CN Beyond: Elemento X

Confronto X - Parte 3


Há seis anos, um homem desafiou as leis da natureza usando as misteriosas forças do composto conhecido como Elemento X. Este homem fez isso não por ego, não por dinheiro ou mesmo por poder, mas por puro amor. O amor de um homem pela sua família. Um amor que o cegou para consequências de suas próprias ações. Então, a natureza cobrou o seu preço e finalmente havia chegado o momento de quitá-lo.

Do alto do edifício em construção que viria a ser chamado de “Olimpo”, Caco estava finalizando sua máquina. Ele só precisava esperar um tempo até ela aquecer. Com seus grandes dedos grossos e verdes ele digitava nos comandos da máquina que tinha uma forma que ficava entre um pilar e uma antena de transmissão, dando os toques finais para finalizar o seu plano. O que ele fez antes com os bandidos foi apenas um teste, um teste bem sucedido, o melhor (ou o pior) ainda estaria por vir. Começou a chover naquele momento, como se a tempestade anunciasse uma outra. As gotas de chuva caíram sobre o longo manto púrpura que cobria o símio mutante da cabeça aos pés. Quando sentiu a primeira gota vazando do capuz, ele olhou para cima e ouviu as trovoadas começarem a aparecer na atmosfera. Era como se os deuses estivessem dando seu aviso final a ele, o seu ultimato. Diante disso, ele apenas sorriu e continuou com seu trabalho.

Inesperadamente, um raio de luz iluminando tudo surge junto com um grande barulho de hélices mecânicas. Eram dois helicópteros militares apontando suas lanternas e mísseis explosivos para a cabeça do macaco vilão. Contudo, com um simples esticar de um de seus braço e um pensamento, Caco usou seu poder mental para fazer ambas as hélices de cada helicóptero pararem de rodar, o que fez rapidamente as duas aeronaves começarem a perder altitude e caírem dos 360 metros de altitude. Por sorte, os pilotos de cada nave pularam de paraquedas antes delas se espatifarem no chão.

O ocorrido fez o primata mutante perceber que havia sido encontrado finalmente. Uma vez que a máquina já estava em funcionamento, não seria mais possível interrompê-la, então, ele resolveu sair de seu posto. Ele andou até a borda, de onde podia ver os pilares de aço da torre ainda em construção e olhou para baixo, podendo ver que agora havia vários veículos em torno deste prédio em que estava. Eram dúzias de carros policiais e tanques militares esperando para eliminá-lo, mas, que para ele que via tudo daquela altura em que estava, eles eram como pequenos itens de uma maquete em escala natural, tanto em perspectiva visual quanto em ameaça para ele. Com um sorriso e um olhar arrogante, resolveu dar-lhes a atenção que queriam. Ele pulou do alto do edifício e caiu, ou melhor flutuou rapidamente até o chão, onde aterrissou em perfeita segurança, como se pudesse ignorar a gravidade quando quisesse.

A Comissária Snyder e os demais homens e mulheres dispostos a dar suas vidas não pensaram duas vezes: sacaram suas armas, tantos as que estavam carregadas com o Antídoto X, quanto às que continham balas de verdade e dispararam tudo mirando no macaco mutante. Professor Utonium que estava ao lado de Bellum e da comissária também fez o mesmo com uma arma de antídoto em sua mão. Alguns militares dispararam até duas bazucas e outros descarregaram uma metralhadora em cima do inimigo. No entanto, cada disparo foi em vão contra os poderes de Caco. Com seus poderes mentais, ele criou uma barreira psíquica poderosa em forma de bolha que bloqueou cada disparo dado pelos policiais e fez isso enquanto gargalhava histericamente. Snyder percebeu a inutilidade dos ataques e ordenou um cessar-fogo. Nada o atingiu. Foi um esforço totalmente inútil.

Querendo exibir a sua superioridade, o primata verde alterado esticou suas mãos e repentinamente, toda a energia ambiente começou a ser absorvida por ele, algo que chamou a atenção de Utonium. O sagaz cientista notou a eletricidade dos fios elétricos, das baterias de carros e dispositivos eletrônicos próximos sendo sugados pelos poderes psíquicos de Caco de forma não exatamente intencional. Ele logo deduziu que os poderes do Macaco Louco funcionavam de forma diferente dos poderes das meninas. Suas filhas geram uma poderosa Energia X que alimenta seus próprios poderes. Já Caco, parece precisar ter que absorver a energia ao redor para manter os dele. Isto é um ponto interessante a ser considerado.

Após absorver toda aquela energia, o Macaco Louco dispara uma poderosa onda psíquica que começa a repulsar tudo ali, sejam pessoas, objetos, policiais, militares e seus veículos, todos são empurrados com muita força para trás, ficando temporariamente inertes no chão. Professor Utonium se espatifa duas vezes no asfalto quebrado, mas não se machuca muito, apenas ficando só com uma forte dor no peito. Todavia, o mesmo não poderia se dizer de Bellum e da Comissária Snyder que bateram com a cabeça nas laterais de um dos carros e ficaram temporariamente inconscientes assim como boa parte dos outros policiais.

Depois de seu golpe, Caco voltou a rir perante a insignificância dessas pessoas. Ele gargalhava enquanto as vias se remoendo de dor no chão, como um verdadeiro louco. Depois de gargalhar várias vezes, ele voltou com sua expressão séria e disse:

— Olhe só para vocês… patéticos. São um bando de macacos vestidos. Primitivos que temem o fogo que caiu sobre vocês. Passaram a vida dentro de suas cavernas escuras e agora não conseguem ver a luz. Vocês me decepcionaram, humanidade. Decepcionaram muito. Nenhum de vocês ousou abrir os olhos uma única vez em suas vidas. Nenhum, com exceção é claro...

Caco esticou o braço e com seu poder mental, puxou o pobre caído Professor Utonium até ele. O cientista tentou resistir, mas as forças que o atraíram estavam além de seu controle e ele continuou flutuando até ficar cara a cara com a criatura que ele havia criado. Utonium percebe que não conseguia controlar seu corpo, pois estava completamente paralizado perante ao poder mental do macaco.

— Exceto você, Professor Utonium. — Caco completou.

O cientista apesar de assustado olhou nos olhos roxos do monstro verde e de pelos pretos que agora tinha um corpo robusto e viu em algum lugar ali, o mesmo macaquinho que havia acolhido anos antes e reconheceu a sua falha.

— Caco, o que foi que eu fiz com você? — Ele perguntou a si mesmo.

— Você não me fez nada, Professor. A não ser abrir meus olhos para a verdade.

— Pare com isso, Caco. Não faça isso, ainda tem tempo de mudar as coisas. — Apelou Utonium na esperança de atingir a consciência do animal mutante.

— Por que eu pararia? — Ele contrariou. — Não era o que você e sua esposa queriam? Construir um mundo melhor? Pois é exatamente o que estou fazendo. O mundo vai melhorar. Todos irão melhorar. Não percebe, Professor? Somos iguais, queremos a mesma coisa. Eu posso ser Prometheus e entregar o fogo aos homens, mas foi você quem o acendeu para mim.

— Sim. — Utonium admitiu e depois começou a valentemente desafiar os argumentos de Caco. — Mas, há uma diferença entre eu e você. Eu fiz o que eu fiz por amor, algo que você é incapaz de entender. Somos parecidos, mas você faz isso apenas por você, não pelo mundo. Não consegue ver além de seu ego? Olhe ao seu redor, olhe a destruição que você está fazendo e as pessoas que você está machucando. Que tipo de futuro pode nascer disso?

— É necessário destruir o mundo anterior para construir um novo! — Caco Argumentou.

— Isso não é construir um futuro. Isso é apenas caos. — Denunciou Utonium. — O que acha que vai nascer disso? Vai criar um mundo cheio de pessoas como você: que deixam o poder subir à cabeça?

Contudo, Caco insistiu: — Eu posso dar tudo o que elas querem. No meu mundo, poder, dinheiro, a própria morte, tudo será irrelevante. Eu posso fazer as pessoas melhorarem, posso dar tudo o que elas querem, sem mais limitações. Meu mundo será justo, pois realizarei os sonhos de todos. Todos poderão fazer o que quiserem, pois serão seus próprios deuses.

— E desde quando as pessoas sabem o que elas querem? Entenda, Caco, você pode mudar o Homem, mas não pode mudar a natureza dele. Você acha que está diferente de nós, mas continua igual a todo mundo. Não consegue ver? Vamos, Caco, pare com isso antes que seja tarde.

Os dois trocaram olhares de lamentação um para o outro. Utonium pode sentir o sofrimento dele, sentir sua solidão em seu olhar e viu a si mesmo ali em algum lugar. Ou melhor, uma sombra do que já foi. Caco também olhou para o seu antigo dono com tristeza, permitindo encher seus olhos com lágrimas. Entretanto, seu olhar logo mudou de uma expressão de tristeza e solidão para uma raiva agressiva mesmo com ainda os olhos cheios de lágrimas.

— Achei que diante todas essas pessoas desse mundo, o senhor me entenderia, mas parece que eu estava errado. Você é igual a eles. — Disse o macaco furioso.

Foi neste momento que Utonium sentiu uma forte pressão em seu pescoço. Uma força invisível estava apertando sua garganta o impedindo de respirar.

— O meu futuro já está vindo, Professor. Não há como impedir. Eu só me arrependo de você não poder estar aqui para ver com seus olhos. — Zombou o Macaco enquanto estrangulava o cientista.

Quando menos se esperava, uma figura sobre a forma de um raio verde desceu dos céus na velocidade do som e agarrou o macaco com um abraço de urso. Era Docinho, furiosa e com os olhos e punhos brilhando verde. A toda velocidade, ela esmaga o corpo do macaco colidido contra o asfalto que se rasga ao meio, como uma queda de meteoro. Quando enfim desaceleram, a Jovem rebelde não perdeu tempo, ficou por cima do peito do grande Macaco e começou a lhe dar uns belos murros.

— NÃO! — Ela gritou ao dar o primeiro soco com o punho direito que acertou bem na fuça do inimigo, o que gerou um barulho tão forte e grave como de um trovão nas tempestades. — ENCOSTA! — Berrou ela novamente com mais raiva ao dar um segundo soco consecutivo com a outra mão, o que gerou o mesmo barulho. — NO MEU PAI! — Ela bradou com raiva dando terceiro soco com a mesma mão do primeiro, mas muito mais forte o que gerou um barulho ensurdecedor.

Certamente a garota raivosa teria dado um quarto, se não fosse o Macaco Louco finalmente conseguindo reagir aos seus golpes. Ele usou seu poder mental para emitir uma outra onda psíquica vinda de seu cérebro exposto que a fez repelir para vários metros de distância e cair dentro de um prédio já destruído.

Caco tentou se levantar ainda um pouco atordoado pelos golpes que acabara de levar. Mas, para sua surpresa, um outro raio vivo, desta vez azul, passou por ele em uma velocidade incrível e lhe deu um outro soco na face antes de sumir tão rápido quanto chegou. O soco não foi tão forte quanto o de Docinho, mas o incomodou. Depois de um segundo, o raio voltou e ele recebeu outro soco, e depois sumiu de novo. Depois voltou, socou e sumiu novamente várias e várias vezes em uma velocidade inacreditável. Em menos de 2 segundos, Caco levou quarenta e três socos que nem eram tão fortes, mas machucavam pela quantidade e o deixavam ainda mais desorientado e incapaz de reagir novamente.

Foi aí então que Lindinha desacelerou sua supervelocidade e reapareceu na frente do mutante, em uma posição perfeita para dar um grande gancho de direita no símio verde que o atingiu bem abaixo do queixo. Este foi bem mais forte que aqueles outros que ele levou anteriormente. Tão forte, que Caco foi arremessado ao alto, quinze ou vinte metros de altura.

Para finalizar, enquanto o símio verde mutado estava desgovernado nos ares após o golpe que recebeu, um par de rajadas de calor vermelhas como fogo o atingiu bem no peito, o empurrando de volta contra o asfalto. As rajadas vinham dos olhos de Florzinha que chegou voando bem naquele momento perfeito. As forças dos raios fizeram Caco colidir com alguns veículos abandonados e um poste de luz, ficando inconsciente no chão.

Quando Florzinha pousou e Docinho retornou do golpe que levou anteriormente, elas se juntaram ao lado de Lindinha, reunindo mais uma vez as trigêmeas uma ao lado da outra, todas encarando o macaco derrubado no chão, preparadas para o combate. Do outro lado da rua, Utonium recuperou-se da inconsciência temporária que teve após quase morrer asfixiado e testemunhou aquela cena incrível de suas filhas encarando aquela ameaça. Contudo, ele não tinha tempo para se orgulhar, pois tinha que avisar a elas.

— Florzinha… — Sussurrou ele ao vento pois estava incapaz de gritar. No entanto, mesmo com o fraco sussurro, a sua filha de cabelos ruivos ouviu o chamado com sua audição elevada.

— Professor? — Ela perguntou olhando para trás e vendo ele tentando se levantar.

— Ele não é como vocês. — Ele disse ao vento. — Caco precisa absorver energia para manter os poderes. Precisam cansá-lo. Façam ele gastar mais do que ele consegue absorver. Lembrem-se que tem a máquina também.

De repente, de forma tão rápida quanto barulhenta, um grande trovão caiu do céu e atingiu coincidentemente no corpo desacordado do Macaco Louco. A energia correu pelo seu corpo, passou por cada músculo, cada nervo, cada célula de corpo até chegar ao seu imenso e poderoso cérebro. Então, ele abre suas pálpebras e revela seus olhos púrpura brilhante e iluminados e emitindo uma expressão furiosa. Ele se levanta, não apenas fisicamente, mas começa flutuar sobre o ar enquanto esticava cada membro de seu corpo. Em torno de seus pelos espessos negros de macaco, pulsavam dezenas faíscas elétricas que formava uma aura de poder. Caco sentiu a energia regenerando cada dano que levou, cuspiu até dois dentes quebrados da boca que imediatamente foram substituídos por outros 2 idênticos.

— Parabéns, meninas. — Ele disse em tom quase irônico. — Vocês ficaram mais fortes. Finalmente aceitaram quem vocês são. Estou orgulhoso de vocês. Todavia, não pensem que isso nos deixa no mesmo nível.

O corpo do Macaco Mutante começou a brilhar e emitir faíscas elétricas poderosas cujo os sons se misturam com os trovões da tempestade. Enquanto ele flutuava sobre o ar, tudo ao redor dele começou a perder os efeitos da gravidade. Pedras, carros, postes de luz, placas, peças de metal quebradas, pedaços de vidros, objetos perdidos, tudo seja grande ou pequeno em um raio de meio quilômetro começou a flutuar, sendo controlados pelos incríveis poderes mentais do Macaco Louco.

(Trilha Sonora: Thousand Foot Krutch: Light Up The Sky )

— Vejam, meninas. Eu sou como os Deuses! — Ele berrou com seu vozeirão enquanto relâmpagos saíam de seus olhos e boca.

— O que vamos fazer? — perguntou Lindinha.

Ao ouvir o questionamento da sua irmã, Florzinha logo pensou: — Ele não pode lutar contra gente e proteger a máquina. Lindinha, você cuida da máquina. Eu e a Docinho vamos tentar cansar ele. — Ela disse olhando para a sua irmã morena que a olhou de volta com sorriso.

— É algum plano, “Líder”. — Zombou Docinho.

Enquanto Florzinha e Docinho encaravam o Macaco Louco, Lindinha decolou para os ares, subindo os 350 metros de altura da torre.

Nesse momento, Caco reagiu, ele jogou todos aqueles destroços que controlava com a mente em cima de suas adversárias. Florzinha usou seu sopro congelante para criar uma barricada de gelo que protegeu ela e Docinho. Contudo, alguns dos grandes objetos flutuantes, como um caminhão sem a carga, atingiram Lindinha de lá do alto e a fez cair de novo.

Florzinha pegou um carro que estava pairando sobre o ar e usou para bater no macaco como se fosse um taco de baseball. Ele fica atordoado e recua alguns centímetros para trás, mas logo se recupera rápido e lança um poderoso raio elétrico vindo direto de sua massa encefálica mutante. O raio atinge Florzinha que é jogada vários metros longe.

Docinho surpreende o primata agarrando seu pescoço por trás e o derruba com uma chave de braço. Caco fica atordoado e imóvel mesmo se debatendo para se libertar. Por mais que seu novo corpo fosse maior que a garota morena, a força dela conseguia o imobilizar facilmente. Então, o gênio do mal trapaceou atingindo a garota com uma corrente eletromagnética que saiu do corpo do primata e foi transferida para o dela. Docinho levou um grande choque e tentou resistir o máximo que conseguiu, contudo, não foi o bastante e acabou desmaiando. Quando a jovem morena caiu, Caco pegou-a com uma das mãos e a arremessou para longe.

O vilão olha para cima e vê Lindinha voando o mais rápido que podia em direção a sua máquina. Devia estar na metade do caminho do prédio. Ele faz uma expressão de zangado e em seguida, um gesto com a mão direita invocando assim seu grande poder mental. Com força de seu pensamento, ele fez a torre toda estremecer loucamente. Lindinha viu diante de seus olhos diversas pedras de concreto e barras de metal e outros destroços da construção, caírem em sua direção, atrasando-a de chegar ao seu objetivo. Para proteger-se, a loira usa sua visão de calor, porém, nem ela era suficiente perante a tantos destroços.

Caco aproveita a oportunidade para ir atrás da loira, voando com seu poder mental, quase tão rápido quanto as filhas de Utonium. Todavia, Florzinha e Docinho reaparecem atrás dele e disparam raios pelos olhos quando subiam com a mesma velocidade e assim a perseguição se mantém: Lindinha tentando chegar à máquina, Caco indo atrás de Lindinha e Florzinha e Docinho indo atrás de Caco.

A ruiva e a morena conseguem alcançar o macaco voador e começam a lhe dar vários socos iniciando assim uma troca de golpes em pleno ar. Florzinha o golpeava pela esquerda e pela frente e Docinho enfrentava pela direita e costas e Caco tentava lutar com as duas ao mesmo tempo. Apesar da vantagem numérica, a cada dois golpes fortes que as meninas davam nele, ele dava um em cada uma com o dobro da força. Até que houve um momento que o vilão se aborrece e cria um poderoso impulso eletrostático psíquico que atordoa as irmãs. Ele novamente encara Lindinha subindo até lá no alto aproximando-se da máquina, com ainda mais raiva e então, o macaco abre sua boca e lança uma poderosa rajada de energia que subiu na velocidade da luz e atingiu a jovem loira. Lindinha gritou ao ser atingida inesperadamente pelas costas pelo poderoso raio, que apesar de lhe causar muita dor, não a feriu mortalmente. Logo, ela tombou zonza no ar e mais uma vez começou a despencar. Caída e desacordada, a loira Utonium é capturada pelos raios psíquicos de Macaco Louco e assim ele junta as três irmãs uma a uma, capturadas pelos seus raios mentais. Ele as prende amarrando uma na outra em pleno ar por uma corrente de energia em torno de suas cinturas. Pouco a pouco, as três recuperam-se dos golpes e encaram mais uma vez os olhos zangados do vilão.

Suas tolas! Como se atrevem a me desafiar?! Estão tentando me derrotar?! Estão tentando me destruir?! — Ele berrou irado e furioso. — Logo eu, que salvei e ajudei vocês? Depois de tudo o que eu fiz por vocês, vocês vão mesmo me trair? — Ele questionou aproximando seus olhos bestiais e sua boca com caninos afiados dos olhos delas. — E por que? Por eles? Aqueles que odiaram vocês? Que abandonaram vocês? — Ele berrou apontando com seus dedos verdes e grossos para imagem da cidade destruída. — Não estão vendo? Nenhum deles jamais entenderá vocês como eu entendo, pois, nós somos espíritos irmãos cujo os poderes nasceram da mesma fonte. Então, meninas, não me obriguem destruí-las. Pois, somos mais inteligentes, somos mais fortes, somos invencíveis, nós temos a força! Somos superiores a eles e nós devemos reinar! Tudo o que temos que fazer é trabalhar juntos e então nós construiremos um futuro melhor! O que me dizem, meninas?

Docinho, Lindinha e Florzinha trocaram olhares tristes e confusos uma para a outra, sem saber o que decidir. Aceitariam a derrota e deixariam as coisas acontecer como Caco quer? Ou continuariam a lutar? Parecia uma decisão difícil, no entanto, inesperadamente, Florzinha segurou as mãos de suas irmãs e deu um sorriso confiante para cada uma. Era como se ela dissesse com seu olhar para suas irmãs: “Tá tudo bem ter dúvidas, mas nós sabemos o que temos que fazer”. Docinho respondeu franzindo as sobrancelhas confiante e acenando com a cabeça enquanto Lindinha devolveu o sorriso da irmã com outro mais inocente. Era como se as três tivessem concordado. Na verdade, elas sabiam exatamente o que responder a ele. Uma segurou bem forte a mão da outra e juntas elas gritaram o mais alto que conseguiam:

— NÃO!

Os corpos das três irmãs começaram a brilhar e faiscar com suas respectivas cores, verde, rosa e azul, emitindo uma aura de poder extremamente elevado. Era tão forte que só a presença dessa aura conseguiu romper as correntes de energia psíquica do macaco na qual usou para prendê-las. O que o vilão viu o fez estremecer de medo pela primeira vez em muito tempo. As energias das três estão unidas como uma só, como se fossem três partes de um todo que agora estavam unidas enquanto elas estivessem de mãos dadas. Ele sentiu na espinha que o poder delas ia muito, muito além do dele. Muito além de qualquer coisa que já havia visto na vida, além de qualquer coisa que pudesse imaginar. Se tudo aquilo fosse liberado de uma vez, talvez uma parte da Terra seria arrancada dela. Ali, ele encarou as fúrias dos próprios Deuses encarnada nessas três crianças.

— Isso não é possível! — Ele gritou apavorado. — Esse poder… essa energia.

— O Elemento X pode até ter dado os nossos poderes. — Afirmou Florzinha enquanto de seus olhos emanava uma energia inacreditável. — Mas, ele nunca foi único ingrediente das quais somos feitas. Nós lutamos por eles porque somos feitas deles. Eles são a nossa família, os nossos amigos. Eles são parte de nós, e nós uma parte deles. Algo que você não consegue entender, Macaco Louco. Eles são a nossa verdadeira força!

Florzinha disparou um poderoso raio de seus olhos e Docinho e Lindinha fizeram o mesmo e assim um fenômeno espetacular ocorreu diante do vilão. Os três raios se tornaram um só, um único feixe multicolorido e extremamente brilhante. Era como aquelas explosões cósmicas, como quasares e supernovas, só que em escala bem menor. Caco, usou seus poderes psíquicos para criar uma bolha de energia e consegue bloquear o ataque. Contudo, o ataque persistia e pior, parecia ficar mais forte. O vilão deu tudo de si para se proteger do poderoso raio de energia de suas inimigas. Tudo mesmo, até sangue sair de seus olhos e boca e seu poderoso exausto cérebro começar a sobrecarregar. Suas forças estavam acabando, sua energia estava no limite. Ele não aguentou e cedeu. A bolha psíquica se desfez e o raio o atingiu finalmente. Acertou o seu peito, abaixo do mamilo e pouco acima do tórax e saiu pelas costas. O golpe abriu um buraco em seu fígado e muito sangue saiu dele. Ele começou a cair, despencar dos 270 metros de altura em que estava. Era o fim da linha.

Caiu como um meteoro, abrindo uma rachadura no chão. Bem em frente aos policiais que ainda se recompunham do ataque levaram mais cedo. Provavelmente, o vilão havia quebrado alguns ossos com a queda, mas estava vivo. Dolorido e com muita dificuldade, ele tentou levantar-se sem sucesso. Seu corpo e sua mente estavam esgotados, restava apenas o seu espírito. Enquanto tentava ficar de pé, ele viu descendo dos céus, aquelas 3 crianças brilhantes chegando na Terra como anjos mensageiros. Elas olhavam para o seu inimigo com expressões sérias, que mostravam sua superioridade a ele. Ele ficou de pé, mas não conseguiu andar, em seguida, olhou nos olhos das meninas e disse:

— Isso não acabou! — Alegou negando a derrota.

No entanto, para sua surpresa e decepção, o vilão sente uma espetada em sua barriga, bem no lugar que havia sido ferido pelo raio das garotas. Ele viu as mãos de um homem segurando uma seringa com Antídoto X e a aplicando bem no ferimento. Caco virou-se e viu o rosto de seu antigo dono, o Professor Utonium, que o encarava corajosamente com um olhar destemido.

— Acabou sim, para você, Caco. — Finalizou o cientista.

Caco tombou novamente e começou a sentir as mudanças ocorrendo em seu corpo. Ele encolheu 3 vezes, retornando a sua fisionomia de primata original. Perdeu seus novos poderes, mas manteve sua pele verde e seu cérebro enorme que vazava do crânio já que essas mudanças não poderiam mais ser curadas pelo Antídoto X. As meninas e pai Utonium se juntaram ao redor do vilão caído, testemunhando sua derrota.

— Você perdeu, Macaco. — Zombou Docinho.

E mesmo diante da derrota, ele gargalhou mais uma vez. — Foi divertido, devo dizer. Na verdade, foi uma honra perder para vocês, meninas. Todavia, meu objetivo nunca foi vencer vocês. O fogo dos deuses já foi entregue.

De repente, todos se lembram da máquina de Caco que ainda estava no topo da Torre em construção que agora emitia uma luz branca forte indicando que a reação em cadeia que culminaria em transmutar toda a Terra já havia começado.

— E assim, como Prometheus, eu serei acorrentado e terei meu fígado perfurado por toda eternidade. — Caco completou e antes de desmaiar de vez ele disse: — Evolua, minha humanidade, evolua!

A família Utonium ficou pasma, encarando a Torre cujo topo brilhava fortemente enquanto pensavam em um jeito de impedir isso.

— O que vamos fazer? — indagou Lindinha assustada. — Temos que parar essa coisa!

— Não há como parar. — Alegou Utonium que depois explicou — Uma vez que a reação se inicia, ela vai até o final. Está gerando e acumulando Energia X para que quando ela explodir, vai criar uma névoa mutagênica que vai se espalhar pelo globo em segundos. O que ele fez aqui nesta noite, ela fará ao resto do mundo.

— Não pode ser. — Negou o Docinho. — Ele vai mudar a Terra inteira? Todas as pessoas, animais, tudo?

— Não. Talvez só uns ¾ dela. — Especificou o cientista. — Muitos podem não sobreviver ao processo ou a energia X pode matá-los..

— Espera, “Energia X” não seria aquela coisa que você diz que existe dentro da gente e que estamos sempre à gerando e que é o que alimenta os nossos poderes? — Recordou Docinho

— Exatamente. — Confirmou o cientista.

Logo, Florzinha teve uma ideia, uma que não lhe deu nenhuma alegria. Uma ideia que só lhe trouxe medo e pesar, mas era uma ideia.

— Talvez, nós pudéssemos absorver a energia antes dela explodir. — Ela surgiu.

— Não, seria muita idiotice. — Negou o pai cientista. — É muita energia, vocês não sobreviveriam. Deve ter outro jeito, só deixa eu pensar um minuto.

Florzinha trocou olhares com Docinho e Lindinha. Olhares de tristeza e medo. Lindinha começou a derramar lágrimas e Docinho cerrou os punhos indignada. O pai, que não é ingênuo, viu as expressões de suas filhas e entendeu tudo.

(trilha sonora: Ideal of Hope - The Evolved )

— Não! Vocês não estão pensando em fazer isso, não é?! — Ele contrariou.

— Nós temos que fazer, Professor. — Disse Lindinha. — É a única maneira.

— Não! — Ele insistiu novamente com uma expressão de desespero e com lágrimas que começaram cair de seus olhos. — Eu não vou deixar, vocês não vão fazer isso. Eu não vou perder vocês outra vez!

Florzinha aproximou-se de Utonium olhando para seus olhos cansados e cheio de sofrimento. Ela colocou a mão carinhosamente no rosto de seu pai e estudou cada detalhe, como se quisesse olhar para ele uma última vez. Ela chorou e olhou para ele com uma expressão de dor e disse:

— Papai, isso tudo começou com a gente. Começou porque você não consegue deixar a gente ir. A única coisa que está faltando para a gente arrumar tudo isso é você aceitar que precisa seguir em frente. — Em seguida, a ruiva beijou seu pescoço e o abraçou.

— Por favor, deixe a gente ir, papai! — Disse Lindinha que também o abraçou desesperada e angustiada.

Docinho fez o mesmo também, chorando como uma criança como não fazia a muito tempo.

— Por favor, Papai, deixa a gente ir.

— Não! Não! Não! — Ele repetia em lágrimas enquanto abraçava suas únicas filhas. — O dia que eu segurei vocês três pela primeira vez foi o dia que prometi que nunca iria largar vocês pelo resto da minha vida. Eu não vou deixar que tirem vocês de mim de novo.

— Você precisa, pai! — insistiu Docinho olhando em seus olhos. — Tem que aceitar que não dá pra mudar tudo.

— Algumas coisas tem que ser do jeito que são, é assim que é a vida. — Apontou Lindinha com um aperto no coração — Nós três ganhamos esses poderes por alguma razão, pai. Talvez, seja essa a razão. Precisa nos deixar ir.

— Minhas filhas eu não… consigo. — Ele chorou. — Eu não quero perder vocês.

— Você nunca perdeu a gente, pai. Nunca vai perder a gente. — disseram as três juntas. — Mas, temos que salvar as pessoas que amamos. Por favor, papai, deixa a gente ir!

Utonium tentou se conter e segurar as emoções fortes. No fundo, ele sabia o que tinha que fazer, mas não estava preparado, talvez, nunca estivesse. Eram suas filhas e ele morreria por elas.

— Vão! — Ele gritou. — Vocês têm que ir.

Finalmente aceitando, ele deu um beijo de despedida na testa da cada uma, assim como fazia quando as colocava para dormir quando eram pequenas. Por fim, elas partiram para os céus, indo salvar o dia e ele ficou olhando de lá embaixo, orgulhoso e decepcionado ao mesmo tempo.

Florzinha, Lindinha e Docinho voaram até o topo da Torre em construção onde a máquina do macaco louco incrementada de dispositivos e de recipientes de elemento X brilhava tão forte que parecia que estavam diante de uma estrela. Elas se aproximaram com cautela da máquina que emanava uma poderosa energia e antes de tocar, as irmãs se entreolharam e uma pôde ver o medo e dúvida da outra, mas todas sabiam o que tinham que fazer.

— Juntas? — perguntou Florzinha.

— Sempre — Responderam Lindinha e Docinho juntas enquanto agarravam as mãos de sua irmã.

Assim, o sacrifício final chegou. Cada uma tocou em canto da máquina maldita e rapidamente toda aquela carga poderosa de energia foi imediatamente transmitida para os seus corpos pequeninos. Foi doloroso, foi como se seus corpos estivessem em chamas, ou melhor, como se tivessem jogados dentro de um vulcão. Elas queriam gritar, porém, resistiram firmes e fortes, o máximo que podiam. Suas veias dilataram por todo o corpo e seus corações batiam mais rápido que a própria luz de tanto poder que estavam acumulando dentro de si. Crianças comuns já teriam sucumbido, mas elas permaneceram o máximo que conseguiram.

Perto do limite, os corpos de cada uma criaram uma ação involuntária para tentar equilibrar aquele excesso de energia. Dos olhos de cada uma das irmãs superpoderosas, foi liberado uma rajada de energia, cada uma de sua respectiva cor. Do alto da Torre, foi emitido um grande e esplendoroso feixe de luz que ia até os céus, atravessava as nuvens e alcançava o espaço sideral onde se perdia entre as estrelas. Foi um fenômeno cósmico esplêndido ao vivo que o Professor Utonium, a Comissária Snyder e Bellum testemunharam de lá de baixo da torre. Os três choraram ao ver tamanha beleza. Era literalmente, um raio de esperança que apareceu no céu. Policiais, militares e outras pessoas perdidas na cidade que estavam mais distante da Torre, também pararam para ver aquele curioso e belo feixe de luz multicolorido. Ficaram confusos, mas estupendo com o que viam. Por fim, um helicóptero da imprensa que sobrevoava os arredores da cidade, filmou o evento que surgiu nos céus, transmitido-o das lentes do cameraman, para todas as televisões e dispositivos de telas do planeta. Cada TV do estado, do país e do mundo exibia aquele feixe de luz azul, rosa e verde. Um registro incontestável do sacrifício daquelas pequenas heroínas agora era visto por pessoas de todos os lugares, ao vivo. O mundo que as odiou agora sabia quem elas eram de verdade.

A energia diminuiu, o feixe de luz foi gradualmente enfraquecendo até sumir. A máquina meio derretida pelo calor, finalmente cessou e ninguém inocente sofreu seus efeitos. E as heroínas? Caíram duras entre pisos frágeis do prédio ainda em construção. Caídas, mas não vencidas. O sacrifício final foi feito e a harmonia foi restaurada no mundo. Contudo, as ampulhetas da vida de cada uma das irmãs se esgotaram.

Em meio aos corpos recém-esfriados das irmãs Utonium, uma massa negra surgiu bem diante delas. Uma massa que tomou a forma de um homem coberto por um longo manto e que empunhava uma longa foice na mão esquerda. Este homem não tinha pele, nem órgãos, era só osso em todos os lugares. Era a própria Morte encarnada.

— Bertha, Beatrice e Betty Utonium. Eu sou Puro-Osso, sou um Ceifador Sinistro. Sou um agente da morte, uma força da natureza. — Apresentou-se o ossudo com sua voz masculina grave e áspera. — Há 6 anos, vocês violaram as leis da natureza e ela cobrou o seu preço. Hoje, com o seu sacrifício, sua dívida foi finalmente quitada e o equilíbrio foi restaurado.

Na mão direita do ceifador sinistro, materializou-se três ampulhetas com nomes “Bertha”, “Beatrice” e “Betty” e cada uma estava com um último grão de areia caindo para a parte de baixo.

— Assim, com o último grão de areia caindo, eu declaro que Bertha, Beatrice e Betty Utonium estão mortas, oficialmente. — Declarou e as ampulhetas desapareceram no ar.

Um silêncio incômodo se formou no ambiente e a esperança quase se perdeu. Até que...

— No entanto… — Continuou Puro-Osso. — ...O destino interveio e presenteou vocês com uma nova vida, iniciando-se em novas ampulhetas. — Na mão direita ossuda do ceifador sinistro materializou-se 3 novas ampulhetas, maiores que as anteriores e com muito mais areia na parte de cima, com o nomes “Florzinha”, “Lindinha” e “Docinho” gravados com suas respectivas cores. — Assim, Bertha, Beatrice e Betty morrem para dar lugar a Florzinha, Lindinha e Docinho.

As novas ampulhetas desaparecem novamente e a respiração retorna aos pulmões das irmãs Utonium.

— Há! — Riu sarcasticamente o ceifador com sua voz assustadora e depois declarou. — A natureza é engraçada. Ela tira ao mesmo tempo que dá. Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Um destino heróico e glorioso as aguarda, crianças. Cumpram ele enquanto puderem viver. Espero não ter que ver vocês novamente, irmãs Utonium. As pessoas costumam me ver apenas em situações TERRÍVEIS.

Ao concluir sua tarefa cósmica, o ceifador desapareceu como fumaça no ar sem qualquer vestígio de que realmente esteve ali. Por fim, assim que ele se vai, as pálpebras das jovens irmãs Utonium se abrem novamente como crianças que acabaram de nascer.