(Música: Stairway to Heaven[Ouça a partir do 5min50])

A cidade de Townsvile, uma das maiores cidades e um dos maiores centros econômicos e culturais da nação. Contudo, suas manhãs eram sempre barulhentas e agitadas por conta dos incômodos trânsitos e congestionamentos que ocorriam logo no amanhecer. Tais inconvenientes poderiam fazer qualquer indivíduo perder a cabeça, com exceção é claro do Professor Utonium que sempre aproveitava o momento para ouvir algumas das suas músicas favoritas de bandas antigas.

“To be a rock and not to roll /And she's buying the stairway to heaven” — Cantarolou.

Utonium estava seis anos mais velho. Agora tinha alguns cabelos brancos na área das costeletas. Suas filhas, as trigêmeas, já eram adolescentes iniciando agora o seu ensino médio. Os quatro passaram por altos e baixos, mas conseguiram manter sua família unida e seu segredo oculto dos olhos das pessoas comuns. Crescer escondendo seus poderes não foi uma tarefa fácil, mas eles conseguiram juntos. Entretanto, agora as meninas estavam passando por uma metamorfose ainda mais perigosa: A puberdade.

— Ah Utonium! — Resmungou Betty. — Você tem mesmo que ouvir essas músicas de velho toda vez que leva a gente?

— Não são músicas de velho, Docinho. — Explicou. — São clássicos. No meu tempo, todo mundo adorava. Ouçam! — Disse chamando a atenção para a próxima música. — Essa aqui é uma das melhores do Shag Carpeting!

Betty bufou querendo que por um milagre ficasse surda naquele momento. Apesar de ter crescido muito, ela ainda era a mais rebelde do trio. Com doze anos, começou a ouvir músicas de rock pesado, usar maquiagem preta e muitas roupas rasgadas. Não saía mais de casa sem sua jaqueta de couro favorita que continha a palavra “Mange” bordada nas costas.

— Pai, será que você não poderia pegar um atalho pela rua do lado? — Perguntou Bertha. — Não quero chegar atrasada no meu primeiro dia.

— Relaxa, Florzinha. — Aliviou. — Vai chegar na hora. Eu garanto. — Disse com otimismo.

— É, relaxa “Florzinha”. Você não vai morrer se tiver uma manchinha de um atraso no seu histórico escolar.

— Histórico escolar perfeito! — Completou. — Eu nunca faltei um dia sequer em todo ensino fundamental. Ganhei um troféu de frequência perfeita por isso e pretendo manter o meu título no ensino médio.

Florzinha e Docinho nunca se deram bem. Docinho era caótica e rebelde e não suportava viver ao lado de alguém que se considera “a perfeitinha”. De fato, Florzinha era. Era inteligente, muito dedicada aos estudos e não seria capaz nem de infringir uma regra. Era tão sistemática que determinava até a hora para ir ao banheiro em sua agenda. Seu item favorito era o seu laço que carregava no topo de seu cabelo ruivo cumprido herdado de sua falecida mãe.

— Nerd! — Debochou Docinho.

As duas eram briguentas, mas nada tirava Beatrice, conhecida também como Lindinha, de sua passividade. Enquanto as suas irmãs brigavam ela apenas visualizava no celular as fotos de viagem que seu namorado havia postado no Instagram na noite anterior.

— OWN! — Disse Lindinha maravilhada ao ver uma foto dele dizendo que estava com saudades de uma certa pessoa.

— Lindinha, da que a pouco você vai babar em cima do celular. — Alertou Florzinha.

— Não consigo evitar, maninha. — Disse Lindinha com suspiro apaixonada. — O Mike é tudo de bom e nessas fotos de viagem ele está gato de mais.

— Eu acho que a Florzinha está é com inveja. — Provocou Docinho com sorriso sarcástico. — Afinal, a Lindinha foi a primeira de nós a oficializar um namoro.

— Para o seu governo, Docinho, eu não me importo com isso. — Esclareceu. — Na verdade eu acho que esses relacionamentos românticos pressionam e limitam demais as mulheres. Talvez, eu me preocupe com esse tipo de coisa quando tiver meu PhD e me tornar CEO de uma empresa muito famosa. — Gabou-se.

Docinho riu e depois ironizou. — Caramba, seu ego é tão grande que tem até gravidade.

— Bom, Florzinha, eu acho que “podre” você já é, só falta o “rica”. — Brincou Lindinha.

— Wow! Até a loira tá te humilhando com a zuera. — Berrou Docinho. — Essa tapada deve ter sido dolorosa. Momento histórico! High Five, Lindinha! — Gritou ao levantar a mão.

— High Five! — Cumprimentando com o gesto.

Florzinha ficou desgostosa o resto da viagem. Após mais algumas músicas antigas, o transito na cidade aliviou e Utonium pode enfim levar suas trigêmeas para o colégio Midway High School. Era um colégio como qualquer outro, mas, para as meninas era algo novo, pois agora iniciavam o ensino médio. Professor Utonium parou ao lado da escola, atrás de um ônibus escolar.

— Chegamos. — Anunciou.

— Ainda bem. — Disse Florzinha aliviada.

— Bom... tenham um bom dia na escola minhas queridas. Não percam o dinheiro da merenda.

— Sim, pai. — Responderam as três ao mesmo tempo.

— E eu quero ouvir as 3 regras em voz alta. — Ordenou o pai.

— “Não falar ou contar a ninguém sobre “aquilo” mesmo que seja um amigo ou professor” — Citou Florzinha.

— “Não chamar a atenção de forma indesejada” — Citou Lindinha.

— Ótimo. Mas, falta você Docinho. — Ordenou.

A garota mal-humorada bufou de raiva e depois disse de forma sarcástica. — “Não usar nossos poderes em público, mesmo em uma emergência”

— Muito bom. Podem ir. Tenha um bom primeiro dia. Amo vocês. — Despediu-se

— Também te amamos, papai. — Despediram-se Florzinha e Lindinha.

— Eu não te desprezo, Utonium. — Despediu-se do seu jeito grosseiro.

(Música: Blitzkrieg Bop )

E então o cientista foi embora para o trabalho deixando suas três filhas na porta da entrada do colégio. Mesmo com o transito, elas chegaram dez minutos de antecedência e poderiam ir até seus armários com tranquilidade.

— Vocês sentem esse cheiro? — Perguntou Florzinha. — O cheiro de uma nova fase em nossas vidas? É um novo avanço em nosso conhecimento e em nossa vida. — Anunciou com determinação.

— Eu só sinto o cheiro do armário podre da Docinho. — Respondeu Lindinha.

— Foi mal. — Desculpou-se enquanto retirava um saco cheio de bolor verde — É que eu esqueci um lanche no armário nas férias.

— Que nojo! — Disseram Florzinha e Lindinha simultaneamente.

— Tô jogando fora. Não precisam de todo esse drama.

— Não seria um começo de semestre sem a Docinho começar com uma nojeira, não é? — Disse uma quarta voz.

— Robin! — Gritou Lindinha animado por rever uma amiga querida.

Robin Snyder era a melhor amiga do trio desde a quinta série. Era uma jovem gentil, muito amigável, extrovertida e muito amada pelas suas amigas. Tinha longos cabelos castanhos e olhos azuis bem grandes. Usava uma camiseta com um desenho de maçã no peito..

— E ai, como vai meu trio favorito? — Perguntou.

Florzinha respondeu com um: — Ótimo.

Enquanto isso, Lindinha respondeu com um exagerado: — Maravilhoso!

Já Docinho respondeu com um amargo: — Meh.

— Como foi o acampamento das bandeirantes? Foi sua primeira vez como monitora, não? — Perguntou Florzinha.

— Foi sim e foi muito bom. — Respondeu Robin. — Adoro crianças mais novas. O único problema foi os garotos idiotas do acampamento ao lado, os tais Escoteiros do acampamento Rim, que ficaram chateando as meninas.

— Honestamente, eu não teria paciência para fazer isso. — Declarou Florzinha.

— É tudo questão de como interagir com eles.

Enquanto Robin e Florzinha conversavam, Lindinha foi surpreendida com duas mãos misteriosas que cobriram seus olhos.

— Advinha quem é? — Disse uma voz masculina.

— Hmmmm mas quem será? — Perguntou de forma retórica. — Seria o bobo da corte?

— Acertou! — Respondeu Mike.

Lindinha se virou ao rever o namorado e lhe de um grande beijo na boca.

— OWN! — Disseram Florzinha e Robin.

— Eu senti saudades. — Disse Mike.

— Eu também. Como foi sua viagem para Endsville? — Perguntou Lindinha.

— Foi tranquila no geral. Mas, àquela cidade é muito estranha. Honestamente, eu não sei como meus primos suportam viver ali. Dá arrepios.

O sinal toca alertando que a aula está prestes a começar e todos os estudantes se dirigiram para suas salas. No meio do caminho, Docinho ouvi um leve ruído bem abafado saindo de um dos armários.

— Alguém me ajuda aqui. Eu estou preso. — Disse uma voz abafada vindo do armário. Por sorte, Docinho reconheceu a voz.

— Elmer, é você? — Perguntou Docinho enquanto encarava o armário.

— Sou eu sim. Mitch Mitchelson me colocou aqui. — Respondeu. — A senha para me tirar daqui é 2672

Usando a combinação do cadeado, Docinho, liberta Elmer que sai aliviado por respirar ar puro novamente.

— Obrigado, Docinho. — Respondeu o menino.

Elmer Sglue era um dos garotos mais inteligentes da turma, mas em compensação era o mais frágil e sensível entre eles. Era magrelo, levemente mais baixo que a maioria, usava um suéter marrom, óculos bem redondos e tinha um topete engraçado. Era excelente em matérias exatas, em especial, matemática, mas por conta desse seu jeito de ser desde o primário, ele vivia sofrendo bullying de garotos maiores que lhe roubavam sempre o dinheiro da merenda e o trancavam dentro do armário. Apelidos também nunca lhe faltaram, o mais famoso é “Papa-cola” que ganhou na terceira série quando lhe pegaram saboreando a cola da aula de artesanato as escondidas, desde então o apelido pegou. Porém, apesar de complicações escolares, Elmer sempre podia contar com a proteção de Docinho como se fosse uma irmã mais velha.

— Não foi nada. — Disse Docinho com piscadela. — O Mitch é otário e um covarde mesmo. Qual é dele? Começou com isso de valentão do nada?

Docinho fingiu que não sabia de nada, mas a verdade é que ela já desconfiava o motivo de Mitch estar fazendo isso. Ela engoliu seco e sorriu amigavelmente para o seu amigo como se tivesse tudo bem, mas no fundo, ela sabia que não estava e torcia para estar errada.

— Eu não sei, mas, pelo menos ele não roubou o meu dinheiro do lanche. — Observou.

— Se ele te incomodar de novo, me chame. Agora, vamos pra aula se não vamos nos atrasar.

— Vamos logo então!

Apesar da distração, Docinho e Elmer conseguiram chegar na aula a tempo. Por sorte, era aula da Sra. Keane, a professora favorita das trigêmeas, que sempre deixava a porta da aula aberta o máximo de tempo possível para os atrasados chegarem.

— Valeu Prof. — Agradeceu Docinho.

— Não há de que, Senhorita Utonium. — Disse a Sra. Keane enquanto dava uma piscadela. — Agora, por favor, sentem-se em seus lugares.

Docinho respondeu com sorriso empolgado.

Sra. Keane era quase uma figura maternal para as meninas. Além de uma excelente professora, ela era uma excelente orientadora. Sempre sincera e carismática com todos os alunos e conseguia fazer até da matéria mais entediante uma diversão interessante para os adolescentes. As trigêmeas tinham um carinho especial por ela. Foi graças a ela que Florzinha descobriu sua aptidão para ciências e graças a ela que Lindinha descobriu sua paixão por artes cênicas. Entretanto, Docinho ainda lhe era um desafio. Devido sua personalidade durona e rebelde, Docinho era muito difícil de se abrir, mas a persistente professora sentia que estava aos poucos tendo um progresso.

Após noventa minutos de matéria, o sinal do intervalo para o almoço toca e todos os alunos começam a sair da sala e ir para o refeitório. Docinho esperou pacientemente um por um sair da sala, até ela ficar a sós com sua professora. Assim que o último aluno antes dela saiu, ela se levantou, respirou fundo e foi até a mesa da professora.

— Está com alguma dúvida sobre a matéria, Sra. Utonium? — Perguntou Sra. Keane.

— Não, eu só queria te dizer... — Docinho respirou fundo para poder relaxar e se abrir. — Eu segui o seu conselho.

Ao saber da novidade, Sra. Keane sorriu orgulhosa de sua aluna. — Isso é ótimo, Docinho. Estou muito orgulhosa de você.

— Eu comecei a fazer nas férias e desde então eu tenho estado muito melhor. Muito obrigada. — Agradeceu a menina.

— Viu só? É como eu te disse antes das férias. Você só precisava de uma atividade recreativa, algo para se expressar e se encontrar.

— Mas, Professora, mesmo assim eu ainda me sinto um tanto... perdida. — Afirmou com uma expressão de tristeza. — Eu ainda me sinto como se não tivesse atingindo o meu potencial por completo.

A professora suspirou e parou um segundo para refletir antes de dar um outro conselho. — Minha querida, você sabia que quando eu tinha a sua idade, eu era igualzinha a você?

— O que? — Duvidou com uma risadinha. — A Senhora não.

— Eu era sim, acredite ou não. — Afirmou. — Eu era durona, reservada e completamente perdida na vida. Sabe o que me mudou? — Docinho respondeu balançando a cabeça. — Eu comecei a trabalhar em uma lanchonete que ficava dentro de um museu. Todos os dias eu olhava para aquelas exibições cheias de conhecimento, mas, quase sempre sem saber do que se tratavam e isso despertou em mim uma curiosidade, uma fome por conhecimento. Quando me dei conta eu estava estagiando naquele mesmo museu sendo guia de diversas crianças todos os dias, e foi ai que percebi que a minha vocação era ensinar. E aqui estou eu. — A professora se levantou e olhos bem nos olhos de sua aluna. — Docinho, eu sei que você se sente diminuída pelas suas irmãs. As duas tem dons especiais e individuais, mas você também tem os seus. Você só tem que encontra-los.

— Eu entendi. — Disse Docinho para professora.

— Docinho, você é especial. Mas, eu sinto todas as vezes que conversamos que você se contém. Como se segurasse para me contar algum segredo que no fundo você está doida para me contar. Isso não é saudável, principalmente, para uma adolescente. Se você tem algo que precise contar para mim, qualquer que seja, pode se sentir confortável em compartilhar comigo.

— Obrigada, Prof. — Agradeceu sorrindo, mas em seguida o sorriso rapidamente se desfaz dando lugar para uma expressão série e triste. — Mas... eu não tenho nada esconder. — Mentiu.

— Tem certeza?

— Tenho. — Afirmou.

— Tudo bem então. — Respondeu a Sra. Keane com tom que aparentava uma certa decepção por parte de sua aluna. — Pode ir para o seu intervalo.

— Obrigado mais uma vez Prof. — Docinho foi em direção a porta, mas antes de sair, Sra. Keane chamou-a atenção para mais uma coisa.

— Ah, Sra. Utonium. Eu esqueci de perguntar. Qual atividade recreativa você começou a fazer?

— Luta. — Respondeu com olhar confiante que despertou um sorriso em sua professora.

— É a sua cara.

E em seguida docinho foi em direção ao refeitório.

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“Ontem um desastre ocorreu na cidadezinha de Bellwood, Pensilvânia. Devido uma falha na engenharia dos gasodutos, ouve um vazamento de gás “Metano” altamente inflamável. O vazamento, causou a destruição de diversas propriedades públicas e particulares nas ruas do leste da cidade. A prefeita da cidade imediatamente tomou previdências para resolver os vazamentos e reconstruir a uma estimativa de milhares de dólares em propriedades danificadas. ”

— Mike, o que está fazendo? — Perguntou Lindinha ao sentar-se ao lado do seu namorado e colocando a bandeja do seu almoço em cima da mesa.

— Nada, Linda. Só tô vendo as notícias. — Respondeu Mike enquanto encarava o celular que reproduzia TV. — Eu adoro o noticiário do Will Harangue.

— Sério? Esse cara é tipo um megasensacionalista. — Afirmou Lindinha.

— Eu sei. Mas, o que ele fala tem até uma certa verdade.

“Apesar das insistências da prefeitura em afirmar que se trata de um vazamento de gás, testemunhas locais anônimas afirmam que as razões de tal destruição foram causadas por algo completamente diferente. ”

“Eu tava aqui tomando uma cerveja com os meu Brothers aqui no buteco, tá ligado? Ai do nada uma criatura de fogo com a cara assim, sabe, pegando fogo, tá ligado bro? Apareceu como se tivesse caído do céu, tá ligado? E ai apareceu um cara com, tipo, 3 metros de altura, tá ligado? O cara era feio pra burro, parecia aquele cara do filme do Piratas do Caribe, tá ligado? Aquele com o polvo na cabeça, tá ligado? Ai os dois lutaram foi #$@$ pra $@%@%, tá ligado mano? Foi bola de fogo de um lado, raio lazer do outro, explosão BOOM!”

“Está versão envolvendo algum tipo de confronto entre criaturas paranormais foi comprovada por um ufólogo local, Howell Wayneright, que vem investigando as atividades aparentemente extraterrestres desde a queda do satélite do governo três meses atrás”

“Satélite nada! Foi uma nave alienígena! Organizações secretas tentaram encobrir, mas é tudo fachada. Eu estou nessa cidade faz semanas e eu investiguei a fundo toda atividade alienígena desde então. Eu identifiquei dez E.T.s diferentes e todos parecem estar por ai na cidade fazendo o que bem entendem e parecem ser capazes de facilmente se misturarem entre os humanos. Semana passada eu encontrei esse pedaço de cristal, no mesmo lugar, onde várias testemunhas afirmaram ter visto uma criatura parecia ser feita de diamante puro. Eu analisei essa pedra, o material de que ela é feita não existe na Terra! É obvio que tudo isso se trata de algum tipo de invasão alienígena secreta. Temos que nos preparar! ”

“Seria isso um mero vazamento de gás como o nosso “confiável” governo afirma? Ou estamos falando de uma invasão extraterrestre que coloca não só em risco de segurança o nosso amado país, mas toda a espécie humana e tudo que conhecemos? Parece que não saberemos tão cedo. Mas, vocês, meus caros telespectadores podem dizer no que acreditam votando na enquete em nosso site. E este foi o Nação Harangue que agora se encerra por hoje. Fiquem agora com as dicas de culinária deliciosas do nosso querido e hilário, Chef Mung Daal. Obrigado a todos e tenham um bom dia.”

Após o noticiário se encerrar, Mike desligou o celular e voltou sua atenção a sua sobremesa.

— É, nenhum pouco sensacionalista. — Ironizou Lindinha.

Mike sorriu com uma cara boba e engraçada enquanto comia seu pudim. — Eu sei que é exagerado, mas é que essas aberrações superpoderosas despertam a minha atenção.

— Como assim? — Questionou Lindinha confusa.

— Ora, nunca se sabe quando um ser maluco voador vai chegar na nossa cidade destruir tudo com olhos lazers. Essas aberrações poderosas são perigosas, é bom ficar atento.

Ao ouvir seu próprio namorado dizendo algo desse tipo, Lindinha ficou internamente magoada apesar de fazer de tudo para não mudar o seu humor por fora. — Como você sabe que são perigosas? — Insistiu. — Sei lá, pode aparecer ai alguém por ai que seja amigo.

— Acho pouco provável. — Explicou Mike. — É um lance tipo “monstro gigante”. Mesmo que sem querer, tudo o que eles sabem fazer é causar dor e sofrimento destruindo tudo em seu caminho. — Disse imitando uma voz de vilão como se quisesse fazer ela rir.

— Eu não acho isso. — Desiludida.

— Amor, é só brincadeira. — Esclareceu. — Não precisa ficar assustada. Isso não é sério. Não é como essas coisas fossem acontecer desse jeito.

Enquanto os dois conversavam, Florzinha e Robin chegaram na mesa com seu almoço trazendo um outro assunto completamente diferente.

— Eu sou totalmente contra isso! — Disse Florzinha.

— Ah, mais ele fica bem nesse papel. Meio que combina com ele. — Argumentou Robin para sua amiga.

— Por favor... é um ator de segunda que só tem um rosto e um corpo bonito pra oferecer. Totalmente indigno de interpretar o Major Glória.

— Opa, que tá pegando ai meninas? — Perguntou Docinho de boca cheia.

— Anunciaram o intérprete do Major Glória no novo reboot do Amigos da Justiça.

— Sério? Quem é? — Perguntou Docinho também curiosa.

— Johnny Bravo! — Respondeu Florzinha com raiva.

— Aquele loiro bonitão que faz um monte de filme de ação ruim? — Perguntou Lindinha.

— Esse mesmo. — Confirmou Florzinha. — Ele é um péssimo ator que faz filmes de ação de péssima qualidade além de ser um babaca na vida real. Como escolhem esse cara para ser o herói mais nobre o bondoso e icônico de todos?!

— E desde quando você se interessa por essas “coisas de nerd”, Florzinha? — Questionou Robin sarcasticamente.

Florzinha engoliu seco. — Aaaaa... desde o último filme. Aquele que eu vi com todo mundo e conheci os personagens junto com todo mundo. — Mentiu. — Porque eu não ligo para essas coisas de Super-Heróis e quadrinhos.

— Então, você não iria se importar, mana, se eu jogasse aquelas suas trezentas revistinhas dos Amigos da Justiça pra abrir espaço no nosso armário? — Brincou Docinho.

— NÃO! — Gritou com desespero e logo em seguida disfarçou com um sorriso falso. — Quer dizer... Não, deixa que eu jogo fora pra você, mana.

— Ok. — Concordou Docinho sorrindo sarcasticamente.

Inesperadamente, um grupo de garçons apareceram no meio da lanchonete da escola carregando cada um, uma caixa de pizza fresquinha.

— Essa não. — Disseram Lindinha, Florzinha, Docinho, Robin e Mike simultaneamente ao já saberem do que se tratava.

Os garçons serviram as pizzas em cada mesa da lanchonete menos na mesa de Florzinha e companhia. Logo em seguida, começou a chover confetes coloridos por todo lado anunciando uma onda de pessoas bem vestidas tocando diferentes instrumentos como se estivessem em desfile de carnaval, em seguida, veio uma onda de dançarinos e coreógrafos incrivelmente atraentes mostrando todo o seu esplendor com movimentos impressionantes e por último, um grupo de seguranças altos e fortes de terno, carregando uma jovem ruiva de cabelos encaracolados, brincos de argola e com uma camisa amarela e uma saia roxa ambos de marca e muito elegantes.

— Bom dia Midway High! — Gritou a menina no microfone que carregava em suas mãos. — Eu, a fabulosa, a maravilhosa, Princesa Morbucks, desejo a todos vocês um excepcional ano escolar!

Docinho fez cara feia. — Eu odeio ela.

Florzinha concordou. — Eu também.

Lindinha sorriu animada com música tocada pela banda. — Eu não. Acho ela até divertida.

— Lindinha, não ouse ver o lado positivo dessa ai porque ele não existe! — Comentou Florzinha.

— Gente, não vamos transformar tudo em uma série adolescente ruim. Essa coisa de meninas se odiarem, descolados, valentões e nerds já era fora de moda nos anos 60. — Rebateu a loira.

Princesa Morbucks continuou com seu discurso dessa vez com um pouco mais de ternura e carinho na voz. — Eu gostaria de aproveitar e também anunciar antecipadamente a minha candidatura como presidente do grêmio estudantil. Não pensem em mim como uma garota que consegue tudo o que quer ou como a filha do homem que emprega 54% dos pais dos alunos dessa escola, ou mesmo pensem em mim como a futura prefeita da sua cidade. Pensem em mim como sua melhor amiga. Como aquela garota que cresceu com vocês e que entende vocês. A voz de vocês é a minha voz e juntos nós podemos. — A jovem interrompe brevemente o seu discurso, olha para sua rival, Florzinha que a olha de volta com uma enorme expressão de desgosto. — Mas, é claro. Não deixem que meu enorme carisma, beleza e recursos intimidem vocês. Qualquer um tem iguais chances de disputar as eleições e fazer diferença nessa escola. Afinal, é isso que é uma democracia, não? Abraços e beijos coleguinhas! — Ela se retirou e todo resto foi com ela. O jovens devoraram as pizzas e Florzinha ficou parada por alguns segundos com a mesma expressão de desgosto.

— OK, ela provoca muito. Eu admito. — Assumiu Lindinha.

O celular de Docinho vibrou ao receber uma mensagem importante. Quando ela checa percebe que tem que se retirar rapidamente.

— Preciso sair agora. — Disse Docinho para suas irmãs e amigos.

Docinho correu para os fundos da escola e saiu por uma porta dos fundos que havia por lá que estava convenientemente destrancada. Quando abriu viu dois garotos em torno de um container de lixo e rapidamente imaginou que boa coisa não estava acontecendo.

— Vamos, coma Papa-cola! — Disse um rapaz que segurava Elmer Sglue pelos pés dentro do container de lixo enquanto esvazia um tubo de cola liquida na cara dele ao mesmo tempo que o segurava de cabeça para baixo.

— Por favor, parem! — Implorou Elmer.

Ao ouvir a voz de seu amigo, Docinho berrou:

— Ei vocês! Parem com isso.

Os dois rapazes pararam o que estavam fazendo e olharam para Docinho.

— E olha só, a namoradinha veio te salvar. — Disse um deles.

— Soltem ele! — Ordenou Docinho.

— Você não manda na gente, garota. Ele é que manda.

Em um canto pouco iluminado, deitado na parede fumando um cigarro, estava um jovem de camisa e jaqueta preta com cabelo marrom propositalmente bagunçado. Acompanhado por uma pose “badboy” esse era Mitch Mitchelson um jovem rebelde que sempre causava problemas na escola e, secretamente, o ex-namorado da nossa jovem morena de um passado um tanto obscuro que ela escondeu de suas irmãs e seus amigos.

— Mitch, manda eles soltarem ele agora! — Ordenou novamente.

— Ouviram a moça, rapazes. — Disse Mitch e os dois encrenqueiros largaram o pobre menino que caiu de cabeça no container. — Mitch, por favor, ele não tem nada a ver com isso. — Argumentou ela.

Mitch se aproximou de Docinho e com olhar vingativo a encarou.

— Eu sei.

— Você é um idiota! — O insultou revidando seu olhar com um outro tão revoltado quanto. — Não passa de um covarde sem honra.

— Sem honra? Você traiu a nossa banda, traiu os seus amigos.

— Meu, vocês vendiam drogas! Drogas!! E não era nem das leves e a sua música, aliás, era um lixo. Não éramos nem amigos, pois, a banda era só uma desculpa para conseguir vender a porcaria das drogas. Então, não me venha com esse papinho de honra.

— De qualquer forma você estava tão envolvida quanto eu, mas você foi a única que não perdeu nada. Você precisava de um castigo. — Explicou o rapaz encrenqueiro

— E pra isso você atormenta o Elmer, que não tem nada a ver com isso? — Reclamou a menina.

— Exatamente. Ação e consequências. — Explicou Mitch. — E levando em conta o nosso “histórico” e o fato de eu andar de muito bom o humor, a punição foi bem leve levando em conta o que eu sei. Tenho certeza que suas irmãs, a tal nerd ruiva e a patricinha loira iriam adorar saber dessa história. — Com um ar de superioridade, Mitch colocou suas mãos sobre os ombros de Docinho e sussurrou. — Ou podia ser até melhor ainda. Elas iriam amar saber que você não tá fazendo aulas de luta depois da aula e já pensou se isso chegasse no seu paizinho...

Docinho reagiu com uma expressão de fúria, talvez uma que nunca sentiu na vida até então. Seus punhos fecharam, suor corria pelas suas mãos e testa, seus olhos ousaram faiscar por um breve momento. Tudo o que ela queria naquele momento era ver a cara de Mitch sem dentes. Era tudo o que ela queria, mas...

— Se você contar para alguém, eu... — Ameaçou.

— Vai fazer o que? — Contestou o rapaz — Eu conheço você, Betty Utonium. É uma tigresa que ruge feroz, mas que nunca arranha ou morde.

Os punhos de Docinho se abriram e ela respirou tentando se acalmar mesmo a raiva ainda estando muito presente. Mitch finalizou a conversa com sorriso de vitorioso. Ele acenou para seus comparsas para tirar o pobre do Elmer da lixeira depois se dirigiu ao jovem todo ensebado de cola e lixo.

— Ei, papa-cola! Vamos fazer um trato. Eu não vou mais te encher o saco mas você não vai mais sair com essa ai. Seja lá o que rola entre vocês já era. Você fica longe dela e fica tudo de boa, OK? — Barganhou Mitch. — Acredite, eu estou te fazendo um favor enorme.

Elmer ficou paralisado por instante pensando na “proposta” de Mitch. Ele olhou para Docinho e ela viu sua expressão de medo e tristeza. O garoto não queria abandonar sua única amiga, a quem o defendia todos os dias, a quem ele admirava desde antes do ensino médio, mas, não tinha muita escolha. Ele não era forte como Docinho e não havia ninguém para salvá-lo. Ele balançou a cabeça e concordou com ele e depois foi caminhando de volta a porta dos fundos do colégio.

— Elmer, espera! — Berrou Docinho ao agarrar a mão de seu amigo. A última coisa que ela queria era que seu amigo sofresse por ela.

Elmer não olhou para trás com medo de encara-la novamente. — Desculpa, Docinho. Eu não te culpo por nada disso. Eu não quero fazer isso, mas talvez seja melhor assim.

Docinho soltou sua mão e ele voltou para dentro da escola. Mitch e seus amigos encrenqueiros adorando a sensação empolgante de vitória, foram embora, ignorando a aula que ainda tinha, que assistir enquanto a nossa Docinho, ficou sozinha. Completamente sozinha.

Toda aquela raiva que ela tinha engolido, de repente, se libertou de uma só vez. Seus olhos brilharam verdes de raiva, e ela se deixou dominar pela energia poderosa que tinha dentro dela. Ela pegou o latão de lixo com suas mãos brutas como se pesasse o mesmo que uma caneta e arremessou tão alto, mas tão alto, que ele saiu da estratosfera em alguns segundos. Ela gritou de raiva para que os céus a ouvissem e depois socou o chão ao se ajoelhar abrindo uma pequena rachadura. Com toda a sua raiva liberada, ajoelhada ali no chão, completamente sozinha, se deixou dominar pelas lágrimas.