Três mensagens do Anung e eu só estou com os Joe a duas semanas. Scarlett não luta, apenas se defende foi o que vi em seus treinos e ainda assim ela é extremamente respeitada, deve ser bom ter tantos amigos que a respeitam, eu apenas tive amigos que me temeram e o Wade.

Mais uma mensagem do Anung, se eu continuar ignorando-o ele dará um jeito de surgir a minha frente quando eu menos esperar.

Nessas duas semanas que estou aqui eu estou coma mesma muda de roupa, o que não parece ser diferente dos outros, mas isso já está me incomodando, juntei minhas coisas - a cueca - e avisei Scarlett que estava de saída, se eu iria ajudar o Anung precisaria de mais roupas, eu sempre acabo nua ou de alguma outra forma estranha quando vou ajudá-lo.

– E você vai como pegar as roupas? - Ripcord perguntou enquanto eu tentava achar a saída.

– A pé. - falei e mostrei o celular - Já tenho um mapa de como chegar até lá.

– Não tem como escalar a montanha - Duke falou - Eu já tentei, só ele consegue.

– E os caras que invadiram a casa aquele dia - eu o lembrei - Olha, eu não sei porquê estão me perturbando com essas perguntas chatas, mas eu estarei de volta logo.

– Você não queria treinar com ele? - Ripcord perguntou - Porque ao invés de ir cometer suícidio não continua o observando e treinando?

Eu vim para cá achando que Snake mudaria de ideia e novamente minha inocencia me enganou, depois de perturbar Duke e desrespeitar três de seus superiores durante o almoço o convenci de me dizer onde Snake treinava e o horário, eu assisti aos treinos e os reproduzia sozinha, mas nada do próprio Snake me ensinar, ficar aqui já está me deixando cheia, preciso sair fazer alguma loucura, sei lá.

Cheguei até a saída que por alguma razão tinha escrito Saída em vermelho piscante e eu não a tinha visto.

Peguei alguns ônibus até sair da cidade - com o dinheiro que ganhei das lutas no Joe, porque não tenho outra fonte de renda atualmente - caminhei, era uma caminhada longa e meu celular ficara fora de área, andei pelo bosque, atravessei montanhas, depois de uma caminhada rápida de quase três semanas cheguei ao pé da montanha, eu não conseguia ver o topo, mas seria uma boa experiência subir e descobrir se a casa ainda estaria lá.

Comecei a escalada enfiando a mão entre as rochas, senti minha unha rachar da ponta até próximo a cutícula, ela me machucava, a arranquei com o dente. Continuei subindo, não sei quanto tempo levei, meu celular estava sem bateria. Quando cheguei a casa imaginei que encontraria o jardim destruído por ervas, os arbustos tortos, a casa empoeirada, mas aparentemente a poeira não chega até tão alto. Fui até o quarto que ainda tinha a porta escorada, conectei meu celular para carregar abri o baú e dentro de uma sacola de plástico comecei a colocar tudo que tinha ali dentro, precisei de duas sacolas pretas de lixo para colocar as coisas. Fui até a geladeira ainda tinha comida, esquentei um pouco comi, peguei algumas garrafas de água e me preparei para voltar, mais duas mensagens do Anung.

O respondi "A caminho", isso seria suficiente.

Segurei as sacolas com a boca, comecei a descida. Um helicoptero pousou no jardim, eram os Joe, eu encarei o vento que causaram a desordem com as nuvens, como pessoas poderiam fazer isso com a natureza? Uma sombra se aproximou do abismo, eu o encarava e era encarada de volta, Roadblock.

– Vem eu te ajudo - ele falou esticando amão.

Eu o respondi com as sacolas na boca, ele continuou com amão esticada, me segurei com apenas uma mão, com a outra tomei minhas trouxas.

– Não se preocupe, estou bem. - continuei descendo, uma corda foi jogada ao meu lado, olhei para cima.

– Ele não vai parar de nos perturbar até você voltar. - Scarlett falou chegando ao meu lado - Vamos.

– Snake? - perguntei, ela riu - Claro que não.

– Duke - ela falou - Ele passou essas semanas nos perturbando até que falamos que te levariamos de volta.

– Fale ao Duke que eu vou voltar - ela sorriu - Não com vocês - ela reclamou - Eu tenho uma coisa para fazer antes de voltar, mas diga a ele que dou minha palavra de que voltarei.

– Volte intacta ou ele cortará nossas cabeças.

Confirmei, ela subiu, pude ouvir Ripcord gritar chateado, Roadblock ligar o helicoptero e eles decolaram.

Depois de descer tudo caminhei até chegar a cidade, peguei o metrô, meu dinheiro começava a acabar, era bom que Anung tivesse algo para me pagar bem.

Cheguei de fora do prédio, ele não estava de fora, nunca estava. Abri as enormes portas e o ar demoniaco já tomou minha pele, era incrivelmente familiar. Você deve estar se perguntando como eu o conheci e isso é engraçado, porque a resposta "foi a vida que cruzou nossos caminhos" é literal para ambos. Eu fui matar um cara e por coincidência Anung estava em uma missão parecida para pegar o mesmo homem, juntamos forças e terminamos nossos serviços, desde então sempre que ele precisa de mim cá estou eu como um cachorrinho vindo ajudá-lo. Acho que Hellboy é o mais próximo de um amigo que eu tenho.

Andei por aquele enorme pátio, larguei minhas sacolase ouvi o som dele me atacando, como sempre no alto das colunas, porque eu sempre me esqueço que ele gosta de me surpreender sempre da mesma forma?

O acertei com um chute de costume, ele voou até o portão e se levantou com o charuo na boca, demos um longo abraço, devia fazer quase dois anos que eu não o via, Anung agora era pai o que era assustador, crianças são assustadoras, acho que tenho trauma da minha infancia. Ele me levou pelo lugar até uma sala que parecia ser a sala de reuniões, Liz estava lá, ela me cumprimentou com um aceno.

– Quem é o peixinho? - perguntei apontando para o azul.

– Abe - Anung falou.

– Ela me chamou de peixinho? - ele olhou Liz que riu.

– Relaxa, Abe, ela não falou por mal. Ela é como o Anung só que menor - eu sorri, aquilo para mim era um elogio, Anung era o ser mais poderoso que eu conhecia.

– Vocês não me chamaram para ficarem me comparando com o Zé, né? - Zé é como chamo Hellboy, ele fica irado.

– Não, não chamamos - Liz falou se debruçando sobre a mesa onde reparei vários papéis - Estamos tentando seguir alguém - ela começou e me olhou - No ínicio pensamos ser alguém como um deus da noite, depois percebemos que as habilidades não eram tão supremas, pensamos em um vampiro, mas teriamos o encontrado se fosse um, pensamos em uma fantasma, mas naca de plasma, pensamos em lobisomem, mas nada de cheiro e lua cheia, então pensamos que poderia ser um nazista.

– Mas nada de nos buscarem - Anung falou, eu fui até os papéis e comecei a analisar, mutantes tinham sido mortos, demônios tinham sido mortos, apertei o papel com força, eu sabia o que aquilo significava - Pensamos em falar com os X-Men - eu o olhei - Sei que os odeia, mas pedimos ajuda a eles, Xavier ficou tão assustado que pensei que você estivesse fazendo essas coisas.

– Eu não mato mais e você sabe disso - falei ofendida.

– Claro que sabemos, Agnes - Liz me tranquilizou - Por isso te chamamos. - olhei Abe, ele confirmou e pareceu soltar algo como um sorriso.

– Eu busquei tudo sobre você, Agnes - Abe falou, eu o escutava bem, boa dicção - Tudo aquilo que era sua marca, tudo aquilo que faz de você quem você é.

– Você pegou meu DNA? - ele confirmou - Como fez isso?

– Wade - Anung falou, tinha os braços cruzados - Ele tinha cabelo seu - eu não entendia - Disse algo sobre corte de cabelo forçado, estava espalhado pela casa - lembrei do que falava agora.

– Batemos os testes do seu DNA com o do nosso assassino - eu o analisei.

– E o que deu? - Anung e Liz suspiraram, olhei Abe - Peixinho, o que deu? - ele me olhou e parecia preocupado - Não.

– Sim - Liz falou - Você fez tudo isso, Agnes, você matou todas essas pessoas.

– Não pode ser! - eu urrei - Eu estive ocupada durante todo esse tempo, estava isolada em uma montanha longe de qualquer uma dessas pessoas. Eu não poderia ter matado ninguém.

– Wade nos contou - Anung falou - Só que fomos buscar pelas datas em que tudo ocorreu e adivinha...

– São de antes da minha exclusão - Liz confirmou - Mas é impossível, eu me trancava e não saia do hoteis, eu era atormentada pela minha propria mente, impossível eu ter matado essas pessoas.

– Não é, câmeras de segurança te flagraram - Abe falou e apertou um botão de um controle, um vídeo passou e realmente era eu ali - Você é procurada pelas mortes dessas pessoas, mas tem algo bom - eu o fuzilei - desde que está com esses tals de G.I.Joe ninguém mais morreu, quero dizer, muita gente morreu, mas ninguém foi morto por você.

– Então você acha que continuar com eles pode fazer com que pare? Pode fazer com que minha natureza mude? - olhei os três, eles confirmaram - Então o farei, vou continuar com eles mesmo que Snake continue a me ignorar.

– Quem é Snake? - Anung perguntou a Liz que deu de ombros.

– Esse é Snake - Abe mostrou outras filmagens, eu as observava, mesmo em filmagens eu não conseguia parar de admirar aquele homem.

Anung assistia a tudo e ao fim enquanto eu estava completamente admirada...

– É esse bostinha? - eu o olhei assustada - Desculpa, mas seu nível ta caindo, Agnes - ele ria, eu o olhei incrédula - Enfim... Estou curioso em saber o que você vai fazer a partir de agora, porque seus novos companheiros de quarto são agentes do governo, se descobrirem sobre você logo será capturada e irão fazer com que mate novamente.

– Eu sei - passei a mão pela nuca tensa - Eles seriam capazes de me matar caso descobrissem que eu sou uma assassina e eu nunca teria a oportunidade de treinar com Snake - eu os olhei - Posso passar a noite aqui? Preciso de um lugar familiar.

– Sabe que é sempre bem-vinda - Liz falou - Deixa eu te levar para seu quarto.

Confirmei, ela me ajudou com as sacolas e me levou para meu quarto onde prevendo minha estadia já tinha uma banheira quente com água me aguardando. Entrar naquela água me relaxava, o cheiro de enxofre da construção me fazia lembrar os velhos tempo, mas o urânio que escorria das paredes e brilhava radioativo me fazia lembrar do meu passado, fazia com que as mortes das quais eu tinha consciência me atormentassem, fazia com que cada centímetro do meu corpo se lembrasse de cada agulhada a qual fui submetida. Isso sempre acabou com meus belos banhos, me enrolei no roupão e fui para o terraço onde com a luz da cidade as estrelas eram ofuscadas e a lua continuava enorme, eu quase podia ouvir os uivos dos lobisomens, a guerra vampiresca e a maldição fantasmagórica.

– A noite está muito confortável - olhei para a porta do quarto onde um gigante filho do diabo se apoiava - Uma jovem como você não deveria estar em alguma balada ou com algum namorado?

– E um monstro como você não deveria estar no Inferno?

– Ouch, mereci essa.

– Desculpa, Zé, só que...

– Não, é verdade, eu mereci ouvir isso - ele veio até mim e observou as mesmas coisas que eu.

– Uma jovem como eu - ele me olhou de canto, tirou o charuto da boca e soprou a fumaça - não deveria ter o histórico que eu tenho, Anung. Mas não quero falar sobre isso - espreguicei - E ai, como é a vida de pai?

– Sinceramente? - confirmei - É uma bosta, eu não sei o que é uma noite de sono completa, e eles cagam e não limpam a bunda. - eu ri.

Ficamos conversando por mais uma hora até ele ouvir o grito da Liz o chamando para ajudá-la com as crianças, eu continuei ali sentindo a cidade.

"É você..." eu ouvi de algum lugar "Você, Agnes, você é quem eu procuro e até eu encontrá-la irei matar e a culpa será sua, a culpa é sempre sua" o vento gélido sumiu, aquilo me assustou e eu nunca me assusto.

Era hora de dormir.

No dia seguinte tomei café com o trio, juntei minhas sacolas e junto deles fui pela cidade até o QG Joe.

– É nisso? - Anung perguntou - Wade estava tão preocupado que pensei que você estava morando debaixo da ponte.

– Ele está preocupado? - Anung confirmou - Estou falando com ele sempre, ele não parece preocupado.

– Todo pai se preocupa, Agnes - Liz falou - Até mesmo o Deadpool - rimos juntas e olhamos Hellboy que nos ignorava fascinado com o prédio onde eu morava agora - Agora vai lá que seus amigos devem estar preocupados.

– Não são meus amigos, vocês são meus amigos.

– Até eu sou? - olhei Abe e lhe dei as costas - O que isso quer dizer? - ele perguntou para o Anung.

– Bem-vindo ao ciclo de amigos mais estranho dessa dimensão - Anung o abraçou.

Eu entrei, todos trabalhavam e minha entrada não parecia ser notada, até eu ouvir um grito inconfundivel de Ripcord e Roadblock, eles vieram até mim me abraçaram e começaram uma cachoeira de perguntas sobre o que eu andei fazendo, sobre como eu os larguei sozinhos com a Scarlett.

– Ela é cruel e insensivel - Roadblock falou.

– Eu ainda estou aqui e os ouvindo - ela falou surgindo do além e me puxando pela mão - Você ta cheirando a enxofre.

Ela me levou para o banheiro comunitário feminino, me fez tomar um banho e só deixou que eu saísse de lá quando o cheiro estava encoberto pelo cheiro de framboesa de seu shampoo. Ela pegou uma das minhas roupas o que me chateou que foi justo um vestido, me fez colocar aquela coisa.

– Pronto, agora você pode encontrar o Duke.

– Scarlett - ela me olhou, eu devia parecer muito abatida porque ela veio até mim preocupada - Scarlett, o que vocês fariam se tivessem um assassino entre vocês?

– Depende - eu a olhei - Muitos de nós já matamos, ms foi tudo para nossa proteção e...

– Não precisa continuar - falei me levantando - Você disse que eu iria me encontrar com o Duke - ela confirmou - O que ele quer comigo?

– Se eu soubesse perderia a graça de eu querer ouvir tudo quando você for pro quarto.

Ela me guiou em meio a todos que trabalhavam. Duke estava com Snake, mas não usava o uniforme do exército, ele estava de jeans e uma camiseta e tênis, eu escarei Scarlett que me empurrou para o líder.

– Desculpa, Snake, minha companheira chegou. - Snake me olhou, eu o ignorei como ele fazia comigo na casa - Você está fantástica - ele falou me olhando de cima a baixo.

– Obrigada, eu acho - olhei meu futuro sensei, eu queria estar saindo com ele agora que eu entendia o que estava acontecendo. Eu queria sair com Snake, poder conversar com ele, mesmo que só eu falasse, queria dicas para lutas, eu quero treinar com ele e essa vontade está me corroendo.

– Scarlett, prometo voltar com sua amiga cedo.

– Relaxa, chefe, divirtam-se.

Ele tomou minha mão e começou a me levar para a garagem do QG, eu olhava para Snake, mas não sei se ele nos olhava.

Duke me colocou dentro de um carro e acelerou pelas ruas, ficamos em silêncio no carro até ele me perguntar por onde eu tinha andado, contei que tinha visitado um amigo depois da minha ida a montanha do Snake.

Chegamos a um restaurante onde tinha uma mesa reservada no nome do Duke. Sentamos, eu nunca estive em um restaurante desse nível, isso é mentira da minha parte, mas a última vez que estive em um eu entrei e matei alguém.

Estavamos conversando sobre coisas simples até eu perguntar sobre suas missões como era em ação, ele pareceu ficar surpreso com minha pergunta, mas me contou, contou sobre as estratégias, sobre como Ripcord era em ação o que me surpreendia.

– Agnes! - olhei para quem nos chamava e agora entendia o susto que as pessoas tinham - Quem é esse homem com você? - olhei Duke, seus olhos pareciam prestes a pular do rosto o que fez eu e Anung cairmos na gargahada.

– O que é essa coisa? - ele perguntou.

– Coisa não, mais respeito comigo, rapazinho, eu sou filho de demônio - Duke me olhou ainda mais assustado.

– Acho melhor irmos - falei olhando em volta.

– É, é, você tem razão. - Duke se levantou tremendo, pagou a conta, saímos os três.

– Eu acho que seu amigo está meio assustado - Hellboy falou.

– Zé, você destruiu a noite dele.

– Eu sei - ele riu - Mas achei que seria divertido e eu estava certo, mas agora vou para casa antes que a Liz venha atrás d emim.

Confirmei.

Entrei no carro com Duke, ele estava suando, eu o analisei, esqueci que os Joe não estavam acostumados com seresobrenaturais como o Anung, mesmo que tivessem convivido comigo nesses dias eu ainda tinha a forma humana comum, mesmo que eu não soubesse oquanto tempo duraria.

– O que era aquela coisa? - ele perguntou finalmente quando chegamos no QG.

– Meu amigo - ele me olhou - Um demônio, para simplificar- ele confirmou - Acho melhor você ir dormir um pouco - ele confirmou - Nos encontramos outro dia?

– Não sei... Vamos ver.

Eu sabia o que aquela frase queria dizer "Você é estranha e seus amigos ainda mais, não iremos nos encontrar, tudo será estritamente profissional daqui para frente".

Duke era o primeiro homem que ma chamara para sair em anos, e Anung conseguiu destruir o que eu pensei que poderia ser algo mais.

No caminho para o quarto encontrei Snake, ele parecia que aguardava eu retornar. Mas provavelmente eu estava equivocada novamente.

– Boa-noite, Snake - falei em respeito a ele, meu futuro sensei me parou - O que foi? Quer saber como a noite foi? - ele confirmou - Não se preocupe - revirei os olhos - Você não se preocupa - ele apertou mais meu braço - Não teve nada, um amigo meu fez questão de estragar a única noite que eu tive em toda a minha vida. - ele me soltou - Tenha uma boa noite.

Entrei no quarto e nem dei a chance de Scarlett me perguntar algo, me enfiei nas cobertas e dormi.