Os olhos de Katrina irradiavam uma luz estonteante. Ela parecia feliz enquanto contracenava com Arthur e era fácil entender o motivo. O palco de um teatro era a "praia" dela. Na mesma proporção que a de Elli era uma biblioteca e a minha poderia ser qualquer lugar que desse para dormir. Já que eu estava tão ansiosa pelo dia da eleição da escola que encontrava dificuldade para dormir e agora com Giane internada, eu não estava dormindo mais.

Muitos alunos mantinham suas atenções direcionadas ao palco e dava para entender que não era pelo interesse na arte do teatro. Eles, na maioria, estavam tão atenciosos porque logo na primeira aula, Joshua deixara claro que aquilo não era uma forma de evitar às aulas de educação física sem esforço. Paulo, um garoto que se achava o ápice de inteligência e beleza - mas não era - fora arrogante o suficiente para falar em voz alta:

"- Não vou perder tempo com uma idiotice tão grande quanto essa aula. Qual a graça nisso? Se quero ver uma exibição, assisto a um filme com uma atriz que dê de 10 a 0 nas garotas daqui e ainda fico livre de passar vergonha."

Joshua tossiu atraindo a atenção para si. Ele deixara para entrar ao meu sinal: uma mensagem rápida; quando todos que tinham o nome na lista estavam presentes. Ele era o senhor drama em pessoa. Mas quando viu Paulo, ele assumira um ar de evidente indiferença. Uma máscara para ser subestimada. E Paulo assim o fez. Ele achava que por ser sobrinho da diretora, todos os professores tremeriam diante dele.

Alguns até faziam isso. Mas não o meu tio.

– Muito interessante o seu ponto de vista. Nada original. Mas deixa claro o que quer. Qual seu nome?

– Paulo Souza – disse ele estufando o peito.

Suas bochechas gorduchas e seu corpo roliço pareceram inchar ao ponto dele sair voando como um balão enorme. Infelizmente, ele continuou em terra firme.

– Sou Joshua, o novo professor de vocês - ele estendeu a mão para Paulo e este a apertou com um sorrisinho presunçoso, achando que aquele era mais um integrante de seus escravos - E você está expulso das minhas aulas até o ano acabar. Sinta-se livre para ir ver tais filmes a quais se referiu momentos atrás.

O rosto de Paulo avermelhou-se e ele paralisou por alguns minutos. Por fim, três minutos e meio depois, ele entendeu o que havia acontecido e saiu marchando do teatro, fazendo um barulho desnecessário ao abrir e fechar as portas duplas.

Todos ali presentes ficaram chocados com o que acontecera. Mas tirando isso, não esboçaram reação alguma. Acho que por baixo do choque estava o alívio de não terem aquele entojo nas aulas.

Rapidamente, Joshua prendeu a atenção de todos e logo na primeira aula ganhou não somente o respeito, mas também a confiança dos alunos. Afinal, ele era jovem, não o único professor da escola que era novo, no entanto, diferente dos outros, ele agia como tal e isso agradava.

Isso e o fato dele ser bonito e de todas as garotas suspirarem por ele. Até eu suspirava. Diferente delas, o que eu sentia era orgulho por tê-lo como tio. Algo que eu não diria a ele. Ele já se achava demais.

– Por que está sorrindo bobamente? - sussurrou uma voz grave e facilmente reconhecida.

Um arrepio percorreu meu corpo. Lucius entrara e eu estava tão entretida na apresentação que nem o escutara entrar, mesmo aquelas portas duplas continuarem sendo barulhentas sem esforço.

– Estava pensando em algumas coisas - mantive o sorriso bobo como disfarce - Como foi o almoço?

Ele pigarreou. Estava ganhando tempo para decidir o que me contar. Aquela expressão de "pulga atrás da orelha" brilhou em caixa alta e letras em neon na minha mente. Virei para ele pronta para tirar satisfações.

– Ruby, poderia subir aqui e tentar nos brindar com sua atuação? - indagou Joshua de cima do palco, com um caderno fino sendo amassado pela mão.

Os olhos dele pareciam estar se divertindo. Aqueles olhos irradiavam tanto quanto os de Katrina. Interessante.

– Sim, senhor - falei já subindo pela escada indo de encontro a ele.

E então meu tênis se enrolou em uma das inúmeras extensões que mantinham aquele lugar aceso e eu caí. Caí em uma caixa cheia de isopor, que pulou com meu impacto.

Deu para ouvir que todos prenderam a respiração e eu comecei a gargalhar como uma tonta. Joshua me puxou da caixa e estava me abraçando com força. Ele mesmo sendo delgado conseguira me levantar com facilidade. Outro ponto para o sequinho.

– Relaxem, pessoal. Ela está bem. Vejam o que acontece quando se vem embriagada para a escola - todos riram - O que já te disse sobre isso?

Gargalhei.

– Para deixar isso apenas para casa. Mas relaxa. Deixei algumas gotas para você.

Outra onda de risadas.

Lucius sentou-se na cadeira em que eu estava e me examinou com seus olhos escuros enquanto eu realizava um exercício de atuação. Joshua gritava como eu deveria agir e eu tinha que assumir aquela expressão em tempo curto.

Raiva. Felicidade. Garota mimada querendo uma bolsa de couro nova. Alegria excessiva.

Foi hilário. E até que me saí bem. E o melhor foi que me manteve longe do Lucius e de seu poder para me fazer contar o que eu queria muito dele esconder. Duraria pouco tempo e, ou eu arrumava uma distração ou eu contava sobre o maldito bilhete.

"Quem brinca com fogo sempre se queima. Ou quem está perto de quem brinca. Continue com ele e em breve, as labaredas encontrarão uma nova vítima."