Cafe Universe

CAFE UNIVERSE, Episode: I




When the wind gets cold...


Xiumin

Eu estava naquela mesma cafeteria em que nós nos conhecemos.

Café Universe.

Era inverno, e fazia frio. Mas não tão frio quanto havia feito, naquele inverno em que você decidiu ir embora.

Já se passaram quantos? Três? Cinco? Sete anos? Eu nem saberia mais contar.

Eu entrei, sentei naquela mesa que sempre sentávamos, a do banco vermelho do lado da janela, pedi o mesmo que sempre pedíamos: café duplo e um cookie de amêndoas com morango silvestre.

E esperei.

Esperei porque achei que você ia voltar, um dia. Esperei porque gravados na madeira, ainda tinham nossos nomes. De todos nós.

Você se lembra?

Esperei porque mesmo depois de você ter ido embora para a China, em busca do seu sucesso de empreendedor, no seu mundinho corporativo, eu ainda tinha esperança na nossa promessa.

Foi naquela noite de inverno, há um tempo atrás, que você pediu para nos encontrarmos. Eu aceitei, porque achei que finalmente eu iria te ver, depois de tanto tempo.

Você ainda estava no colégio, último ano, e eu ainda estava pensando se iria para a faculdade ou não.

Você chegou na Café Universe com o maior sorriso no rosto, e as roupas cheias de flocos de neve, porque tinha pedalado até ali. Eu guardei um sorriso, achei que você era um louco de sair no meio da neve, à essa hora da noite, só pra poder falar comigo porque não aguentaria esperar pelo outro dia.

E eu também não.

Você chegou com toda a papelada e tudo o que você tinha corrido atrás para gente, pro nosso futuro. Diversas casas para alugar em Gyeonggi, telefones de estabelecimentos que estavam contratando baristas, e até mesmo uma entrevista marcada para mim.

Eu não pude acreditar.

Eu não pude acreditar, porque você tinha ido tão longe por mim, quando ninguém nunca tinha feito isso antes.

Naquela mesma noite, eu estava planejando te deixar. Eu tinha ensaiado um discurso gigante e arrogante, jogando mentiras e mais mentiras pra cima de você, mas eu só consegui chorar.

Chorei porque eu percebi que eu te amava. Chorei porque eu não merecia você. Chorei porque apesar de viver no mesmo mundo que você, nossos universos eram paralelos demais.

Foi por isso que eu decidi fazer o que fiz.

Porque, mesmo que você me dissesse que seríamos felizes em Gyeonggi, que poderíamos montar um Café lá; que eu seria barista, e você poderia trabalhar de advogado, como seu pai sempre te instruiu; eu sabia que era improvável.

Mas eu queria acreditar naquilo.

Com todas as minhas forças.

Mas, hoje, olhando para trás, penso em como fui tolo de ter uma mínima esperança.

Eu sabia que você nunca iria deixar a sua vida para um futuro incerto. Era adolescente, pelo amor de Deus, você não poderia controlar a sua vida, mesmo se quisesse. Seu pai nunca deixaria.

E eu? Eu era apenas um garçom de 21 anos, que estava infeliz com a minha vida nessa cidadezinha, e tinha medo demais para sonhar alto. Porque eu sabia que o tombo de uma grande altura, podia me causar a morte.

Você me perguntou: por que eu não te impedi? Por que não fui atrás de você ou implorei para fugirmos juntos, como você fez?

Eu te disse que era porque não te amava mais. Que minha vida seria melhor sem um adolescente chorão para eu cuidar. Que eu teria que lidar com uma criança imatura, assim como o seu pai teve que lidar com você. Eu te disse mentiras maiores do que eu poderia suportar, porque eu sabia que você não ia desistir de mim. Você sempre foi muito teimoso, Hunnie, e é por isso que eu…

É por isso que eu me coloquei de lado.

Por você, e pelo seu futuro.

Talvez você se arrependa. Talvez pense que deveria voltar, e recomeçar de onde paramos. Que tenha cometido um erro imperdoável, e pode não ser mais possível de voltar atrás…

Mas eu não.

Eu faria tudo de novo.

The night that touched my breath.


Sehun

Eu estava naquela mesma cafeteria em que nós nos conhecemos.

Café Universe.

Estava a noite, e ainda estava frio. Não imaginei que pudesse fazer tanto frio a noite, ao ponto de ficar difícil e apertado de respirar.

Ah, e como apertava.

Eu não saberia dizer se o aperto no meu peito era porque fazia tanto frio, ou se era o peso das memórias me consumindo.

Você se lembra, Minnie?

Quando nós sentávamos naquele banco vermelho de couro, do lado esquerdo do Café, com a vista da janela para nós?

Você dizia que gostava de esperar pelos nossos amigos. Qualquer sinal deles era motivo de euforia pra você.

Sempre amei esse lado seu, de querer poder cuidar de todo mundo sem nunca esperar isso em retorno.

Mas eu queria te dar o retorno.

Eu te dei, mas você jogou fora.

Na semana anterior àquele dia, eu fui para Gyeonggi. Guardei três meses de economia, trabalhando de bar em bar, de festa em festa, limpando piscinas e entregando jornais, fazendo favores para estranhos; tudo para passar alguns dias lá, procurando uma vida pra gente.

Eu estava disposto a largar tudo por você. Eu largaria minha família, e viraria as costas para aquela empresa maldita, se isso significasse ficar um dia a mais com você em meus braços.

Mas você não iria querer isso.

Eu corri por aquela cidade inteira, procurando algum lugar para alugarmos, procurando empregos que conciliariam com a nossa rotina, sem que você se cansasse, sem que eu me estressasse com a faculdade.

Eu fiz tudo isso porque acreditava na gente. Acreditava tanto, mas tanto, que já tinha um plano futuro para os filhos que teríamos juntos. Isso não é ridículo? Eu imaginar que ficaríamos juntos para sempre, como naqueles filmes de romance muito melados...

Mas eu estava tão apaixonado e cego de amor, que não pensei em nenhuma consequência dos meus atos.

Quando cheguei em casa, após passar aquele tempo em Gyeonggi, meu pai estava me esperando no escritório.

Ele me disse que eu não teria uma escolha à fazer. Que a família era a minha escolha. Eu relutei, e disse que ele não podia mandar na minha vida. Ele ficou nervoso e discutiu comigo, jogando na minha cara as mesmas palavras que você me disse.

Imaturo.

Infantil.

Eu quis provar o contrário. Eu quis que ele engolisse tudo o que ele pressupunha de mim, e fiz por merecer no escritório da empresa. Dei o meu melhor para provar que eu era um homem que poderia lidar com um destino pra mim mesmo.

Mas não adiantou.

Naquele ponto, eu não imaginava que ele já sabia da gente. Eu não imaginava que era tão nítido assim. Muito menos imaginava que ele tinha ameaçado minha mãe para descobrir com quem eu andava saindo, usando o carro dele.

Você sabe que mamãe sempre gostou de você, ela nunca falaria sobre a gente se não fosse por ameaças. E era isso que papai era bom, ameaças.

Nos mudamos pra China, quando eu menos esperei, te deixando pra trás sem um adeus.

Te mandei diversas cartas, e você nunca me respondeu.

Eu achava que você tinha desistido de mim. Achei que me odiava. Achei que tinha realmente me esquecido, sem me dar qualquer chance para me redimir e tentar fazer você me amar de novo.

E será que você ainda me ama?

Eu só descobri depois que ele interceptou todas aquelas cartas que eu te enviei.

E eu quis fazer ele pagar.

Mas, agora que ele se foi, não sinto mais necessidade disso. E eu não posso ajudar, mas me sentir finalmente livre dele, e tudo aquilo que eu tive que passr.

Sinto como se nada mais pudesse me amarrar para essa vida que eu não escolhi. Sinto que nada me prende mais para voltar pra você.

Mas…

Será que você ainda me quer?

Eu não sou tolo, e hoje, sei o que aconteceu no passado. As coisas que você me disse… nao eram verdadeiras.

Eram?

Eu te conheço melhor do aquilo, agora.

Você tem que me entender, Minnie, que quando me disse aquelas palavras, elas se assentaram na minha mente. Eu era um adolescente sonhador e imaturo, que não tinha tanta confiança quando eu transpassava.

Você só confirmou meus maiores medos. Foi cruel.

Mas, hoje, eu sei porquê você fez isso.

Você se sacrificou por mim, quando ninguém mais fez. E sou grato por isso.

Sou grato por ter sido amado por você, e mais do que grato, me sinto honrado.

E, hoje, quando volto aqui e penso no nosso passado, sinto falta.

Sinto falta das suas risadas.

Sinto falta da sua pele contra a minha.

Sinto falta dos seus biscoitos de chocolate.

Mas, mais do que tudo, sinto falta de você.