Blazel

O castelo cinzento


POV- NICKY

Nicky acordou completamente dolorida. Ela abriu os olhos e se viu em uma cela de paredes de concreto e grades bem fortes que davam para um corredor cinzento. Ela estava jogada no chão duro e desconfortável.

Não sabia quantas horas teriam se passado, mas já tinha amanhecido.

Achava que estaria amarrada, mas mexeu seus braços e suas pernas livremente. Estava toda arranhada e havia um corte enorme ao longo do seu braço esquerdo. Mas isso não importava agora.

Embora ainda se sentindo mal, levantou de um pulo e foi espiar através das grades.

De um lado o corredor não tinha portas (até onde sua visão limitada pelas grades podia alcançar).

Do outro lado, havia várias celas iguais as suas e muitas portas de ferro com pequenas janelinhas.

Ela não conseguia ver se tinha alguém dentro das celas. De repente, ela percebeu, na cela que estava mais perto dela, uma perna.

Mas não uma perna como se a pessoa estivesse em pé. Como se a pessoa estivesse deitada. Só dava para ver um pé.

Um all star que deveria ser branco, mas estava muito sujo.

- Jake...? – Nicky falou baixinho.

De repente ela ouviu um barulho e uma das portas de ferro se abriu. Ela não esperou pra ver quem era. Jogou-se no chão e fingiu que ainda estava desacordada.

-... e mesmo assim, eu ainda achei que ele não conseguiria! – Falou a mesma voz grossa que Nicky tinha ouvido naquela hora, no ‘sequestro’.

- Ele melhorou quando você o torturou e ameaçou matá-lo. – Agora era uma voz feminina, mas não menos cruel.

- Aquele garoto branquelo quase arrancou meu braço fora! Ainda tenho todos os dentes dele marcados na minha pele. Saiu tanto sangue que eu resisti á tentação de matá-lo ali mesmo.

Nicky sentiu um arrepio. Estavam falando de Jake.

- Você sabe muito bem que precisamos deles vivos! Eu também quis matar aquela patricinha que não parava de chorar. - Falou agora uma terceira voz, masculina, porém mais fina.

“Será a Leah? Pegaram ela também?” – Nicky perguntava-se mentalmente.

As vozes foram diminuindo de tom, como se as pessoas fossem se afastando. Eles falaram mais algumas coisas que Nicky não entendeu. Depois, ouviu o barulho de uma porta se batendo.

Ela esperou mais alguns segundos para abrir os olhos novamente.

Sentia um enjôo e uma louca vontade de vomitar.

Porém, melhorava um pouco saber que todos estavam vivos.

Ela viu em uma cela ao lado da de Jake, uma mão agarrando a grade.

- Charlie, é você? – Ela falou baixo, mas suficiente para ele ouvir.

De repente a mão subiu, como se a pessoa tivesse levantado.

- Nicky... – Ele tossiu – Você está bem?

- Ah, Charlie, eu não estou nada bem... – Nicky sentiu lágrimas rolarem pelo seu rosto, contra sua vontade.

- Você... Você está machucada? – A voz dele estava diferente, e ele tossia muito.

- Não é isso – Nicky soluçava com o choro – Eu estou com medo... O que está acontecendo?

Charlie falou mais baixo:

- Eu não sei. Mas vai ficar tudo bem, Nicky. – Ele falou com uma voz rouca e baixa.

Nicky secou as lágrimas, mas não podia contê-las.

- Você está bem? – Nicky perguntou.

- Estou... – Mas, ao dizer isso ele soltou um gemido de dor.

- Charlie? O que foi? Você está ferido? – Nicky já estava muito preocupada.

Ao invés de responder ele tossiu mais ainda.

- Parece que dois dos nossos anjinhos acordaram...

Nicky sentiu seu coração disparar com o susto. Virou-se para o lado e viu uma mulher com o rosto pálido e os olhos negros. Seu cabelo era preto, mas havia uma franja de testa com as pontas pintadas de vermelho. Estava preso em um coque.

Ela usava uma camiseta preta e uma calça jeans. Por cima, um manto vermelho-sangue com um capuz. Ela parecia ter uns dezoito anos.

- Dormiu bem, querida? – Ela sorriu maliciosamente para Nicky.

Nicky continuou em silêncio.

A mulher enfiou a mão dentro de sua cela e puxou com força os cabelos de Nicky, fazendo sua cabeça bater violentamente contra a grade.

Ela falou bem no ouvido de Nicky:

- Nunca me deixe falando sozinha.

Então ela jogou Nicky de volta no chão. Tinha uma força impressionante.

Ela se dirigiu á cela de Charlie e pegou uma chave. Com um movimento rápido, destrancou o cadeado e abriu a grade.

- Anda, levante! – Ela gritou e agarrou o braço dele com força.

Nicky quase podia ver suas unhas negras afiadas furando a pele do garoto.

Charlie estava horrível. Seu cabelo estava todo emaranhado, havia muitas marcas roxas em seus braços e seu rosto tinha um grande e vermelho corte na bochecha. Ele olhava para o chão.

- Você me deu muito trabalho ontem. Eu gostaria de te deixar apodrecendo até morrer! – Ela falou com total desprezo e repugnância. – Mas, creio que meu mestre tenha um destino melhor para você. – Quando passou por Nicky, ela falou: - Para todos vocês.

Nicky não sabia do que ela estava falando, mas encostou-se à parede e chorou compulsivamente. Ela não queria deixar Charlie ir com aquela mulher horrorosa. Mas, não via o que podia fazer para impedir.

Chorou e chorou até suas lágrimas secarem. E então, adormeceu.

...

- Nem nós sabemos o que está acontecendo! Não podemos assustá-la. – Disse Jake.

Nicky abriu seus olhos.

- Também não podemos dizer que vai ficar tudo bem! – Parecia a voz de Daniel, mas ela não tinha certeza, já que não falava muito com ele.

Ela viu os olhos de Jake se virando em sua direção da cela da frente e sua expressão se suavizou.

- Nicky! Graças a Deus você está bem!- Ele disse.

- Ela acordou? – Perguntou Daniel, mas Jake ignorou.

- O que foi que eles te disseram? – Jake perguntou.

- Eles... Não me disseram nada. Mas eles levaram o Charlie... Pra alguma dessas portas.

Jake fez uma cara estranha. Ela não conseguia ver Daniel, mas Jake deveria estar olhando para ele.

Ela ouviu Daniel suspirar.

- Levaram a Leah também... – Ele falou.

De repente uma porta se abriu e todos se viraram para olhar. Era a mesma mulher que havia levado Charlie.

Dessa vez, ela abriu a cela de Nicky. A puxou pelo braço e falou:

- Sua vez, garota.

Nicky lançou um olhar desesperado para Jake e ele sussurrou agarrando as grades:

- Tenha calma Nicky. Vai ficar tudo bem. – E forçou um sorriso.

Elas caminharam pelo corredor e a mulher a empurrou para dentro de uma sala.

A sala era enorme. Havia uma grande mesa no centro e na cabeceira, uma enorme e alta cadeira, onde se sentava um homem que tinha uma cicatriz de três garras no pescoço. Ele tinha uma expressão indiferente.

Ao seu lado havia uma cadeira vazia.

Nos outros lugares da mesa estavam distribuídas cadeiras diferentes. Uma azul-marinho, na qual se sentava Charlie; Uma vermelho-sangue ao seu lado que estava vazia; Uma branca, onde estava Luna, que parecia não ter nenhum arranhão, uma negra e uma verde escuro que estavam vazias, e uma de uma cor meio bege amarronzado, ocupada por Leah.

Nicky fixou seu olhar em uma cadeira, onde estava a pessoa que mais sentia ódio naquele momento.

Harry.

Ele baixou os olhos quando ela o encarou.

Havia mais algumas cinco pessoas em outras cadeiras, que ela não conhecia.

A mulher a empurrou para a cadeira vermelha-sangue, ao lado de Charlie. Ele a olhou e suspirou.

Nicky sentiu a mão de Charlie apertando a sua. Isso, tecnicamente não mudava nada, mas ela ficou mais tranqüila.