Between Life and Death

Capítulo 01 - Centennial Road, Jericho, Califórnia.


Centennial Road, Jericho, Califórnia.

O dia passou tão rápido que Katherine só foi perceber o quão estava atrasada para o baile quando Mary entrou em seu quarto, ou melhor, praticamente arrombou a porta, chutando-a e xingando sua amiga com toda a força.

— Você sabe que horas são, dona Katherine Sage Ravenswood?

A morena fecha os olhos e respira fundo, não só estava atrasada, mas a festa já havia começado a, pelo menos, uma hora.

— Me desculpa, fiquei presa com as ligações… — Ela suspira se levantando de sua cadeira de veludo — Você acredita que o Sr. Milles, o dono da cafeteria, se recusou a nos ajudar na noite dos desfiles de miss Little Peace? Ele disse que deveríamos pagar mais, já que temos duas bocas a mais.

— Ele está se referindo aos gêmeos da Lila?

— Sim…

— O Sr. Milles sabe que eles tem dois meses de idade, não sabe?

— Aparentemente, não — Kath suspira — Me dê vinte minutos, Mary.

— Você tem dez e nem um segundo a mais.

— Sabe, Mary, você não é a minha mãe — A morena retruca.

— Não sou, mas sou sua amiga, o que é quase a mesma coisa — Ela brinca — Estou na cozinha, odeio essas comidas chiques.

— O sangue está nos fundos da adega.

— Ainda bebendo de bolsas, Kath? Esperava mais de você.

Katherine sorri, fechando a porta do banheiro. A verdade era que desde que deixou os Winchester, havia prometido a Dean que não beberia mais sangue diretamente de um humano, ele achava tal comportamento um absurdo. Ele é um humano, não entenderia como funciona a dieta vampírica. Você, querido leitor ou leitora, gostaria que entendesse uma coisa: sangue animal não fortalece um vampiro tão bem quanto o sangue humano, principalmente quando se trata de uma híbrida como Katherine.

É obvio que ela seria incapaz de sobreviver com sangue de animais, Dean Winchester não a queria morta, apenas desejava que parasse de alimentar-se diretamente de humanos. Katherine não tinha forças para negar nada para aquele homem, ele detinha seu coração na palma da mão, assim como seu irmão, Sam. Os dois eram o que ela podia chamar de família.

Depois de uma ducha fria e rápida, Katherine se vestiu com a roupa da noite anterior: o vestido azul-escuro que abraça a sua cintura com o corpete delicadamente costurado com lírios de linha e a saia redonda e levemente cintilante. Suas madeixas escuras estavam soltas, caindo pelos seus ombros nus, emoldurando um colar redondo, com uma pequena e brilhosa pedra azul, artefato que a permitia andar debaixo do sol.

— Finalmente pronta — Ela fala entrando na adega, pegando Mary com duas bolsas de sangue — Alimentada?

— Precariamente — Mary suspira — É frio e nem um pouco apetitoso.

— É o que eu tenho — Katherine arqueou a sobrancelha e cruza os braços — Limpe-se, já estamos atrasadas.

A mansão da Sra. Forthsyde era moderna ao mesmo tempo, clássica. Uma mistura entre universidades britânicas e tecnologia. Todos no interior pareciam felizes, uns com taças de champanhe, outros com copos de whiskey, algumas mulheres conversavam e riam, enquanto seus filhos ocupavam a pista de dança. Pode-se dizer que todos os presentes estavam satisfeitos. Entretanto, algo captou o olhar de Katherine, fazendo-a soltar a fina e delicada taça de champanhe que segurava.

Era ele.

Dean Winchester.

O vidro se estilhaça no chão, assim como o coração frio em seu peito. Sua garganta travou, impedindo-a de falar e respirar, era como se o mundo de Katherine estivesse dando voltas e mais voltas enquanto ela era forçada a ficar em pé, se tivesse se alimentado antes de ir para o baile, como Mary, sem sombra de dúvida estaria vomitando.

Dean estava vestido com um belo terno preto, sua barba meio loira e meio morena estava por fazer e seus olhos verdes estavam mais lindos do que antes, adultos e misteriosos. Ele ergue seu copo na direção de Katherine, que engole em seco, e sorri sedutoramente. Ao seu lado estava Sam, seu irmão quatro anos mais novo. Também estava vestido com um terno parecido e levava em seu rosto um sorriso alegre e, ao mesmo tempo, desconfortável.

— S-São eles? — Mary gagueja pegando a pequena bolsa que Kath estava a entregando.

— Em carne e osso — Ela fala sentindo um largo sorriso formar em sua face.

Katherine segura a saia e dispara para perto dos irmãos Winchester. Os braços de Sam rapidamente a envolve, tirando-a do chão, era como voltar para casa depois de uma longa viagem, um calor reconfortante e um sentimento puro de alegria. Sam a solta, repousando suas mãos largas e quente em seu rosto, sorria como uma criança.

— Você não envelheceu um dia.

— Sam, nem um pouco gentil — Dean sopra.

— Vou aceitar isso como um elogio — Ela sorriu se virando para Dean — É bom vê-los.

O mais velho resmungou uma resposta, mas é rapidamente silenciado por um abraço apertado. Katherine sentia muita falta dos Winchester, ela, acompanhada de John e Dean, cruzaram os Estados Unidos ajudando pessoas e caçando seres sobrenaturais perigosos. É claro que Sam estava junto em algumas de suas aventuras, mas desde que decidiu que faria faculdade, deixou de lado a sua família para perseguir os seus sonhos.

A vampira estranhou a visita, apesar de estar feliz ao vê-los são e salvos.

— O que vieram fazer em Little Peace? — Ela pergunta segurando a mão de Sam

— Não há nada sobrenatural aqui, acreditem em mim.

— Kath, hum… — Sam tenta falar, mas sua voz perde a força.

— O pai desapareceu — Dean murmurou e logo em seguida engole todo o whiskey.

Katherine sente seu coração aperta, John normalmente sumia em suas missões, era quase um costume, porém, para que Dean ficasse preocupado com o sumiço, era porque algo estava extremamente errado.

— C-Como? Quando?

— Tem mais de uma semana — O mais velho explica desviando o olhar — Viemos atrás de você para ver se consegue, hum, bem, fazer um feitiço de localização.

— Dean, sabe muito bem dos limites de meus poderes — Katherine retruca, levando os irmãos para um canto mais isolado — Não sou mais tão poderosa quanto antes, mas posso tentar.

— Obrigado.

— Vamos para a minha casa — Ela murmura observando a movimentação das pessoas — É mais seguro lá e ficarão mais confortáveis. Passarão a noite, sim?

— Não…

— Sim, Kath. O Dean dirigiu o dia inteiro — Sam diz, interrompendo o irmão mais velho — O que faríamos sem você?

Katherine sorri e revira os olhos.

— Cuidado com o que fala, Sammy. Posso passar a acreditar que é verdade…

A morena se aproxima de sua amiga, explicando que iria embora mais cedo. Mary, a princípio, não gostou muito da ideia, mas não poderia impedir Katherine, sabia que ela estava morrendo de saudades dos Caçadores e, pelo que tinha visto e escutado, o assunto era sério. Depois de se despedir, Katherine entrou no tão conhecido Impala e partiu de volta para a Mansão Ravenswood.

Os três estavam na adega, Dean procurava uma bebida enquanto Sam observava a mulher mexer em seu pequeno altar. Um mapa dos Estados Unidos foi colocado na mesa, assim como uma pequena adaga e várias velas amareladas e velhas. Um feitiço de localização deveria ser fácil, mas como o poder de Katherine dependia do sangue, e ela estava bebendo o pior tipo possível, a vampira começou a duvidar de suas capacidades.

— Certo, preciso do sangue de vocês — Ela pede entregando a adaga para Sam — Evitem fazer muita bagunça.

O mais novo assente, cortando a palma de sua mão e despejando um pouco do líquido em uma taça. O odor férrico e levemente doce toma conta do corpo de Katherine, ela sentiu suas presas se pronunciando dentro da boca. Precisou respirar fundo duas vezes para controlar a sua fome.

Dean fez a mesma coisa e, por uma fração de segundo, pareceu quebrar.

Ele sabia que era o culpado pelo enfraquecimento de Katherine, fora ele que pediu para que ela parasse de consumir sangue humano direto da fonte e, provavelmente, ele será o motivo da falha do feitiço de localização.

— Obrigada — Katherine fala, rompendo o silêncio constrangedor que se erguia no cômodo — Meninos, eu quero que saibam que…

— Eu sei — Sam dispara, enrolando sua mão na gaze dada pela mulher — Dean me contou. Se não der certo, não tem problema.

Katherine sorri e toca o ombro do mais novo. Sam sempre fora assim, gentil e sensível, ela se sentia confortável em sua presença, amada. Respirando fundo, a bruxa deixou seu poder fluir, derrubou o sangue dos dois no mapa e murmurou o conjuro, deixando suas mãos logo a cima da mesa. Sua mente repassava a imagem de John Winchester, seu sorriso que raramente aparecia, mas quando o fazia, era capaz de iluminar o mundo todo.

O sangue se movia com dificuldade, devagar, indo em direção ao estado da Califórnia.

— Condado de Nevada, Califórnia — A mulher fala, sentindo algo escorrer pelo seu nariz.

— Katherine — Sam sopra, se aproximando de sua amiga — Você está sangrando.

Ele limpa a linha de sangue que descia pelo nariz de Katherine com cuidado.

— Jericho — Dean comenta, sem tirar os olhos do mapa — Precisamos ir.

— Não, Dean — Sam diz, envolvendo a mulher em seus braços — Não podemos deixar a Kath…

— Estou bem, Sammy — Ela fala pegando o pano das mãos do homem e jogando-o no lixo.

Apesar de se sentir cansada, não podia deixar os irmãos preocupados, eles tinham outra coisa em mente.

— Pegaremos a estrada — Kath murmurou, fitando Dean com os olhos — Consegue dirigir?

— Sempre — Ele sorri maliciosamente.

— Você não vai vir com a gente, Kath.

— E você, Sammy, vai me impedir? — A mulher sorri socando de leve o ombro — Do jeito que vocês dois são, vão acabar se enfiando em confusão e vão precisar da minha ajuda.

— Ela está certa.

— Obrigada, Dean — Ela o olha nos olhos, sentindo o próprio coração estilhaçar — Preciso de dez minutos, enquanto isso, podem se divertir na cozinha. Tem torta de maçã na geladeira, Dean.

— Perfeito — Ele sorri, saindo apressadamente da adega, parando no arco — Você ficou linda nesse vestido, Katherine.

A mulher engole em seco, constrangida.

— Idiota — Sam sopra.

— Seu puto.

— Um dia, eu juro para você, Kath, eu vou socá-lo.

— Eu te ajudo — A mulher comenta, pegando a saia de seu vestido com dificuldade e caminhando para o seu quarto, sendo acompanhada pelo irmão mais novo — Perdeu alguma coisa?

— Queria conversar com você.

— Ah, sim — Katherine percebe o semblante de preocupação da face de Sam — Entre.

Ela abre a porta do quarto, apontando para Sam uma de suas poltronas e indo em direção a um biombo braco e detalhado com rosas.

— Não se importa de eu ir me trocando no processo, não é?

— Não, está tudo bem — Ele diz pegando um livro qualquer, folheando-o para evitar contato com a divisória.

— O que queria me falar?

— Jessica.

— Oh, ela tem nome. Quando é o casamento? — Kath perguntou tirando o corpete.

— Não vamos nos casar.

— Mm-hum — Ela murmurou do outro lado do biombo.

— Não por agora — Ele continua, sem tirar os olhos do livro e com um sorriso no rosto

— Tenho uma entrevista em poucas horas e isso significa que…

— Vai realmente se afastar dos negócios da família.

— Isso.

— Entendi — Kath fala, vestindo um jeans escuro — Faculdade e uma noiva, sua vida anda complicada.

— É perfeita, era ao menos…

— Até Dean aparecer?

Sam murmurou um “sim” acanhado.

— Fico feliz por você, Sammy — Ela continua, vestindo uma camisa de manga comprida azul-escura — É uma nova fase da sua vida.

— Queria que ficasse de olho em meu irmão, Kath — Ele pede, atirando o livro na cama — Sabe como ele é, não sabe? Confusão é o seu segundo nome.

— Como sei — Ela sorri — Mas e o John?

— Meu pai é… Um caso à parte. Dean o segue cegamente e temo que isso seja sua ruína — Sam murmurou, se aproximando da janela aberta — Pode cuidar dele por mim?

— Sammy…

— Sei de suas obrigações em Little Peace e do, hum, término de vocês dois…

— Em primeiro lugar, não terminamos, pois não tínhamos começado nada — Katherine o interrompe, saindo do biombo vestida com suas roupas cotidianas — Segundo, faço apenas parte do comitê de organização de eventos de Little Peace e minha alegria é fazer a Sra, Forthsyde infeliz, depois dela ter insultado as minhas tortas no concurso do ano passado. Se eu sumir, ela terá mais trabalho, consequentemente, ficará mais infeliz.

— Ela é doida — Sam sorri — Suas tortas são as melhores.

— Obrigada — Ela assentiu, se aproximando da janela — Eu cuido dele, ok?

— Você o ama, não é?

— Amo vocês dois, Sammy — Katherine fala praticamente sussurrando, segurando com cuidado a mão ferida do Winchester mais novo — Posso cuidar desse ferimento.

— Não é preciso…

Mas ela o ignora. Sua boca se mexe, mas nenhum som é emitido. Katherine recitava mentalmente um feitiço de cura simples e rápido, que não exigia muito de seus poderes. Em poucos segundos a mão de Sam estava curada.

— Obrigado — Ele assentiu, desviando o seu olhar — Ainda não acredito que se acomodou aqui. Uma cidade dessas não faz o seu tipo.

— Eu nasci aqui, Sammy, quando ainda era uma mísera colônia britânica — Ela explica, se aproximando da cama, arrumando uma pequena mala com suas roupas — A propriedade Ravenswood está em meu nome e faço questão de que não vire um shopping center, como o prefeito quer.

— Caseira, quem diria.

— Cale a boca, Sammy, antes que eu o faça.

— Não fui chamado para a reunião — A voz de Dean preenche o quarto, sua boca estava suja de massa podre da torta — Estava uma delícia, a propósito.

— Espero que tenha deixado um pouco para a viagem.

— Era para deixar?

Sam bufou, revirando os olhos.

— Prontos? — Dean perguntou girando a chave do Impala em seus dedos

— Sempre — Katherine responde com um sorriso no rosto.