Respiro fundo e recupero-me daquelas emoções, eu sinto muito por William, mas não posso forjar um sentimento só para agradá-lo. Em seguida, dirijo-me à sala do trono, onde sou recebida por meus conselheiros, entre eles Alfred e o duque Hammond

— Majestade - todos recebem-me com uma reverência, lanço-lhe um sorriso, enquanto caminho até o trono

— Os documentos e o mapas já estão aqui? - questiono-lhes. Eu havia me preparado com eles, revisando todos os papeis que encontramos, colocando-os em ordem e estudando cada finança e a geografia do reino

— Claro – Stuart me aponta uma grande mesa cheia de papeis

— Então deixem que entrem – digo e respiro fundo. A guerra contra Ravenna parace-me fácil perto de gerenciar nosso vasto reino até minha morte, todas as pessoas, suas vidas e seus problemas recaindo sobre mim.

— Majestade! - alguns homens adentram a sala, pelas roupas que trajam, parecem ser camponeses – Somos fazendeiros da região da Candócia – aquele é um importante local para a produção de alimentos do reino e para o comércio com outros países – Viemos pedir o teu favor em uma questão muito importante, não só para nós, como também para o reino; os tarks – são criaturas da floresta encantada, parecem lobos, só que do tamanho de cavalos com pelagem que varia entre tons de azul, de garras muito afiadas e olhos dourados ou violeta, no caso das fêmeas – eles estão atacando as nossas plantações, para ir atrás dos animais que temos. Já perdemos parte do nosso gado, não muito, a maioria dos abatidos eram animais velhos, mas o pior é o estrago que fizeram em nossas terras em plena época de semeação. Até agora, estamos consertando o prejuízo, porém, se continuar assim, a colheita será prejudicada e nossos homens morrerão, lutando contra as feras para proteger nossa fonte de sustento

— Realmente, senhor …

— Carlos – o líder do grupo se identifica – Carlos Dankan

— Realmente, senhor Dankan, é uma questão muito séria e fico honrada de ter confiado em mim para resolvê-la. Alfred, você pode trazer aquele mapa antigo que mostra os habitats dos animas mágicos? - ele traz e coloca em cima grande mesa à minha frente – Carlos, poderia me apontar, exatamente, onde ficam suas fazendas? - ele vem e o faz - Steve, você pode me mostrar onde eles, geralmente, se alimentam? - Steve é um conselheiro com grande interesse e conhecimento nessa área, as criaturas, tantos normais, quanto sobrenaturais, o encantam – Aqui, majestade – ele marca um ponto dentro da floreta perto da caverna onde os tarks permanecem – Senhor Carlos, se eu me lembro bem de um livro que li quando era criança, eles se alimentam sempre perto de onde dormem, só que isso não faz sentido, pois as suas terras ficam longe da caverna; a única coisa que explica essa situação é que estão repousando em outro local

— Bem, tem uma gruta perto da minha fazenda

— Mas eles só se mudariam se a casa deles estivesse, realmente, comprometida. Quero que enviem alguns homens para ver o que há com a caverna, vão pela manhã, enquanto os tarks dormem e, se conseguirem, deixá-la apropriada de novo, coloquem uma trilha de pedaços de carne para guiá-los de volta para o antigo lar. Enquanto não resolvemos isso, coloquem algumas tochas ao redor das cercas e incensos de hortelã, isso deve mantê-los afastados à noite

— Muito obrigado, rainha – eles dizem, se retiram e respiro fundo

— Conseguimos – eu relaxo no trono

— Parabéns, rainha – o duque Hammond disse com um olhar de orgulho e os demais conselheiros também me parabenizam

— Obrigada a todos vocês

— Só fizemos o noso trabalho – afirma Alfred

— Mas o fizeram bem. Agora, sigamos, deixem o próximo entrar

Um homem adentra, seu rosto demonstra irritação e eu já fico preocupada se ele vai dar trabalho, dá para perceber pelo seu jeito e pelo brilho em seus olhos que tem gênio forte

— Majestade – ele faz a reverência de um modo duro, como se seus músculos estivessem todos contraídos

— Eu preciso que me resolva um problema, eu quero – ele faz uma pausa - por favor, que me devolva as terras que me pertencem, Ravenna as tomou de mim por eu não conseguir pagar aqueles impostos abusivos, seus soldados vieram impiedosos e chegaram a matar uma de minhas filhas

— Eu sinto muito – digo-lhe

— Eu também, rainha – seus olhos úmidos se pintam de luto e tristeza – Eu sei que ninguém irá devolver minha filha, mas minha família merece parar de trabalhar nas terras de outros e meus filhos merecem ter a herança que lhes é devida, eu quero, ao menos, ter a paz de que se eu morrer, não os deixarei desamparados – ele parecia ter idade semelhante ao duque, o que significava que suas filhas e suas possíveis noras devem estar grávidas ou com bebês

— Eu poderia, pelo menos, saber seu nome?

— Sou o barão de Tuzy, George Campbell Manphis; perdoe-me pela minha atitude, entrei tão pertubado que nem me apresentei

— Está tudo bem, imagino que um assunto como este provoque um efeito desses, Ravenna também me tirou alguém que eu amava e o que era meu. Eu quero fazer justiça, mas preciso que prove que as terras eram suas, infelizmente, algumas pessoas podem tomar os bens do cofre real. Não quero lhe ofender nem nada, mas é necessário

— Eu entendo – ele sorri de leve – Eu tenho a escritura aqui comigo, assinada pelo seu próprio avô e também trouxe algumas testemunhas, se quiserem é só pedir para entrarem

— Deixe-as entrar, eu quero ouvir a todas e, enquanto isso, vocês – dirijo o meu olhar em direção aos conselheiros - analisem o documento que ele trouxe

Toda a análise é feita e é comprovado que aquele terreno era do barão e que foi tomado, injustamente, pela bruxa que ocupava o trono. Pelo que estudamos há alguns dias, teríamos que lidar com muitos outros casos com esse, Ravenna enriquecera muito sugando cada riqueza possível do povo, deixando-o na miséria.

— George, suas terras lhe serão devolvidas, espero que isso lhe traga paz a você e alegria a sua família

— Muito obrigado, rainha, a senhora é bondosa e justa, ao contrário, da sua antecessora

— Fico muito feliz pelo seu elogio

Os atendimentos seguem, repleto de questões sérias, fazendo-me consultar documentos, o conhecimento e a sabedoria de meus conselheiros. Busco a melhor decisão sempre, mas quando não sei ou fico em dúvida, não hesito em buscar o auxílio daqueles que estão aqui para me ajudar. Muitas coisão são resolvidas, o que dá trabalho aos escrivãos para anotarem tudo e aos cartógrafos, que terão que atualizar alguns mapas; em algum momento, fazemos uma pausa para o almoço, mas, logo, que acabamos, voltamos. Para meu alívio, o horário, o horário de atendimento, finalmente, chega ao fim, todos se vão, enquanto eu continuo na sala do trono, aguardando alguns instantes para acalmar o turbilhão de pensamentos que preenche minha mente. Assim que tudo parece retornar a ser um sereno lago, levanto-me e saio do cômodo, dando de cara com os olhos tempestivos do caçador.

— Eric – lanço-me em seus braços em um abraço e ele me recebe calorosamente, beijando meus cabelos

— Oi – ele diz com a voz meio rouca – Amo como me recebe e o cheiro do seu cabelo, parece que você carrega um jardim nele – ele ri

— Acho melhor irmos para outro local – digo, indicando com os olhos os guardas que tentavam não nos encarar

— Tudo bem – ele responde, oferecendo-me o braço, eu aceito e seguimos para outro corredor

— Bem, para onde vamos? - pergunta-me, desacelerando seus passos

— Para a sala de jantar

— Francamente, é melhor você me guiar, eu não faço ideia de como chegar lá nesse labirinto de corredores – eu rio. Para mim, já era o oposto, tudo aqui é, deliciosamente, familiar, conheço cada canto como a palma da minha mão. Andamos, com a sensação boa de sua presença e do calor de seu corpo ao lado do meu, eu tinha certeza do sorriso de canto de boca que estava em seus lábios.

— Pronto, chegamos – afirmo alegremente

Nós nos sentamos na mesa, ele ao meu lado, mas meus olhares de lado curiosos, às vezes, encontram suas tempestades em olhos e, quando ele também sorri, um raio ilumina-os, clareando as nuvens

— Você me fita como se eu fosse um príncipe

— É muito mais especial, é o meu caçador

— Sou sim – Eric diz e se aproxima de mim, a distância se reduzindo, meus lábios já esperando pelo toque dos deles, quando o barulho da entrada de pessoas nos interrompe, são servas trazendo nossas refeições

— Me perdoe, majestade – ela ruboriza violentamente, as bochechas alvas tornando-se as mais rubras maçãs

— Está tudo bem, …

— Matilde

— Matilde, eu só peço que tente se acostumar com esta cena, Eric está me cortejando e se tudo der certo, isso se tornará muito frequente

— Claro, majestade – ela nos serve e se retira

— Falou muito certa sobre nós – o caçador comenta

— Por acaso, não deveria? - rebato com os olhos desafiadores

— Não é isso – ele acaricia minha bochecha – É que agora tive plena convicção de que está disposta a lutar com unhas e dentes por nós, uma parte de mim ainda temia que fosse só a primeira paixão de uma jovem que ficou afastada de tudo por muito tempo, mas esse medo passou

— Pois saiba que é muito sério – afirmo, encarando, profundamente, seus olhos

— Eu sei – ele responde e cola de leve seus lábios nos meus e, por mais suave que seja, é suficiente para acender uma faísca em meu coração.

Comemos o cozido que nos é servido e posso dizer que é uma ótima escolha, pois o sabor se mostra fantástico. Após isso, guio-o mais uma vez pelo palácio até nos encontrarmos em uma varanda, o que nos permite ver o límpido céu negro, preenchido por estrelas e uma bela lua cheia, assim como o quebrar das ondas na praia

— A vista é muito linda – o caçador comenta admirado

— Era uma das minhas paisagens preferidas – eu ficava ali, no colo da minha mãe, com ela acariciando meus cabelos com a mão e cantarolando; eu me lembro, exatamente, da sensação

— Mas não é mais linda do que você – ele fala e eu sorrio ao perceber sua aproximação. Logo seus lábios estão colados nos meus, numa dança harmoniosa, uma chama incendeia todas as minhas veias e consome meu coração. Meus dedos se trançam em seus cabelos, seu braço forte se fecha em minha cintura, enquanto o outro, delicadamente, segura minha nuca. Me afasto dele, quando meus pulmões gritam por ar, mas posso ver uma tempestade de raios nas nuvens azuis - acinzentadas de seus olhos

— Eu te amo, Branca – ele sussurra, fitando-me

— Eu te amo, caçador – respondo, sorrindo e, antes que eu me magnetizasse no azul de seus olhos, Eric continua a conversa

— E como foi hoje, na sala do trono e tudo mais? - diz com divertimento em seu olhar

— Acho que bem – solto um suspiro pesado – Mas é difícil e uma imensa responsabilidade – faço uma pausa – Eu só … - desvio o olhar para o mar em busca de algum reconforto – Só tenho medo de não conseguir, de não ser uma boa rainha e decepcionar o povo

— Ei – ele coloca a mão em meu queixo. delicadamente, puxando o meu rosto em sua direção – Eu sei que você está sendo e será uma boa rainha, você está tentando e só o fato de se preocupar em ser o melhor o possível, já demonstra que está no caminho certo. Você é totalmente diferente daquela bruxa, você trouxe esperança, traz luz aonde quer que esteja – o caçador acaricia minha bochecha e eu fecho os olhos, suspirando

— Obrigada – falo, abro os olhos e meu sorriso

— Você contou para William – Eric afirma e a alegria morre em minha face e meu coração se contorce

— Sim – sussurro

— Eu sei pelo jeito que o duque me olhou ao deixar a sala do trono – fito-lhe preocupada – Não foi nada demais, ele me lançou um olhar irritado e com raiva, mas é compreensível, eu tomei o lugar que seria do filho dele

— Fui eu que te escolhi

— Eu sei, mas se eu não tivesse entrado em seu caminho, não seria uma opção

— Se não tivesse feito isso, eu teria morrido, o irmão da rainha teria me achado e ela teria arrancado meu coração ou teria permanecido naquele caixão na fortaleza do duque

— Eu não me arrependo de ter entrado em sua vida e não quero abrir mão da felicidade que me foi concedida, do amor, mas, às vezes, sinto que tomei o lugar que não é meu, ao lado de uma rainha, dentro de uma palácio...

— Eu te escolhi e escolheria de novo caso me fosse questionado, você não tomou o lugar de outro, apenas o seu, o espaço que tenho em meu coração é seu há algum tempo, eu só não percebia

— Eu já te disse que você é incrível?

— Acho que hoje não – digo divertida

— Então deixe-me dizer de novo de outra forma – ele me beija e eu, mais uma vez, sou tomada por aquela sensação

— Gosto muito da maneira como demonstra isso – Eric ri, enquanto seus braços continuam envolvendo minha cintura e os meus, seu pescoço

Nossa atmosfera de felicidade é interrompida por batidas fortes e desesperadas na porta do cômodo, ao qual a varanda pertence, o caçador é mais rápido do que eu e a abre para um duque Hammond totalmente angustiado, como se a morte lhe sussurrasse ao ouvido

— William – o nome de meu amigo sai de meus lábios como um sussurro mórbido; só ele podia apavorar o pai desse jeito

— É, é ele mesmo, não voltou para cá desde que falou contigo – sinto como se uma adaga fosse enterrada em meu peito, mirando o coração

— Você sabe aonde ele foi?

— Ele disse alguma coisa sobre a Vila Real

— Eu vou atrás dele, vou percorrer cada pedaço daquela vila até encontrá-lo – digo já me encaminhando para a porta, para junto do duque, mas o caçador interrompe minha caminhada, colocando seu braço à minha frente

— É melhor não, Branca, ele não vai querer te ver agora e, muito menos, que o veja no estado em que deve estar

— O que está dizendo?

— Acho que ele está na taverna, gastando cada moeda que tem

— Mas meu filho não se embebeda! - Hammonnd exclama

— Pode ser, mas o dono daquele local tem pessoas experientes para seduzí-lo a beber, devem tê-lo envolvido em uma boa conversa. Já vi fazerem isso antes, é melhor o senhor levar algum dinheiro, vão tentar convencê-lo a gastar até o que não possui, eu vou contigo

— E porque você quer ir? - questiono-lhe irritada

— Porque eu sou a pessoa certa para fazê-lo reagir, ele com certeza vai quer socar a minha cara e a chance de fazê-lo o levará a sair da taverna

— Você vai deixá-lo te bater?

— Vou, não é a primeira vez que me envolverei numa briga e levarei a pior – ele diz com um sorriso e me beija

— Tome cuidado – volto para a varanda e os vejo partir, cavalgando pela praia, eu só espero que dê tudo certo

Ponto de vista Eric

Seguimos para a Vila Real, indo mais rápido que os cavalos permitiam, no caminho eu só torço para que Will não tenha se envolvido numa briga com os irmãos Donald's, dois ruivos musculosos que gostam de socar a cara de um pobre infeliz. Quando chegamos na entrada da taverna, eu paro e alerto Hammond:

— O que você vai ver lá dentro não é o seu filho, então fique calmo e amanhã ele vai voltar a si. Quando eu conseguir fazê-lo levantar, você aproveita e já paga a conta dele, depois vai ter que tirá-lo de cima de mim

— Como sabe que ele fará isso?

— Eu já vim muito aqui e é exatamente o que eu faria

Entramos no local e logo o cheiro de bebida atinge-nos, assim como o barulho das conversas altas e descoordenadas, o duque encara tudo com um certo horror, mas, infelizmente, tudo isso me é familiar. É fácil encontrar William, por ele ser completamente um novato, enquanto os outros agem como se estivessem em casa. O pai o acha, mas parece que não acredita, vai até sua direção e o aborda

— William, meu filho, eu estava preocupado, mas você está vivo; vamos para casa, vamos embora, meu filho – ele toca o braço do garoto

— Me deixa! - o jovem se desvencilha – Estou bem, estou curando meu coração partido, afogando as mágoas – diz com a fala enrolada

— William - o pai lhe chama em tom suplicante

— Me deixa! - ele grita e empurra o pai

— Deixa que eu resolvo isso – acalmo o duque – Will, meu amigo – toco seu ombro, ele vira e, quando me vê, a raiva pinta seu rosto.

— Você?

— Sim, eu mesmo, vim falar contigo

— Me deixa! - ele se volta para sua caneca cheia de bebida

— Infelizmente, não vou poder atender o seu pedido, eu quero conversar contigo e só vou sair daqui quando conseguir isso – ele me ignora e toma um gole – Tudo bem, se você quer fazer assim, vai ser do jeito mais difícil – pego sua caneca e derramo todo o líquido no chão

— Ei! - ele se vira para mim

— Acho que vai ter que falar comigo – recuo alguns passos e ele se levanta, vindo até mim, o duque logo paga sua dívida

— Você não tinha o direito de fazer isso! - ele avança

— Eu sei – dou o meu melhor sorriso cínico e vou saindo da taverna, como o esperado o arqueiro me segue

— Você tem o péssimo de se meter onde não é chamado! - ele berra, apontando para mim – Como agora e com ela! Se não tivesse se colocado no caminho dela, estaríamos juntos agora! Ela estaria nos MEUS braços! Por que não continuou enterrado na lama de onde veio, caçador bêbado! - ele tenta me acertar um soco, mas eu desvio

— Eu não tive escolha, a rainha mandou me buscar

— Não tivesse aceitado a proposta dela! - desvio de outro soco

— Ela me prometeu trazer a minha esposa de volta, eu nem sabia quem era a garota que ela ordenou buscar – desta vez, eu tropeço em algo, enquanto recuo, e caio, o que faz com que William se aproveite disso, desferindo-me alguns golpes. O duque, assim que fita a cena, o retira de cima de mim

— Will, volte a si! - o pai suplica-lhe. Levanto-me e vou até ele, que se debate como uma fera

— Não foi nada planejado, nem eu sabia que podia amar assim de novo – faço uma pausa – Branca, ela está angustiada te esperando no palácio, ela queria muito vir te buscar, mas achei melhor ela não te ver como estava lá dentro – ele se suaviza – Sei que você é um homem honrado, então comporte-se como um e volte para ela, que não hesitaria em te resgatar não importa em que confusão se metesse – Will se larga nos braços do pai

— Não deixem que ela me veja assim – sua fala é enrolada

— Eu não vou deixar

— Vamos embora daqui – o arqueiro diz como uma declaração de derrota

Retornamos ao palácio, os servos já vem prontos a carregar William até uma grande tina de água e as servas já estão preparando um chá para aplacar, minimizar os efeitos da bebedeira. Branca logo vem ansiosa e agitada como um furacão, mas eu a barro.

— Eu quero vê-lo, Eric – pede-me desesperada

— Ele me pediu para que você não o encontrasse do jeito que está e eu lhe afirmei que não deixaria. Ele vai tomar um banho, um chá e depois dormir

— Então deixe-me vê-lo antes que adormeça, Eric, ele é o meu melhor amigo

— Tudo bem – suspiro e ela me abraça, o calor de seu corpo irradiando para o meu, a ternura de seu toque, tão entregue em meus braços. Eu não poderia decepcionar alguém que confia em mim, que me deu uma chance, que me ofereceu sua mão para me ajudar a sair da lama, na qual eu havia me colocado. É claro que uma pequena parte de mim, da qual eu me envergonho, sente ciúmes do carinho que Branca demonstra por Will, mas eu busco fortalecer o outro lado, que sabe que essa é a mulher que eu amo, se ela não agisse assim, não seria a Branca que conheço e que me conquistou.

Aguardamos um tempo, conversando para que ela se acalmasse até que uma empregada nos interrompe

— Majestade, o filho do duque já está deitado em seus aposentos, creio que este seja o momento de falar com ele antes que adormeça

— Obrigada – a serva retira-se e ela me encara, buscando alguma dor ou irritação em meus olhos

— Pode ir, estarei te esperando aqui – encorajo-a com um sorriso

Ela me deixa, indo irradiar sua luz e doçura para o amigo necessitado, é isso que mantenho em minha mente para evitar o ciúmes traiçoeiro.

Ponto de vista Branca de Neve

Abro a porta e avisto meu amigo na cama de seu quarto, adormecendo serenamente como uma criança.

— Will? - sussurro incerta de se ele está mesmo dormindo

— Branca – ele diz suavemente e seus olhos se abrem, iluminado-se como dois faróis

— Ele me convenceu a não te ver assim que você chegou

— Isso dói de dizer e nem acredito que farei isso, mas ele é uma boa pessoa – sento-me na cadeira ao lado da cama

— Pensei que não estaria tão sóbrio – ele riu

— Você quer dizer que pensou que eu estaria mais bêbado – apesar de ele poder conversar com certa clareza, sua fala é meio descoordenada e enrolada – Eu, incrivelmente, sou duro na queda e aquele chá amargo que me deram ajudou a cortar o efeito da bebedeira. Eu tenho que aproveitar enquanto ainda estou bêbado o suficiente para falar o que quero. Eu te amo, Branca, te amo demais, meu coração é só seu – uma dor excruciante se espalha por meu corpo como se mil lâminas me transpassassem, as lágrimas logo se acumulam em meus olhos

— Will – só um sussurro quebrado sai por meus lábios – Eu queria poder acabar com a sua dor e repetir-lhe o que disse, mas seriam mentiras e você sabe que eu te amo demais para fazer isso

— Eu sei – ele ri amargamente – Queria que as coisas fossem mais fáceis

— Serão, eu farei todo o possível para serem, tenho certeza de que encontrará uma linda jovem gentil, educada, que suspirará só de pronunciar seu nome e você, também, cairá de amores por ela

— Como tem tanta certeza?

— Porque eu a encontrarei, nem que seja necessário que meus soldados vasculhem cada centímetro deste reino e, se for preciso, irei a outros, visitarei cada corte – William sorri e fecha os olhos de cansaço

— Eu estou com sono

— Durma – faço cafuné em seus cabelos e cantarolo uma canção de ninar até que ele adormece

Quando deixo seu quarto, saio com o coração leve, com a esperança de que, em breve, toda essa confusão se resolverá, de que o amor da vida de William, sem demora, cruzará seu caminho.