BitterSweetheart

Capitulo 4 – A noite é uma criança


Anne

Meu dia havia sido muito cansativo e eu não conseguia parar de olhar o relógio esperando a hora de ir para casa. No instante em que olhei meu celular para verificar mais uma vez as horas, o aparelho tocou e eu vi o nome de Diego.

– Oi, gato! O que você precisa?

– O Guilherme acabou de me ligar, ele vai com alguns amigos para uma balada da hora. E claro que você vai comigo.

– Di, me desculpe, mas não vai dar. Eu li tanto papel hoje que estou com dor de cabeça. Só quero minha cama e mais nada. Fica para próxima.

– Poxa, não fala isso Anne. Eu estava muito a fim de ir, mas só vou se você for.

– Meu amor, eu sinto muito, mas estou realmente indisposta hoje.

– Hoje não Anne, você sempre está. Sempre diz a mesma coisa. Eu só estou tentando te animar. Vai ser legal, o Gui vai levar a garota nova para conhecer o pessoal. A gente vai se divertir muito. Você precisa disso, Dona Anne.

– Hã? O Gui vai... Bem, sabe Di, eu acho que você tem razão. Eu preciso mesmo me distrair. Podemos nos encontrar daqui a duas horas? Só vou passar em casa e tomar um banho rápido.

– Assim que se fala, gatinha. Em duas horas te pego na sua casa.

Carla

Gui me pegou na minha sala e me levou em casa para que eu me arrumasse. Já disse que ele é um fofo? Depois fomos até a casa dele, o que levou bem mais tempo do que eu imaginava.

– Gui, você demora três vezes mais do que eu para se arrumar. Você é lindo, não precisa de toda essa demora.

– Ah! Obrigado Sweetheart, mas eu não sei ser mais rápido que isso. Já estou quase pronto. – O telefone da casa tocou. – Carla atende para mim? Estou terminando meu cabelo.

Não pude deixar de imaginar o que ele tanto tinha para fazer em um cabelo curto, um pouco arrepiado que parecia crescer para todos os lados. Eu inclusive achava aquele visual despojado bastante interessante, não via necessidade de mudanças. Mas fui atender ao telefone mesmo assim, já havia percebido que seria inútil tentar convencê-lo disso.

– Alô!

– Pequeno?

– Aqui é a Carla, amiga do Guilherme, com quem você gostaria de falar?

– Ah! Olá! Eu sou o Caio, muito prazer. Meu pequeno está?

– Só um minuto. – Estiquei a cabeça sobre o batente da porta e comecei a gritar para que Gui pudesse me ouvir mesmo com o barulho do secador. Sim, ele usava um, não sei ao certo o que ele secava naquele cabelo curto, mas enfim... – Gui é o Caio. Pode atender agora ou quer que eu dê algum recado?

– Diga a ele que nós vamos para a Taverna de Baco e peça que ele nos encontre lá.

Dei o recado e fui até o banheiro rindo.

– Pequeno é? Explique isso.

– Ele é tipo meu rolo fixo. É um fofo e tem essa de me chamar de Pequeno. Mas sabe... Eu tenho um sério problema com relacionamentos. Eu me sinto preso e tenho necessidade de variar. Por isso sempre acabo magoando alguém. Mas eu gosto desse baby.

– Tudo bem então, Pequeno! – Não consegui evitar a ênfase um pouco sarcástica no apelido, foi mais forte que eu. – Você ainda aprende a ficar com uma pessoa só, quando gostar de verdade de alguém.

– Algumas pessoas não aprendem isso assim, Sweetheart. Eu já amei loucamente, mas esse meu jeito é mais forte que eu. Você é que vai descobrir um dia que o amor não é tão preto no branco assim. As coisas quase nunca saem como esperamos. Por mais amor que exista algumas coisas simplesmente não controlamos.

– Ai, quanta filosofia... Vamos nos divertir e pensar menos na vida. Esse sim é meu jeito.

Fomos para a boate marcada e, claro, chegamos um pouco atrasados já que Gui demorou mais uma hora para acabar de se arrumar e Caio já tinha ligado umas cinco vezes no celular dele. Eu nunca tinha ido àquela boate e não imaginava que fosse tão legal. Era enorme e com dois ambientes. A entrada era toda inspirada em arquitetura romana com duas colunas sustentando um grande portal de entrada. A fila para entrar quase dobrava a esquina. Por sorte Gui tinha muitos amigos influentes ali que nos passaram pela entrada vip e fomos logo encontrar as pessoas que nos esperavam.

– Caralho, Guilherme. Achei que vocês não vinham mais. A Anne só veio porque eu disse que você estaria aqui, mas acabou se irritando de tanto esperar. Você sabe como ela é impaciente. – Eu não conhecia esse amigo do Gui, mas não pude deixar de reparar nele quando ouvi o nome de Anne. - Aquela loira deslumbrante que esbarrou em mim com um jeito desajeitado e fofo e depois voltou para acender meu cigarro sem dizer nada, me deixando desconcertada e encantada. – O cara era muito lindo, tinha um rosto infantil, emoldurado por um cabelo loiro e levemente cacheado, o que lhe dava um ar ainda mais jovial. Será que ele estava com ela?

– Não acredito que a loira foi embora. Que vaca!

Mal consegui disfarçar minha decepção ao ouvir aquilo. – Péssima sorte a minha, achei que a veria por aqui.

Guilherme me apresentou a Diego – O amigo loiro. – E eu percebi, constrangida, que ele se interessara por mim. Por sorte chegou mais algumas pessoas, o que evitou que ele tentasse uma aproximação mais individual. Logo eu estava me sentindo em casa com todos os amigos de Gui e ele elogiava sem medida o meu carisma e minha facilidade de me relacionar com todos. Segundo ele eu “parecia ter um ímã que atraía a todos a minha volta”. Mas eu tenho que confessar que não estava prestando muita atenção às pessoas ali, pois eu fiquei particularmente interessada em uma das amigas que Gui me apresentou. Claudinha era pequena e morena, com cabelos e olhos escuros. Apesar dos traços comuns, ela tinha um jeito meigo e encantador e um sorriso doce que dispensava qualquer traço marcante em seu rosto, somente sorrir era o suficiente para iluminar seu semblante. Minha atenção passou a ser toda dela. Não só a minha, claro, Diego pareceu muito interessado e todos os caras da roda também. Enquanto observava Claudinha dançar não pude deixar de pensar que a amizade com Guilherme me renderia boas companhias.

– Gui, eu vou pegar algo para beber, você quer?

– Quero sim... Traz uma tequila que hoje o Caio vai dirigir.

– E você Claudinha, vai beber algo?

– Não sei... Acho que vou acompanhar o meu neném aqui. Traz duas tequilas. – Ela disse isso apertando as bochechas de Gui e me deixando com uma vontade indecente de ser o neném dela também. – Obrigada, Carla.

Fui ao bar e pedi três tequilas, me encostei para esperar e não consegui deixar de reparar em duas garotas que passaram atrás de mim. Fui acompanhando as duas com o olhar até que elas se perderam na multidão e meu olhar, então, caiu sobre outra pessoa que estava encostada no bar com uma cara de poucos amigos, mas a cara de poucos amigos mais linda que eu já tinha visto. Anne! Ela estava ainda mais estonteante do que quando nos esbarramos no trabalho. Ela usava um vestido preto muito curto e justo que marcava cada curda perfeita do seu corpo magro e esguio. Sua pele branca, mas bronzeada parecia brilhar a meia-luz da boate, fazendo meu olhar se perder enquanto acompanhava o traço forte do seu queixo e seus lábios grossos, parcialmente cobertos por seu longo cabelo dourado de ondas perfeitas. Mas nada disso se comparava à beleza de seus olhos, que eram de um azul claro, tão profundo quanto o oceano. O tipo de olhar hipnotizante que te prende como uma teia de aranha. Não resisti e fui até lá.

– A boate está tão ruim assim?

Ela se virou em um salto com o susto e tive um impulso de segurá-la nos braços para que não caísse. Eu me controlei, mas bem que adoraria ter essa loira nos braços. Ela era de longe uma das mulheres mais lindas que já vira. Anne me olhou e sorriu, o que a deixou com uma carinha um pouco mais animada. Quase imaginei que pudesse ser por minha causa.

– Achei que você e o Gui não vinham mais.

– Ele enrolou demais no banho. Demora mais que três mulheres juntas. Mas enfim, agora estamos aqui. Ele ficou uma fera porque achou que você tinha ido embora.

– Eu ia... Mas como já estava aqui mesmo acabei resolvendo beber um pouco e esperar vo... Voltar minha vontade de festas. Tem tempo que não tenho vontade de sair e me divertir.

Olhei naqueles olhos azuis profundamente. Por um instante, quando ela gaguejou, imaginei que fosse ouvi-la dizer “esperar você”, mas era maluquice.