O barulho da porta do banheiro batendo me tirou do mar de lembranças no qual eu me afogava. Meu rosto estava ensopado de lágrimas que amargavam, meu peito se comprimia a cada soluço para não deixar escapar para quem entrara que eu estava chorando. Não adiantou, de todos os reservados vazios, a pessoa bateu na porta do meu. Rapidamente me pus de pé sem a intenção de sair. Ela voltou a bater.

– Eu vi você entrando aqui - disse uma voz que não me era estranha, mas que eu também não conseguia identificar de quem era - Eu quero ajudar.

Tentei responder, mas algo travava as palavras na minha garganta as impedindo de sair.

–É o seguinte: só não ligue para o que eles dizem, ok? E tenta dar a volta por cima, por favor, você além de linda é inteligente e melhor do que aquele cabeça oca do seu ex. Por favor - ela bateu novamente na porta.

Após alguns minutos de indecisão saí do reservado com a vontade de realmente dar a volta por cima. A garota alta e ruiva me olhou com pequenos olhos escuros. Giane não era exatamente minha amiga, apesar de vê-la todos os dias, pois estudávamos juntas, mas a forma severa como a que ela me olhava de quem conhecia o que eu sentia pareceu me reconfortar de uma forma que ninguém havia feito até então.

– Você sabe o meu nome já que deve ter ouvido coisas sobre mim - ela foi direta - Mas não me importa. Vim ver como está.

Segui para a pia do banheiro com receio de ver meu reflexo choroso no espelho, com a ajuda de Giane pude amenizar os estragos na minha maquiagem. Meus olhos escuros estavam mais escuros que o habitual, a parte que antes era branca estava vermelha igual a sangue. Soluços ainda faziam o meu peito subir incontrolavelmente.

– Obrigada - digo quando consigo falar sem soluçar.

Giane sorri e dá de ombros. Era visível em seu rosto que ela não se importava. Desde que estudávamos na mesma escola era frequente ouvir boatos maldosos sobre ela, que eu sabia que eram verdade. Giane tinha o hábito de ficar com vários caras e eu sempre a evitara por não querer ser associada a alguém assim, porém, agora, ao ver a preocupação em seus olhos eu percebia o quão estúpida havia sido. Enquanto as minhas "amigas" recatadas estavam em suas salas de aula, era a Giane quem me ajudava no banheiro. Em menos de uma semana senti outro tapa ser dado em minha face, mas desta vez não era ruim ver que não deveria tê-la julgado.

Minha conclusão se abalou um pouco quando senti o cheiro de álcool que invadia o banheiro saído da garrafa de plástico que ela tirara com a mão de unhas vermelhas da bolsa e agora me estendia. Neguei com a cabeça. Meu problema com o álcool era algo antigo e que me deixara marcas profundas, não era algo que eu gostava de lembrar.

– É contra o regulamento da escola portar bebidas alcoólicas - digo mais por hábito de andar na linha do que por querer reprimi-la de fato.

Ela olhou para o relógio em seu pulso de forma teatralmente visível.

– Ficar no banheiro matando aula também.

Ela riu e pela primeira vez em dias fiz o mesmo e de forma sincera.