CN Beyond: Elemento X

Confronto X – Parte 2


No epicentro da batalha, a maior das criaturas mutantes realizava a maior das destruições. A besta tinha por volta de 60 metros de altura, tinha uma anatomia semelhante a um peixe baiacu, com escamas e espinhos vermelho-escarlates, dez olhos enormes em seu rosto em formato de balão, dentes afiados como os de um tubarão e uma cauda longa como a de um dinossauro. Seus gigantescos passos causavam tremores e esmagavam tudo que havia em seu caminho. A criatura que parecia ter vindo de filmes de monstros japoneses, tinha a habilidade de respirar fogo espalhando incêndios por toda a cidade. Apesar de sua aparência horrível, mantinha certa inteligência mesmo que afetada. Era difícil acreditar que tal colosso já havia sido um ser humano algumas horas atrás.

Por sorte, as pessoas da cidade tinham a vantagem de fugir mais fácil dele, pois apesar de seu enorme tamanho e poder destrutivo, era significativamente lento, então muitos conseguiam escapar de sua ira se fossem espertos e rápidos o suficiente. No entanto, nem mesmo a lentidão o tornava um adversário mais fácil para Docinho que lutava contra a criatura durante os últimos 27 minutos, não conseguindo sequer causar um arranhão no monstro.

A garota de olhos verdes seguiu voando tentando usar a velocidade para aumentar o poder de seus socos e no momento que quebrou a barreira do som, deu um poderoso golpe na criatura. Todavia, o golpe só empurrou a criatura e a fez bater de cara em um prédio e sem lhe causar nenhum dano significativo. O colosso vermelho ficou furioso, encarando a menina com seus dez olhos enormes. Ele estava de saco cheio dela tanto quanto Docinho estava de saco cheio dele. Ele levanta sua mão escamosa com membranas natatórias entre os dedos e dá uma poderosa bofetada na menina que a faz despencar no chão e cair em cima de um estacionamento velho de dois andares. Tão forte foi o golpe, que Docinho atravessou todos eles e foi parar no andar do subsolo. Ainda não satisfeito e querendo se livrar da jovem Utonium de vez, a criatura empurrou um prédio vizinho que ficava bem ao lado do estacionamento que tinha uns quarenta andares. A criatura o empurrou como se ele fosse feito de blocos de montar para crianças e o fez despencar bem em cima do estacionamento, esmagando com de milhares toneladas qualquer coisa que estivesse ali.

Após alguns minutos esperando algo acontecer, a criatura foi embora, saindo vitoriosa da batalha e retornando para a destruição que estava fazendo. Já Docinho, após expelir várias vezes poeira e reboco conseguiu perceber a situação em que estava. Ela estava quase ajoelhada e sobre ela estavam toneladas e toneladas de concreto e aço do que foi antes o estacionamento e o prédio derrubado pelo monstro, tudo sendo segurado pelos seus braços e ombros.

— Acho que poderia ter sido pior. — Brincou a jovem morena. No entanto, para sua surpresa a situação poderia sim piorar mais.

— Socorro! — Gritou uma voz que vinha de um canto. — Por favor, alguém me ajude.

Docinho não conseguiu sair da posição, se largasse todos aqueles escombros, seria esmagada, mas conseguia ouvir claramente com sua audição. Era a voz de um homem de uns quarenta anos que ficou preso ali junto com ela debaixo de tudo aquilo.

— Quem tá ai? — Perguntou ela.

— Eu sou o Mark. — Gritou ele. — Minha esposa está aqui do meu lado, uma pedra caiu na cabeça dela e ela desmaiou. Ela precisa de um médico.

— Que merda, viu Mark? — Ela resmungou sentindo um gigantesco desconforto e exaustão por sustentar tantas toneladas. — O que tava fazendo aqui?

— Nós nos escondemos, por causa do monstro. Achamos que aqui fosse seguro. — Ela ouviu.

Docinho tentou usar suas forças dos joelhos para levantar tudo aquilo, mas bastou mover um centímetro para cima que os destroços começaram a escorregar mais rápido ao chão superando sua força. O resultado foi que os destroços ficaram mais dez centímetros mais perto de suas cabeças. Uma barra de metal quebrada quase atravessou a cabeça de Mark que estava com sua esposa no colo.

— MERDA CARALHO PORRA DESGRAÇA PUTA QUE PARIU BUCETAAAAAAAAAAAA — Ela berrou raivosa e ofegante sentindo dor e exaustão devido todo aquele peso.

— O que vamos fazer agora? — Perguntou o homem.

Docinho parou para pensar e respirar e teve uma ideia. — Já sei! Mark, você consegue se mexer?

— Eu consigo andar, mas não sei se consigo me mover nesse espaço tão estreito.

— Consegue vir até mim?

— Acho que sim, mas não quero sair do lado da minha esposa. — Ele retrucou.

— Nossa cara! Maridão você, viu Mark? Quer morrer do lado da sua esposa, mas não quer fazer o mínimo para que os dois saiam vivos dessa. — Docinho resmungou. — Anda logo porra! Vem aqui e pega o comunicador no meu bolso.

E Mark obedeceu colocando a cabeça de sua esposa desacordada com cuidado no chão e engatinhando até Docinho desviando de detritos e tomando cuidado com o espaço curto. Por fim, ele consegue chegar até ela.

— Sabe, para uma adolescente você é bem grossa e agressiva. — Disse o homem que agora Docinho podia ver como um senhor careca, pele marrom e de uns quarenta anos de idade,

— Foi mal cara. É meio difícil para mim ser simpática quanto tem a porra de um prédio nas suas costas! — A morena ironizou berrando com a voz arrastada.

Mark consegue pegar o comunicador que era um dispositivo de bolso que entrava em contato apenas com uma pessoa. Docinho odiava fazer isso, mas era a única forma de ajudar aquelas pessoas. Ela precisava admitir que precisava de ajuda.

Em paralelo, do outro lado da cidade próximo a um parque que havia nos limites da cidade, um grupo de policiais havia criado uma barricada usando carros e homens com escudos anti-motim em torno do perímetro local para proteger os civis que haviam se perdido no meio do caos. Como era mais distante dos centros, havia menos bandidos e mutantes por perto além de longe o suficiente de um possível bombardeiro do governo federal. No entanto, o plano só deu certo por um período, pois cada vez mais mutantes foram aparecendo para ir até o tal parque. Até o momento, os policiais estavam dando conta da tarefa. Como reforço, havia um policial em posição de franco-atirador em cima de um prédio bem ao lado do parque, usando sua arma de precisão para vigiar, alertar e eliminar certas ameaças. Este policial tinha cabelos loiros e usava uma jaqueta moletom laranja por baixo do colete à prova de balas. Usando a luneta de sua sniper, ele observou uma dupla de mutantes andando a uns três quarteirões. Um era um gigante careca quase pelado e outro era uma mulher que atirava fogo pelas mãos. Eles pareciam estar apenas quebrando coisas aleatórias se divertindo muito com isso e pareciam estar totalmente alienados ao exército do outro lado da rua.

— Aqui é o 04 para Abelha Rainha, eu tô vendo dois alterados a uns três quarteirões. — Ele alertou em seu rádio. — Eles parecem não estar vindo para cá. Acho que estão chapados.

O que eu disse sobre esse codinome? Ele é péssimo... Não faça nada por hora, 04. — Ordenou a comissária, sua superiora, pelo rádio. — Só atire neles se vierem para cá, do contrário, o tiro irá chamar a atenção deles.

— Entendido. — Ele afirmou. — Desculpe o apelido, chefe. Eu estou meio nervoso. Não paro de pensar na patroa. Ela ficou de plantão no hospital nessa crise. Ela disse estar segura, mas...

— “Todos nós estamos preocupados, Sargento Beatles”.

No parque, a Agente Sarah Bellum estava prestando alguns socorros a alguns civis que se machucaram levemente durante os confrontos. Ela enfaixava com uma gaze um dos braços de uma menina de onze anos que chorava muito por causa de uma queimadura leve.

— Pronto. Assim, vai sarar logo. — Bellum disse à menina que rapidamente lhe agradeceu com um alegre sorriso e um abraço inocente.

A Comissária de polícia observou a ação de Bellum e estranhou o curioso talento da mulher.

— Você além de agente do FBI é médica? — A Comissária perguntou presunçosamente.

— Não, mas aprendi algumas coisas na marra durante a guerra. — Ela respondeu com uma certa arrogância. — Alguma atualização, Comissária Snyder?

— Segundo o nosso vigia, Wally, tem dois alterados aqui perto, mas não estão vindo para cá. Mandei que ele só fizesse algo caso os dois se aproximassem.

— Sábia decisão. — Elogiou a bela agente.

— Sabe, meus policiais estão muito cansados e preocupados. — desabafou a policial Snyder. — Essa incerteza está nos afetando. Muitos deles têm famílias, inclusive eu. Eu tenho uma filha de catorze anos que está em um ônibus nesse minuto e não posso falar com ela.

— Não se preocupe, temos algumas cartas na mesa que podem virar esse jogo e ainda temos tempo até o bombardeio começar. — Afirmou Bellum demonstrando um estranho otimismo.

— Não acha que está sendo otimista demais, Agente Bellum? — Questionou a Comissária Snyder.

— Eu acho que aprendi a enxergar esperança mesmo nas piores crises. É outra coisa que aprendi na marra durante a guerra.

De repente, ouvi-se um som de hélices no ar que anunciava a chegada de uma frota de helicópteros militares bem em cima das cabeças dos que estavam no parque. Os helicópteros pousaram em cima de um campo de flores que havia dentro do parque e dele saiu uma frota de soldados militares armados e o próprio Professor Utonium acompanhado deles. Por cima de seu jaleco de prisioneiro laranja, Professor Utonium usava um colete à prova de balas.

— Alguém pediu um Antídoto X? — Brincou o cientista anunciando sua chegada.

Um dos helicópteros despejou dois caixotes enormes, uma vermelha e outra azul com quase a altura de uma pessoa adulta e a largura de um carro compacto. Com rapidez e perfeita precisão, os militares abriram os caixotes e dentro do azul havia diversas malas com duas dúzias de pequenas seringas especiais em formato de munição de bala dentro. Quando abriram o vermelho, dentro dele havia diversas armas modificadas especialmente para disparar as tais seringas, e ligeiramente, a agente Bellum pegou uma a uma e distribuiu aos colegas policiais.

— Estou muito impressionada, Professor. — Elogiou a agente ruiva.

— Cada bala tem a quantidade necessária para anular os efeitos do Elemento X. — Explicou Utonium. — Desde é claro que tenha sido dentro do período das doze horas.

— Bellum! — Berrou a Comissária Snyder. — Um alterado está vindo em nossa direção e ele é um dos grandões. Estamos tentando abatê-lo, mas parece que ele tem algum tipo de poder regenerativo.

Bellum viu e ouviu os barulhos do tiroteio da barricada de policiais armados que tentavam parar um homem careca de dois metros e meio, pelado da cintura pra cima com apenas um olho só em sua cara que corria em direção ao parque com muita raiva e ferocidade. As balas o atingiam, mas em segundos os buracos eram fechados em uma velocidade impressionante. Reagindo de imediato, Bellum pegou uma das novas armas e foi andando em direção ao tiroteio enquanto carregava-a com as balas especiais de Antídoto X. Querendo alertar a moça, o Professor Utonium a acompanhou até a barricada.

— Srta. Bellum, eu acho que seria conveniente alertar a senhorita agora que apesar de eu ter concluído o Antídoto X, eu não tive muito tempo e recurso para realizar testes. Então, eu temo que haja a possibilidade de...

— Cessar Fogo! — Ordenou Bellum aos policiais ignorando o aviso do Utonium.

Os policiais pararam de atirar e abriram caminho para a mulher de vermelho passar entre seus escudos de antimotim. Bellum levantou sua arma e mirou na criatura que corria furiosa em sua direção. Por um instante, ela trocou olhares com a criatura furiosa e não demonstrou qualquer medo e ou pânico. Por fim, mirou no enorme ombro direito do ciclope e apertou o gatilho.

BANG!

Um disparo foi dado, acertando a criatura bem no local exato de seu ombro e ela desmaiou na hora, caindo inconsciente no chão há 2 centímetros de Sarah Bellum. A comissária, o Professor, Bellum e todos os policiais olharam curiosos para a criatura testemunhando sua transformação. O bicho encolheu tanto em fisionomia quanto em tamanho, retornando a suas características humanas originais, sem qualquer anormalidade. No final, só sobrou um coitado só de cueca desmaiado no chão.

— Está aí o seu teste Professor. Parece que seu antídoto X funciona. — Brincou Bellum.

Utonium sorriu e deu uma risada não acreditando que tinha realmente funcionado. Uma onda de animação e esperança se espalhou entre os policiais e militares até chegar a comissária.

— Atenção, Homens. — Chamou Snyder. — A cura do Professor Utonium funciona. Ela é a nossa melhor arma. Chegou o momento de nos levantarmos e tomarmos a nossa cidade de volta!

— Sim! — Berram todos ali emocionados e esperançosos e cheios de determinação para salvar sua cidade dessa confusão científica causada por Caco. O jogo estava verdadeiramente virando para eles. Professor Utonium ficou emocionado com a cena que via e olhou para as estrelas e pensou em sua esposa. Era essa a sensação que eles queriam trazer ao mundo quando se tornaram cientistas, ver o olhar das pessoas quando a ciência resolve seus problemas. Quando bem usada, a ciência podia fazer milagres. No entanto, apesar da esperança trazida com o antídoto X, a situação estava longe de se terminar.

Em meio à euforia, Senhorita Bellum ouviu seu quase sutil barulho do comunicador tocar e imaginou que só poderia ser uma das meninas. Quando atendeu surpreendeu-se ao ouvir a voz de um homem estranho que disse que se chamava Mark...

Dois minutos depois, Sarah foi até Utonium que imediatamente percebeu o olhar preocupado da mulher e ele inseguro perguntou a ela:

— O que aconteceu?

— É a Docinho. Está com problemas.

Retornamos ao outro lado da cidade, onde a nossa jovem rebelde de cabelos pretos, sustentava por um fio toneladas de metal e concreto direto em suas costas, impedindo de caírem bem cima de um homem e sua esposa desacordada.

— E ai? Falou com alguém? — Perguntou Docinho.

— Falei com uma tal de Agente Bellum. — Respondeu Mark.

Docinho” Uma voz no comunicador surgiu e na hora, Mark colocou o comunicador no viva voz.

“Docinho, você está me ouvindo?” Chamava Utonium pelo comunicador.

Mark rastejou pelo chão e tentou colocar o comunicador mais perto possível da jovem Utonium para que ele captasse sua voz.

— Pai, eu preciso de ajuda. Preciso da Florzinha e da Lindinha. — Confessou a menina durona admitindo sua fragilidade pela primeira vez. — Eu não posso sair daqui sozinha. Tem pessoas aqui que podem morrer...

Lindinha e Florzinha estão ocupadas lidando com outras ameaças. A ajuda pode demorar” Respondeu Bellum que também ouvia a conversa.

— Eu não consigo. Não sei quanto tempo posso aguentar. Eu preciso delas! — Ela suplicou sentindo exaustão dos músculos aumentando.

Do outro lado do rádio, o pai Utonium fez alguns segundos de silêncio para pensar no que dizer a sua filha. Docinho precisava dele e ele tinha que ajudá-la de alguma forma, mas como?

“Docinho, escute o que vou te dizer: Suas irmãs não podem te ajudar agora. Você vai ter que se virar sozinha”

— Eu não consigo. Não sou como elas. — Admitiu a garota que começou a escorrer gotas de lágrimas dos olhos e apesar de não ver, seu pai sabia que ela estava emotiva apenas ao ouvir os tons de sua voz.

( Trilha Sonora: I'm All Fired Up - Pinar Toprak )

“Escute, Docinho. Você não é igual as suas irmãs, assim como elas não são iguais a você. Cada uma é especial do seu jeito. Você não é como elas, você é você. Se existe algum problema aqui, fui eu. Eu falhei com vocês. Eu estudei vocês e sempre soube o que podiam fazer. Existe em cada uma de vocês uma força, uma energia assustadoramente poderosa que poderia ser capaz de energizar um continente inteiro. Ela é quem alimenta seus poderes. Mas, eu tive medo. Medo que se o mundo as descobrisse nós seríamos separados outra vez. Tive medo que o mundo não amasse vocês como eu amava. Eu ensinei vocês a se conterem, a viverem com as mãos amarradas, a ignorarem o que vocês haviam se tornado para que continuássemos sendo uma família. Só que isso foi um erro e eu vou reparar ensinando vocês a se libertar”

— O que eu faço? — Ela perguntou emocionada e mais calma com as palavras do pai.

“Eu quero que você respire. Ignore tudo, ouça só o som da minha voz…” Disse o cientista pelo comunicador. “Respire fundo, concentre-se e você poderá senti-lo”

E Docinho fechou os olhos e inspirou e expirou, inspirou e expirou, inspirou e expirou repetidas vezes, calmamente e concentrada em seus próprios pensamentos. Quando abriu os olhos de novo eles brilharam verdes de raiva e tudo mudou.

— Eu sinto! — Ela gritou de empolgação. — Eu sinto o poder.

Ela sentiu algo familiar nele, como se já tivesse o sentido antes, várias vezes, quando lutava nos ringues clandestinos como Mange. Ela se lembrou que sempre sentiu isso vindo de alguma forma, mas se segurava no final. Porém, agora ela não precisava mais se segurar.

O corpo da adolescente começou a emitir um brilho faiscante esverdeado incomum e uma aura verde cresceu em torno de sua silhueta. De repente, as toneladas de metal e concreto não pareciam mais tão pesadas. Mark percebeu uma movimentação nos escombros em sua cabeça e correu até sua esposa, parecia que um terremoto iria acontecer outra vez. No entanto, na verdade era Docinho que agora tinha conseguido esticar as pernas com facilidade.

De repente, os destroços não só pareciam mais leves, como o corpo dela parecia estar flutuando. Ela estava voando a meio metro do chão e quando percebeu, Docinho se emocionou.

— Eu estou conseguindo. É como nas vezes que eu lutava, só que agora eu… me sinto mais livre do que antes.

“Isso filha! É isso que estava falando. Você não é como suas irmãs, por que você nasceu para ser uma lutadora. Isso é você, é quem você é” A jovem não via, mas seu pai pulava de alegria e orgulho.

Docinho começou a flutuar cada vez mais alto, erguendo toneladas e toneladas de metal e concreto em seus ombros e costas como uma super-heroína superpoderosa de verdade. Mark apenas viu tudo aquele amontoado de destroços se distanciando cada vez mais dele e sua mulher e ficou aliviado e grato. De repente, o homem de quarenta anos vê uma abertura desbloqueada nas paredes quebradas que levava a uma escada para sair daquele lugar destroçado. Ele colocou a esposa nos braços e foi correndo para a saída.

— Muito obrigado, garota verde! — Ele agradeceu ao ir embora.

Docinho apenas sorriu para ele e continuou a subir e subir. De repente, ela percebeu que estava a mais de meio quilômetro do chão e que estava voando sobre a cidade, carregando toneladas de um prédio de 40 andares e mais muitas outras coisas, tudo sobre ombros e o mais estranho é que não parecia nenhum pouco pesado. Esse era o verdadeiro poder que a natureza havia lhe dado. Isso era quem ela era.

Quem olhava de longe via um prédio de 40 andares deitado sobre o ar flutuando sozinho no meio da cidade de forma quase que fantasmagórica, mas era Docinho o erguendo quase sem nenhum esforço. O evento curioso chamou a atenção daquele monstro peixe vermelho gigante de antes que olhou para trás e viu aquele prédio flutuando sobre seus olhos, o mesmo prédio que jogou em Docinho. O monstro não acreditou no que viu, seus dez olhos se esbugalharam chocados e sua boca beiçuda cheia de dentes ficou em formato de “O”. De lá do alto, segurando todo aquele peso, a jovem Utonium olhou para o seu monstro e viu aquele medo nos seus dez olhos. Ela estava muito acima dele em vários sentidos e agora o monstro sabia disso.

— Então, você gosta de jogar prédios nas pessoas? — Ela disse ao monstrengo gigante. — O que acha disso?

Com um forte impulso em suas mãos, ela jogou todas aquelas toneladas de concreto e metal distribuídos em quase quarenta andares de prédio bem na cara do monstrengo aquático gigante. Com o impacto, ele tombou para trás e caiu em cima de um campo de basebol, ficando completamente inconsciente.

Docinho pousou no chão bem perto da criatura derrotada e sua aura verde se esvaiu lentamente. Sentia-se confiante como nunca se sentiu na vida. Sentiu-se como um pássaro que acabou de sair de sua gaiola. Percebeu que se lutasse, poderia conseguir qualquer coisa. Afinal ela era uma boa lutadora e sabia disso agora. Ela retornou ao céu e disparou em flash verde indo esmurrar outros monstros.

— Ela conseguiu! — Berrou Utonium do outro lado da cidade ao saber da vitória de sua filha — A minha menina conseguiu!

Tão empolgado e orgulhoso ficou o homem que abraçou a primeira pessoa que viu pela frente, que no caso foi a Agente Bellum que estranhou o gesto inesperado, mas não se incomodou. Deu-lhe em retribuição um tapinha de amigo nas costas.

— Ops! — Disse o cientista ao se dar conta do abraço inesperado e rapidamente o desfaz. — Eu me empolguei, desculpa.

— Não foi nada. — Bellum disse amigavelmente — Foi legal o momento, mas temos que nos concentrar. Precisamos achar aquele macaco. Tem alguma teoria, Prof?

Professor Utonium bufou e respirou fundo para se lamentar mais uma vez. — Honestamente, não. Mas, acho que posso tentar entendê-lo, pensar como ele.

— O que quer dizer? — Indagou a agente do FBI que ficou confusa. — Acha que consegue pensar como ele?

— Mais ou menos. — E Utonium explicou. — Na verdade, Caco e eu não somos muito diferentes. Para ser honesto, eu temo que Caco seja assim por minha causa. Ele é o que eu era a seis anos atrás: Um homem brilhante, solitário, perdido, com até boas intenções, mas com uma obsessão na cabeça. Só que, eu entendia as pessoas. Eu tive amor, eu tive uma família enquanto ele não teve ninguém.Teve que viver sozinho sem ter onde se encaixar. Ele está preso nessa fase em que ele acha que pode mudar e consertar tudo para melhor, mas é incapaz de pensar nas consequências por não entender as outras pessoas. Ele está sofrendo e esse sofrimento o levou a um complexo de Deus.

— Complexo de Deus? As meninas tinham falado que ele queria imitar um cara da mitologia grega que teria roubado algo dos Deuses. — Observou a Agente Bellum.

— Prometheus. — Completou Utonium que depois comentou: — Não sabe como eu criei ódio desse nome, mas tem todo sentido com Caco. Ele acha que é Prometheus e que o Elemento X é o fogo dos deuses.

— Filho da puta! — Escapuliu a Agente Bellum ao sacar tudo repentinamente, deixando o Professor um tanto perdido na situação. — Eu já sei onde ele está!

— Oi?

— Caco é Prometheus, o Elemento X é fogo que antes era dos deuses e onde ficam os Deuses na mitologia grega?

— Eu não entendi ainda. — Alegou Utonium ainda confuso com raciocínio e assim Bellum acrescentou:

— Três semanas atrás, a prefeitura fez uma pesquisa na internet para nomear aquela nova torre de Townsville que estavam construindo e que seria a maior de toda cidade, sabe que nome ficou em primeiro lugar?

— Olimpo? — deduziu o cientista.

— Exatamente. — Ela confirmou.

— É exatamente para onde alguém com complexo de deus iria. — Apontou Utonium.— No entanto, isso é um chute, podemos estar errados e isso não levar a lugar algum.

— Mas, é o que temos por agora e precisamos agir logo. Vamos Professor, temos um macaco para pegar.