Vamos interromper a história brevemente para uma analogia importante. Sabemos que foi uma explosão que mudou radicalmente a vida das trigêmeas Utonium e de seu pai cientista que desafiou as leis da natureza trazendo-as de volta a vida. Mas, agora uma nova estava prestes acontecer. Essa nova explosão será desencadeada por uma “bomba-relógio” conectada ao destino das meninas que mostra o tempo até o ponto onde tal evento irá acontecer. A contagem dessa bomba-relógio não mede o tempo real da história e sim um tempo fictício e totalmente fora de sincronia com a nossa percepção de tempo comum. Nesse relógio, a sua medição se deve as ações e acontecimentos com nossos indivíduos. A cada situação que ocorre o relógio anda. Sendo assim, afirmando que essa nova explosão aconteceria aos “00:00” em uma contagem regressiva, no momento em que o sinal tocou no colégio Midway High indicando o encerramento do primeiro dia de aula, a nossa bomba-relógio iniciou a sua contagem a partir de “05:00” e decaindo...

Com a aula finalizada, Docinho apressadamente pegou seus pertences e enfiou na mochila e foi a primeira a sair da sala.

— Ei, Docinho, onde vai com tanta pressa? — Gritou Florzinha.

— A minha aula de karatê, tá lembrada? Tenho que ir senão vou me atrasar! —Gritou de volta e sumindo na multidão de alunos.

— Tanta pressa por causa disso? — Questionou para o vento.

Assim que ela sumiu, Robin apareceu por trás de Florzinha segurando o caderno de Docinho. — Para onde a Docinho foi? Ela saiu com tanta pressa que esqueceu o caderno dela de baixo da carteira.

— É uma desleixada mesmo. — Afirmou Florzinha com tom de deboche. — Ela foi pra aula de Karatê. Pra ela é como se fosse a razão de sua vida. Pode deixar que eu devolvo pra ela quando chegarmos em casa.

04:45

(Música: Bad Reputation https://open.spotify.com/track/7pu8AhGUxHZSCWTkQ2eb5M)

A jovem rebelde desaparecida na multidão, foi para a rua atrás do colégio e de lá correu sutilmente para um beco escuro próximo verificando se não foi seguida ou se havia alguém bisbilhotando por perto. Percebendo que estava completamente sozinha, ela abriu sua mochila e tirou um agasalho com capuz e um lenço ambos negros como a noite. Ela colocou o lenço como uma máscara e depois vestiu o agasalho cobrindo seu cabelo com o capuz. Docinho respirou fundo por um instante, sentindo que finalmente poderia relaxar depois do dia angustiante que teve. Ela fez um rápido aquecimento, alongando as pernas e depois o braços e quando, por fim, ao se sentir solta o suficiente, ela agachou-se e concentrou toda a sua força nas pernas realizando em seguida, um longo salto, alto o suficiente para pousar quase instantaneamente no topo do prédio que deveria ter uns dez andares. Naquela altura, ela teve uma vista incrível do céu e da cidade. O sol estava se pondo e se escondendo no horizonte de edifícios e um belo crepúsculo que se formava no céu. Era lindo, mas Docinho não podia ficar para apreciar. Ela olhou para o prédio a frente que era ligeiramente mais alto, com talvez um ou dois andares de diferença e correu para pegar impulso e realizar outro salto. E ela o fez, e quando o fez, nossa bomba-relógio andou mais um pouco.

04:20

E assim ela foi, correndo e pulando de prédio á prédio, de edifício a edifício, as vezes realizando piruetas no ar, as vezes esquivando de obstáculos com estilo, como o se as leis da gravidade se aplicassem de forma diferente a ela, como se o mundo fosse o seu playground. Depois de cruzar toda a Townsville pulando até a noite estrelada predominar no céu, a jovem finalmente encontrou o seu destino. Um armazém antigo e abandonado. Não era o lugar para uma jovem de catorze anos comum perambular. Porém, Docinho não era nenhum pouco comum. Ela aterrissou no chão de uma queda de oito andares sem sofrer um arranhão. Ela andou até uma porta discreta do armazém abandonado e bateu três vezes e uma estranha figura atendeu a porta. Era um grandalhão obeso com um cabelo tigelinha que cobria seus olhos. Usava uma camisa com listras amarelas nas mangas, certamente menor que seu tamanho pois a parte do umbigo ficava de fora, e também uma calça jeans bem larga com um cinto de fivela branca.

— Quem é você? — Perguntou ele.

— Eu sou a Mange. Eu tenho uma...

O grandalhão a interrompeu rindo. — Não vai enganar Billy! Billy é esperto. Billy sabe que aqui não é lugar de garotinha. Billy não pode deixar entrar pirralhada intrometida e nem homens azul da lei.

— Do que você me chamou?! — Resmungou Docinho ficando aborrecida. Ela parou pra respirar um segundo para se acalmar. — Olha, será que da para chamar o Ace? Eu conheço ele e ele vai me deixar entrar.

— Hmmm.... — Pensou o grandalhão. E Ficou pensando e pensando por quase dois minutos o que deixou Docinho ainda mais irritada. — Tá bom. — Finalmente respondeu.

Ele fechou a porta na cara dela e berrou escandalosamente de lá de dentro.

— O ACE! TEM UMA GAROTINHA PIRRALHA AQUI QUERENDO ENTRAR. ELA DISSE PRO BILLY QUE CONHECE VOCÊ!

De lá no fundo, bem mais distante ouve-se uma outra voz respondendo. — É a Mange? Pode deixar entrar!

— OK!! — Berrou de novo e então ele abriu a porta para Docinho. — Pode entrar, garotinha.

— Valeu! — Disse Docinho franzida.

Docinho entra no que parece ser a saída de emergência da antiga fábrica que havia existido naquele terreno. Havia vários canos e goteiras por todo o lado e os passos dela faziam um eco um tanto incômodo no corredor. E falando em som, um pequeno som bem baixinho do que pareciam várias pessoas berrando mais no interior da fábrica podia ser ouvido como se uma festa estivesse sendo dada.

Vindo do fim desse corredor, um sujeito veio com uma mochila em suas mãos. Ele era moreno com cabelos que iam até quase os ombros, tinha uma pele pálida, usava óculos escuros e uma jaqueta de couro azul escuro e laranja. Tinha um queixo fino e pequenos pelos faciais de um bigode recém raspado. Esse era Ace e não tem muito o que se falar dele além de sua pose de adolescente descolado. Todos o conhecem mas ninguém sabe muito sobre ele. Dizem que se alguém quisesse ganhar dinheiro fácil, mesmo de forma imoral ou criminosa, o primeiro passo era falar com ele. Ele não era rico, mas por conta de ter tantos contatos no submundo da cidade ele sempre tinha uma boa grana a disposição. Apesar de suas relações com o crime, ele não era mal. Apenas ganancioso e cheio de segundas intenções, entretanto, dizem que ele tem uma gangue e todos que entram nela são bem protegidos até mesmo de outros criminosos.

E o agora você se pergunta: O que Docinho está fazendo com um sujeito tão imprevisível? Bem... você verá, enquanto isso, nosso relógio anda mais um pouco.

03:30

— Desculpa pelo Big Billy. — Disse Ace. — Ele é novo e está aprendendo ainda. Ele é um cara legal mas... sabe como é... Na bunda dele circula mais sangue que na cabeça. Então, como vai a minha maravilhosa estrela favorita?

— Sem bajulações, Ace. Por favor! — Pediu Docinho. — Você trouxe o uniforme?

— Tá bem aqui! — Respondeu lhe entregando a mochila que estava em suas mãos. — Olha, só quero lembrar que esse uniforme segue todas as condições que você exigiu. Não tem o que reclamar.

Docinho abriu o zíper da mochila e de uma boa olhada no uniforme que iria usar.

— É sério isso?! — Reclamou Docinho. — Só pode ser brincadeira. Isso aqui tá ridículo!

— Você não tá vendo o conjunto todo. Você tem que ver com o manto, ele faz toda a diferença. — Argumentou.

— Eu queria parecer uma guerreira fodona e não uma vadia dominatrix!

— Se você não curtiu esse deveria ver o que os chefes queriam que você usasse. Era quase como se você não usasse nada. Eu te quebrei o maior galho ai. — Defendeu-se.

— Às vezes eu esqueço que trabalho com homens... — Ela resmungou e depois aceitou a situação. — Olha, eu espero que o manto faça diferença como você falou.

— Faz sim. Olha só, seu traje foi feita pela melhor das melhores: A Snake. Ela sabe o que faz, vai por mim.

— Ok. Agradeça a ela por mim. — Pediu Docinho.

— Ótimo. Agora vamos. Está quase na sua vez e o lance hoje é brabo.

Os dois andaram até um parapeito. Onde se podia ver toda a fonte do barulho. Era de uma enorme arena de luta. Dois homens mascarados lutavam um contra o outro enquanto uma pequena multidão se empolgava com confronto aos arredores do ringue. Eles seguravam cartazes, gritavam nomes e berravam a cada golpe que um dava no outro. Sobre o ringue a havia diversos holofotes que iluminavam a luta e entre eles, escondido nas sombras havia uma misteriosa figura encapuzada que comia um saco de salgadinhos assistindo a luta no alto e no clandestino. Não se conseguia ver nada dela a não ser suas mãos bestiais esverdeadas evidentemente incomuns. Docinho não percebeu a existência da criatura misteriosa, mas, ela a reconheceu quando a viu se aproximar do ringue.

Ace se apoiou no parapeito e apontou para um sujeito no meio da multidão. Era um homem alto, barbudo, meio barrigudo mas não menos bruto. Usava apenas um macacão e um chapéu típico de fazendeiro e assistia a luta uma expressão de mal humor. — Tá vendo aquele cara ali? Aquele é o Fuzzy. A “galera” chama ele de Fuzzy Confusão. Ele mora nas fazendas do interior da cidade. Ele tem negócios com produção e venda de drogas. Dizem que se olhar torto pra ele ou se ficar no caminho de seus negócios, ele te mata com a espingarda de estimação dele.

— E você tá me contando isso por que? — Perguntou Docinho.

— Porque ele apostou uma boa grana em você.

— Sério?

— Sim. E olha que isso não é feitio dele. — Explicou Ace. — Ele é do tipo “Republicano Burro”. Certamente é um “defensor” raça branca oprimida se é que me entende. Um “cara das antigas”.

— Que nojo! — Exclamou Docinho. — E por que esse sujeito apostou em mim?

— Porque eu, como seu a gente, o convenci de que você é “especial”.

— Já entendi. — Afirmou a garota entendendo a situação. — Você precisa que eu ganhe?

— Sim. Eu preciso que você lute como se sua vida dependesse disso. Melhor ainda, preciso que lute como se a MINHA vida dependesse disso. Porque ela depende e depende muito mesmo. Não pense nisso como uma pressão pense mais como uma...motivação a mais.

— Ótimo. Era tudo o que eu precisava. — Ironizou Docinho.

— Beleza. Agora, vá se trocar garota. Tá na hora da luta!

02:50

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— Senhoras e Senhores! — Gritou o apresentador para plateia clandestina que berrava e gritava ao ser consumida pela euforia do momento. — Com vocês, a nossa luta principal da noite! Do lado direito, temos um grande campeão bem conhecido, o poderoso, o bruto, tão imponente quanto fedido, vindo do norte do México, o lutador mascarado, EL PULGA! — Berrou o apresentador e em seguida o próprio subiu no ringue.

Era um homem de dois metros e meio de altura. Usava uma malha marrou e uma máscara de lutador mexicano com antenas costuradas que remetiam a um inseto. Ele era um tanto obeso com sua barriga sutilmente “vazando” do seu uniforme que quase não lhe servia bem. Entretanto, isso não intimidava menos os seus grandes e musculosos braços que poderiam esmagar um homem normal apenas com um abraço.

— Do lado direito temos uma flor, mas, não uma delicada, uma flor espinhosa e venenosa. Não se deixem enganar pela sua pouca experiencia ou tamanho. Ela derrotou todos aqueles que a enfrentaram neste ringue. Com vocês, a pequena senhora das trevas, a guerreira da noite, a graciosa e mortal, Mange!

Docinho subiu no palco usando um traje preto com manto escuro. Usava uma máscara que cobria a sua boca e nariz junto a uns ósculos de lentes verdes brilhantes que lembravam vagamente óculos de mergulho. No peito usava um espartilho, embaixo, calças elásticas e um par de botas militares e um par de luvas de UFC, todos pretos. Tudo sendo coberto por um longo manto negro com um capuz sobre sua cabeça que lhe dava um ar misterioso. Parecia uma personagem de um jogo de luta violento pronta para esmagar seu oponente. Agora, já não era mais a Docinho, agora era a Mange.

— Eu juro que depois dessa luta eu vou socar a cara do Ace! Mas, até que ele tinha razão, o manto deu toque bem legal. — Pensou.

Mange encarou seu oponente, percebendo a diferença de altura entre os dois. Era como uma versão de “Davi e Golias”. El Pulga sorriu maleficamente revelando seus dentes podres e quase caindo da boca

Te aplastaré como una mosca. Pequeña perra! — Disse ele em espanhol. — Si sobrevives te haré mi muñequita. Prometo ser gentil para no lastimar demasiado la carita detrás de esta máscara.

Docinho era péssima em espanhol, contudo, sabia reconhecer uma ofensa ou provocação em qualquer língua.

— Preparados? — Perguntou o juiz que impedia os dois de trocarem socos agora mesmo.

— Eu nasci pronta. — Respondeu Mange. El Pulga apenas respondeu com sorriso maligno que exponha seus dentes feios.

— Quero uma luta limpa. Nada de mordidas ou arranhões. — Esclareceu o Juiz e os dois lutadores concordaram acenando a cabeça. — Ótimo. Que a luta comece!

Quando o sino tocou anunciando o início da luta, o nosso relógio marcou exatos:

02:00

Música: Confident

(https://open.spotify.com/track/0Mn3amMRMoabaoTf1Publ4?si=ZD8H09ycTEGlW16Uv9ey0A)

El Pulga deu o primeiro avanço. Ele correu até Mange com os punhos cerrados preparado para dar um belo gancho de direita com seus braços enormes cheios de musculo e gordura. Porém, quando achou que seus punhos iriam acertar o rosto da menina ela se esquivou, quase em um piscar de olhos. Seu corpo tombou para frente e quase caiu no chão, mas rapidamente o grandalhão recuperou o seu equilíbrio e já avançou para realizar outro. Ele investe em um novo ataque, mas novamente a garota se esquiva facilmente. Já irritado, El Pulga investe em uma série de ataques com seus punhos, mas, mesmo assim, Mange continua se esquivando como se para ela ele fosse tão lerdo quanto uma tartaruga. Ele rapidamente levanta seus dois imensos braços para esmaga-la, mas ela se esquiva com salto mortal para atrás fazendo ele golpear o chão vazio.

01:41

No podrás esquivar para siempre. ¿Que pasó? ¿Tienes miedo de pelear? No esperaba nada diferente de una niña pequena — Provocou El Pulga e depois riu.

Novamente, Mange não entendeu nada do que ele dissera, mas tomou como ofensa mesmo assim. Ela avançou até ele e deu um longo salto se preparando para dar um pontapé certeiro no rosto do grandalhão, mas antes disso acontecer, ele pegou no tornozelo da menina no ar e a puxou para o baixo fazendo ela dar um belo beijo no chão do ringue. Enquanto ela estava no chão ele pega em suas pernas e realiza um arremesso de martelo com corpo de Mange. A jovem cai de cara em uma das bordas do ringue que era bem duras e fica desnorteada temporariamente.

01:23

O público foi à loucura. Inúmeros levantavam cartazes e berravam o nome “El Pulga” várias e várias vezes. O gigante ficou empolgado e gritou para os seus fãs. Na arquibancada, Ace grunhiu de nervosismo ao ver Fuzzy Confusão olhando franzido para ele. A criatura estranha que observava a luta por cima ficou inconformada. Todavia, a empolgação e indignação diminuiu quando Mange mostrou que ainda conseguia se mover o que deixou El Pulga ainda mais nervoso.

— Acaba logo com essa fedelha! — Disse alguém no meio da multidão do público ao jogar um soco inglês com espinhos na borda para o grandalhão.

Ele o colocou em sua mão direita e agarrou Mange, que ainda estava desorientada, com a outra mão e a golpeou a toda força com o soco inglês. Não foi uma, nem duas, mas três vezes. Os socos foram tão fortes que a plateia pode ouvir o som do metal e o terceiro golpe pegou tanta velocidade que um dos espinhos da ferramenta conseguiu rasgar um pedaço da máscara da menina e quebrar a lente esquerda.

00:55

— O Juiz!! — Berrou Ace. — Isso ai é contra as regras. Ele tá jogando sujo. Não vai fazer nada?

— Eu disse que não pode ter arranhões e mordidas. — Explicou o Juiz. — Não tem nada nas regras sobre um soco inglês.

Todavia, Mange ainda estava se mexendo o que só elevou a fúria do grandalhão mexicano.

¡Que pena! Esperaba que te convirtieras en mi nuevo juguete. Pero creo que te voy a aplastar — Disse El Pulga.

Com a postura de um campeão, El Pulga ergue a pequena e a mostra para a o público que gritava o seu nome ainda mais eufórico esperando um golpe final. Por fim, em sua demonstração final de sua força furiosa e bruta, El Pulga realiza um golpe preciso de seu joelho maciço sobre as costa da pobre garota pressionando-a sobre ele e então um som forte de ossos se partindo é ouvido. Logo depois se desfaz de sua inimiga, jogando-o ao chão sem misericórdia.

00:33

El Pulga berra pela vitória animado e orgulhoso por mais um dia invicto. Contudo, ele percebe que sua comemoração foi precipitada, pois ao olhar para trás vê a garota vestida de manto preto ainda tentando se levantar e logo sua ira retorna ainda mais intensa. Entretanto, quando ele caminha um passo à frente, ele sente uma dor forte do joelho que não conseguia entender. Era o mesmo que usou para golpear a menina. Ele olha para o soco inglês em sua mão esquerda e se assusta ao perceber que todos os espinhos dele tinham sido amaçados e dobrados. Como se tivesse sido usados em algo mais duro do que eles. — Como isso é possível?! — Ele pensou em espanhol. A menina ainda estava consciente e se mexendo e aparentemente nada do que ele fez surtiu algum efeito. Enquanto isso, próximo ao teto, a aquela estranha criatura de mãos verdes e peludas inconformada começou a pular no mesmo lugar como um primata nervoso.

— Vamos garota! Não se contenha mais. — Disse a estranha criatura para o ninguém. — Mostre a eles a sua força!

¿Qué está pasando? ¿Qué clase de monstruo eres? No importa. ¡Esto terminará ahora! — Disse o grandalhão.

Ignorando por completo a dor no joelho, El Pulga investiu em um último ataque. Ele parte pra cima para realizar um outro gancho de direita em Mange que estava de joelhos tentando se levantar. Mas, quando chegou bem perto de realizar seu ataque, ele sentiu sua mão batendo em algo bem duro como se estivesse socado uma parede. Ele não acreditou em seus olhos. A menina segurou o soco com uma força desigual. O braço dele era de gigante mas não se comparava força dela. Ela se levantou enquanto segurava o braço bruto e enorme dele e ficou de pé como se não tivesse sentido absolutamente nada em seu corpo, nem ao menos um incomodo. Ela o encarou e ele ficou com uma expressão de pavor em seu rosto ao ver os olhos escondidos de baixo do capuz. Ele viu pela parte rasgada e com a lente arrancada de sua máscara uma expressão de fúria nunca vista antes. Ele viu um olho humano brilhando verde e faiscando pequenos raios de poder e imaginou que estava diante do próprio inferno encarando o próprio diabo.

No eres humano ¡¿Quién eres tú?! — Disse ele.

Docinho cerrou seu outro punho e antes de dar um golpe que ninguém naquele ringue havia dado antes ela disse:

— EU SOU A MANGE SEU FILHO DA PUTA!!

E com um gancho de direita acertando o queixo El Pulga, ela o arremessa para o alto e ele voa vários metros à frente junto com vários de seus dentes podres arrancados e cai sobre a plateia inconsciente. A luta acabou. O juiz subiu ao palco para anunciar a vencedora. Todos berram o nome dela várias vezes enquanto Docinho gritava com os braços elevados por saber que ainda estava invicta. Mais tarde, quando o calor do momento passou ela vestiu novamente suas roupas normais e se encontrou novamente com Ace próximo à saída.

— Vem aqui minha campeã! — Disse Ace ao surpreender Docinho com abraço.

Hey! Sem exagero, ok? — Pediu Docinho corando pelo abraço recebido.

— Desculpa. — Disse Ace. — Você foi incrível. Por um instante eu achei que você ia perder.

— Você me conhece...

— Você deu um show pra eles, cara! — Elogiou. — O Fuzzy pagou até um bônus para mim. Falando nisso, aqui está a sua parte.

— Valeu. — Agradeceu ao pegar a mala com dinheiro. — Bom... eu já vou indo.

— Vai pela sombra Mange.

— Obrigada.

Docinho não podia estar mais feliz. Continuou invicta, recebeu uma boa grana e se sentiu como ela mesma como nunca se sentira. Não conseguia parar de sorrir de felicidade enquanto caminhava para saída. Contudo, a felicidade duraria pouco, pois o nosso relógio ainda rodava e estava bem perto de seu fim.

00:10, 09, 08, 07, 06, 05, 04...

Docinho abriu a porta dos fundos feliz como uma criança no natal. Todavia, seu sorriso desmanchou ao se surpreender com duas pessoas conhecidas que a aguardavam bem em frente a saída com expressões muito zangadas.

— Como vai, Docinho. Ou devo dizer “Mange”? — Disse Florzinha.

— Foi uma bela luta, “Mange”. — Disse Lindinha.

...03, 02, 01

— Merda!

Boom!