— Perdão? — Amy questionou, como quem não consegue ouvir uma afirmação.

Excusez-moi? — Natalie fez eco a palavra de Amy em um francês perfeito.

— Como assim? — Dan gritou.

— O que exatamente isso significa? — Ian perguntou, por fim.

— Significa que vocês são os donos da empresa de Grace — Alistair comentou. — Grace deixou claro, junto com seus pais, Amy e Dan, que todo a posse dos três deve ser dividida igualmente entre seus dois netos/filhos e Natalie e Ian.

— Por que raios mamãe e papai deixariam alguma coisa para esses dois? Por deus, eles ao menos conheciam esse dois britânicos de araque?

— Posso dar uma olhada, tio? — Amy perguntou, docemente.

Alistair entregou para ela enquanto continuava com a discussão com Dan, alegando que ele não sabia de nada e que não se devia culpar o mensageiro.

“Eu, Grace Madelaine Cahill, e minha filha, Hope Grace Cahill, e seu marido, Arthur Liverpool Trent, afirmamos, em plena conciência de nossos atos, por meio desde que toda e qualquer coisa que seja nossa legalmente pertence para ser divida entre:

Amélia Hope Cahill

Daniel Arthur Cahill

Ian Thomas Kabra

Natalie Charlotte Kabra

Deixamos esse documento nas mãos de:

Caleb John Starling”

Amy leu só a prefácio do documento e já queria se jogar numa ponte.

Nada parecia forjado ou que havia sido alterado, aquile forá o desejo de sua avó e seus pais. De seus próprio pais...

Como todos os nossos bens materiais e físicos, deixamos a empressa G&H, o hotel Magnifique e as...”

O nosso hotel! O hotel onde crescemos, o hotel que Janet matem em ordem para mim... Tudo, tudo compartilhado.

Isso e todas as joias, casas, contas bancárias... Todo o que era nosso, agora é... Nosso com mais dois estranhos.

— Irritada? — Amy ouviu uma voz masculina lhe perguntar rente ao seu pescoço. De forma meio repentina, ela se afastou suavemente, com um pequeno sorriso na face.

— Não exatamente, vai ser algo... Interessante. — Mentiu a garota, colocando o cabelo atrás da orelha.

— Interessante?

— Creio que vocês não saibam – riu-se a menina. – Durante anos eu vivi com o medo de administrar as empresas... Foram anos longos e pavorosos, com medo de acabar com o império dos meus pais e de minha avó. Tudo isso ia cair em cima de mim, como uma avalanche. Isso e a guarda de Dan, que é óbvio que ele irá querer isso... — a garota soltou um breve suspiro, enquanto fitava suas mãos. — Mas agora, agora se algo acontecer a culpa não é exatamente minha... É... É nossa.

Ian a observou por um tempo relativamente enorme, segundo Amy. A garota não olhava para a face dele, mas conseguia sentir seus olhos nela, e, pouco à pouco, o sangue lhe foi subindo a face, deixando-lhe vermelha.

— Então, está aliviada? — questionou ele por fim.

— Tipo isso — a menina se levantou após dizer estas palavras. — Tio, se terminamos aqui, gostaria de pedir para ir para o meu quarto, estou me sentindo exausta.

Alistair a fitou meio surpreso meio curioso, mas concordou com a cabeça. Dan parecia irritado com tudo aquilo, mas logo se levantou e caminhou em direção à cozinha.

— Amy, eu gostaria de ir aquela casa de chás que você gosta com você hoje — falou o garoto, antes da ruiva conseguir chegar na escada. — Importa-se?

— Creio que não — respondeu Amy, notando a cabeça de Natalie observando os dois rapidamente, uma expressão de encanto em sua face. — Natalie — chamou ela.

— Sim? — respondeu a morena na expectativa.

— Gostaria de nos acompanhar? Londres é cheia de casas de chás, creio eu, talvez goste de voltar para um lugar onde esteja familiarizada. Boston pode parecer uma bagunça e...

— Ah sim, sim e sim! — Natalie assentiu, com um largo sorriso em sua face, suas bochechas rosa de boneca saltavam levante para fora de sua face. — Muito obrigada, Amélia, quando vamos?

Dan lançou um rápido olhar mortífero para Amy, mas respondeu assim mesmo:

— Amy pediu para descansar, assim que ela ficar pronta vamos.

— Genial! Tenho tempo de me arrumar... — ela foi se levantando, mas de repente parou e olhou com um Q de curiosidade para Alistair. — Onde posso ficar?

Alistair encolheu os ombros, como quem se desculpa.

— Pergunte aos donos da casa, minha querida.

— Ahn... — ela olhou para Dan, bebendo água e fuzilando-os como se fossem traidores. — Amélia?

— Amy — corrigiu a garota, rindo. — Segunda porta, siga reto até o final e é a primeira porta à esquerda.

— Ahn, na verdade esse é o meu quarto, Amy — falou Ian, com um ar delicado. — Claro que posso mudar se...

— Não, não — Amy se corrigiu, sentindo a vertigem por estar no centro das atenções finalmente a atingindo. — Segunda porta, siga reto até o final, segunda porta à direita.

Gracias! — agradeceu Natalie, mas Amy não ficou mais nem um segundo lá, virando-se para correr para seu quarto.

Bleeding Out

Amy havia acordado fazia poucos segundos. A janela de seu quarto mostrava que à tarde já estava chegando. Seu estômago roncava levemente quando ela retirou as cobertas de cima de seu corpo e andou até o banheiro, arrumando o cabelo.

Ela havia dormido do momento que entrou no quarto até agora, tentava resolver aqueles problemas que atormentavam a cabeça dela.

Por que seus pais e sua avó deixariam alguma coisa para Ian e Natalie? Por que o testamento havia sido alterado? Quem o fizera?

Mas como nenhuma das perguntas tinham respostas o melhor era não pensar nelas por agora.

— Posso entrar? — Amy ouviu alguém bater na porta.

— Dan?

— Não, o bicho-papão. — Brincou Dan, já dentro do quarto. Amy espiou pela fresta da porta do banheiro, antes de vestir um roupão e ir vê-lo.

— Posso ajudar? — ela perguntou, depois de longos segundos que Dan só ficava encarando-a.

— O que houve com você? — Dan perguntou, exasperado. — Durante sete anos você não falou absolutamente nada, e de um dia para a noite, decidiu que vai virar a Embaixadora da Boa Vontade da ONU?

— Daniel... — Amy riu, mas sabia que ele tinha razão. — Você quer saber o que aconteceu? Eu percebi que se eu não quero perder o trabalho da minha avó e dos meus pais eu terei de superar o trauma de falar. Não pense que estou rindo e falando porque quero. A partir de agora, e até Ian e Natalie saírem de nossas vidas, eu estou sendo obrigada a agir assim.

Dan ficou em silêncio, a boca aberta como se estivesse em choque.

— Você... Você está fingindo?

— Dan — Amy se sentou ao lado dele na cama. — Eu não posso perder tudo. Durante toda a minha vida de merda isso foi a única coisa que restou deles, eu... — Amy ficou em silêncio, surpreendida como ela estava conseguindo mudar de humor tão fácil. Em um minuto estava rindo das palhaças de Dan, e agora queria chorar e se encolher em um cantinho.

— Hey, hey — Dan colocou a mão no ombro dela. — Está tudo bem, eu não vou deixar que eles façam nada disso conosco... Calma.

— Por que eles deixariam alguma coisa para eles? — Amy perguntou, deixando a cabeça cair sobre o ombro de Dan. — Raios, n-não há um único mo-motivo... — a gagueira que havia ficado longe da sua voz por um bom tempo voltou com tudo, o medo e o pânico acabando com toda a coragem e força de vontade dela.

— Eu não sei, Amy... — Dan segurou o rosto dela com cuidado, como se ele fosse o mais velho da relação, e não ela. — Mas eu te prometo que vou descobrir.