Os sussurros me acompanhavam pelos caminhos que trilhei desde que cheguei ao colégio. Depois do fim de semana terrível que tive, ser acompanhada por pessoas que me lembravam constantemente do que havia ocorrido enquanto internamente minhas lembranças faziam o mesmo era perturbador demais. Doía muito. Ao mesmo tempo que eu sentia que era uma espécie de bomba que explodiria em emoções, meu coração continuava quieto e meus olhos estavam secos de lágrimas.

Alguns professores se mantiveram longe de mim, fingiam que não sabiam de nada, mas os olhares de pena e compaixão que me lançavam provavam o contrario. Provavelmente, muitos deles havia passado pelo mesmo que eu. Mais uma aluna ingênua do colegial que era enganada e traída pelo namorado popular. O filme já era tão batido que nem graça tinha mais.

Minha fome se perdeu quando entrei no refeitório e o vi sentado em sua mesa habitual, a que eu muitas vezes dividi com ele, cercado pelos amigos ogros. Passei por eles sem ter por onde desviar e de certa forma eu queria que ele me visse. Queria que ele visse que meus olhos não estavam marejados.

Quando passei, ele passou a mão nervoso no cabelo loiro, os olhos escuros brilhando. Vinícius sorriu para os amigos. Um lampejo branco no rosto bronzeado. Segurei com forças o meu lanche, a mão trêmula louca para arremessar algo nele. Sentei na cadeira mais afastada, ignorando o burburinho da hora do intervalo com a ajuda dos meus fones no ouvido. Engoli o sanduíche que eu havia comprado no caminho para o colégio, com um gosto amargo na boca. Contar os ladrilhos do chão parecia uma opção melhor do que a de ficar com a cabeça erguida enquanto alguns ainda dirigiam seus olhares de pena para mim.

Mas minha cabeça continuou erguida. Eu não havia feito nada de errado. Eu não devia nada a ninguém e se eles esperavam que eu demostrasse a dor da traição no rosto, teriam que continuar a esperar sentados. O tempo passou surpreendentemente rápido e quando vi, faltavam poucos minutos para o fim do intervalo. Levantei-me apressada com a intenção de checar na biblioteca se lá havia o livro que eu precisava para concluir o trabalho de física.

– Ei, corna! - berrou Boris, um garoto que mais parecia um mini ônibus de tão grande que era, as mãos de dedos grossos apertando uma lata de refrigerante.

Ignorei a voz dele e o silêncio que caiu sobre o ambiente. Aumentei o volume do meu celular fazendo meus ouvidos doerem. Já na porta, pude ver a boca engordurada do Boris abrindo em mais ofensas. Assim que cheguei ao corredor onde ninguém podia me ver corri para o banheiro. As lágrimas finalmente voltando aos meus olhos, minha visão nublada.

Alguém falou meu nome, mas não pude distinguir quem fora. A lembrança me cegava e tapava os meus ouvidos. Cheguei ao banheiro vazio, me trancando em um dos reservatórios do banheiro. Tudo voltava com tanta intensidade.