BitterSweetheart

Capítulo 22 – Encontros e desencontros


Diego

Eu não queria ir trabalhar. Não queria sair da cama. Só queria tirar da cabeça tudo que acontecera. Tomei um banho demorado. Queria que a água lavasse meu corpo. Que tirasse o cheiro de Guilherme que ainda impregnava minha pele, nas minhas roupas, na minha mente. Que levasse os pensamentos sobre ele.

– Eu preciso da Anne. Vou logo para o trabalho para falar com ela.

Eu não sabia exatamente o que precisava dela. Se seu ombro para chorar ou se sua presença reconfortante. Mas Anne não estava no trabalho. E tampouco chegou pela manhã. Meu celular tocou e vi o número de Guilherme brilhando. Joguei o celular na parede. Eu não queria vê-lo. Não queria nem mesmo pensar nele. Precisava fazer algo, ocupar minha cabeça antes que eu enlouquecesse de vez. Decidi procurar Carla para saber se o cara pelo menos havia falado com ela, mas Carla também não apareceu no trabalho. Ao menos isso. Elas deviam estar juntas. No fim, parece que valeu a pena tudo que eu tive que fazer.

Está vendo, cara. Você ama a Anne mais que tudo nessa vida. Foi capaz de beijar um homem só para vê-la feliz. Você não é gay. – Eu tentava me convencer disso, mas lá no fundo da minha mente havia uma voz chata que ficava perturbando, me dizendo que não fora por Anne que eu fizera aquilo, dizendo que eu tinha gostado. Que era o que eu queria.

Sai do trabalho na hora do almoço. Tinha que resolver isso ou ficaria maluco. Tinha que provar para mim mesmo que gostava de mulheres. Foi pra uma casa de strip-tease que funcionava ali perto. Tinha um show marcado para uma da tarde, não faltava muito então decidi esperar. Sentei e fiquei bebendo uma cerveja. Depois do show as garotas circulavam entre as pessoas presentes e de tempos em tempos sumiam com algum cara, ou com alguma mulher, para dentro de uma porta aos fundos. Era para isso que eu viera até ali, então respirei fundo e chamei uma das mulheres que havia dançado por último. Ela era escultural, branquinha com o cabelo preto. O tipo de mulher que tira o sono de qualquer pessoa. Ela sentou-se no meu colo e passou a mão por meu rosto.

– Você é lindo demais para um lugar como esse. Aposto que consegue qualquer mulher fora daqui de graça.

– Não importa. Qual seu nome?

– Fernanda.

– Vem comigo, linda.

Fomos para um quarto aos fundos. A garota entrou me empurrando na cama, ela sorria com um ar jovial e divertido, parecia achar que tirara a sorte grande por conseguir um cliente como eu. Ela subiu na cama e ficou de pé sobre mim, dançando enquanto tirava as roupas. Depois começou a tirar as minhas roupas e tentou todas as formas que conhecia de excitar um homem, mas eu simplesmente não conseguia. E isso estava me deixando cada vez mais irritado.

– Acho que estou entendendo porque um cara como você veio parar aqui. Terminou com uma namorada recentemente? – Acho que ela percebeu a fúria em meu rosto porque sentou ao meu lado e tentou me acalmar. – Não fique zangado. Isso é normal e acontece sempre. Só estou tentando ajudar. Faça assim. – Ela pegou uma echarpe que estava anteriormente amarrado em seu pescoço na cama e amarrou sobre meus olhos. – Agora pense no que você quiser. Em quem quiser. Sempre funciona, vai ser mais fácil. Eu ajudo enquanto isso.

Fernanda acariciava meu corpo, passava as mãos por minhas pernas, me lambia e chupava. Fechei os olhos e deixou que ela fizesse o que sabia fazer. Tentava pensar em Anne. Em Carla, em Carla e Anne juntas. Mas tudo isso eram pensamentos passageiros que sumiam toda vez que eu sentia uma pontada de tesão. Nessa hora todas as imagens eram substituídas pelo rosto de Guilherme, por sua voz grossa gemendo em meu ouvido. E isso me deixou ainda mais irritado. Tive vontade de gritar e eu soube que não conseguiria mais lutar contra isso. Precisava liberar todo o ódio de alguma forma. Lembrei-me de Guilherme virado de costas para mim, jogado contra a parede e gemendo com o contato da minha boca e isso já foi o suficiente para me excitar. Coloquei Fernanda de costas apoiada na parede exatamente como fizera com Guilherme e finalizei o que viera fazer. Quando terminei Fernanda vestiu a roupa e estendeu a mão.

– Anal é mais caro, meu amor. – Ela pegou o dinheiro que eu lhe entreguei e saiu rindo. – Eu devia cobrar mais caro para ser chamada de Guilherme também. – Me joguei na cama em seguida, apenas queria ficar quieto de olhos fechados pelo resto da vida. Acabei ainda mais frustrado do que estava quando resolvi ir ali.

Guilherme

Procurei por Diego o dia todo, mas ele não estava em lugar algum. Anne e Carla não apareceram no trabalho também. Imaginei se Diego não estaria no trabalho pelo mesmo motivo que as duas.

– Tomara que não. Ele não pode estar com ninguém hoje.

Depois de rodar todo o lugar finalmente desisti. Diego estava obviamente me evitando, pois não quis nem mesmo atender o celular. Era óbvio que ele estava com medo e confuso. Mas eu não consegui evitar uma última olhada na sala de Diego. Bati e ninguém respondeu. Tentei abrir e vi que a porta estava aberta. Entrei mas ele não estava lá. Era de se imaginar. Quando estava prestes a sair dali reparei no celular de Diego que estava espatifado no chão, perto da parede. Não pude evitar um sorriso triste, conseguia visualizar perfeitamente a cena. Diego vendo meu nome no visor e, desesperado, jogando o celular na parede. Então resolvi parar de insistir, estava claro que Diego não estava pronto e precisava de espaço. Recolhi os pedaços do celular de Diego e tirei o chip. Precisava, pelo menos, tentar ajudar, já que aquilo tudo era minha culpa. Fui até o shopping, comprei um celular novo e coloquei o chip de Diego. Pensei até em deixar um bilhete, mas que não queria me humilhar a esse nível. Escrevi apenas uma saudação de inicio no celular. Se Diego fosse um pouco atencioso perceberia quando o ligasse.

Liguei para Carla, mas o celular dela estava desligado, o que era bom, pois percebi em seguida que não seria justo atrapalhar o momento das duas com meus problemas. Precisava resolver tudo sozinho. Ou melhor, não era a toa que eu era o melhor amigo de Carla. Eu nunca resolvia nada sozinho também. Peguei meu celular e fiz uma ligação. Meia hora depois Caio parava na porta do prédio da Procuradoria e eu entrava no carro.

Carla

Anne e eu passamos o dia no apartamento. Nada poderia nos tirar daqui hoje. Depois de tomar café-da-manhã fui tomar um banho e Anne me seguiu. Ela me confidenciou que tinha uma tara por banheiros, o que me fez rir e, obviamente, realizar os desejos da minha loira. Assim que ela entrou no chuveiro, eu a puxei para baixo do chuveiro e a beijei com a água caindo sobre nós. Aliás, tudo era motivo para nós nos agarrarmos. Acabamos fazendo amor ali mesmo. Encostadas na parede, no chão e embaixo da água. O dia passou rápido demais para o meu gosto porque quando dei por mim já estava escuro.

– Loirinha, você não tem que ir para casa, não é? Fique aqui hoje. – Falei enquanto abraçava Anne e a enchia de beijos.

– Amanha é sábado, meu amor. Eu posso ficar aqui se você quiser. Só preciso ir a minha casa pegar uma roupa.

– Para que roupa? Eu vou tirar ela mesmo. – Mordi a boca e fiz a cara mais safada que consegui. Eu já sou incontrolável naturalmente, pense como eu fico com Anne!

– Para isso mesmo. – Ela respondeu com um sorriso que não perdeu em nada para a minha safadeza. Essa mulher um dia vai me matar, escrevam isso. – Para você tirar. O melhor da roupa é ser tirada. – Eu não conseguiria resistir a esse sorriso de Anne então já fui me aproximando dela e envolvendo-a em meus braços, mas a sacana me segurou e me olhou séria. – Eu estou falando sério, Carla. Vamos sair para jantar, então eu tenho que estar linda.

– Mais? Você é perfeita, minha loirinha!

– Tenho que ficar mais ainda para você. Eu vou lá me arrumar e volto. Aí durmo aqui. Vai se arrumando também.

Duas horas depois Anne estava de volta, totalmente deslumbrante em uma roupa preta e muito sensual. Eu já a esperava com meu visual básico, short jeans e camiseta de sempre. Anne me olhou de cima a baixo com o cenho franzido.

– Você está maravilhosa como sempre, mas quando fizeram seu short estava faltando pano, Carla?

Eu ri abertamente, achei que ela estivesse me achando mal arrumada, mas já que era apenas ciúme estava tudo bem.

– Está curto amor?

– Vão ficar comendo suas pernas com os olhos. – Já disse o quanto ela fica linda quando está com ciúme?

– Ainda bem que é só com os olhos né, loira? – Apertei as bochechas de Anne e dei lhe dei um selinho. – E você linda cheia de ciúme, mas não ligue se vão olhar ou não, amor. Quem pega é só você.

– Só eu posso pegar? – Eu não conseguiria descrever toda a beleza que apareceu em seu sorriso quando ela me respondeu. Deus, eu estava completamente apaixonada por essa garota. Não resisti e a beijei novamente, com vontade, deixando transparecer no beijo todo meu desejo e amor por ela. Foi muito bom, até que ela me parou e me empurrou. Anne sendo Anne.

– Está bom amor, se a gente começar agora nem vamos sair de casa. – Ela disse me tirando de cima dela

– Você está má Anne. Eu quero sexo.

– Sua tarada. A gente fez sexo o dia inteiro. – Ela me deu um tapa e me jogou no sofá. Até isso me excitava quando era ela quem fazia. Segurei sua mão e a puxei pro meu colo.

– Não. Nós fizemos amor. Eu quero trepar com você Anne. – Eu sei, eu estava tentando ser românica e essas coisas com ela, mas esse meu lado vadia é quase incontrolável. O que eu posso fazer? Mas ela gemeu baixinho com o que eu disse. Melhor recompensa eu não poderia receber.

– Não me provoque Carla. Vamos comer que eu estou morta de fome. Depois conversamos sobre isso. – Ela sorriu e deu uma piscadinha sexy que definitivamente me convenceu. Fomos para o restaurante rindo e brincando.

– Loira, amanhã vai ter uma maratona de Game of Thrones. O que você acha de ficar a tarde toda comigo comendo pipoca e assistindo aquele seriado perfeito?

– Eu acho que pode ser uma boa idéia, mas tem uma condição.

– Qual?

– Você não pode comer só pipoca. – Ela sussurrou em meu ouvido, me dando arrepios. – Vai ter que me comer também.

Eu, por acaso, já falei que estou namorando a mulher mais perfeita desse mundo? Só para que todos saibam mesmo. Abracei Anne por trás e mordi seu pescoço de leve. Respondi baixinho no ouvido dela que essa era a verdadeira intenção. Nós duas ríamos juntas e nos acariciávamos o tempo todo. Nem reparávamos, e na verdade nem ligávamos, paras pessoas em volta que olhavam meio espantadas e indignadas para a gente.

Quando chegamos em casa nos deitamos e ficamos conversando sobre várias coisas. Estávamos tão cansadas que acabamos adormecendo, eu deitada no colo de Anne que estava meio encostada na cama. Acordei no meio da noite e fiquei observando-a dormir. Era a cena mais linda que já vira. Tentei me virar para o lado para deixá-la mais confortável, mas Anne resmungou e segurou meu braço em volta de si. Sorri com o pensamento que me ocorreu naquele momento. Cobri Anne e me deixei dormir abraçada com ela e me sentindo completa pela primeira vez em toda minha vida.

Acordei com um barulho alto que parecia vir da cozinha. Olhei para o lado e não vi Anne. Por um momento senti pânico em pensar que tudo aquilo poderia ter sido apenas um sonho. Mas quando peguei o travesseiro e abracei, senti o cheiro dela e tive certeza de que era realidade.

– Anne onde você está? – Gritei por ela mais por certificação mesmo.

Ela apareceu na porta sorrindo, segurava uma bandeja linda de café na manhã.

– Já acordou? Achei que ia dormir até mais tarde hoje.

Espreguicei-me e olhou o relógio, o que me fez levar um susto.

– Até mais tarde loira? Aí eu ia acordar só amanha. Já é quase meio dia.

– Como se eu não soubesse que você dorme muito mais que isso, não é? – Ela sentou-se ao meu lado e começou a comer. Eu não conseguia parar de olhá-la e admirar o quanto era linda. Acho que ela percebeu que eu a encarava porque corou levemente e me olhou de volta.

– O que tanto olha Carla?

– Apenas tentando acreditar na minha sorte.

– Sorte?

– Sorte por alguém como você se interessar por alguém como eu.

– Nisso você tem realmente razão. – Ela deu aquela risada que sempre me fazia feliz. – Aproveite porque isso não acontece todos os dias.

– Pode ter certeza que eu vou aproveitar, loirinha. Agora só falta meu beijo de bom dia.

Ela riu e me deu um selinho.

– Assim está bom?

– Nem perto. Pode se esforçar mais.

Ela atendeu prontamente ao pedido e me deu um beijo molhado e demorado. Eu me deixei levar pelo beijo e já jogava meu corpo sobre o dela quando um maldito celular tocou.