Blood Kiss

Mudando de Escola


Sangue, gritos, morte. Minhas únicas lembranças de infância, que pareciam me atormentar todas as noites em meus sonhos. Não podia simplesmente fazer parar: Não tinha jeito. Eles iriam me acompanhar até que conseguisse controlá-los.

Meu nome é Luna e naquela época tinha quinze anos e era órfã desde os cinco. Meus pais haviam sido ricos empresários, donos de diversas propriedades, e em testamento tinham me deixado toda sua fortuna, pois eu era filha única. O último desejo de ambos foi que minha advogada, e antiga amiga da família, cuidasse de mim pelo menos até que chegasse á maioridade e pudesse me virar sozinha. Até lá, deveria seguir suas ordens como se fosse minha mãe.

Ela era uma jovem de vinte e oito anos bem sucedida e bonita. Tinha os olhos castanhos e o cabelo mediano, repicado e negro, quase azul – marinho. Embora fosse boa pessoa, ela não era do tipo atenciosa, vivia grudada em um celular, cuidando dos seus preciosos assuntos. Sempre achei ridículo uma mulher tão bonita e inteligente viver só para o trabalho.

Nunca consegui realmente superar a morte dos meus pais, portanto vivia em meu próprio mundo, um vazio e sombrio, onde as poucas lembranças eram de dor e sofrimento. De alguma forma, Marin pensou que o meu problema era eu não ter tempo de fazer amigos. Foi aí que ela teve a “brilhante idéia” de me matricular em um colégio interno que se localizava no meio de uma remota ilha ao leste europeu.

No dia da partida da minha luxuosa cobertura em Nova York, meu coração palpitava de saudade. Não queria ir, queria ficar na cidade que tanto amava. Peguei minhas malas e minha pequena gata, Mia, e saí até o carro. Fomos por uma estrada de terra até um belo campo, onde um jatinho me esperava.

- Boa viagem querida. – ela disse me dando um abraço.

- Valeu. Sentirei saudades. – disse enquanto entrava no veículo.

- Tchau! – ela falou entrando no carro e indo embora.

A viagem durou quase seis horas. Ao chegarmos, pousamos na cobertura do prédio de oitenta e cinco andares. Saí e fui em direção ao elevador. Segundo a minha chave, o meu andar era o oitenta e meu quarto era o 22446. Segui por um corredor e cheguei logo ao meu destino. Abri a porta e entrei, fechando-a logo em seguida.

O meu quarto era muito grande, pois dividiria ele com outra garota. Havia duas camas, uma rosa clara e outra roxa, um tapete, uma escrivaninha com duas cadeiras, as duas vermelhas, e uma estante embutida que pegava uma das paredes por completo. Todos na cor tabaco, a minha preferida. No meio da estante ficava uma porta da mesma cor da parede, uma branca com um adesivo no rodapé de pequenas borboletas rosadas, nada a ver comigo.

Quando entrei pela porta percebi que ali se tratava do closet, e ao lado, do banheiro. Guardei minhas coisas em seus lugares, coloquei a Mia embaixo da escrivaninha e saí do quarto em direção ao refeitório.

O refeitório tinha dois andares. Em cada andar havia um frigobar e embaixo ficava a sala onde o lanche era preparado.

- Oi, meu nome é Akimi e eu estou perdida. Poderia me dizer como eu chego até o meu quarto? – ela disse arrogantemente.

- Por quê? Eu não devo satisfação á ninguém. Aqui é cada um por si. – falei sarcasticamente.

- O que? Quem você pensa que é pra falar assim comigo? – ela falou furiosa.

- Alguém que não fala com idiotas, então, com licença. – disse saindo.

- Você me paga sua imbecil! – ela gritou.

- Sei... – suspirei com minha cara sempre fechada.

- Luna! Não acredito que te encontrei! – uma voz familiar me chamou ao longe.

- Quem? – perguntei virando o rosto.

- Amiga sou eu, a Sato! – a garota falou aparecendo.

Sato Shiguizame era uma garota super legal. Havíamos estudado durante dois anos na Columbia West High, uma escola só para meninas da Inglaterra. Fiquei mais feliz ainda quando descobri que iríamos dividir o quarto.

- Faz tanto tempo... Ainda bem que vou dividir quarto com você e não com uma dessas garotas idiotas. – falei sem tirar o sarcasmo.

- Você não mudou nada. Continua a mesma marrenta de sempre. Quanto saiu da escola tudo lá perdeu a graça. – ela falou dando uma risada.

- Mesmo? Bom saber... – disse entediada.

- Esse colégio é enorme mesmo. Andei por vários corredores desde que cheguei aqui. – Sato disse sem perder o riso de sempre.

- Só uma coisa mudou desde que nós nos vimos. – falei olhando – a. - Você ficou chata. Antes você era uma garota mais legal. – disse com uma gotinha na cabeça.

- Pois é. Mas pelo menos eu mudei. – ela disse zangada. - Já achou algum gatinho por aqui desde que chegou? – ela disse parecendo procurar algo.

- Não. E deixa de ser tarada garota! – falei colocando a mão na cara.

- Tarada?! Ah não. Estou aproveitando a vida querida. Nunca se sabe se você vai acordar no outro dia. – ela explicou.

- Ai, meu deus você continua a mesma pervertida! – disse pondo as mãos na cintura.

- E você continua a mesma tábua! – ela disse furiosa.

- Tô indo. Até mais. – disse indo embora.

- Ei, me espera! – ela disse me seguindo.

- Dá pra parar de me seguir? Isso é extremamente chato. – falei roxa de raiva.

- Eu não conheço ninguém nesse colégio além de você. – ela disse chegando ao meu lado – Terei que ficar te seguindo até encontrar o meu próprio grupo.

- Ah não! Ninguém merece! – gritei.

- Você devia deixar de ser tão grosseira, sabia? – ela disse.

- Então deixa de ser curiosa, sua chata! – Gritei furiosa.

- Quer saber? Vou embora! Melhor ficar sozinha! – Ela falou indo embora.

- Finalmente! Paz! – falei aliviada.

- Olha seu otário, me chama pra briga que eu aceito! Não tenho medo de lutar! – um garoto falou puxando a camisa do outro.

- Cara, deixa disso! Não tô a fim de brigar! – o garoto falou se soltando.

- Tá bom, foge seu fracote! – o outro falou vindo em minha direção.

- Belo show. Não sabia que aceitavam delinqüentes nessa escola. – falei sem tirar a cara de durona.

- Aquele cara merecia uma surra. – ele falou seriamente.

- Caras como você que merecem levar uma surra. Tenho certeza que é do tipo que adora brigar, né? – eu disse sentando em uma mesa.

- Você é muito atrevida. Porque não para de bancar o menino e vai brincar de boneca? – ele falou virando as costas.

- Porque não sou menino e nem nada do que faço é da sua conta! – falei depois de jogar um copo de refrigerante em sua cabeça.

- Sua idiota! Porque fez isso? – ele perguntou furioso.

- Ai, você é muito chato! – falei saindo.

- E você é uma insolente! – ele gritou furioso.

- São tipos como você que me inspiram a ser uma pessoa pior. – falei dando uma risada totalmente sarcástica.

- Você tá me irritando. – ele disse furioso.

- Olha só quem fala... – suspirei.

- Para com isso! Tá ficando muito chato! – ele gritou.

- Ai é? Tô morrendo de medo! – falei rindo.

- O que você tá falando com ela? – a garota de antes, Akimi, falou arrogantemente.

- Conhece ela? – ele perguntou confuso.

- Infelizmente. – Akimi falou se encorpando no clima ruim que estava entre nós três.

- Posso dizer o mesmo. – eu disse morrendo de raiva.

- Bem, é melhor eu sair daqui, só têm idiotas. – disse saindo.

Naquele mesmo instante um grupo de nove pessoas entrou na sala. Eram cinco garotos e quatro garotas. Desde pequena eu tinha o dom de ler a mente das pessoas, mas nunca comentei a ninguém. Então, na primeira oportunidade decifrei todos eles.

A primeira garota chamava-se Yoko e era muito competitiva. Não gostava de nenhum dos outros que a acompanhavam. Tinha cabelos roxos e olhos negros. A segunda chamava-se Mitsumi e era uma garota tímida, muito tímida. Tinha os cabelos negros e os olhos castanhos claros. A terceira, Ikimi, era adorável, inteligente e ajudava a todos. Tinha os cabelos curtos e castanhos e olhos rosados. A quarta era loira, com cabelos compridos e cacheados nas pontas, de olhos azuis, temperamento digno de uma serpente e chamava-se Mimi.

O primeiro garoto era Tsubasa. Não falava muito com os outros, preferia ficar no isolamento. Tinha os cabelos loiros e os olhos azuis. O segundo, Keita, era muito extrovertido. Tinha os cabelos negros e os olhos castanhos. O terceiro chamava-se Eric. Era apaixonado secretamente por uma das garotas, que infelizmente, não consegui descobrir quem era. Tinha os cabelos azuis marinho e os olhos castanhos. O quarto tinha os cabelos prateados e os olhos negros e era muito estranho. Seu nome era Takato.

Mas isso não importava. Passei por eles e fui em direção ao meu quarto. No meio do caminho escutei alguém conversar por detrás da porta de uma sala. Encostei nela e fiquei ouvindo uma conversa entre o garoto marrento e idiota de antes e outra pessoa.

- Não, nós não a encontramos. Mas aqueles idiotas já estão aqui. – ele falou seriamente.

- Que droga. Então tá. Nos falamos depois. – um cara falou da outra linha.

- Certo. – ele falou desligando.

- Melhor sair. – pensei.

- Ei, o que você... Espera você tava escutando? – ele disse correndo atrás de mim.

- Você faz parte de alguma máfia? – perguntei assustada.

- Você vai aprender a deixar de ser intrometida! – ele disse me puxando pelo braço.

- Idiota! Eu não me entrego fácil! – falei dando – lhe uma cotovelada na barriga.

- Ai! Que dor... – ele resmungou caído no chão.

- Preciso dar um jeito de fugir dele... – pensei – O que será que ele esconde tanto?

- Que droga! – ele gritou dando um soco na parede.

- Você é esquentadinho, né? – falei em tom sarcástico, tentando esconder o medo.

- O que você escutou? – ele disse mais calmo.

- Nada importante. Agora eu preciso ir. – falei saindo lentamente.

- Ei, me desculpe pela grosseria. – ele falou sentado no chão e encostado na parede.

- Tudo bem, eu entendo. – falei voltando e sentando ao seu lado. – Meu nome é Luna.

- O meu é Akira. – ele falou cansativamente.

- Eu sou uma garota complicada. Acho que eu que sou a idiota. Provoco todo mundo, até as pessoas que eu amo. – falei olhando pro chão.

- Espero que esse momento fique só entre nós, viu? – ele disse vermelho.

- Bem, agora eu realmente preciso ir. Não posso ser vista com um idiota. – disse furiosa.

- Ai é? Pois eu digo o mesmo! – ele falou rindo.

- Seu idiota! Eu te odeio! – falei saindo ao mesmo tempo que ele.

Depois daquele momento estranho, nos recolhemos para os quartos e sentimos uma forte semelhança entre nós. Naquele momento uma grande amizade começara.

- Eu estou começando a achar que estou doente... – falei deitada na cama do meu quarto.

- Por quê? – Sato perguntou enquanto estava navegando na internet.

- Acho que to amolecendo... Sei lá... – falei me abraçando com o travesseiro.

- Ah tá... Sei... – Sato falou sarcasticamente.

- Tô falando sério sua idiota! – falei com a cara fechada. - Acabei de conhecer uma pessoa que fechou coma minha cara. Nunca pensei que esse dia pudesse chegar... – falei quase chorando.

- Um moleque atrevido... – ela disse suspirando.

- Como sabe? – perguntei me levantando.

- Só um cara pra tirar você do sério Luna. – ela falou seriamente.

- Mas ele é diferente. Ele me fez ficar zangada de verdade. – falei lembrando a briga de antes.

- Sabe pelo menos qual é o nome dele? – ela perguntou com uma cara de quem já tinha uma resposta na cabeça.

- Sei, é Akira. – falei com minha cara pior possível.

- Já sei quem é. Não me admira que ele tenha surtado você. Ele é um brigão idiota. – ela disse me dando relatório completo.

- Que besteira. Eu não surtei coisa nenhuma. Deixa de ser boba. – falei fazendo birra.

- Ta certo. Assunto encerrado. – ela disse entrando no closet.

- Ótimo. – disse ironicamente.

De manhã eu me levantei e fui correndo em direção ao banheiro. Apressei-me um pouco mais e segui até a sala. Eu estava usando o uniforme feminino do colégio: uma blusa branca, um casaco preto, uma gravata vermelha por baixo, uma saia da mesma cor do casaco e uma sapatilha preta com meias brancas.

Entrei na sala e achei o mesmo grupo de antes em um canto isolado da sala. Um deles me olhou e virei o rosto depressa. Meus cabelos eram extremamente longos, tanto que chegavam até abaixo dos seios. Eram castanhos, brilhantes e ondulados.

- Oi maluca! – Sato falou sentando atrás de mim.

- Ai, é você? – perguntei em desanimo.

- Claro! Quem mais poderia ser? Você só me tem de amiga nessa escola! ¬¬ – ela falou.

- Vou sair. – disse já na porta.

- Ei! – ela gritou ao me ver sair.

- Oi. – Akira falou encostado na parede e com a mesma cara fechada.

- Ah é você. – falei com desprezo.

- O que? Como assim? – ele berrou morrendo de raiva.

- Sabe, digamos que você seja um zero á esquerda. – falei rindo.

- Por que você enche tanto meu saco? Eu tentei ser legal e você só me deu patada! – ele disse com raiva.

- Homens... – resmunguei.

- Deixa de falar pelas costas! – ele gritou com raiva.

- Tudo bem. – dei um sorriso malicioso.

- Podemos dar uma trégua? – ele disse mais calmo.

- Nem pensar. – falei saindo.

- Por favor. – ele disse pondo a mão no meu braço.

- Não encosta em mim! – falei dando um soco na cara dele.

- Por que você sempre tem que fazer isso? – ele resmungou caído no chão.

- Que Carinha chato, viu? – uma garota perguntou saindo do nada.

- Vocês são dois. – falei ao ver que se tratava de uma antiga rival da escola da Inglaterra.

- Bem, vejo que você não mudou nada. Faz pouco tempo mesmo... – ela disse.

- Ai Hanna, você sempre quis bancar a miss perfeição... – disse com a face mudada.

- Pois é. Mas diferente de você, eu consegui ser. – ela disse rindo.

- Porque só tem gente chata nesse colégio? – falei com raiva.

- Errada. Você que é fechada e faz com que ninguém goste de você. Não é mesmo? – ela disse com o olhar triste e distante.

- Você... – suspirei ao ver a ruiva de cabelos longos e cacheados entrar na sala.

- Acho que no fundo ela tem razão... – disse deixando uma lágrima escapar.

- Falando sério, para de ser tão chata! – Akira disse saindo do nada.

- O que? – disse me recompondo.

- Eu tentei ser seu amigo e você só ficou mais chata! – ele falou com raiva.

- Ah, me perdoe. – falei mudando de face – é que não estou em meus melhores dias. Sou mesmo assim. – falei dando um sorriso.

- Você devia parar de fazer isso. – ele disse com uma gotinha na cabeça.

- Vou tentar. Mentira, não vou. Se quiser realmente ser meu amigo tem que me aceitar como sou. Essa é a regra. – falei com a cara fechada.

- Sei, então para de me criticar. Eu faço o que quiser. Esse é o verdadeiro e único... Ei, cadê ela? – ele falou me procurando.

O que nunca entendi de fato foi porque pessoas tão diferentes como nós se tornaram amigos. Mas creio que foi porque ele foi o primeiro a me fazer querer mudar, ser uma pessoa melhor. Ou então porque ele insistiu demais. O que vem ao caso é que nos tornamos grandes amigos desde aquele dia.