C.F.I.D

A SOMBRA DA NOITE — TASHA


TASHA

DIA 01

Eu tinha pouca tolerância para os primeiros horários da manhã. Em um compartimento dividido, era necessário manter a rotina. Andei com moderação até o banheiro. A corrente álgida atormentou as terminações nervosas da minha coluna, despertando profundas encadeações de tremor. Reapareci na sala em delicados passos de balé, mas ao ver o realce na cozinha, senti a friagem completa do chão nos meus pés. Atravessei a cortina de contas; a primeira coisa que ela observou em mim foi o roupão de banho.

— Me esqueci de avisar, a nossa água pela manhã está a zero graus. — ela poliu o pano de prato no interior de um copo.

— Deveria tentar utilizar chuveiro elétrico— ergui uma perna na cadeira, rapidamente desaprovei na lembrança de peças íntimas.

— Eu acho que viveria um envelhecimento precoce com a água quente. — enfileirado, se juntou o mais novo copo na prateleira de feijó.

Revirei os olhos com a utilização do meu paladar em decifrar o sabor dos pedaços do material da geleia. Não houve muita extensão sobre os benefícios da água. Permanecemos com diversos diálogos na mesa. Eu mostrei resiliência com o convite inesperado da festa. A minha acomodação seria apenas de um dia.

— Você não bebe também? — ela ficou quase inaudível pelo preenchimento do café na boca.

— Não exagero quando tenho trabalho.

— A Blue Ivy foi completamente extinta. — Ficou percebível com a erguida da xícara a fumaça vaporizando o nariz dela.

Esse nome costumava moldar terrivelmente a minha aparência. Eu sabia que seria bastante problemático a adaptação com o nome. Foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando mencionaram uma identificação para o trabalho. A fuga de casa aconteceu sem expectativas. Avaliei uma menção relacionada à minha gargantilha de pingente um pássaro azul brasilis.

"Blue".

Por fim, a estilização do sobrenome.

"Eve. Ivy".

"Blue Ivy".

Ainda lembro da primeira vez no compartimento, a minha alcunha recém-consagrada me entregou olhares de incompreensão. Verdadeiramente, eu não havia nascido ruiva. Meu cabelo foi constantemente castigado pelas apalpadas e os puxões que desconsiderei serem propositais. Até mesmo atentei para a ideia de medição com fita métrica. Eu considerei a possibilidade dos pensamentos sobre eu ser uma criatura fugitiva dos nórdicos. Acabei caindo em examinadores científicos sem nenhum cuidado. Encerrei o dia com a estação de trabalho deles, o meu couro cabeludo, consumido; e a perda parcial da escova em um lado da franja. Nada disso ela recordava. A maioria das coisas que ela cheirava danificava o sistema neural gradualmente. Eu passei um tempo em redenção com os descobrimentos sobre isso durante a faculdade.

Me levantei deixando a conversa em segundo plano enquanto substituía na sala o roupão. Foi me avisado o horário, as minhas pernas se ansiaram na equipação da calça.

— Ele não vai fugir de você. — no canto da namoradeira a fumaça do cigarro dela se esvaecia. — Eu ficaria mais confortável já que não é a primeira vez.

Relembrei do conselho antes de entrar no complexo amarelo de Sremska Mitrovica. Eu deduzi corretamente a minha covardia. Ninguém pensou na recepção dessa vez. Após o atendimento na entrada, em poucos minutos minha solicitação positiva aconteceu na sala de vistoria dos pertences. Pude ter expectativas falsas toda vez que o agente com boné azul-marinho atravessava a porta me olhando. As pessoas que ele guiava eram desconhecidas. Ainda me restava esperanças na visão da janela retangular ao lado da porta. Fluía um tráfego uniformizado. Entra-Sai-Entra-Sai, não demorou muito para o agente me espiar novamente, eu retornei pelo fato dele conferir a prancha. Não tive o controle dos espasmos e da ruborização. Ele não havia sido a minha causa intimidadora. Minha forte preocupação foi ao descontentamento dele reconhecido ainda na janela. Fomos presenciados pela última vez pelo guarda bisbilhoteiro.

Ele desprendeu o telefone. Foi um erro ter deduzido o descontentamento dentro das órbitas azuis edulcoradas. Ali existia uma fonte específica de néctar. Me senti parte do açúcar em dissolução de caramelo ou uma abelha salteadora de um forte néctar. Eu sabia que o queixo desprendido era o sorriso inconsciente, como também as simples marcações da bochecha dele. Anton agora se adaptava bem em compartilhar o afeto em público. De nenhuma forma ele destruía aquele molde de antipatia, o seu humor se resumia apenas a pequenas esticadas nos lábios. Nunca havia sido uma habilidade forte para ele. Não houve nenhum efeito nele, eu relembrar desta última visita. Ele aguardava a saída na próxima semana. Não pudemos conversar o suficiente, o agente bisbilhoteiro e quadrúpede nos observou da porta, o tempo estava acabando.

— As vezes, tenho vontade de dar um soco nele. — ele passou a mão com pouca impaciência na cabeça raspada.

— Se te pegarem falando isso. — a minha apreensão foi insana ao perceber o telefone encostado no ouvido dele.

— Eles aumentam a minha pena. — desnecessária a tentativa de zombaria.

Entendi a deslocação da mão dele mais próxima do vidro. Havendo um grude pegajoso, ele seria incapaz de seguir o bisbilhoteiro quadrúpede.

— Não está usando mais aquele nome. — não havia nenhuma expressão estranha sobre ele para a causa da voz extenuada. Era a particularidade encantadora do produto final da sua beleza.

— Há muito tempo.

Não tivemos outra chance para estender novos assuntos. Infelizmente, o assento já estava vazio quando uma proposta inútil surgiu na minha mente. Ainda o toque das mãos dele abaixo do vidro deixou um afeto insuficiente.

Por alguma razão, não fui questionada pela grande carga de melancolia quando entrei no compartimento. Era nítido que a minha bagagem de tristeza seria inexistente para ambas. Vanessa tinha acabado de prender todo o cabelo escuro com um hashi. Ainda estava quente o estoque de yakisoba. O aroma me deu uma substituição de simpatia para me agregar à roda de reprises amorosas entre elas. Permaneci em devaneio por um bom tempo; isso me beneficiaria numa boa digestão. Não tinha visto Vanessa pela manhã, mas, na explicação dada, captei que ela havia dormido fora. Não entendi como sua aparência desleixada foi substituída por agressividade. Mas, exatamente à tarde, alguém a havia convidado para sair.

— Nunca mais eu aceito homem casado. — Observei repentinamente a passagem do isqueiro, após ela acender o cigarro. — A desgraça reclamou do dinheiro. Minhas consultas com o proctologista são pagas. Estou começando a ter timidez pelo diagnóstico ser o mesmo motivo.

— Também faria ele procurar uma consulta.

— Ele é só ativo. Mas eu acabei com a vida dele na noite passada, quando a mulher dele atendeu, eu disse que queria o dinheiro.

Durante a extensão de queixas, observei silenciosamente as borboletas ostensivas no corpo de Vanessa, enquanto seus membros liberavam uma grande parte da revolta. O corpo dela, supostamente, era um tronco de árvore e todo inseto voador acabava pousando nele. Não havia o que preencher perante os braços. Em sequência, tudo o que pude distinguir do vasto ecossistema: mariposas, um trio de joaninhas-vai-com-as-outras, libélulas. Depois de despertar do meu devaneio, acompanhei as partes finais da conversa.

Ela carregava a odiosidade de um demônio. Apenas uma alma ceifaria. Aquela que praguejava o próprio nome.

A alma de Denner.