Retorno para os braços de Eric, que me recebe em um caloroso abraço

— Como foi?

— Bem, acho que, daqui em diante, as coisas se resolverão

— Assim espero

Eu, então, busco conforto em seus lábios, que recebem os meus com extrema doçura.

- Bem, acho melhor ir dormir, amanhã terei muitos problemas para solucionar

— Tudo bem, boa noite, meu amor - ele acaricia minha bochecha

— Boa noite

Vou para meu quarto e adormeço assim que encontro os lençóis da minha cama

Posso ver a neve caindo do céu, o chão já está coberto dela e estou quase pulando de expectativa para brincar lá fora.

— Georgia. posso ir lá fora?- suplico para a serva

— Temos que esperar sua mãe sair da sala do trono, ela está ajudando seu pai com uma questão

— Odeio essas coisas de rei e rainha – Georgia ri

— Acho melhor não, um dia você terá que lidar com elas

Aguardo por um tempo interminável com os olhos grudados na janela, eu quero, simplesmente, estar nos jardins, parece que nunca irá acabar até que ouço o ranger da porta abrindo.

— Minha querida – seus doces olhos estão cheios de amor e eu, imdediatamente, corro para seus braços.

— Demorou, mamãe

— Eu não sabia que tinha uma princesa tão exigente – eu rio

— Eu quero brincar na neve, mamãe

— Então, vamos, querida

Encaminhamo-nos para o jardim que está todo branco, com dois soldados conosco, corro para um arbusto alvo pela neve, mas com uma rosa vermelha resistente na brancura

— Olha, mamãe – chamo-lhe

— É como você, minha filha. Sabia que eu desejei ter uma menina alva como a neve, com os lábios vermelhos como sangue e de cabelos negros como as asas de um corvo?

— Não

— E, depois, você veio

— Eu sou um desejo realizado – sorrio em alegria

— É sim, minha querida

Abro os olhos e sou recebida pela luz da manhã, logo, as servas aparecem e uma delas de cabelos castanhos avermelhados me chama a atenção.

— Quem é esta, Georgia?

— Esta é Ellie, minha rainha, uma jovem que vivia na região pantanosa

— Majestade – ela faz um reverância – Eu não sei se é muita ousadia minha, mas trouxe-lhe um presente, escolhido, especialmente, por minha mãe – ela me dá um vaso com uma linda flor rosa – É uma rosa do pântano, um símbolo de esperança e renascimento. Na minha terra, colocamos perto da cama para sempre acordamos visando as boas coisas que o futuro nos reserva

— Georgia, coloque-a no criado mudo

— É uma honra, minha rainha- Ellie diz

— A honra é minha de ter o carinho do povo – encaro-a com mais atenção e noto que seus olhos verde-esmeralda estão meio nevoados, como se estivesse cansada e sonolenta.

— Por acaso, não dormiu bem, Ellie?

— Como, majestade?

— Os seus olhos demonstram sono

— Ah, sim! Estava muito ansiosa por encontrá-la e acabei não dormindo bem

Elas me vestem com um vestido verde escuro rendados com detalhes de fios dourados nas mangas e decote, além da minha cintura demarcada com lindos bordados de flores. Caminho até a sala de jantar, onde encontro o caçador e o meu sorriso se abre de imediato

— Meu amor – falo assim que me aproximo dele, abraço-o e, depois, nos beijamos de leve

— Bom dia – seus olhos brilhavam como duas estrelas. Nos sentamos à mesa e nos fartanos do café da manhã que nos é oferecido

— Estou pensando em, hoje, informar os conselheiros da nossa relação – era um costume e rei ou a rainha fazer isso a fim de que se pudesse receber bons conselhos para não fazer um mal casamento. Isso já tinha impedido de um antecedente meu sofrer um golpe do baú e de Estado

— O que acha que eles vão dizer?

— Eu não sei, alguns, como Alfred e Hammond, eu sei que irão me apoiar, mas outros, eu, realmente, não sei

— Mas eles podem te impedir, nos separar?

— Não, a decisão final é minha, mas não gostaria de ter algum desgaste com os meus conselheiros. Porém, eu não vou deixá-los se meterem além do devido e é, por isso, que vou chamar o conde de Lince

— Por quê? - posso perceber o ciúme acender em seus olhos como uma chama furiosa

— Porque acho que vai concordar comigo e vai usar sua lábia para tentar converncer os outros. Eu preciso de um aliado e ele terá que ser um

— Só me aivse quando tudo terminar e o que for resolvido

— Está bem

Peço que alguém vá buscar Vince, termino a refeição ao lado de Eric e, depois, encaminho-me para a sala do trono para encarar o desafio que me aguarda

— O Conde de Lince já chegou? - questiono a um dos guardas que está na porta do cômodo que estou prestes a entrar

— Sim, majestade, ele acabou de entrar

Quando, finalmente, adentro o ambiente, posso sentir os olhos curiosos de todos sob mim, como se tivessem o poder de queimar minha pele. Todos fazem uma reverência e esperam em silêncio, um silêncio tenso, como uma névoa sufocante, eu respiro fundo e começo:

— Vince, fico feliz que tenha atendido o meu chamado com tanta rapidez

— Claro, minha rainha, ainda bem que estava aqui perto, na floresta, caçando com meus homens. Majestade, tenho que agradecer o sua maravilhosa hospedagem e, no que puder auxiliá-la, não hesite em me convocar

— Espero que honre as suas palavras, conde. - faço uma pausa- Eu quero lhes informar que estou sendo cortejada e pretendo casar-me com ele daqui a um tempo

— Quem, majestade? - Steve pergunta

— Eric Devenger, o caçador – digo e nenhum som se escuta naquela sala, um alfinete que caísse soaria como o derrubar dos tijolos do castelo.

— Um plebeu, minha rainha? - Carl demonstra sua aversão

— Sim, Carl. Algum problema?

— O que meu amigo quer dizer é que um plebeu não é a melhor escolha para uma rainha. - defende Stuart – Precisa de alguém de porte ao seu lado, alguém de boa família, ele é apenas um camponês órfão, que mal conhece suas origens

— O que a rainha precisa é de alguém de caráter ao seu lado – Alfred intervem – Stella, a golpista, que tentou tomar as riquezas do rei, era uma duquesa. No que isso a fez ser digno do trono?

— Além disso, Eric a ama e isso sim o dignifica a ser esposo de Branca – o duque Hammond se põe ao meu lado

— Se ele é o escolhido da rainha e demonstra as qualidades necessárias para ser um bom marido, não vejo problema algum – fala Mark

— Daniel, acho que você não parou para pensar. Quem saiba ele possa se casar com Branca, mas está qualificado para governar o reino?

— Ele será rei consorte, não exercerá a administração real – digo

— Bem, já tivemos um rei consorte antes e foi uma ótima experiência – comenta Steve

— Mas era um nobre! - exclama Daniel

Tudo aquilo já é demais para mim e eu, então, os interrompo-os

— Eu não estou pedindo permissão, estou pedindo o conselho de vocês, mas a decisão final é minha. A nobreza de seu coração, seu caráter e o amor que sentimos é o suficiente para me sentir certa sobre o que vou fazer, o casamento irá acontecer e isso não é algo que caiba a vocês. Sei que querem o melhor para o reino e saibam que eu pensei nele antes de fazer minha escolha, mas, agora, é hora de pensar no melhor para mim, não se esqueçam de que ele será meu marido e dividirá o leito comigo, então, quem tem que gostar dele sou eu. Eu vou dar o meu sangue para o bem do povo, porém eu não abro mão da minha felicidade, não me tornarei uma pessoa amargurada para ser a rainha que vocês querem

O silêncio se faz presente de novo, até que a risada cheia de Vince preenche o ambiente

— Se queriam uma rainha amargurada, não deveriam ter deposto Ravenna. Acharam que, por ser bondosa e delicada, Branca seria, totalmente, maleável? Ela pode ser jovem, porém não é uma boneca de pano; ela é a rainha, mas também é uma mulher que merece amar e ser amada. Se fazem questão de nobreza, procurem bons maridos para suas filhas nos bailes, contudo, cuidado, alguns barões e viscondes gastarão o dote com bebidas e amantes. E, se estão tão preocupados com o reino, por que não usam o matrimônio de seus filhos para construir alianças valiosas para a Coroa? - um silêncio mortal domina o salão – Ah! Neles os senhores não querem tocar, mas ditar o casamento da rainha sim, lembem-se, meus caros, vocês são conselheiros dela e não os pais e, se continuarem se intrometendo com tamanho preconceito, Sua Majestade pode num estalar de dedos demití-los

A atmosfera torna-se pesada, o desconforto é quase palpável e, agora, o temor deles preenche o ar, trazendo uma brisa amarga e enjoante.

— Eu não queria que a conversa chegasse a esse ponto – solto um suspiro pesado – Eu não vou despedí-los de forma arbitrária, eu os escolhi por seus conhecimentos e sabedoria, mas não sou uma criança. Respeito o fato de discordarem de mim, porém peço-lhes que respeitem a miha decisão de me casar com Eric

— Sim, majestade – diz Stuart num tom de derrota

— Claro, minha rainha – Alfred fala com certo orgulho na voz

— Agora, esqueçamos o que se passou e vamos unidos— friso esta palavra – buscar soluções para nosso povo, este é um trabalho conjunto para sararmos o reino – finalizo com um sorriso e isso parece amenizar o ambiente – Vince, você está convidado a se manter conosco

— Será uma honra, majestade – o conde abriu um sorriso simpático e acalentador

Apesar de ainda sentir um pouco da irritação dos meus conselheiros, tudo prossegue em harmonia com muitos casos de devolução de terra e outros de delimitação de fazendas e de problemas com animais mágicos ou não. Quando o momento do almoço chega, eu recebo de muito bom grado a pausa e me encaminho para a sala de jantar para me encontrar com Eric.

— Majestade – ele faz um reverência e, depois, me envolve em seus braços

— Meu amor – digo e o beijo

Sentamo-nos à mesa, somos servidos com uma farta refeição, enquanto isso conversamor amenidades, mas quando dou a primeira garfada na torta de avelã, ele toca em um assunto sério.

— E como eles reagiram? - ele não precisa complementar a frase para saber, exatemente, do que fala

— A maioria ficou ao meu favor e feliz com a minha escolha, perceberam o quanto nos amamos

— Quantos?

— Quatro dos sete, além de Vince

— Quais?

— Alfred, o duque, Mark e Steve

— Isso coloca Stuart, Carl e Daniel contra nós – ele apoia os cotovelos na mensa, junta as mãos, apoia o queixo nelas e solta um suspiro pesado como um metal afundando nas profundezas de um rio.

— Hey! - chamo-lhe com um sorriso e acaricio seu rosto – Eles não vão nos impedir, não vão nos separar – afirmo firmemente. Ele pega a minha mão e a retira da sua face

— É por eu ser um plebeu, não é? - seus olhos amarguram tristeza

— Sim

O que eu posso dizer? Que os sábios do reino não confiam nele, não o acham digno por seu um simples camponês, um pobre plebeu? Toda uma vida, uma pessoa julgada por seu estamento, sua condição de nascimento, um julgamento nada justo.

— Eu já te disse que eu tenho a palavra final, eles não podem interferir – dou-lhe um beijo, pressiono meus lábios, fortemente, contra os seus, ele mantém o contato como se dele lhe viesse o ar, mas quando nos afastamos, vejo ma sombra no mar de seus olhos, a obscuridade das águas que percebo neles pertubam-me.

— Eu sei, mas, sempre, vai existir alguém como eles, alguém que vai se colocar contra nossa união, porque sou plebeu, vai ficar contra você. O povo...

— Muitos te admiram por ter cuidado de mim, me salvado e batalhado ao meu lado, as histórias já correm as vilas e os povoados. Os outros serão conquistados quando verem nossa felicidade, os súditos gostam de quem faz sua rainha feliz

— Não serão todos

— Você sabe que comigo será diferente, além disso, há as outras realezas, eles sentirão pelo cheiro que não sou da nobreza e alguns me olharão com desprezo – ele solta um suspiro pesado e passa as mãos pelos cabelos – Eu não me importo com isso, não me importo mesmo, estou acostumado, mas você... quero que fique ciente de tudo com que terá que lidar ao ficar ao meu lado, não quero que depois de casados, você perceba o peso de suas escolhas e se arrependa. Branca, tenho certeza de que me ama, mas uma relação, um casamento precisa mais do que só entusiasmo e paixão para se manter ou num dia ruim você vai acabar gritando na minha cara coisas das quais vai se arrepender, mas serão apenas a emanação do que vai ter mantido guardado. Eu já vi isso acontecer e não quero o mesmo para nós - ele volta seu olhar para um ponto distante e eu deixo sua raiva baixar

— Eu sei que foram injustos – começo suave – que você não merece isso, mas que o mundo não é do jeito que deveria ser, crianças não deveriam ficar órfãs – fito o lustre por uns instantes – Agradeço por querer me alertar – seguro sua mão e seus mares me encaram serenos – Porém, estou consciente do peso da minha decisão, porém tenho certeza de que o preço que pagarei será muito pouco perto da alegria que teremos, meu pai me disse que não há felicidade sem luta, por isso, eu entrarei em cada batalha que for necessária se isso significar ter você ao meu lado - um sorriso radiante se espalha por sua face.

— Era o que eu precisava ouvir

Então, seus lábios vem até os meus, vorazes e urgentes, com toda a sua paixão, nós nos afastamos antes que as coisas saiam do controle

— O que você acha de fazermos um piquenique na praia após o seu turno de atendimento acabar?

— Maravilhoso, mas você vai ter que organizar tudo – limpo minha boca com um guardanapo, após dar a última garfada e levanto-me indo em direção à porta – Isso inclui pedir coisas aos servos

— Você é impossível – ouço-o dizer antes de deixar o cômodo

As atividades na sala do trono se seguem quase normalmente, apenas com leves indícios de preocupação nos olhos dos conselheiros contrários a Eric. Após inúmeros atendimentos, os portões do castelo são fechados para o povo e os da sala, abertos para meu auxiliares saírem; Vince é o último a se encaminhar para a saída e eu o interrompo no seu progresso.

— Conde?

— Sim, sua majestade - ele se volta para mim com uma reverência

- Agradeço o seu apoio hoje mais cedo

— Eu que agradeço a honra, majestade- fala com um sorriso amigável

— Sua ajuda foi de enorme valia

— Quando lhe afirmei que seria leal, minhas palavras não eram vazias, tenho muitos defeitos, mas saiba que lealdade é minha maior qualidade

— Fico muito feliz em saber disso

— Posso me retirar?

— Sim, mas antes só me responsa uma pergunta: Já fixou sua residência em algum local desde que voltou?

— Bem, ainda não

— Gostaria de ter as terras de seu pai de volta?

— Seria um grande favor

— Favor não, seria justiça. Fique até amanhã e resolveremos seu caso

— Obrigado – ele fala e se retira

Depois que todos já deixaram o ambiente, sigo o meu caminho, mas no meio dele questiono a uma dos guardas o paradeiro de Eric, que me informava que ele me aguarda na sala de jantar. Assim que chego ao local, avisto-o de costas para mim, fitando o horizonte pelas grandes janelas; há, também, uma cesta disposta sob a mesa.

— Ao que parece, você conseguiu dar ordens aos criados – falo e ele se vira com um sorriso

— Não pense que fiquei sem fazer nada, eu fui até a cozinha e pedi que me ajudassem, aliás, as cozinheiras foram muito solícitas, ainda mais quando souberam o propósito, ouvi até alguns suspiros.

— Não me diga que caíram de amores por você?

— Não, só acharam tudo muito româmtico, mas... - ele se aproxima de mim – mesmo se esse fosse o caso, não importaria, - posso sentir sua respiração sob minha pele – porque eu sou só seu – seus lábios encontram os meus com carinho e desejo

Quando nos separamos, vejo seus olhos faícarem em alegria, mais intensamente do que raios rasgando o céu noturno límpido e sei que os meus refletem meus sentimentos por ele.

— Acho melhor irmos antes que o sol se ponha

— Claro

Começamos a andar pelos corredores do palácio de braços dados e está tudo tranquilo, até que nota uma perturbação em seu semblante.

— O que há de errado, caçador?

— Os guardas vão nos acompanhar? Entendo que ele tenham que estar por todo lugar aqui dentro do palácio, mas não me sentiria confortável com eles nos vigiando enquanto estamos juntos.

— Não – eu rio – Dei ordem para que nos deem privacidade, mas me garantiram que ao primeiro grito meu, estarão lá. Eric, sei que é incômodo, mas eles só querem me proteger.

— Compreendo, você é a rainha, porém quero que no momento que teremos sejamos só eu e você, Branca, a garota que encontrei na floresta e que demonstrou bravura ao ajudar as mulheres a fugirem da vila quando os homens da rainha as atacaram,

— Assim será – garanto-lhe

Enquanto caminhamos para em direção ao portão principal, as coisas me parecem bem melhores do que antes, como se o dia de hoje fosse o início da bonança após uma grande tempestade.