Both of us

Trauma é um amigo


Assim que ouviu a palavra urgente, Gabrielle saiu do quarto com a maior pressa possível, usando pijama e amarrando o cabelo num rabo de cavalo mal feito. Quando começou a se acalmar, prosseguindo com aquela caminhada que parecia nunca terminar, ela notou o quanto isso fora estúpido.

Àquela hora da manhã, um clima gélido acometia a Academia e uma névoa rala pairava sobre o ar, as árvores impedindo a passagem completa da luz. Sentindo seus pelos se arrepiarem de frio, Gabrielle abraçou a si mesma, numa tentativa falha de manter o corpo aquecido. E, embora sentisse-se gelada por fora, seu interior queimava devido as chamas da hiperatividade.

Quando finalmente adentraram a secretaria, Gabrielle sentiu o medo pesar sobre si. A moça loira – que tinha um coque inexplicavelmente bem feito, sem nenhum fio fora do lugar – alcançou-lhe o telefone, voltando-se para o computador em seguida. Tremendo, Gabrielle moveu o aparelho em direção a sua orelha, pronta para ouvir o que quer que fosse.

— Alô? – chamou, sendo tomada por uma enxurrada de sentimentos variados assim que começou a obter uma resposta. Preocupação, angústia, inquietação e surpresa se espalharam por seu corpo antes da felicidade instaurar-se, fazendo não apenas os lábios da garota curvarem em um sorriso, mas também toda sua expressão. Seus olhos castanhos brilhavam, não apenas pelas lágrimas que de lá caiam, mas também por um contentamento genuíno, que continuou mesmo depois que a ligação terminou.

Não se lembrava de já ter sentido tamanha euforia. Ignorando totalmente as regras, saiu correndo pelos longínquos corredores em busca de uma saída que a levasse para a floresta. E, embora estivesse descalça, não parou de correr por entre as árvores até que o esgotamento começasse a impedir que continuasse movendo os pés, agora machucados. Sentada nas raízes de uma árvore, ela levantou a cabeça na direção do céu, contemplando-o. Fechando os olhos lentamente, mergulhou em suas memórias novamente.

Lucas era completamente fissurado em bolos de aniversário.

Em festas, ele era o primeiro a passar marotamente o dedo sobre a cobertura de glacê, sem que ninguém percebesse e, depois que o primeiro pedaço era dirigido a quem merecia, ele pegava a maior quantidade de fatias que pudesse para isolar-se num canto e comer tudo de uma vez só. Ninguém entendia o porquê, mas seu amor por bolos era genuíno.

— Como você imagina que será sua vida no futuro? – perguntou a morena, sentada de forma com que as costas se apoiassem na parede e as pernas ficassem meio que para o lado, para que ela as usasse como mesa. Tinha uma prancheta na mão direita e uma lapiseira na esquerda, e anotava fervorosamente as respostas que recebia do garoto à sua frente.

— Isso vai parecer muito clichê, mas... Imagino-me num palco, vendo tantas pessoas que me sinto incapaz de dizer quantas são, cantando uma música para a garota que mais chegar perto da minha concepção de perfeição.

— Que seria...?

— Alguém que faça meu coração palpitar, meus pulmões perderem o ar e que eu ame tanto quanto bolo.

***

— Tash sabe tocar vários instrumentos – contou Gabrielle, apontando para a garota de cabelos e olhos encantadoramente azuis, assim como suas roupas, o esmalte que cobria suas unhas e até mesmo o unicórnio que estava desenhado em seu braço esquerdo -, mas o melhor ainda é o violão. Quando ela toca, você sente que está sendo preenchido com esperança.

— Você tem que concordar comigo, Lucas: Gabrielle é exagerada demais, às vezes – rindo, ela respondeu, passando a andar de costas, para poder encará-los de de frente.

— Talvez –começou o menino, passando as mãos por entre os fios do cabelo que já batia na altura do ombro, a fim de desembaraça-lo -, mas não nesse caso. Para discordar, eu teria que ter te ouvido tocar – terminou, deixando o silêncio reinar.

Desde que um salvara ao outro, Gabrielle e Lucas descobriam cada vez mais sobre o quanto um completava o outro. Concordavam e discordavam dos assuntos certos; ambos possuíam um gosto latente por livros e música; apenas Lucas sabia desenhar, e eles só viam filmes antigos; um cantava, o outro tocava, os dois compunham. Juntos, eles separavam e juntavam suas peças de lego de forma quase perfeita. Era como se, unidos, eles pudessem vencer qualquer desafio de Tetris.

E Natasha, como irmã de Gabrielle, notara aquilo desde o princípio.

Então, vendo-os ali, andando lado a lado, ela não conseguiu impedir que seu coração se apertasse e um sentimento de melancolia tomasse conta de si e, também, de seus comentários.

— Vocês são tão bonitinhos – disse, com um sorriso quase imperceptível-, aposto que vão acabar ficando juntos quando mais velhos.

— Ahm... - grunhiu a morena, sem reação. Depois, dirigiu o olhar ao amigo e sorriu. – Se for assim, ele vai ter que cortar o cabelo, porque é quase maior que o meu.

— Retiro o que disse. Gabrielle é sempre exagerada – respondeu, revirando os olhos – Se você assim deseja, corto meus cabelos. Mas só se você prometer me fazer outro bolo de aniversário, com recheio de chocolate e tudo o mais. E chantilly, não esqueça o chantilly. Se quiser, pode colocar morangos, mas nada de cerejas. Feito? – e, sem demorar, levantou a mão na direção dela.

— Feito – concordou, apertando a mão dele como forma de selar o acordo.

***

— Quando eu vi você pela primeira vez, achei que era um anjo. Com seus cabelos castanho-claros que iam até a altura dos joelhos, podia jurar ter visto enormes asas branquíssimas como neve saírem de suas omoplatas, tamanha era sua aura angelical. Eu estava tão encantado que não sentia mais a dor, até que você se machucou e percebi, então, que você não era um anjo: era apenas tão frágil quanto.

***

O sol, agora mais forte, fazia toda a pele de seu rosto ficar sensível e, quando abriu os olhos, sentiu-os arder como nunca. Levantando-se devagar e passando as mãos sobre a roupa, sentiu a garganta seca e os pés doloridos clamarem por água, mas só o que conseguia fazer era manter o sorriso estampado no rosto.

Pôs-se a caminhar novamente, voltando para seu quarto. Embora parecesse ter gasto muito tempo relembrando do passado, as portas continuavam fechadas e os que lá residiam pareciam ainda dormir. Tomada pela vontade de contar as novidades a Lucas e Emilly, ela encheu-se da esperança de que eles ainda estariam dormindo profundamente com uma bagunça descomunal ao redor.

Só que, quando abriu a porta com uma rapidez sobre-humana, só o que a ruiva avistou foi um quarto perfeitamente arrumado, sem qualquer resquício de chocolate ou pipoca espalhado pelo chão. Almofadas e travesseiros estavam empilhados sobre a poltrona, enquanto edredons e lençóis permaneciam dobrados sobre a cama, nada amarrotada. Mas, ao olhar para o banheiro com a porta escancarada, avistou as vasilhas de sorvete, com vários sacos de pipoca de micro-ondas enfiados dentro delas, que faziam com que ela tivesse certeza de que a noite anterior fora real e que Emilly não conseguira segurar seu toc de limpeza.

Respirando fundo, ela trancou a porta e dirigiu-se ao banheiro, ligando o chuveiro e permitindo que a água caísse sobre si, não importando-se em despir-se. Naquele momento, só o que queria era sentir que seus sentimentos não eram os únicos que podiam ser uma torrente, algo que não podia ser parado.

A água gelada levava consigo o cansaço e qualquer resto de melancolia do dia anterior, e embora sentisse dor ao fazê-lo, esfregou bem os pés e retirou deles qualquer impureza que lhe fosse visível, como punição por ter sido boba o suficiente para correr descalça em uma floresta de interior desconhecido. E, pela primeira vez na vida, sentiu-se inteiramente disposta a ir para a aula, porque precisava contar o que acontecera ao seu pequeno grupo de melhores amigos.

Usando um suéter azul-marinho, uma calça jeans e um par de tênis velhos, Gabrielle resolveu não passar maquiagem. Não queria esconder os olhos com sombra e delineador preto; queria que o mundo visse o quão viva era. E, ainda que não se desse conta, deixava de esconder também a beleza que possuía.

Encaixou os fones em seus ouvidos e fechou a porta ao sair, misturando-se aos adolescentes que, assim como ela, carregavam uma mochila cheia de cadernos e apostilas, tentando chegar às suas aulas. Conferindo sua ficha, subiu as escadas até o último andar, pulando dois degraus vez ou outra, apenas para se sentir criança novamente.

Ao adentrar a sala, não pode evitar sentir um gostinho da decepção: Lucas não estava em sua classe.

No entanto, encontrou Emilly com as pernas para o ar e as costas recostadas no assento da cadeira, a ponta dos cabelos encaracolados encostando no chão; e também Katherine, que sentava-se na mesa e quebrava vários lápis ao meio, a competitividade queimando em seus olhos. Embora fossem completamente diferentes, Gabrielle conseguia ver em que ponto as garotas eram idênticas: seu gosto literário. Não era por acaso que ambas possuíam um exemplar do mesmo livro sobre suas mesas, e discutiam fervorosamente sobre o fim dele. Enquanto uma dizia que o desfecho fora esclarecedor, a outra reclamava que o autor estragara a história – os acontecimentos não haviam ocorrido da maneira correta.

— ‘Brielle! – chamou Katherine, sem esboçar um sorriso – Ordenamos que você sente aqui agora.

— Como você desejar, Miss Katherine Marthelly, nossa Afrodite em Terra – respondeu da forma mais formal possível, sentando-se próxima as duas.

— Você já sabe o que eu acho sobre esse negócio de Afrodite.

— Só o que sei é que deixar de te irritar com isso é impossível.

— Ok, Gabs, todos entendemos que você quer morrer – ironizou Emilly, arqueando a sobrancelha esquerda -, mas você ainda tem que me dizer o que você e Lucas foram fazer fora do quarto às 6h da manhã.

— Recebi uma ligação às cinco da manhã. Quanto ao Lucas, não faço a menor ideia – esclareceu, arqueando as sobrancelhas de volta.

— Bom dia, alunos – ouviu a voz do professor e, como se ele o tivesse ordenado, endireitou-se na cadeira e passou a fazer o mesmo que os outros alunos: fingir que prestava atenção nas mesmas regras que todos estavam cansados de ouvir, e que faziam questão de ignorar.

Em meio ao seu tédio, Gabrielle encostou a cabeça na parede e começou a encarar um desenho feito ao lado do quadro, com caneta permanente. Embora conseguisse vê-lo bem, não conseguia discernir sua forma. Via as linhas verticais, horizontais e diagonais, mas não o que formavam. E, ao criar a dúvida do que aquilo seria, começou a pensar, também, sobre as notícias que recebera e em como as transmitiria aos amigos que sequer sabiam do que acontecera em seu passado – ou seja, todos, exceto Lucas.

Só voltou a ter noção do tempo quando Emilly a puxou para fora da cadeira, enquanto o sinal estridente anunciava o início da pausa para o almoço: uma hora e meia livre para fazer o que bem entendesse.

Com a mochila pendurada em um ombro, acompanhou as amigas até o refeitório que, por sorte, ainda não estava cheio.

— Frango! – gritaram em uníssono, largando os pertences sobre uma mesa e correndo até o balcão onde as comidas estavam dispostas, sendo seguidas por Alexandre e Victor, que chegaram depois, ambos semicerrando os olhos para o outro.

— Eu quero um frango, assim, um frango só pra mim. Eu gosto dele grelhado, me deixa fascinado... – cantarolaram, cada um arrastando sua bandeja pelo alumínio, servindo no prato aquilo que lhe agradava para, no fim, pegar um copo de suco e voltar rindo para a mesa por estar cantando uma música sobre um gavião que gostava de comer frango.

— Ei! – exclamou Emilly, irritada por terem lhe roubado um bolinho de arroz.

— Larga de ser ridícula – respondeu Katherine, sentada entre os meninos -, é só comida. Você pode ir lá e pegar mais.

— Por que você não o fez, então?

— Para não cansar minha beleza.

— E por que eu supostamente deveri...

— Gente, chega! – Gabrielle interrompeu, assumindo uma expressão que demonstrava irritação – Vocês não estão nem um pouco preocupados com o fato de que Caitlin e Lucas não apareceram até agora?

— Eric também não veio – acrescentou Emilly.

— Lin está resolvendo problemas da banda, provavelmente arrastou Eric junto.

— Então nos resta Lucas. Meninos, vocês sabem onde ele está? – indagou, recebendo acenos de cabeça em resposta, que indicavam que não, eles não faziam a menor ideia de onde o amigo estava porque admirar Katherine Marthelly era muito mais importante. – Tudo bem. É só que... Precisava falar com ele.

— Vai confessar seu amor e tudo mais? – caçoou Victor, os cabelos loiros caindo sobre os olhos.

— Não, é apenas... uma história longa que eu nunca contei para vocês. E me sentiria culpada em roubar o horário de almoço só para falar disso.

— Parece sério. Olha, Gabs, não tem problema. Nós não precisamos parar de comer para te ouvir.

— Exato, Emy. E ninguém aqui vai se importar se você falar de boca cheia. Então vai contando ou eu enfio esse garfo na tua garganta.

A indecisão martelava em sua mente, para lá e para cá. Sabia dos perigos de reviver essa memória, e de como era difícil contá-la de forma correta. Toda vez que tentava, enchia-se de receio e acabava por evitar mais uma crise. Mas, olhando para os amigos, atentos as palavras que poderiam sair de sua boca, ela perdeu qualquer resquício de medo que a impedia de contar o que acontecera em seu passado.

— Queria apenas dizer que nunca contei isso antes porque é um tanto... traumático, e não porque não confio em vocês. Lucas só sabe porque me conhecia na época – começou, endireitando-se na cadeira -, e a conhecia também.

“Antes, vocês precisam saber que não sou filha única. E antes que me chamem de mentirosa, nunca afirmei ser. A verdade é que sou a caçula: tenho uma irmã mais velha chamada Natasha, 14 anos mais velha que eu, que tem olhos eletricamente azuis. Há um tempo, tudo que ela usa passou a ser dessa cor também. Às vezes, cheguei a pensar que, se ela pudesse, teria a pele azul também.

“Aos meus 12 anos, ela caiu da escada e, desde então, está em coma. Sabemos que quanto mais tempo passa, menores são as chances dela acordar. Então eu me acostumei com o fato de que Tash jamais voltaria. No entanto, de madrugada... Eu recebi uma ligação dizendo que houve uma melhora no quadro.

— Como assim? – indagou Emilly, confusa.

­— Não sei. Minha mãe estava emocionada demais para conseguir falar, mas... qualquer coisa já é muito, depois de todo esse tempo.

— Sempre – sussurrou Katherine, olhando fixamente para o nada.

— A questão é que sua irmã pode ter mexido a mão para espantar uma mosca ou sei lá, acordado de vez porque queria um milkshake.

— Exatamente. E eu queria contar isso para vocês, e para Lucas também. Só que aquele energúmeno sumiu.

— Tudo bem, Gabs, ele vai aparecer – falou Victor, passando a mão sobre o ombro de Katherine.

— É, ele deve estar resolvendo algo importante – concluiu Alex, também abraçando a garota com as mãos.

— Tirem a mão de mim, ou vou arrancá-las e dar para os cachorros.

***

“Quem procura, acha foi a primeira coisa que passou por sua mente quando, depois de muita procura, achou Lucas no último andar. Embora aquele fosse seu objetivo, ela preferia nunca ter tomado conhecimento do paradeiro do amigo.

Isabel esbanjava sua beleza. Os cabelos loiros estavam presos em um forte rabo-de-cavalo, mas uma franja rala caia sobre seu rosto, lágrimas molhando-o e borrando toda sua maquiagem. Sua cabeça estava encostada no ombro de Lucas, enquanto seus braços envolviam-no de uma forma um tanto possessiva.

O garoto correspondia o abraço desajeitadamente e sussurrava no ouvido dela, como se a confortasse. Ele precisa cortar o cabelo, pensou, ainda tentando entender a cena. Sentia-se oca, como se qualquer sentimento tivesse sido sugado pela cena. Sabendo que nenhum dos dois tinha notado sua presença, Gabrielle desceu as escadas.

Inconscientemente, aqueles degraus começaram a lhe lembrar do acidente também, fazendo-a querer chegar logo ao quarto, mas também impedindo que começasse a andar rápido. A angústia primeiro tomou conta de sua visão, depois de sua audição, para então chegar aos outros sentidos.

As frenéticas batidas na porta fizeram com que ela acordasse do mundo onde só existiam pesadelos.

Sentia-se atordoada demais para se levantar. Não sabia quanto tempo havia se passado, nem como chegara ali, mas a impressão era de que jamais mergulhara tão fundo nas memórias por tanto tempo. Sua garganta parecia ter sido arranhada por um gato e sua cabeça latejava, mas ela conseguiu criar forças para mandar a pessoa entrar.

Mesmo que piscando os olhos várias vezes para tentar criar foco, continuava conseguindo reconhecer aquela feição preocupada, as írises cinza-claro carregadas de aflição.

­— Gabs, o que houve? – inquiriu, agachando-se para vê-la melhor – E com seu rosto? Está todo arranhado!

Seus olhos agora lacrimejavam, dissipando a ardência. Sentia-se suja, como se tivesse caído numa poça de lama e depois rolado na areia.

— Gabs...?

— Não foi nada. Só mais uma crise.

— Você não pode tratar isso como normal. Já tinha parado.

— Eu ando pensando demais na Tash – confessou, suspirando -, principalmente hoje. Minha mãe me ligou chorando, e eu comecei a me preocupar com as chances de algo ruim ter acontecido. Mas então...

Parou, encarando o nada.

— Então...? – repetiu Lucas, apreensivo.

— Tash teve... uma melhora no quadro.

A surpresa se estampou na face do garoto, e ficou ali até ele finalmente conseguir expressar alguma outra reação.

— Isso é incrível! – gritou, puxando-a para um abraço – Ela vai ficar bem, Gabs. Como eu te disse há cinco anos.

— Os gregos acreditavam que a esperança era o que estava na caixa de pandora. Talvez ela só tenha melhorado para depois voltar ao coma de novo...

— Você está sendo pessimista demais.

— Faz parte de quem eu sou.

— Assim como ser otimista por você faz parte de mim.

Ela sorriu sem mostrar os dentes, saindo do abraço e o encarando com expressão sarcástica.

— Isso está parecendo aqueles diálogos perfeitos que vemos em filmes e que nunca vão acontecer realmente.

— Talvez você e eu tenhamos saído de um, para salvar um ao outro.

Socando-o levemente no braço, Gabrielle o olhou diretamente nos olhos.

— Você já me salvou mil vezes depois que te salvei.

— Nenhuma se compara ao que você fez.

— Lucas, só fiz uns caras pararem de te bater. Não foi nada demais.

— Você era quase anêmica, tão pequena que jamais diriam que você tinha oito anos. Mesmo sabendo que não teria chances, os enfrentou. E tem uma cicatriz aí, escondida por esses cabelos, para provar sua coragem.

Ele se sentou ao lado dela, escorando a cabeça na parede e fechando os olhos, respirando fundo. Ele aparentava estar nervoso, mas o motivo era totalmente desconhecido.

— Você me resgatou quando ninguém mais o fez. Serei sempre grato por isso. Sei que não gosta que eu fale, mas eu te...

— Não diga.

— Qual o problema?

— Não...

— Não pode falar, como sempre – interrompeu, virando-se para ela – Ok, vire-se para mim. Vamos fazer aquele jogo.