Caminhantes

A pessoa que está perto de mim, até mais


Rogue POV

Em um lugar escuro, eu olhava frenético para os lados. Maldição, esse pesadelo de novo...

Depois dos Grandes Jogos Mágicos, de vez em quando aparecia esse miserável sonho para me assombrar.

Um holofote brilhou em cima de mim, me fazendo ficar cego, então descubro que estou em uma cadeira de madeira, amarrado por cordas que me espetam desconfortavelmente.

— Rogue Cheney. -falou uma voz masculina. Como eu odeio esse sonho, como odeio essa voz! Fechei meus olhos, não quero ver essa pessoa, não de novo.

— CALA A BOCA! VAI EMBORA! -berrei, mas só escutei o seu riso desagradável.

— Ora, ora, se Rogue Cheney não está bravo? -debochou, então a voz sussurrou- Você não pode escapar de mim. É inútil. Impossível. -declarou ele, ríspido- Não vai me dar atenção? Ok, então.

Fiquei aliviado, finalmente essa praga vai embora... Ou não.

— ROGUE! -chamou uma outra voz, mas feminina. Fiquei congelado, espera. Não, ele não trouxe ela aqui...

Não me contive e abri os olhos, levantei o olhar.

— LUCY! -gritei, vendo os olhos chocolate inconfundíveis. Ela estava sentada, amarrada em uma cadeira de madeira, como eu. Suplicando com sua expressão apavorada, iluminado por um outro holofote à frente do meu.

Um homem estava parado ao lado dela, rindo.

— Finalmente abriu os olhos. Huh? Ela é tão importante assim? -ele perguntou.

— Deixa ela em paz!

Ele apenas sorriu, fez uma lâmina negra com a mão.

— NÃO! -e na minha frente, ele perfurou o coração da loira, sem remorsos, sem ressentimentos. Vi os olhos de chocolate pararem de brilhar. Só abaixei a cabeça, percebi que o holofote de Lucy apagou-se, o sangue dela chegou até os meus pés e sussurrei em uma voz falha- Eu... Te... Odeio...

Mais uma gargalhada.

— Você me odeia? Que coisa hilária Rogue Cheney, porque... Eu sou você.

Encarei os olhos vermelhos daquele cara outra vez. Os olhos malévolos e o cabelo preto e branco. O outro eu que apareceu no dia dos Grandes Jogos Mágicos.

— Por que me atormenta? Qual o seu problema? O que quer de mim? O que quer que eu faça? -perguntei, tombando a cabeça encarando o sangue vermelho que chegava a encostar nos meus sapatos.

— Aha! Finalmente perguntou algo interessante, meu caro! -exclamou ele, parecia estar se divertindo- Só quero que saiba que um dia, você será eu, porque eu sou as suas trevas, as trevas que sempre viveu com você.

Eu o fuzilei com os olhos e falei entre os dentes:

— Esse papo de novo? Você pode ser uma parte de mim, mas eu nunca serei você!

Ele sorriu, levantou as mãos e balançou a cabeça negativamente, com cara de “você não tem jeito”.

— E assim, Rogue Cheney luta contra mim até hoje. -suspira ele- Mas isso vai mudar.

— Isso é o que você pensa, mas eu sempre fiquei contra das trevas tomarem meu corpo completamente. Sempre consegui me conter, e isso não vai mudar só porque você disse.

— Você diz isso, mas na verdade ama as trevas, não é? Não resiste às sombras -ele falou, o rosto dele expressava diversão e isso só me irrita...

— Skiadrum falou “Não odeie as trevas, filho. E elas serão suas aliadas, só assim conseguirá usar as sombras ao seu favor. As trevas é um elemento naturalmente essencial para o equilíbrio da vida. Lembre-se, não existe algo nesse mundo em que são completamente ruins, as sombras e as trevas não são exceção”. Não odeio as trevas, só você.

— Olha, você está se contradizendo. Eu não sou completamente ruim, assim como Skiadrum disse.

— Até pode ser que você tenha lados bons -grunhi, em péssimo humor- Mas deixar você tomar o controle, é algo que não vou permitir.

Ele sorriu e foi se distanciando, sendo engolido pelas sombras.

— Se é assim, veremos até aonde vai com isso... Se lembre, eu sempre estive aqui e sempre estarei para quando quiser mudar de opinião. Nos veremos mais tarde.

Lentamente fui acordando, me deparei com um cabelo loiro em frente aos meus olhos... Verdade, eu dormi aqui...

Me lembrei do sonho, dos olhos suplicantes... Apertei forte aquela quem eu abraçava, com medo que ela sumisse... Algo que me reconforta é o calor do corpo dela, essa é a prova em que ela está viva...

— Rogue... Rogue... -me chamou- Está doendo.

Levei um susto e a soltei, me sentando. Escondi meu rosto com uma das minhas mãos e pelo canto do olho vi os olhos achocolatados preocupados.

— Desculpa -falei.

— Teve um pesadelo? -perguntou ela direta. Apenas desviei o olhar.

Lucy POV

Dava para ver nos olhos dele, a palidez. Ele teve um pesadelo... Eu engoli seco, não sou mais criança para ter medos das visitas noturnas dos monstros, mas ultimamente, os pesadelos tem me perseguido... Então posso distinguir isso facilmente.

Eu o fiz virar para mim, ele pareceu confuso, mas obedeceu. Passei meus braços em sua cintura e o olhei com um sorriso amargo.

— Eu tive um pesadelo também.

Então apoiei minha cabeça em seu peito. Devagar ele ergueu os braços e me abraçou.

— Esses pesadelos... Sempre vem estragar os nossos dias. -Rogue sussurrou.

Ele estava fazendo uma piada? Dei uma risada, ele estava fingindo que estava tudo bem, para não me preocupar? Rogue Cheney. É mesmo uma pequena árvore La’Moon Gi.

— Esses pesadelos não me assustam. Sabe por quê? -perguntei em bom humor.

— ... Não.

— Porque eu não estou sozinha para enfrentá-los.

Ele riu.

— Sim, é verdade.

Como o riso dele pode ser o suficiente para me acalmar?

Logo Frosch acorda chorando.

— Rogueeeeee...!

Eu me soltei do Dragon Slayer das Sombras, olhei para o exceed que abriu os olhos e olhava desesperado para os lados, até que viu o rosto de Rogue e saltou no colo do moreno, o abraçando.

— O que foi Frosch? -perguntou preocupado.

— Fro... Fro...

— Foi um pesadelo, Fro? -perguntei, ele me fitou e eu dei um sorriso tranquilizador.

Ele saltou direto para os meus peitos.

— Fada-saaaaaaaan...! -chorava ele.

— Calma Frosch -falei- Rogue nunca iria deixar alguém te machucar.

— M... Mas era o Rogue quem... Es... Estava...

Eu olhei para o rapaz de olhos vermelhos, ele me encarou de volta, surpreso.

— Então pode deixar que eu irei salvar os dois. -falei confiante.

Agora sim, o exceed verde ergueu os olhinhos lacrimejantes com um brilho esperançoso.

— Promete?

— Sim! Eu sou uma Maga Celestial, nunca quebro minhas promessas! -exclamei.

E o sorriso do exceed foi tão fofo que o abracei.

— Aaaaaw... Que fofo! -me derreti.

Rogue suspirou e arqueou uma sobrancelha, com um pequeno sorriso de canto.

— Parece que Frosch é mais seu exceed que meu.

— Então você me dá ele!? -o encarei esperançosa.

— Não.

— Aaaaah! Seu chatoooo! -inflei as bochechas.

Ele sorriu e se levantou.

— Aonde vai? -perguntei, ele me encarou com suas orbes vermelhas e sorriu.

— Preparar um café da manhã. Vou usar as coisas da geladeira e a cozinha, ok?

Não sei o porquê, mas corei. Eu estava perguntando aonde ele vai!? Mesmo!? Então assenti com a cabeça e ele foi para o outro recinto, conhecido como cozinha.

Larguei Frosch e falei me levantando da cama:

— Quer ver uma coisa legal?

— Sim! Fro quer! -ele ergueu os bracinhos.

Peguei uma chave e fiz pose.

— Abro-te portão do Cão Menor! Nicholas!

— Punnn, puuuuuun! -e lá estava Plue, tremendo e sorrindo, o rosto de Frosch se iluminou.

— Fro pode brincar com ele!?

— Claro! -respondi com um sorriso.

Fiquei observando os dois brincarem, então meus olhos pousaram na minha mesinha de madeira. Verdade... Eu tinha parado meu romance em um lugar crucial... Me levantei e sentei na cadeira, dei uma última olhada para trás. Sim, Plue e Frosch estão brincando direito. Peguei minha caneta e comecei a escrever, fiquei tão concentrada que pulei de susto quando senti uma mão no meu ombro.

— Calma, sou eu. -falou Rogue.

— Hã!? Ah, que susto. -sorri.

— É, você não me respondia...

— Você me chamou!? -agora sim fiquei surpresa, ele me chamou e não percebi!?

— Sim. -ele riu- Vem comer?

— Ah... Ah! Vou! -fui me levantando, então olhei para trás, Plue e Frosch dormiam tranquilamente na minha cama.

— Deixa eles, dormiram de tanto brincar. -falou Rogue, eu concordei com a cabeça.

Chegamos à cozinha e me surpreendi ao ver a mesa, tinha ovos, bacon, pão, café, leite, salsicha, frios.

— Não sabia o que você gostava, peguei um pouco de tudo... -ele me encarou, viu minha cara surpresa e Rogue franziu as sobrancelhas- Será que... Não podia?

— Oi? -acordei- Nada disso! Obrigada Rogue -abri um grande sorriso, ele sorriu de canto. Corri e sentei em uma cadeira, ele acomodou em outra.

Comecei a devorar tudo. Descobri o que é comer como Natsu Dragneel. Meu deus! Que fome!

— Você come como se a comida fosse criar pernas e fugir. -riu ele, me observando.

Só agora percebi que eu comia feito leoa enquanto ele mascava tudo calmamente. Corei muito.

— E... Eu comi quase nada ontem -me defendi- Mas a comida está deliciosa, nunca pensei que soubesse cozinhar.

Ele corou e desviou o olhar, comeu um pouco de pão com ovos mexidos e bacon, então respondeu.

— Moro com Sting... E Minerva vem comer em casa...

— Aaah... -entendi o significado dessas palavras. Rogue... A sua vida não é fácil, agora percebo- Sei o que quer dizer, Natsu e Happy sempre invadiam aqui, de vez em quando Gray e Erza vinham como bagagem, tomavam minha banheira, minha cama, meu sofá e minha geladeira.

— Vida de explorado... -ele falou desanimado.

— Não é fácil... -completei.

Suspiramos, então nos encaramos e começamos a rir.

— Temos pontos em comum muito estranhos. -comentei entre os risos.

— Sim, e nossa primeira conversa não foi algo normal, nem a segunda.

— Concordo.

Rimos mais um pouco e logo vem Frosch bocejando, esfregando o olho. Eu o olhei.

— Nós te acordamos? Desculpa.

Ele parecia sonolento, então foi em direção de Rogue, tentou subir no colo dele, mas sem sucesso. O Dragon Slayer o pegou e perguntou:

— O que quer comer Frosch?

Eu fiquei assistindo os dois com um sorriso bobo, então exclamei.

— Ah! Plue! -me lembrei, fui até o Cão Menor, fechei o portão de Plue então voltei.

— Foi fechar o portão do seu espírito? -perguntou Rogue.

— Sim, ele não me faz usar muita magia, mas prefiro fechar o portão dele nesses momentos, deixar Plue muito no mundo de cá não faz bem para um espirito. -expliquei.

Rogue voltou a atenção para Frosch, que devorava de forma estranha os ovos mexidos.

— Frosch! Cuidado, vai deixar cair!

— Uhum, Fro tem cuidado. -respondeu o gato verde.

— Rogue, você realmente cuida bem do seu exceed. -comentei.

— Sim. -ele espondeu normalmente- Frosch é alguém que me importo muito. É o exceed que está comigo desde que eu era criança, foi meu primeiro amigo.

Esbocei um sorriso.

— Ah... E Sting? -perguntei.

— O que tem ele? -ficou confuso.

— Ele é seu amigo certo?

— Sim, viemos para a Saber juntos. Nos conhecemos por coincidência, depois de alguns problemas passamos a ser amigos. Fiquei surpreso em saber que tinha outro Dragon Slayer da minha idade além de mim, já que Natsu, Wendy e Gajeel-san eram mais velhos na época.

— E... Ele não está preocupado? Você passou a noite aqui...

O Dragon Slayer das Sombras ficou estático, provavelmente pensando no amigo loiro que tem sem fronteiras de energia. Rogue se levantou num pulo, segurando Frosch.

— Lucy. Estou indo embora.

— O... O que houve? -perguntei assustada.

— Minha casa está em perigo... E Minerva...

Ele estremeceu, ficado com o rosto pálido.

— Provavelmente ela deve estar tentando matar o Sting. De novo.

Ergui as sobrancelhas.

— E... Então é... É melhor se apressar... -falei gaguejando.

Ele sorriu uma última vez e disse:

— Até, Lucy.

E sem esperar a resposta, correu para fora do apartamento. Dei um sorriso e comentei:

— Pelo menos tem a educação de sair pela porta.

Continuei a comer, corei um pouco quando me lembrei de seu sorriso e a frase:

“Até, Lucy.”

— Até, Rogue. -respondi para o nada, mesmo sabendo que ele tinha saído faz tempo.