CAPÍTULO 2

- Agora, iremos entregar o resultado do simuladão da Toudai que ocorreu na semana passada. Qualquer dúvida sobre o resultado, por favor me procure depois da aula – depois de falar, o professor começou a entregar os envelopes para cada aluno da classe.

Motoko já não agüentava de ansiedade. Tinha esperanças de que fora bem na prova, visto que ela se esforçara bastante nos estudos e que o vestibular da Universidade de Tóquio estava se aproximando.

- Não se preocupe, Aoyama-senpai – Emi estava sentada ao lado da amiga e falava com um tom de voz bem baixo – Tenho certeza que você foi muito bem neste exame.

- Assim espero, Emi – Motoko se mostrava meio depressiva – Mas, se eu fui mal nesta prova, não sei mais o que fazer... Emi, tenho que entrar na Toudai neste vestibular. Já fui reprovada duas vezes no exame...

- Calma, amiga – Emi pôs a mão no ombro de Motoko – Se você foi mal, não vai ser o fim do mundo. Você ainda pode se recuperar.

- Senhorita Aoyama? – o professor interrompeu a conversa das duas amigas – Aqui está o seu resultado. Boa sorte – e deu o envelope na mão dela.

Motoko abriu o envelope com as mãos trêmulas e tirou uma folha de papel em formato A4 com os resultados do simuladão. Leu até o último ideograma, depois releu mais cinco vezes. Ao terminar de ler, seus olhos encheram de lágrimas. Seu rosto assumiu uma feição totalmente depressiva.

- Aoyama-senpai, o que houve? – perguntou Emi, vendo que a sua amiga não estava passando bem – Você foi mal no exame?

Após ouvir a pergunta de Emi, Motoko arrumou rapidamente a sua mochila e deixou apressadamente a sala de aula, para espanto de todos os alunos e do professor. Começou a correr pelos corredores do prédio, enquanto chorava de forma quase escandalosa; logo após descer as escadas, saiu do edifício e passou a caminhar pelas ruas de Tóquio sem rumo algum.

Depois de algumas horas vagando por Tóquio, Motoko começou a sentir fome e cansaço, mas ainda se sentia extremamente depressiva. Seus olhos levemente puxados estavam vermelhos depois de chorar por tanto tempo. Estava totalmente desanimada, desesperançada e, sobretudo, desiludida. Ao olhar as placas da rua, descobriu que estava em um dos portões de acesso a Yoyogi Park; ao ver a tranqüilidade que reinava dentro do parque, atravessou o portão, caminhou por uns cem metros e sentou em um banco.

Ao sentar, imediatamente abriu a sua mochila e tirou o papel com o resultado do simuladão. Novamente, observou as notas, todas extremamente baixas, e leu o seguinte comentário no final da carta:

ESFORCE-SE O POSSÍVEL. ESTAS NOTAS NÃO GARANTEM A SUA APROVAÇÃO EM NENHUM CURSO DE NENHUMA FACULDADE.

Novamente, lágrimas voltaram a rolar no rosto da abatida Motoko. Finalmente a sua depressão estava sendo exposta para todos. Aquela semana poderia ser considerada como uma das piores da vida da jovem samurai; além de não se concentrar direito nos seus treinos com a espada, ela ainda recebera um golpe no seu coração alguns dias atrás, quando Keitaro anunciou a data do seu casamento com Naru. O casal iria se unir oficialmente dentro de dois meses, durante a Hatsumoude em um santuário xintoísta da Hinata. O anúncio dado a todas as moradoras da pensão por Keitaro deixou as garotas felizes, exceto Motoko, que não aceitou o convite, e desde então ela não falava mais com ninguém da pensão, exceto alguns diálogos curtos com Haruka e Keitaro.

Enquanto contemplava as belezas de Yoyogi Park com os seus olhos inchados depois de tanto chorar, Motoko ouviu uma voz bastante familiar chamando seu nome.

- Motoko? O que está fazendo aqui a esta hora?

Era Naru Narusegawa, a sua amiga da Hinatasou, voltando da Toudai e passeando por Yoyogi Park para dar uma relaxada depois das aulas.

- Oi – disse Motoko, sem olhar para Naru.

- Motoko, o que está acontecendo com você? Você anda tão esquisita nos últimos dias. Não come direito, fala muito pouco, nem olha mais na minha cara...

- Narusegawa – Motoko a chamou pelo seu sobrenome, como sempre fazia com o Keitaro – Descobri que a minha vida é uma enorme ilusão, uma fantasia. Não tenho absolutamente nada, não sou inteligente, não tenho ninguém para confiar... Enfim, não tenho futuro aqui – lágrimas voltaram a rolar no seu rosto – Sou uma grande burra! Durante todos estes anos, chamei o Urashima de tudo que é nome, mas descobri que a burra, a idiota, a incompetente e a fracassada sou eu! Sou eu! Eu!

- Ah, não diga isto, Motoko – Naru colocou a mão sobre o ombro da Motoko, tentando acalmá-lo – Você é muito bonita, é uma praticante de kendô muito forte, você tem vontade de viver e vontade de vencer... Não diga coisas assim, pois sei que você é uma pessoa maravilhosa.

- Não, Narusegawa. A verdade é uma só: não tenho futuro aqui em Tóquio. Meu maior erro foi ter fugido de Kyoto e vir parado aqui neste mundo estranho. Eu não deveria ter saído de lá, não dev... – e Motoko voltou a chorar de forma intensa.

Naru tentou acalmar Motoko, mas a samurai não cessava o seu choro. Depois de alguns minutos, Motoko se acalmou e Naru voltou para a conversa.

- Olhe, Motoko. Vamos para a pensão. Lá a gente pode conversar direito sobre isto. Acho que aconteceu alguma coisa ruim com você para ficar deste jeito.

Naru segurou a mão de Motoko, ajudando a levantá-la do banco. As duas amigas saíram do parque e caminharam um pouco até a estação de Shibuya, de onde pegaram o trem da Yamanote Line até Tóquio, onde fizeram baldeação para o trem da Hinata-Sagami Line da JR East, via Yokohama. Depois de uma hora, chegaram à estação de Hinata, onde pegaram o bonde e seguiram até a Hinatasou.

Ao ver Motoko e Naru terminando de subir a longa escadaria da pensão, Su (que acabara de chegar de Moru Moru, uma ilha próxima às Ilhas Fiji, no Pacífico Sul, e sua terra natal) logo correu em direção às duas amigas.

- Motoko! – gritou Su, com a sua característica inconfundível – Que bom que você está bem! Estava com muita saudade de você!

- Su-chan, a Motoko não está legal agora – Naru amparava a sua amiga samurai – Ela vai descansar um pouco. Mais tarde ela fala com você, tudo bem?

Su ficou um pouco decepcionada, mas entendeu o recado da Naru e se afastou da Motoko.

Após as duas amigas entrarem na pensão, Kitsune e Shinobu (recém chegada de Nagano, onde visitou a sua tia internada em um hospital local) observaram o precário estado da Motoko, totalmente deprimida e sem ânimo para absolutamente nada.

- Credo! O que aconteceu com a samurai, Naru? – perguntou Kitsune;

- Aconteceu alguma coisa com ela? – Shinobu complementou a pergunta da “raposa”.

- Gente, a Motoko não está boa. Ela precisa descansar. Vou levá-la até o quarto dela. Peço a vocês duas que não a incomodem, pois ela veio chorando desde Tóquio, OK? – Naru voltou-se para Kitsune – E o Keitaro, já chegou?

- Bem, Naru. Ele ligou há pouco, e ele já vai chegar. Ele teve que passar em um mercado na cidade para comprar umas coisas para a gente.

- Ah, menos mal. Quando ele chegar, peça para que me procure.

Não passou dez segundos do fim da fala da Naru quando o telefone da pensão tocou. Shinobu atendeu o aparelho sem fio.

- Motoko, telefone para você. É sua irmã, lá de Kyoto. Ela precisa falar uma coisa para você, e vai ser longo.

Shinobu deu o telefone para Motoko, que o pegou e seguiu com o aparelho para o seu quarto. No caminho, Motoko começou a falar com a sua irmã pelo telefone com uma voz ainda meio depressiva.

- Alô... Ah, oi, mana... É, está mais ou menos aqui... E como vão as coisas em Kyoto...

Eram seis e meia da manhã quando o relógio despertou. Roberto abriu os olhos e se voltou para o criado-mudo que estava ao lado da sua cama; olhou o relógio e imediatamente se levantou. Foi ao banheiro, fez a sua higiene pessoal e depois voltou para o seu quarto, onde ligou o seu computador para verificar os e-mails e mensagens do Orkut que chegaram. Depois de alguns minutos, desligou o seu computador e vestiu a sua roupa habitual: camisa branca de manga longa, calça social preta, cinturão bege e sapatos pretos.

Ao chegar na cozinha para tomar o café da manhã, Roberto encontrou a sua mãe, Bianca, sentada na mesa e lendo um exemplar daquele dia do jornal Folha Sorocabana.

- Bom dia, mãe – Roberto cumprimentou a mãe com um leve beijo no rosto.

- Bom dia, filho – Bianca imediatamente colocou o jornal em cima da mesa e passou a olhar o filho – Dormiu bem hoje?

- Ah, sim, mãe. Dormi feito pedra hoje. Esqueci de perguntar ontem quando cheguei da faculdade: meu pai ligou, dando notícias?

- Ligou sim, Roberto. Seu pai está trabalhando duro lá em Manaus. Ele disse que as coisas estão meio corridas, mas que está tudo bem lá – Bianca tomou um gole de café que acabara de ser feito – Porém, ele disse que não sabe quando volta para cá visitar a gente...

- Eh, fazer o quê, mãe... Meu pai é um dos melhores funcionários da filial da fábrica lá na Amazônia. É evidente que ele está atolado no trabalho por lá.

- Verdade, Roberto... Ah, e a sua viagem para a Argentina em Janeiro, nas suas férias? Está planejando direito, filho?

- Claro, mãe – Roberto abriu um sorriso ao tocar no assunto sobre a sua viagem que ele iria realizar nas suas próximas férias – Ontem aproveitei que não teve aula na faculdade e tirei as passagens de ônibus para Buenos Aires no guichê da empresa na Rodoviária – Roberto correu até o seu quarto e voltou com duas passagens de ônibus da Expresso Meridional na rota São Paulo-Buenos Aires – Aqui diz que o ônibus sairá da rodoviária do Tietê às 09:00 do dia 02 de Janeiro. Será um carro leito, extremamente confortável.

- Nossa, estou muito feliz por você planejar a sua viagem com todo o cuidado, Roberto. Esta vai ser a sua primeira viagem que fará sozinho e para o Exterior. Você não está ansioso com esta aventura, filho?

- Que isso, mãe? Tenho que comemorar o meu primeiro ano empregado com uma viagem à altura. Sempre foi o meu sonho conhecer o Sul do continente, um sonho que vai se tornar realidade – Roberto levantou a cabeça e olhou para o relógio da cozinha – Nossa, já são sete horas. Mãe, sinto muito, mas vou tomar café lá na fábrica. De tarde a gente se fala, tudo bem? – Roberto deu um outro beijo no rosto da sua mãe – Até mais, mãe!

- Te cuida, filho! – Bianca continuava sentada na mesa – Até mais tarde e que Deus te acompanhe.

Após se despedir da sua mãe, Roberto atravessou o portão da sua casa e logo adentrou a rua. No céu, o sol já brilhava forte, apesar do Horário de Verão em vigor. Ao longe, os alto-fornos e os demais galpões da Sidernibra – Siderúrgica Nipo-Brasileira – refletiam a luz do sol que acabara de nascer. Mais ao fundo, atrás do complexo industrial, os morros dominavam a região com o seu verde exuberante. Começava mais um dia na cidade industrial de Vale Verde, na região de Sorocaba, interior de São Paulo.

Roberto caminhou cerca de cem metros até chagar ao ponto final da linha de ônibus que tende ao seu bairro. Ao ver que o coletivo ainda não tinha chegado, sentou no banco da bem-estrutura parada do bairro; em questão de poucos minutos, o ônibus da linha dobrou a esquina e chegou ao ponto final. O veículo, um modelo Hino fabricado no Japão, tinha dois letreiros eletrônicos: no letreiro principal, localizado em cima do pára-brisa, estava escrito em caracteres ocidentais “JARDIM EUROPEU”, o nome do bairro onde Roberto morava, formado principalmente por famílias de descendência ocidental; o outro letreiro, localizado em cima do motorista, estava escrito a mesma coisa em ideogramas japoneses. Quando o coletivo parou no ponto, Roberto embarcou e disse “bom-dia” em japonês ao motorista, mais um descendente de nipônicos, assim como 65% dos moradores de Vale Verde, também conhecida como Nishi-Nihon entre os orientais da cidade e da região. Mais algumas pessoas embarcaram no ônibus, que saiu logo em seguida rumo ao centro da cidade e à portaria principal da Sidernibra.

Enquanto o ônibus trafegava pelas ruas de Vale Verde, Roberto observava o início da rotina da pequena cidade de 50.000 habitantes. As ruas da cidade tinham características orientais, com alguns postes de iluminação ao estilo japonês, algumas vielas bem ao estilo de Tóquio, muitos carros de fabricação japonesa e muitas, muitas motos. Durante o trajeto, o ônibus passou pelo Burajiru Gyoen (Parque Brasil), onde a beleza do lugar encantava a todos que passavam por lá. Ao longe, próximo às torres de transmissão de eletricidade, no alto de um morro, podia-se ver uma parte do santuário xintoísta de Vale Verde, outro ponto muito procurado pelos moradores. Depois de meia hora de viagem, passando por boa parte da cidade, o ônibus encostou no terminal urbano da Sidernibra, onde Roberto e alguns passageiros desembarcaram.

Ao descer do ônibus, Roberto rapidamente se dirigiu ao restaurante industrial, localizado fora do complexo industrial, onde pediu o café da manhã ao estilo ocidental: pão francês com manteiga, um copo de café com leite e uma barra de cereais. Depois de degustar o desjejum, saiu do restaurante, seguiu para a portaria e entrou no prédio da administração, onde trabalhava; lá, entrou em uma sala com os seguintes dizeres em português e japonês: CENTRAL DE LOGÍSTICA. Roberto mal entrou na sala quando foi recebido pelo seu chefe, o engenheiro Henrique.

- Bom dia, Roberto – Henrique, descendente de espanhóis, deu um largo sorriso enquanto cumprimentava a mão de Roberto – Com foi a prova ontem?

- Bom dia, eng.º Henrique – Roberto retribuiu com um outro sorriso – Bem, tive sorte ontem. O professor não veio...

- Putz, você é um cara de sorte, hein. Veja, hoje será um dia bem sossegado. Não porque hoje é sexta-feira, mas porque não temos nenhum problema mais grave na entrega dos produtos para nossos clientes e para as filiais.

- Que bom, engenheiro – Roberto costumava chamar o seu chefe apenas de “engenheiro” – E aquela grande encomenda de aço para aquela metalúrgica da Colômbia?

- Bom, está tudo pronto. Daqui a pouco o trem sairá do pátio rumo à Santos. Roberto, foi uma encomenda recorde para aquele país. Estamos conquistando todo o mundo com os nossos aços.

- Fico feliz, engenheiro. Temos que nos orgulhar em trabalhar em uma empresa tão moderna e competitiva com ao nossa.

- Certo, Roberto. Bem, aqui está a primeira tarefa de hoje – Henrique apontou para uma pequena pilha de papéis e documentos – Quero que você passe estes dados para o Excel e depois mande estes documentos via e-mail para a nossa matriz no Japão. Conto com você, Roberto.

- Pode deixar, engenheiro. Estou com muito ânimo para trabalhar hoje – Roberto novamente sorriu para seu chefe e sentou na sua mesa de trabalho, onde iniciou mais um dia como empregado do setor de logística da Sidernibra.

Após uma longa conversa com a sua irmã via telefone, que durou quase quarenta minutos, Motoko saiu do seu quarto e desceu a escada rumo ao saguão da pensão, onde todas as meninas e Keitaro estavam. Colocou o aparelho em cima de uma mesinha e se virou para a turma.

- Pessoal, tenho que dizer uma coisa para vocês. Peço a atenção de todas, pois é algo que será muito importante para mim e para todas vocês, que conviveram comigo nestes últimos anos. Recebi um telefonema da minha irmã, que está em nosso dojo em Kyoto, e ela disse que está deixando o país com o seu marido – Motoko respirou fundo – E me convidou para passar um tempo com ela no exterior...

Silêncio profundo na pensão.

- Mas, eh... – Keitaro se atrapalhou ao montar a sua fala – Qual foi a sua resposta? Você recusou, né, Motoko-chan?

- Motoko, espero que você tenha recusado este convite – Naru se levantou e interrompeu a fala de Keitaro – Seu lugar é aqui! Por favor, não deixe a gente!

- Motoko, você não vai mais morar aqui? – Su logo ficou triste com a fala da amiga, temendo que ela deixasse a pensão – Fique aqui! Precisamos de você!

- Amigas, sei que vocês gostam de mim, que sou uma pessoa importante para a pensão; mas eu me decidi – Motoko parou a sua fala e seguiram-se dois minutos de um silêncio ensurdecedor até ela retomar a sua fala – Vou deixar o país com a minha irmã. Vou deixar a pensão.

Todos ficaram chocados com a decisão.

- Motoko, por favor, reconsidere a sua decisão – Keitaro não segurou as lágrimas – Por favor, não deixe a pensão! Sei que você é feliz aqui!

- Não sou! – Motoko gritou, interrompeu a fala do gerente da Hinatasou – Nunca fui feliz aqui! Meu maior erro foi ter fugido de Kyoto por um motivo idiota e vir parar neste lugar estranho! Só tive azar ao vir aqui! Não consigo passar no vestibular, não consigo treinar decentemente, vivo com um idiota tarado! – apontou para Keitaro – Enfim, nunca fui feliz aqui! Quero ir embora! Quero ficar bem longe desta cidade!

Su não agüentou e começou a chorar, algo que ela fazia somente em ocasiões extremamente raras. Shinobu, extremamente chocada, deixou o saguão às pressas.

- Então, você não voltará mais para cá? – perguntou Naru, também triste com a decisão da amiga – E as coisas boas que você passou com a gente? Você já se esqueceu? – logo, a tristeza de Naru se transformou em raiva contra Motoko.

- Desculpe, Narusegawa – Motoko a chamou novamente pelo sobrenome – Sinto muito pela minha indignação, mas perder o homem que eu amo e ainda ir mal no cursinho são duas coisas que me destroem por dentro.

- Pensei que você tivesse desistido do Keitaro – Kitsune era a única que não dava bola com a situação nebulosa que estava ocorrendo naquele momento. Kitsune continuou a falar - Pelo menos, nos diga para qual país você vai...

- Bem – Motoko respirou fundo novamente – Iremos para o Brasil. O marido da minha irmã trabalha em uma siderúrgica e ele será transferido para uma filial naquele país. Ficaremos lá por tempo indeterminado.

- Brasil? Aquele país onde matam por qualquer coisa? – disse Sarah, com voz de ironia e escárnio – Você é louca mesmo, samurai de araque...

- Fecha a sua boca, sua ianque! – Kitsune disse para Sarah – Vai dar uma volta, vai! – voltou-se para Motoko – E quando você vai nos deixar?

- Deixarei a pensão dentro de dois dias. Ficarei duas semanas em Kyoto para fazer os passaportes e os vistos; e depois embarcaremos para o Brasil.

- Dois dias... – Kitsune pôs a sua cabeça para funcionar – Keitaro, por que a gente não faz uma festa de despedida para ela amanhã. Sabe, para agradecer pelas coisas boas que ela fez comigo para a gente nestes últimos anos...

- Tem razão, Kistune – Keitaro gostou da idéia – O que acha, Motoko-chan?

- Bem, não sei... – Motoko pensou um pouco – Está bem. Vou aceitar uma festa. Mas deixarei a pensão na madrugada seguinte, tudo bem?

- Tudo bem, Motoko-chan – respondeu Keitaro – Esta será a maior festa que esta pensão já viu...

Na noite seguinte, aconteceu a festa de despedida para Motoko. Além do pessoal da pensão, todas as suas amigas estavam lá para se despedir dela. Emi não aceitava a sua despedida e insistia para que Motoko continuasse na pensão. Su não estava animada, pois sabia que nunca mais viria ver a sua melhor amiga. Shinobu se esforçava para preparar os mais deliciosos quitutes da região de Kanto e outros pratos japoneses, enquanto Kitsune só pensava em encher a cara de saquê. No final da festa, por volta da meia-noite, Naru, Keitaro e Haruka ofereceram um presente de despedida para Motoko: um quadro com a foto de toda a turma tirada em frente à fachada principal da pensão. Motoko agradeceu o presente e abraçou profundamente todos os presentes na festa, especialmente o Keitaro.

- Urashima, muito obrigada por tudo! Agradeço de coração por tudo que você fez por mim! Te desejo sorte e saúde para você e para a Naru quando vocês se casarem! – Motoko não resistiu e chorou nos ombros de Keitaro.

Cinco horas da manhã. Após se levantar, Motoko se arrumou. Estava pronta para a viagem até Kyoto. Pegou as suas malas (entre elas, uma especial contendo a sua espada) e caminhou lentamente para não acordar o pessoal da pensão. Ao descer a escada, atravessou o saguão e viu a Kitsune deitada no sofá, totalmente bêbada. Atravessou a porta principal e seguiu para a escadaria. Antes de descer para a rua, voltou-se para trás para ver a Hinatasou pela última vez em sua vida. Lágrimas começaram a correr, pois estava deixando para sempre o seu lar durante os últimos anos. E assim, Motoko Aoyama começou a descer as escadarias rumo ao ponto de bondes e deixou a Hinatasou para nunca mais voltar.