Há dois dias atrás.

O sol estava apino e o volume alto que saía dos amplificadores de som era ensurdecedor. Apesar da tenda branca armada na pista de dança para nos proteger do sol forte muitos corpos estavam suados, inclusive o meu que se movimentava no ritmo agitado da música que tocava. Não éramos muitos, mas isso não significava nada já que a todo momento esbarrávamos uns nos outros.

Meu namorado emergiu da piscina, o cabelo loiro ensopado caindo nos olhos, o calção colado ao corpo. Me aproximei mais da beira da piscina retangular de água azul e logo fui abraçado por seu corpo gélido. O contato com meu corpo quente causou um choque que percorreu meu copro, ele interpretando de forma errada, respondeu beijando o meu pescoço.

– O que andou aprontando? - perguntei sorrindo.

– Diga você, que parece fora de controle - ele riu abertamente.

Ele me girou em um passo de dança lenta completamente averso a música agitada que tocava.

– Isso é bom.

– Isso? - ele perguntou e mordeu minha orelha.

– Também, mas eu quis dizer dançar assim.

– Hum. Vou entrar para trocar de roupa - ele disse depois de alguns passos.

– Depois de me molhar.

Ele riu.

– Vou com você.

– Não precisa. Se só eu for fica mais fácil depois para enxugar o chão - ele retrucou e espremeu minha blusa que ele próprio havia molhado.

Dei de ombros. Vini encostou levemente os lábios no meu e logo em seguida se afastou rumo a sua casa que era quase toda de vidro temperado. Era uma construção aterrorizantemente bela. Sempre que eu ficava até tarde na casa dele eu tentava não olhar para fora com medo do que iria ver no escuro. Era algo de certa forma irracional, mas me aterrorizava um pouco.

Os pais de Vini haviam viajado em comemoração dos anos de casado e haviam deixado o único filho em casa sozinho. O que resultou em uma festa para os nossos amigos mais próximos, que já durava um longo tempo. Era questão de tempo até um dos vizinhos reclamar do barulho, mas pouco nos importávamos. Os garotos dos times de futebol e de basquete e as garotas do time de vôlei da escola haviam aparecido com seus parceiros e dava para sentir no ar o aroma da popularidade. Popularidade que eu havia conquistado namorando o capitão do time de futebol que havia conquistado os últimos campeonatos sob sua liderança. Era o que muitos diziam sobre mim, mas pouco me importava com o que eles pensavam, eu gostava mesmo do Vini e isso era o que importava. Para nós dois.

Vini estava demorando e decidi entrar para lhe fazer uma surpresa. Espremi a minha roupa para evitar que respingos de água molhassem o chão. Estranhamente quanto mais eu adentrava na casa mais barulhos estranhos eu ouvia.

Meu coração acelerou, senti um frio percorrer meu corpo quando comecei a identificar o que ouvia. Sussurros baixos. Abri a porta do quarto do Vini assustando o casal que ali estava aos beijos. Uma vontade imensa de gritar misturada ao torpor originado do que vi tomava conta de mim. O cabelo loiro do garoto que eu amava brilhou com a luz do sol que entrava pela janela do seu quarto. O peito nu e o calção aberto não me foram necessários para compreender o que ele fazia com aquela pequena garota morena. Márcia arregalou os olhos surpresa e logo sua pele branca ficou pálida.

Fugi sem me importar com os olhos que me seguiam e muito menos com as vozes que me chamavam. Algo em mim se despedaçava diante à dupla traição. Era cruel sentir a dor de ver o seu namorado e sua melhor amiga aos beijos.