− Você está bem? – Victória a observou. – Está mais calada hoje.

Ela deu um longo suspiro e largou a colher que comia sua fruta e acariciou a barriga.

− Eu acordei pensando na mãe que nunca tive... – mordeu o lábio porque não queria chorar. – Não sei por que acordei assim hoje, mas queria ter ao menos um rosto pra gritar o meu desespero de ser abandonada! – limpou os olhos pra não deixar as lágrimas caírem.

− Mas pra se sentir assim deve ter ouvido alguma coisa na ultima visita as madres! – queria ajudá-la a entender aqueles sentimentos.

Maria soluçou seu choro e disse sofrida.

− Elas nunca tinham me dito como cheguei até lá, mas ontem a madre me disse que eu fui resgatada por um casal depois de ser jogada dentro do rio...

Naquele segundo o mundo parou e um buraco se formou debaixo dos pés de Victória e com certeza em seu rosto tinha o choque de ouvir aquelas palavras vindas de Maria, ofegou e apertou um pouco mais o filho nos braços para que não caísse.

− O-O que? – a voz quase não saiu.

− Victória o que tem? – ficou de pé e foi até ela. – O que está sentindo?

Victória tomou ar e tentou não se precipitar ou sofrer por suas palavras, poderia ser somente coincidências já que o mundo estava cheio de gente maldosa, Maria já estava ficando apavorada com o silencio dela e com medo que ela passasse mal pegou o bebê de seus braços e gritou para Heriberto já que ela não conseguia falar. Heriberto por mais que tivesse com o sono pesado ao ouvir o grito abriu os olhos e levantou de imediato, o coração acelerado por ouvir mais um grito e ele correu descendo as escadas e parou na frente dela.

− O que foi? – bufava.

− Victória não está bem! – apontou para ela que estava paralisada com os olhos voltados a Maria.

Ela analisava cada detalhe de Maria buscando algo que fosse parecido com ela e tudo lhe gritava que sim era ela, era ela a sua filha, não podia ser coincidência. Sua cabeça gritava que sim era apenas coincidência, mas seu coração gritava desesperadamente que era ela e Heriberto se abaixou perto dela e tocou o rosto de seu amor a fazendo olhá-lo.

− O que tem minha vida?

Dos olhos dela transbordaram lágrimas e ela se deixou chorar mais uma vez com aquela historia que ela não sabia se era verdade, nem se quer tinha deixado que ela continuasse a historia e agora estava ela ali sofrendo com algo que nem poderia ser mais que ela sentia que era sim.

− O que aconteceu Maria? – ficou novamente de pé e a abraçou deixando que a cabeça dela repousasse sobre sua barriga.

− Eu apenas comecei a contar o que aconteceu comigo e ela ficou assim... – falou se sentindo culpada.

− O que contou? – não queria ser rude mais a voz estava grave e ela encheu os olhos de lágrimas também. – Não chore, por favor, me desculpe por falar assim! – respirou para manter a calma que ele já não tinha.

− Eu disse a ela como um casal me encontrou depois que uma mulher me jogou no rio pra morrer! – chorou. – Como fui jogada de cima de uma ponta pra morrer, mas esse casal me salvou e entregaram a elas.

Heriberto olhou para Victória e logo para Maria e podia sentir o mesmo que ela, mas não podia se desesperar como sua mulher ou as coisas ficariam tensas demais e Maria não iria entender nada do porque de eles estarem daquele modo e ele se afastou de Victória e a segurou pelo rosto novamente.

− Meu amor, você precisa manter a calma e respirar!

− Por que estão assim? – Maria questionou os dois.

− Há coisas que não podemos dizer no momento! – a olhou. – Cuide um pouquinho de Heitor que eu vou levá-la para cima!

Ela assentiu e ele pegou Victória nos braços e subiu com ela agarrada em seu pescoço, ela ainda estava de resguardo e aquela emoção toda não faria bem a ela e Maria se sentou sem entender nada e olhou o bebê enquanto secava suas lágrimas.

− Como podem machucar um ser tão indefeso como vocês! – acariciou o rostinho dele que apenas moveu os lábios como se ainda mamasse e suspirou dormindo nos braços dela. – Eu não consigo entender a maldade do mundo!

Maria estava tão ressentida pelo que ouviu da madre que a sua vontade era somente de chorar, mas seu orgulho lhe implorava para que não chorasse por uma mulher que a tinha jogado para morrer, ficou ali com seus pensamentos enquanto no quarto Heriberto dava água a Victória que estava sentada na cama, não mais chorava mais sentia um peso tão grande em seu coração.

− Meu amor, você não pode ficar assim cada vez que ouve uma historia parecida com a nossa! – foi racional.

− E se for... – o olhava nos olhos.

− E se não for? Prometemos que iríamos deixar nossa filha descansar em paz e...

− Você não esta entendo!!! – o cortou. – Eu nunca me senti tão segura nessa historia como agora! – respirou forte e tomou um gole de água já que sua garganta estava seca.

− E o que quer fazer? – sentou ao lado dela deixando que ela decidisse aquela historia porque não iria ter falsas esperanças ou recair em sua depressão.

− Não sei, mas se ela for a minha filha, eu vou descobrir! – disse com certeza.

− Pense bem no que vai fazer porque se der falsas esperanças a essa jovem e não for nada do que esta pensando, ela pode sofrer mais do que está sofrendo agora.

− Eu também sofro toda vez que ouço ou lembro o que aconteceu com a minha filha! – se alterou. – Eu não vou magoá-la! – caminhou para sair do quarto.

− Aonde vai? – também ficou de pé.

− Vou conversar com Maria e você volte a dormir! – foi forme.

− Acha mesmo que posso voltar a dormir depois do que ouvi? – passou as mãos no cabelo nervoso.

− Eu não vou fazer nada de errado, Heriberto! – o olhou. – Eu vou descobrir as coisas aos pouco e depois vamos fazer um exame que comprove se ela é ou não a nossa filha! – saiu do quarto e ele voltou a sentar na cama e logo se jogou deitando nela. Estavam voltando a estaca zero novamente.

Victória desceu as escadas e buscou por Maria que ainda estava sentada no mesmo lugar e ainda acariciava o rostinho de Heitor, ela parou e ficou ali observando os dois por alguns segundos e seu coração se encheu de esperanças como não se enchia desde que aquela historia foi descoberta. Maria se sentiu observada e levantou sua cabeça e a encarou, seus olhos voltaram a se encher de lágrimas quando observou o rosto dela inchado pelo choro.

− Me desculpe! – ela falou sentida.

Victória tratou de caminhar até ela rapidamente e tocou seu rosto.

− Não tem nada que se desculpar! – beijou seus cabelos. – Eu é que peço perdão pelo modo como reagi! – sentou na cadeira de frente para ela. – É que me recordou uma historia triste ao te ouvir...

− Da sua filha? – perguntou por ter ouvido algo a respeito com João.

− Sim, dela mesmo! – segurava sua mão. – Não se preocupe que eu já estou bem e você também precisa ficar.

− Eu não sei como administrar o que estou sentindo depois de saber como minha própria mãe me arremessou para a morte.

− Não foi ela... – falou num instinto em se defender. – Não fale assim porque você não sabe o que se passou!

− Eu sei o que ouvi e isso me basta! – ficou de pé e entregou o bebê a ela. – Eu vou deitar um pouco que não estou me sentindo bem!

Victória assentiu e também ficou de pé a olhando.

− Qualquer coisa que precisar é só me chamar!

Maria assentiu e saiu a deixando ali com suas expectativas, precisava resolver aqueles sentimentos sem que Maria sofresse e voltou ao quarto para pensar no que fazer, Heriberto estava deitado na cama e a olhou deixar o filho no berço e abriu os braços para que ela fosse a ele e ela foi, deitou e se aconchegou em seus braços e nada disse apenas ficaram ali meditando o que fazer...