. Aos poucos lembro dos acontecimentos recentes. Happy ficou chorando ontem a noite, de forma inconsolável. O exceed azul sempre gostou de Luce...

Alguém bateu na porta, resolvi deixar Happy dormindo mais um pouco e fui atender. Me deparei com um cara de grande sorriso, para a minha surpresa.

Saí de casa e fechei a porta cuidadosamente atrás de mim.

— Bom dia Elfman -sorri.

— Sim! Hoje é um belo dia para ser homem! -respondeu ele- Podemos conversar?

— Claro -falei, fomos até um tronco deitado que tem no jardim da minha casa. Elfman me deu uma chave de braço no meu pescoço e falou animado:

— Hey! Quando vocês vão comprar uma casa nova? Essa que você tem aqui é pequena demais.

— E... Elfman... -falei sufocado- Combinamos comprar uma mês que vem... A... Agora pode me soltar?

— Hã!? Por que só mês que vem!? -indagou ele, ainda me sufocando.

— Teve a lua-de-mel... E um casamento... Precisamos de mais um pouco de dinheiro...

— Aaah... -e o albino me soltou- Agora está explicado -então a feição dele mudou para séria repentinamente, parece que ele vai abordar o assunto que queria realmente discutir- Agora Natsu, pode ir se explicando.

— Sobre o quê? -massageei o meu pescoço, está doendo um pouco por causa da agressão.

— Sobre Lucy. Que escândalo todo foi aquele!? -ele rugiu, mas não me intimidei.

— Por que ela saiu da guilda nem mais nem menos. Ela saiu! -repeti a palavra em tom indignado- Luce disse que seriamos amigos, ela considerava Fairy Tail sua casa!

— Tenha vergonha na cara Natsu! -berrou ele bravo, eu fiquei meio surpreso- Lisanna estava muito mal ontem! -meu coração apertou- Se não ama Lisanna, não case! ISSO NÃO É COISA QUE HOMEM FAZ!

Comprimi meus lábios, desviei o olhar. Lisanna... O que eu estou fazendo? Ela está sofrendo...

— Eu amo Lisanna, Elfman. Tenho certeza. Luce parou de ir em missões comigo fiquei triste... Mas quando Lisanna passou a sair mais comigo, pouco a pouco aquela paixão que eu tinha quando criança voltou... Quando minha albina confessou o amor dela, com certeza foi um dos dias mais felizes da minha vida...

Elfman bateu na testa com a mão, escondeu o rosto.

— Se a ama tanto, pare de fazê-la sofrer... Você me prometeu que iria fazê-la feliz...

Engoli seco. Sim, eu prometi. Lisanna é sempre doce, uma pessoa que fica preocupada como todos, uma pessoa que chora como todos...

— ... Luce estava se distanciando de forma estranha... Ela é minha amiga, sempre foi minha parceira... -respondi.

— Existem limites para amizade Natsu, não deve ter outras garotas tão perto assim quando está tendo um compromisso sério.

— ... Eu não entendo... Qual o problema de amar uma mulher e ter uma amiga? Luce foi a primeira parceira que eu tive, isso era importante -sim, era importante. Luce, Happy e eu formávamos um time.

— Lucy se foi. Na verdade, desde o momento em que ela se distanciou de você, ela já tinha ido embora -ele falou.

Eu lembrei do que Luce disse na noite em que eu fui buscar Happy.

— Eu sei... -murmurei.

— QUAL O SEU PROBLEMA ENTÃO!? -berrou ele, impaciente.

Eu soquei com tudo no chão, fazendo a terra tremer. O homem ficou surpreso.

— VOCÊ NÃO ENTENDE ELFMAN! -exclamei, impedindo o albino ver o meu rosto, porque estou encarando o chão- Luce agia estranha, fiquei com medo dela deixar de ser minha amiga. Por isso tentava ir em missões com ela, mas... Parece que deu muito errado -Elfman escutava com atenção- Então tive esse pesadelo... E quando soube que Luce saiu da guilda... Lembrei dele, era... Era como se os pesadelos fossem se realizando, mais e mais pessoas vão sumindo... E eu posso fazer nada... Porque as coisas andam dando errado quando me mexo...

— Espera, pesadelos? O que é isso? -ele indagou, confuso.

— Sim... Eu tenho pesadelos de pessoas morrendo e pessoas sumindo, começou mais ou menos quando Mira se foi... Por um segundo pensei que poderia estar se tornando real esses pesadelos... Eu queria ir atrás dela. Queria ir buscar a Mira trazer ela de volta para a guilda! PARA LISANNA! Mas nem sinal dela eu tinha... E minha albina se aproximou de mim, ela chorava e chorava... -fechei meus punhos ao lembrar de como minha amada sofria- Senti que precisava protegê-la.

Um segundo silencioso se passou. Então o albino cruzou os braços e disse:

— Hã!? Que papo ridículo é esse!? É PARA RIR!? ISSO É UMA PIADA!? Foi por isso que se casou com ela? -Elfman se zangou, ele comprimiu os lábios de desgosto quando escutou o nome da albina mais velha- É da única irmã que está comigo que estamos falando... Não ouse usar Mira-nee como desculpa Natsu! Você se casou por pena?

— NÃO!! -exclamei indignado- Lisanna me mostrou que precisava de mim. Ela sorriu para mim, um belo sorriso... Foi quando comecei a amá-la... Passei a amar ela depois de passarmos por tanta coisa juntos, em tantas missões juntos. Compartilhamos muitos momentos. Eu realmente a amo. Não estou usando ninguém como desculpa... Eu só estou... Com medo -proferi as palavras que nunca pensei que colocaria em boca, não eu. Mas me senti bem, finalmente contava isso para alguém.

Elfman pareceu se acalmar.

Eu fechei o punho, sou patético. Assustado com os pesadelos que parecem ter tantos significados.

Não gosto disso. Eu sempre corria e fazia logo o que tinha que fazer, resolvendo as situações que estavam mal. Mas por alguma razão, agora tudo está me mandando fazer nada e isso me enerva, fico contrariado, vou fazer algo, mas que no fim... Dá errado. Odeio muito isso.

Sinto que mundo está se movendo de alguma forma ruim e por alguma razão que não sei, me manda ficar sentado. Isso me deixa nervoso. É como se estivessem gritando para mim: “Fique aí observando, enquanto perde cada um de seus amigos e você pode fazer nada”.

Eu só queria que os pesadelos acabassem... Talvez assim, eu ficaria mais calmo e faria nada, poderia em paz ter meu casamento.

Acho que descobri o significado que ser ignorante, é uma bênção.

Eu escondi meu rosto com as duas mãos e murmurei:

— Haaa... Nem eu sei mais o que estou fazendo.

O albino me estudou um pouco, suspirou e então concluiu:

— ... Está mais do que claro que você continua sendo um idiota e esquentado. Eu não entendo nada de sonhos ou pesadelos, mas tenho um pedido... -ele sorriu- Apenas... Seje homem e cuide da Lisanna por mim. Seja o você de sempre. Sem pensar muito nas coisas, que esse não é o seu forte. Não deixe minha irmãzinha chorar, sem Mira-nee... Só tenho ela.

Eu o encarei.

— Então... -acabei respondendo por fim, esboçando um sorriso também- Eu devo apenas ser Natsu Dragneel, é isso?

— Isso aí homem.

— ... Entendi -concordei.

Luce não está mais aqui e o mundo me manda sentar quieto... Não que eu goste disso, mas é injusto para minha esposa, então... Dessa vez, acho que é melhor eu finalmente fazer Lisanna feliz.

Minerva POV

Fazem oito dias que Sting e Rogue saíram da guilda.

— Maldito loiro, fugiu da aposta que ganhei. -reclamei dentre os dentes. Estou sentada no balcão da guilda.

— Calma Minerva. O seu amorzinho vai voltar. -riu Orga ao meu lado, eu inflei as bochechas. Maldito Orga... Nem sabe como eu me sinto e fica me jogando pro Sting.

— Cala a boca Orga, Sting não é amorzinho porcaria alguma, é um folgado e covarde! Primeiro faz uma aposta comigo de quem derrota mais magos e depois que eu ganho, no segundo em que voltamos para a guilda, cata o Rogue e vai para uma outra missão!

— É o Sting -deu ele de ombros- Já devia esperar isso dele, e você não pode falar nada Minerva, já que vive indo para a casa dos Dragões Gêmeos para abusar do Rogue também, tem pena dele não?

Aah, droga. Maldito Orga e sua razão.

Vejo mestre Kyle atravessar a guilda, ele tropeça caindo de cara com o chão. Se levanta rapidamente e continua a andar como se nada tivesse acontecido, mas seu nariz ficou vermelho.

— Está bem, mestre Kyle!? -gritou Orga do meu lado, com bom humor.

O mestre apenas nos olha e acena, continua a ir até a porta da guilda... Por que o mestre é tão desastrado? Sorri. Parece que mestre Kyle vai sair da guilda.

Mestre Kyle é um homem de olhos e cabelos marrons. Tem um perfil de comum como pessoa.

Ele abre a porta e se depara com uma loira. Espera, eu conheço ela... Nos vimos nos jogos mágicos, é a garota que eu...

O mestre conversa com ela, os dois vem até mim. Eu olho para a loira.

— Espera... Você é a fadinha...

— Nome dela é Lucy, Minerva. -falou mestre Kyle. Sorrindo para mim- Ela diz que quer entrar para a guilda.

Hã!? Essa garota quer... !? Mas ela já tem...

— Mas, você já é da Fairy Tail! -exclamei atônita, frisando as sobrancelhas. Sem despregar os olhos da loira.

— Não sou mais -respondeu ela, me olhando com certo medo... Acho que é normal considerando o passado.

— Minerva, coloque a marca da guilda nela, eu preciso sair -ele suspirou triste- O conselho me chama para uma reunião. É a de sempre, sermões e avisos. -ele se virou, mas como se soubesse que eu iria protestar, foi dizendo- Sem reclamações, foi seu mestre que mandou, hein? Até mais, nada de brigas.

Fiquei de queixo caído. Espera, espera. Isso está acontecendo?

Eu olhei para a guilda... Sim, ela continua barulhenta de sempre, mas alguns magos olhavam para cá surpresos, desconfiados ou curiosos... Olhei para a porta por onde o mestre saiu, sem mais nem menos deixando a loira comigo, ignorando exatamente tudo, no caso, o que teve entre eu e a maga celestial nos Grandes Jogos Magicos.

Olhei para um lado, Orga já saiu de fininho e já brigava com alguém. Olhei para o outro e me deparei com dois olhos cor de chocolate me encarando com medo, mas esperando por algo, como um cachorrinho.

AH! CARAMBA! ESSA GAROTA ESTÁ AQUI MESMO! EEEEEEITA!

Peguei o carimbo e sorri forçado:

— A... Aonde quer a marca? E de que cor? -perguntei. Ela pareceu meio nervosa, olhando para mim apavorada, como se eu fosse um monstro do armário que pega criancinhas indefesas.

— N... N... Na mão... -falou ela, estendendo a mão direita, mas logo a maga celestial se surpreendeu e me deu a esquerda- C... Co... Cor... D... Dourada... Po... Por favor...

Nossa, pareceu um sacrifício para ela responder isso.

Eu carimbei da forma que ela pediu, a loira olhou com um sorriso triste para a mão carimbada, esfregando com carinho com a mão direita... Espera, a mão direita dela, não é aonde ela tinha o simbolo das fada!? Então ela saiu mesmo daquela guilda... Mas por que está tão triste?

Ela se virou para mim com um sorriso de como se fosse chorar a qualquer minuto.

— Obrigada.

O que acontece com ela? Me peguei perguntando isso para mim mesma.

— ... Senta aí. -falei. Parei de sorrir, eu estou... Preocupada? Me virei para a mocinha que estava no balcão- Kiara, dois sucos de morango.

— Claro. -respondeu Kiara, com um sorriso.

— Tem problemas com sucos de morango? -perguntei para a loira.

— N... Não! Eu adoro suco de morango! -ela respondeu surpresa.

Kiara trouxe o suco. E falei enquanto rodava o canudinho com meus dedos de unhas grandes:

— Não precisa ficar tão nervosa comigo, não vou te morder. Na verdade... Agora que é um tigre, vou é pedir desculpas. -virei os olhos para ela e sorri- Desculpa pelo que te fiz nos Jogos Magicos. Vamos nos dar bem, como companheiros e se... Se possível, amigas, ok?

Ela me olhou atônita e arregalou os olhos. Mas logo sorriu, um sorriso de verdade.

— Sim! Eu... Eu sou Lucy, Lucy Heartphilia. -estendeu a mão para mim, quando ela viu meu olhar surpreso, a loira explicou- Não nos apresentamos direito.

Sorri e peguei a mão dela, balançando-o.

— Minerva, Minerva Orlando. -então catei meu suco. É, essa garota parece ser uma boa pessoa- O que faz aqui Lucy? Por que mudou de guilda? -perguntei direta.

Ela ficou desconfortável, bebeu um pouco de suco. Quando eu pensei em mudar de assunto, Lucy respondeu:

— Acho que... -ela corou muito, se abaixou e sussurrou- Minerva, posso te contar um segredo?

— Hum!? -estranhei.

— É que... Eu não conheço ninguém aqui... Preciso de alguém para falar comigo e você parece ser uma pessoa diferente do que pensava... -falou ela envergonhada.

Quê!? Mas que fofa! Sorri.

— Claro, minha boca é um túmulo.

— Eu vim aqui para entender meu... Coração...

Nos afastamos, Lucy estava muito corada. Coisas do coração!?

— Está tendo problemas amorosos também!? -exclamei e tampei a minha boca, Lucy arregalou os olhos e olhou para os lados. Sorte que ninguém ouviu. Suspiramos aliviadas.

— Também? Está com problemas assim, Minerva? -ela perguntou curiosa. Aaah, eu e minha boca. Agora foi a minha vez de corar.

— De certa forma... Sim. -e olhei furtivamente para o idiota esverdeado atrás de mim.

Ela e eu abrimos um sorriso.

— Somos cúmplces agora -falei.

— Parece que sim... Nós e os idiotas da vida. Pff... -falou ela revirando os olhos.

Rimos, acho que essa loira e eu temos algo em comum mais do que imaginei. E então um certo loiro barulhento abriu a porta de forma nada elegante.

— O DRAGON SLAYER DA LUZ, STING EUCLIFFE VOLTOU!