A sala estava totalmente vazia. Era meio perturbador ver apenas as carteiras de uma sala que minutos antes estivera lotada de alunos entediados. Nem as senhoras da limpeza haviam chegado ainda.

Senti-me decepcionada. Bem no fundo eu estivera nutrindo a esperança de ver Lucius me esperando. Mesmo sabendo que era melhor - para evitar mais fofocas - que ele não me esperasse. Mas havia algo me dizia que ele não era do tipo que acompanhava a namorada na volta para casa da escola.

Ou talvez fosse. Pelo pouco que me lembro de Lucius nos anos anteriores a esse, eu nunca o vira namorar. Ficar já era outra história. Eu sempre o via acompanhado em festas por garotas variadas. Ruivas, loiras, negras e asiáticas. Morenas eram raras no repertório dele. Eu deveria ser a primeira morena em muito tempo.

Puxei a mochila da carteira e um papel caiu dela e pousou no chão lentamente. Era um papel leve e transparente. A professora de Geografia pediu na semana passada que levássemos aquele tipo de papel, para copiarmos um mapa do livro. Dobrei-me sobre os joelhos e peguei o pequeno papel.

Li o que havia escrito e subitamente sentei em minha cadeira. Meu coração batia forte e a bile queria subir por minha garganta como vômito.

– Com licença - alguém bateu na porta e eu gritei assustada.

A senhora da limpeza riu segurando uma vassoura.

– Desculpa, querida. Mas é minha hora de limpar – ela disse com delicados olhos verdes.

– Cl-claro - gaguejei - Sem problema.

Saí da sala e corri pelos corredores até a saída com o papel amassado na mão direita.

– Você parece perturbada - disse Lucius assim que me viu.

Ele estava em frente à escola e eu poderia ter rido por ele ter me esperado se não estivesse tão assustada. Seu rosto tinha uma expressão que lembrava um dia de sol forte e preguiçoso, em que o vento era recebido de bom grado quando aparecia. Não sei por que o comparei assim, mas comecei a pensar que, talvez, ele me servisse de calmante e me trouxesse paz igual aos dias ensolarados.

Relaxei os músculos dos ombros e sorri para ele.

– Não precisa fugir de mim - ele disse angustiado.

Respirei fundo, tentando decidir se deveria falar sobre o bilhete ou não. Afinal, o bilhete mesmo entregue a mim o envolvia.

– Quando o resultado da eleição sair, nós vamos estar livres disso - falei para encobrir o que estivera prestes a falar.

Coloquei o papel no bolso de trás da minha calça.

– Muito tempo falta ainda - ele mordeu o lábio.

Sorri corando e ele parou de morder os lábios. Seus lábios finos mantinham um brilho úmido muito tentador naquele dia quente.

– Vamos almoçar? - pediu ele.

Neguei com a cabeça, sabendo que me trairia se abrisse a boca.

Mas ele estava esperando uma explicação e seus olhos pareciam suplicar por isso.

– Lucius - gritou uma voz estridente e pela primeira vez me senti aliviada ao ouvir a voz de Tamara.

A gratidão logo passou e tive que conter os punhos quando Tamara se jogou na costa dele e beijou sua bochecha demoradamente. Um beijo que se movesse 1 cm para a esquerda beijaria àqueles lábios que me são estimados.

Enfiei as mãos nos bolsos de trás da minha calça, como uma forma de mantê-las longe daquela víbora e rocei os dedos no papel.

– Tamara, - Lucius a segurou pelos ombros e a manteve longe de si - olá.

Ele sorriu.

Tamara jogou o cabelo para o lado.

– Pensei que podíamos almoçar juntos - ela segurou em seu braço. - Excelente ideia - aproveitei a deixa - Depois te mando o cronograma das aulas de teatro. Tchau para vocês... E bom almoço.

Saí sem nem olhar para a expressão confusa ou neutra que Lucius estivesse fazendo. Porque se fosse à primeira, eu poderia voltar atrás e contar sobre o bilhete a ele e o beijaria na frente da escola para fazer Tamara entender quem era que mandava. Se fosse a segunda, eu teria que controlar meus impulsos violentos para não acertá-lo com um murro.

Mas eu não podia voltar atrás e muito menos deveria contar sobre o bilhete enquanto não soubesse mais sobre ele. Eu não estava acostumada a ter outras pessoas me ajudando e seria um golpe no meu ego deixar o Lucius investigar quem havia mandado o bilhete nos ameaçando. Era egoísta, mas o que eu queria era descobrir por mim mesma.