Cheguei à casa ensopada de suor, louca para tirar aquela roupa e tomar um banho bem demorado. Mas então olhei para o relógio e vi que tinha menos de meia-hora para me arrumar. E eu não conseguia nem por decreto me arrumar direito em meia-hora.

Corri para o banheiro, fazendo tudo rapidamente.

O Lucius e eu havíamos corrido mais do que eu havia planejado antes de encontra-lo e tudo por minha culpa - exclusivamente. Confiei em minhas pernas longas para correr mais do que ele, no entanto isto não bastava e ele me acompanhava sem esforço. Repeti isso várias vezes, empenhada em ganhar dele, e ele também repetia o mesmo em reação a minha ação. Pensando agora, a coisa toda parecia ter sido um pouco infantil. Até que havia sido divertido.

Vesti um short azul de cintura alta e uma blusa listrada na horizontal assim que terminei de tomar banho, para não perder tempo. Calcei meu All Star preto. Cogitei até a ideia de usar meus óculos aro de tartaruga que eu havia trocado pelos óculos que eu usava constantemente e que eram menos nerd. Porém desisti, sabendo que seria apelativo demais.

– Bela roupa, seria uma pena se você a usasse só para ficar em casa – disse uma voz que estava se tornando rara em meus ouvidos.

Olhei assustada para a porta do meu quarto e a vi parada, os braços cruzados sob o peito, o roupão felpudo cobrindo toda a extensão do corpo. A pele dela era mais escura que a minha, mais escura que até a da própria mãe. O cabelo solto e colorido, negro com mechas de um tom mais claro estava úmido. Ela sorriu, cansada e senti vontade de correr para os braços dela. Mas eu sabia que não tinha tempo para isso porque eu iria acabar chorando e pondo para fora tudo que estava preso na minha garganta.

– Mãe, pensei que a senhora iria trabalhar hoje - falei com a voz meio embargada.

Antes que ela respondesse me voltei para um espelho pequeno na minha cômoda e comecei a passar máscara para cílios para alonga-los.

Não passava de distração para mim. E de uma tática para evitar que ela lesse o que se passava comigo só de olhar em meus olhos.

– Me deram uma folga. Aonde vai?

– Fui escolhida para competir pelo cargo de representante dos alunos.

Minha mãe arquejou. Ela era assim: conseguia deixar bem claro o que sentia quando estava feliz.

– Isso é ótimo, querida. Você é mais do que capaz e com certeza irá ganhar – ela disse sincera e eu sorri absurdamente porque minha mãe só falava coisas deste tipo quando tinha certeza.

O sorriso morreu quando me senti culpada por não ter falado nada a ela sobre outros acontecimentos.

– É o seguinte, mamis, tenho que participar de um evento para ganhar votos e já estou quase atrasada. Mas quando eu chegar quero conversar com a senhora - passei por ela e beijei sua bochecha.

Saí andando rápido para que ela não tivesse tempo de me perguntar nada. Eu não queria ser cruel nem nada, mas esta seria minha primeira batalha social por votos e eu deveria estar preparada emocionalmente para isso, o que queria dizer que eu deveria estar centrada apenas em ganhar votos.

Em apenas nisto.