Os meninos estavam realizando um julgamento quando Seohyun chegou à casa do Juízo. Yumii a recebeu.

— Seja bem-vinda, senhora. — Disse ela. — Vou levá-la a seus aposentos e lhe mostrar a casa.

Assim ela fez. O quarto de Seohyun era em frente ao do casal, para qualquer emergência. Yumii pediu a um espectro que avisasse quando os meninos terminassem, para que pudessem ser apresentados. Elas passearam pela casa enquanto conversavam sobre as primeiras orientações.

— Muitas coisas sobre a gravidez neste mundo são como no primeiro — explicou Seohyun. — Você não deve fazer esforço, tem que repousar sempre que puder e beber muitos líquidos. É bom manter uma alimentação constante, com três refeições por dia, mesmo que não precisemos comer aqui. Eu cuidarei disso para você, pessoalmente. Ah, e precisa procurar um vidente que possa dizer o sexo do bebê.

— Já temos — contou Yumii. — Um de nossos juízes recebeu o poder da previsão. Ele já poderia ter me dito, na verdade, mas eu pedi que esperasse mais um pouco.

— Ótimo. E os aposentos? Não há muita urgência, mas imagino que já tenha pensado nisso.

— Sim. Nosso novo quarto é espaçoso. Em breve, encomendaremos um berço. E também estamos preparando um quarto de brincar, para que a criança tenha um espaço só dela... Ah, aí estão os meninos!

De fato, os sete acabavam de dobrar o corredor. Namjoon ia a frente, e sorriu ao ver as moças.

— Senhora Seohyun, este é Kim Namjoon, líder do novo Juízo.

— Ah, prazer em conhecê-lo. Devo dizer que é muito mais simpático do que Abraxas.

Namjoon riu levemente.

— Obrigado, senhora Seohyun.

— Este é Kim Seokjin, — disse Yumii — o mais velho.

— Você é um rapaz muito bonito. Nem parece o mais velho.

— Obrigado — disse ele, satisfeito. — É um prazer recebê-la em nossa casa.

— O prazer é meu.

— Min Yoongi — apresentou Yumii.

— Meus cumprimentos, senhora. Seja bem-vinda.

— Muito obrigada.

— Este é o vidente de que lhe falei, Jung Hoseok.

Hoseok deu a ela o mais sincero dos sorrisos.

— Você cresceu — disse ela.

— E a senhora continua linda, Eomma.

Os outros observaram admirados enquanto os dois se abraçavam devagar, como se nada pudesse atrapalhar aquele instante. Foi um abraço longo, forte e sincero. Quando finalmente se soltaram, os dois estavam entre lágrimas, e alguns dos meninos também as estavam segurando.

— É isso que significa “não é nada”? — Murmurou Taehyung baixinho, e Jimin lhe deu um tabefe discreto no braço, sem tirar o sorriso do rosto.

Seohyun segurou o rosto de Hoseok com as duas mãos.

— Olhe só pra você — disse ela, emocionada. — Está um homem feito. E é um juiz! Um juiz que derrotou Abraxas. — Seu sorriso desapareceu de forma muito sutil. — O que aconteceu, criança? Como chegou aqui?

— Foi uma overdose. Eu tomava remédios controlados contra narcolepsia.

— Narcolepsia? Quando começou a ter isso?

— Logo depois que você veio. Não superei bem. É psicológico. Mas está tudo bem agora, Eomma. Ah, você ainda tem que conhecer os outros juízes! Esse é o Park Jimin.

— É uma honra conhecê-la, senhora.

— Igualmente.

— E este é Kim Taehyung.

— Estou muito feliz pela sua presença em nossa casa. De verdade.

— Também estou feliz, Taehyung.

— E o Jungkook a senhora já conheceu, né?

— Sim. Tudo certo, Jungkook?

— Tudo sim, senhora.

Os meninos levaram Seohyun para uma sala onde os nove puderam sentar e conversar sobre os meses seguintes. Ela contou que ficaria responsável pela alimentação de Yumii, fazendo Jin oferecer sua ajuda para o que fosse necessário. Também era responsabilidade dela manter a saúde de Yumii e do bebê, sempre averiguando se estava tudo certo. Também falaram sobre o grande dia da chegada, o que deixava os Juízes nervosos; não queriam que nada desse errado. A pergunta que não queria calar era se haveria algum tipo de anestesia.

— Algumas meninas do departamento estão trabalhando em uma anestesia que realmente funcione, sem trazer riscos às mães e seus bebês. Temos o apoio das ilhas tecnológicas e até de alguns médicos, mas tudo é diferente neste mundo. As anestesias convencionais não funcionam, ou causam algum problema. O mais saudável e seguro é fazer à moda antiga.

Houveram algumas trocas de olhares, antes que Hoseok se pronunciasse.

— Eu posso tentar.

— Como assim, meu filho?

— Nós, Juízes, recebemos alguns poderes para ajudar a manter a justiça. Eu recebi o poder da previsão, mas também sou capaz de produzir… pílulas.

— Pílulas? — Perguntou Namjoon. — E não disse pra gente?

— Não tem a ver com o Juízo. É mais como uma herança da narcolepsia, da overdose, talvez até do tiro de Abraxas.

— Que tipo de pílulas? — Perguntou Jungkook.

— Ah, depende. Posso fazer o que quiser, mas não fiz muitos testes. Na verdade, não sei muito sobre isso, mas eu sei que é possível.

— Hoseok — disse Jin, com sensatez. — Se ainda está começando com isso, talvez não esteja pronto para produzir algo assim.

— Tenho nove meses para tentar.

— Mas as mães-sem-filhos não estão tentando há anos? — Perguntou Yoongi.

— Sim — confirmou Seohyun. — Alguns anos. Uns 10, no mínimo.

— Talvez eu possa dar uma olhada no que já fizeram — disse Hoseok. — Posso desenvolver alguma ideia em andamento. Estou falando de uma habilidade especial, gente, não apenas conhecimento ou materiais. Seja lá o que eu produzir, não colocarei ninguém em risco. Porque posso prever se vai funcionar ou não, antes de qualquer teste.

— Então não vejo por que não tentar — disse Yumii.

— Bom… — Disse Seohyun. — Vendo por esse lado… Podemos ao menos avaliar essas possibilidades. Mas, Hoseokie… Você vai ter disponibilidade de tempo para ver isso? Trabalhando como juiz?

— Temos algum tempo livre — disse ele, com segurança. — Garanto que é tempo suficiente para minhas tentativas.



Com o cair da tarde, Jin e Seohyun foram para a cozinha cuidar do jantar. Jin tinha muitos materiais conseguidos na ilha tecnológica e na ilha alimentícia, além de alguns espectros que já estavam acostumados a ajudá-lo. Mostrou tudo para Seohyun e eles trabalharam lado a lado. Depois de preparar toda a comida, colocaram nas bandejas e suportes em que seriam servidos, cobriam com panos e vidros e etiquetaram. Jin sempre deixava nas etiquetas as orientações para servir.

Durante o jantar, houve mais conversa sobre o caso. Yumii saiu da ponta e foi para o lado de Jungkook, ficando de frente para Seohyun, que sentou-se ao lado de Hoseok. As duas conversaram sobre a comida, que era saudável para uma gestante, mas também saborosa. Na hora da sobremesa. algo diferente foi servido para Hoseok. Era uma barra de chocolate, e ele olhou diretamente para a mãe, com um lindo sorriso.

— Vai me deixar mal acostumado de novo — brincou ele.

— Só hoje. Pra comemorar.



Os meses passavam conforme a barriga de Yumii ia crescendo. Seohyun a mantinha bem alimentada, com as três refeições por dia. Algumas vezes, Jin insistira em ajudar quando estava com o tempo livre, e ela o deixara produzir uma ou outra coisa. Seohyun também fazia companhia a Yumii em seu repouso quando os meninos estavam ocupados com o Juízo. Algumas vezes, ela saiu com o casal e com o insistente Taehyung para dar uma olhada em roupas, móveis, artigos de decoração e brinquedos. Yumii estava com quatro meses quando não aguentava mais olhar todas as coisas sem poder pedir nada por não saber o sexo da criança. Então, finalmente, pediu a Hoseok para prever.

Hoseok entrou na sala da Eva, onde ele tinha ficado durante a espera pelo fim dos julgamentos dos amigos, e onde fazia suas previsões. Havia um reservatório de água, parecido com uma banheira; duas pilastras negras com capitéis dourados e alguns pinheiros pequenos que simbolizavam o jardim. No fundo, estava o quadro com a imagem de Eva, a representação da mãe. Era a figura da Pietà modificada: Maria segurando um filho desfigurado, porque era mãe de todos.

Hoseok entrou na água, onde uma cadeira dourada o esperava. Ele se sentou e passou a mão na água.

— Eva… A criança que está no ventre de Yumii será um menino ou uma menina?

— Uma menina — disse Eva, com a voz mansa e majestosa.

— Obrigado.

— É só isso que deseja saber, meu filho? Sabe que tenho todas as respostas.

— Por enquanto, estou satisfeito.

— Tem certeza? Sua Eomma lhe perguntará em breve como está seu Appa. Não quer nem ao menos saber como vão as coisas no outro mundo?

Hoseok olhou para trás. A imagem permanecia branca e inalterada, como sempre.

— Deixamos muitos para trás — lembrou ele. — E até agora não nos perguntamos como eles estão.

— É porque você não quer se prender ao passado. Não está errado. Mas talvez hajam assuntos não resolvidos.

— Do que está falando, Eva?

— Nada específico. Por que você mesmo não vê?

Hoseok voltou-se para a frente. Passou a mão sobre a água novamente.

— Mostre a minha casa.

A água projetou-se para cima, formando um painel tremulante que logo mostrou-lhe a imagem que desejava. Sua casa estava vazia.

— Onde está meu Appa, Eva? — Perguntou ele. A imagem mudou e mostrou a casa de infância. Lá, ele viu não só o pai como outros parentes, tomando café feito pela tia de Hoseok. Ele parecia quieto como sempre, mas não estava triste. A família o estava ajudando a superar a perda. Hoseok sorriu. — Que bom que está bem, Appa. Eva, me mostre… Os pais de Jiminie. — A imagem mudou. Era a praça onde estava a estátua do rei Sejong, e havia quatro pessoas caminhando. Hoseok estreitou os olhos, e ao entender, sorriu. Os Park e os Jeon caminhavam juntos. Conseguiram superar as perdas, mas nem por um dia sequer deixaram de pensar nos filhos, nem mesmo nos amigos deles. Apoiavam uns aos outros. — Isso me deixa tão feliz… — Disse Hoseok, lacrimejando. — Queria que tivesse me dado essa ideia antes, Eva. Agora… Me leve aos pais de Jin Hyung. — A água mostrou o interior da casa de Jin Hyung. Os pais pareciam abalados, e Chung Ho estava por perto.

— Eles se sentem culpados pela morte do filho — disse Eva.

— Você acha que Chung Ho pode ser uma ameaça para eles?

— Olhe para o que ele já fez. Não é difícil supor. Veja, ele foi influenciado por Abraxas, que já não existe mais. Porém, ele deixou uma marca em Chung Ho, muito maior do que a que deixou em Yumii, porque o médico já era predisposto a ser uma pessoa má. Agora, a maldade faz parte dele tanto quanto seus ossos.

Hoseok temia pelos Kim.

— Vou ter que dar um jeito nisso. Depois. E a irmã do Tae? Me leve à casa dele — disse, e a água mostrou a casa vazia. — Onde ela está? — Perguntou, e a água revelou, supreendentemente, o Terraço da Família Bangtan. — O quê? — Murmurou ele, abismado. — Então você está aqui...

— Quem está aí?

Hoseok se assustou com a resposta da garota.

— Ela... Pode me ouvir? Você pode me ouvir?

— Sim. Você deve ser um espírito.

— É, eu... Eu sou isso aí.

— Qual é o seu nome?

— Jung Hoseok.

— Eu sou Kim Yonseo. Você precisa de ajuda, Jung Hoseok?

— Não, até que eu estou muito bem de morte. Eu e meus amigos ocupamos o cargo mais alto desse mundo.

— Seus… — Yonseo analisou os túmulos à sua frente. Encontrou o nome Jung Hoseok em um deles. — Você conhece Kim Taehyung?

— Sim, Yonseo. Eu conheço seu irmão.