O lugar onde acontecia a disputa de videogame era uma loja de HQs que ficava ao lado de um beco sem saída. O lugar era bem afastado dos lugares a que eu estava acostumado a frequentar. O que me fez pensar que eu me perderia, mas o ônibus que peguei parava quase em frente à loja.

A loja era maior do que minha casa e tinha uma pintura amarela chamativa, com duas vitrines largas, cheias de bonecos de super-heróis, alguns dos quais nunca havia ouvido falar.

Eu sempre me considerei uma garota estranha por preferir filmes de super-heróis ao invés de filmes românticos e por isso, pensava que conhecia muitas coisas deste mundo de HQs, filmes e seriados, mas ao entrar naquela loja percebi que eu não sabia de nada.

Para piorar o ar-condicionado do lugar estava com a temperatura baixa o suficiente para me fazer tremer de frio logo na entrada. Se eu soubesse eu teria posto uma calça.

Vários garotos que ali estavam mantiveram seus olhos em cima de mim. Havia algumas garotas que pareciam igualmente assustadas por me verem ali. Sendo observada daquela forma tive vontade sair correndo.

Sorri simpaticamente e abaixei a cabeça para não parecer muito arrogante. Afinal, eu estava entrando no território deles e não deveria mostrar muita presunção mesmo sabendo que era difícil porque era isso que todos pensavam logo quando me viam pela primeira vez.

Minha expressão foi de alívio quando alguém conhecido se encaminhou para mim. O Sebastian usava normalmente uns óculos muito semelhante ao que eu deixara em casa, mas hoje ele optara por não utilizá-los. Provavelmente estava usando lentes porque eu tinha a convicção de que ele era tão míope quanto eu. A falta daquele acessório constante era algo incrível porque os olhos dele ficavam mais verdes e eu podia ver mais de seu rosto. Ele não era igual àqueles nerds de filmes americanos. Sebatian era alto e magro, mas não muito, seu cabelo castanho estava sempre curto e até que ele era encantador. De uma forma bonita.

– Cadê os seus óculos? – perguntei logo demonstrando ser a miss simpática.

– Vou participar da competição de jogos com sensor de movimento e não posso arriscar perder a competição por causa de uns óculos que ama sair do lugar – ele respondeu prontamente – Eu sabia que iria se atrasar por isso já fiz sua inscrição.

– Eu não me atrasei. Falta um minuto para a hora marcada – sorri igual ao gato da Alice – Onde é a competição?

Olhei mais uma vez ao redor vendo apenas pessoas e prateleiras cheias de gibis e bonecos.

– A competição acontece no fundo da loja.

Sem falar mais nada ele começou a me guiar para uma porta preta no fim do corredor. A porta era a mais estranha que eu já havia visto pessoalmente porque eu sabia que ela era idêntica à porta de um filme, do qual eu gostava muito e conhecia cada detalhe por ter lido várias vezes os livros no qual aquele filme e outros serviram de adaptação. Fiquei mais confiante ao saber que se alguém me perguntasse sobre o que eu achava da porta eu poderia responder detalhadamente e ainda faria comentários sobre o filme e o livro.

A ideia de alguém me fazer esta pergunta era hilária, porém me liguei a ela para banir o nervosismo.

Do outro lado da porta havia apenas uma sala enorme. E que não era nada comum. Cinco televisores modernos de 32 polegadas estavam acoplados as paredes que eram revestidas com uma espuma que evitava a propagação de som. Havia um videogame em frente a cada televisor, contendo dois controles sem fio. Havia duas cadeiras para os jogadores e dois bancos bem atrás que sugeri serem para os espectadores. Entre os televisores havia uma grossa parede de vidro temperado para evitar que os sons atrapalhassem os diferentes jogos que seriam disputados ali. Cada cabine parecia ter cerca de cinco metros de largura. O pessoal parecia mesmo levar a sério estas competições.

– Você vai ficar na cabine dois. Os primeiros jogadores serão escolhidos por sorteio. O que ganhar continua com o controle e o outro jogador dá a vez ao próximo, que também é escolhido por sorteio. Vai continuara assim até ficar apenas um vencedor, que deve ser invicto. – ele flexionou os joelhos de modo a ficar com a boca mais perto do meu ouvido – O pessoal aqui não curte esquentas, então você deve conquista-los apenas jogando e nada de se fazer de fraco. Ou seja, faça de tudo para ganhar.

Ao fim da frase ele olhou para mim e vi um brilho de competidor em seus olhos. Era meio doentio, mas me perguntei se era assim que eu ficava quando falavam na eleição. Talvez, sim.

– Você vai assistir? – perguntei quase tímida.

– Enquanto puder, mas não posso garantir que vou ficar para ver você porque minha disputa começa em uma hora e fica no andar de cima – ele olhou para uma escada preta em caracol, que eu não havia notado antes – Fica tranquila, deixe apenas seu lado high tech vir à tona.

Cerrei o maxilar por saber que eu não tinha este lado. Um assobio começou e as pessoas que antes estavam na loja começaram a entrar e ir para suas cabines. Alguns subiram pela escada que Sebastian havia me mostrado.

Respirei fundo e fui para meu lugar.