BitterSweetheart

Capítulo 12 – Ser ou não ser?


Gui

O que eu não faço por você, Carla. Estou acabado de sono e ainda venho para o trabalho cedo só para te encobrir com a Mai. Ainda bem que ela parece estar muito afim de você. Nem ligou porque você não veio.

Eu estava com olheiras de sono e ressaca, aquelas duas gatas não pararam de miar a noite toda. E eu ainda acordei super cedo para vir dar cobertura para minha bebadazinha. Eu disse a Mai que a Carla ficara até de madrugada fazendo uns relatórios e acabou não acordando, mentira deslavada mesmo e daí? Estava voltando para a minha sala e desejando mais que tudo uma cama quando alguém abriu uma porta ao meu lado e me chamou.

– Guilherme, será que podemos conversar um minuto? – Opa Diego? Conversinha particular pela manhã? Ganhei meu dia e com certeza isso estava mais que estampado em meu sorriso.

– Claro Diego. Com todo prazer.

– Entre e sente-se. Fique a vontade.

Eu me sentei na cadeira em frente à mesa de Diego e fiquei esperando, mas o outro não dizia nada, resolvi incentivar.

– O que foi?

– Você acha que eu sou gay? – Meu Deus o que foi isso? Direto e eficaz? Fiquei sem palavras. Mas o que será que ele esperava ouvir como resposta?

– Você quer a verdade ou prefere ter um dia feliz?

– Valeu. Já me respondeu.

– Não Diego. Calma que eu vou tentar explicar melhor o que eu acho. Talvez você não seja gay, mas você é bi, isso é fato. Você é educado, gentil, romântico, culto e sabe cozinhar.

– Isso não tem nada a ver. Um homem pode ser tudo isso.

– Claro que pode. Mas se ele também se vestir bem e gostar de música pop ele, muito provavelmente, deve gostar de outro homem.

– Seus argumentos baseiam-se em estereótipos e não estão me convencendo. Mas, enfim, eu não gosto de outro homem. Eu amo a Anne.

– Eu sei. E eu acredito nisso. Por isso falei que você talvez seja bi. Você conviveu tanto com ela e vocês se dão tão bem que você acabou se apaixonando por ela e com razão, afinal que mulher linda ela é! Só que você se sente divido não é? Apesar de amá-la você sente coisas assim por outras pessoas que não gostaria de sentir.

– Não é bem assim. Eu...

– Tudo bem. Eu já falei até mais que deveria. Você vai saber o que fazer quando for a hora certa e acho que eu não sou a melhor pessoa para você perguntar sobre isso.

– Por que não? Eu pensei em você porque você é e tal.

– Eu sei. Mas é que eu não sou imparcial. Talvez você nem seja o que eu disse, mas eu te vejo assim por que... Porque eu gostaria muito que o que eu disse fosse verdade.

Falei demais, merda! Eu sempre falava demais! Saí da sala correndo antes que eu ainda atacasse o bofe lá mesmo.

Diego

Quando chamei o Guilherme para conversar, eu esperava que algumas dúvidas pudessem ser esclarecidas, mas só consegui adicionar mais algumas à minha coleção. Foi impressão minha ou ele dissera que gostava de mim?

Ah! Essa vida só fica mais complicada a cada dia. Quer saber? Eu vou lutar pela Anne. Ela vai ser minha mulher. – E foi disso que me convenci naquele instante, mas mesmo sem querer, ou entender, Gui não saiu da minha cabeça o resto do dia.

Carla

Cheguei tarde ao trabalho e com uma ressaca maldita. Não sei nem como consegui me levantar. Encostei a cabeça no volante do carro e comecei a pensar no meu dia desde que acordei e vi Claudinha ao meu lado. Fiquei com raiva de mim mesma por não conseguir me controlar nunca. Ok, a noite fora incrível, eu assumo, mas agora eu não sabia o que fazer com a morena, que no fim das contas não tinha culpa de nada. E ela ficaria no meu pé, com certeza. Claudinha era linda e tudo mais, só que eu não queria nada sério com ela, faltava algo ali que eu não sabia o que era. Dei um beijo em seu rosto sem a acordar e deixei um bilhete dizendo que precisava ir para casa trabalhar no projeto que não havia terminado. Fiquei olhando aquela mulher perfeita deitada ali enquanto me vestia. Ela era uma delícia, carinhosa e meiga, e gostava de mim então o que podia estar faltando? Fiz um gesto negativo com a cabeça, eu dizia não aos meus próprios pensamentos. Quando cheguei à porta e dei uma última olhada na mulher que dormia tão tranquilamente depois da noite de intenso prazer não pude mais negar a verdade mais importante que eu estava ignorando. O que realmente faltava ali, eu percebi, era simples. Claudinha não era Anne. Fui direto para casa trabalhar nos relatórios que Mai exigira, sentindo a cabeça pesada e rodando, mas não descansei até que todo o trabalho estivesse finalizado. Só agora tive alguns minutos para parar e refletir. Eram exatamente cinco da tarde quando cheguei à sala de Mai com os relatórios prontos.

– Você entregou dentro do prazo, mas eu confesso que não tinha pensado em te deixar ficar em casa fazendo isso. – Disse Mai, sempre dura e direta.

– Me desculpe, mas a noite não foi suficiente para terminar, Mai.

– Eu imagino que não. O importante é que você terminou os relatórios. Agora vá para casa de novo e descanse o resto do dia porque você está com uma cara péssima.

– Tem certeza?

– O expediente de hoje está quase acabando. Vai logo e descanse.

Eu não podia ter ouvido nada melhor hoje e não quis dar nenhuma chance para que ela mudasse de idéia. Agradeci e fui direto para o carro sem nem ao menos cumprimentar ninguém. Não estava a fim de ver Gui porque sabia que ele me daria uma bronca pelo que fizera ontem. Quando chegava ao estacionamento vi Anne sentada na porta do elevador, sozinha. Parecia ter chorado. Ela era como um ímã para mim, não entendo porque isso aconteceu, mas com ela eu tive vontade de falar, ainda mais a vendo daquele jeito tristonho. Aproximei-me e sentei ao seu lado.

– Oi, gata. – Ela não respondeu.

– O que está fazendo aqui? Você não estava chorando, não é?

– Você se importa? – Ela falou cabisbaixa, mas com um tom de ironia na voz.

– Claro que me importo. Você é minha amiga. Eu te adoro e me preocupo com você.

– Aham. Valeu. Estou bem. Agora me deixa?

Senti que não era o melhor momento para conversar e resolvi ir embora. No fundo eu sabia que Anne estava fazendo um pouco de charme, que ela queria que eu pedisse desculpas e insistisse um pouco, mas eu não faria isso. Eu nunca corri e nunca vou correr atrás de alguém. Levantei e fui saindo de perto dela.

– Carla! – Viu porque eu nunca corro atrás? Se você não cede, a frescura acaba. Virei para olhá-la.

– Hã?

– Ontem... Eu falei demais. Perdoe-me. Você sabe que eu te adoro, não quis dizer aquilo.

– Mas você disse. Boa tarde Anne. – Afinal porque eu disse isso e porque sai desse jeito? Não sei. Acho que eu queria que ela visse como é quando ficam fazendo charme. Ou simplesmente porque eu sou assim, não saberia dizer. O fato é que eu entrei no carro e deixei meu anjo lá, mesmo que tudo que eu mais quisesse no momento fosse abraçá-la e sentir seu calor. Eu a deixei me olhando com olhos úmidos e tristes.