Behind Blue Eyes

Minhas melhores amigas estão longe de serem pessoas. Elas me cercam, me acolhem, me ouvem e me punem. Elas vão me matar um dia.

– Lass Isolet.

Piscou para o céu nublado que se estendia pela imensidão além da janela de seu quarto. Estava sozinho ali, como sempre esteve desde seus nove anos, e já não achava mais tão estranho ficar só naquela casa grande e desprovida de qualquer inquilino que se importasse com sua presença, tinha dezessete anos afinal.

Fitou os pingos pesados escorrerem das nuvens e chocarem-se contra o vidro e as telhas formando sons que eram ignorados pelo adolescente de olhos azuis opacos que ouvia desatentamente qualquer melodia através dos fones conectados a seus ouvidos. Um suspiro atravessou seus lábios, estava cansado daquela monotonia estranhamente familiar, estava cansado daquela casa cheia de pessoas que deixaram de amá-lo e passaram a temê-lo, ou desprezá-lo, por algo que não teve culpa.

Ergueu-se de seu aconchego próximo a janela vítrea fechada e seguiu para a cama onde lençóis azuis embolavam-se com a colcha azul-marinho e com os travesseiros acinzentados, tudo combinando com as paredes cinza-gelo que o cercavam, estas que eram suas mais adoráveis companheiras e mais doces confidentes. Elas viram o que todos eram cegos, ouviam aquilo que mesmo seu irmão mais velho negou-se a; elas, inanimadas e mudas, eram suas amigas tanto quanto as pequenas e brilhantes lâminas que largava a esmo sobre a mesa de estudos, entre livros, remédios e papeis de doce.

Retirou o moletom negro, largando-o ao chão, logo em seguida fora a vez da camisa branca; por fim ficara apenas de calção. Ignorando o fato de a porta do seu quarto estar aberta, jogara-se sobre a cama, tornando a por os fones nos ouvidos, sabendo que não precisaria dar-se ao trabalho de selecionar alguma playlist – afinal ouvia sempre a mesma seleção de musicas.

Fechou os olhos buscando adormecer ao som de Limp Bizkit, o que era insanamente fácil para si, ainda mais com a melodia que tanto se assemelhava a seu estado desde seus plenos onze anos. Mas o que o albino sobre a cama não presenciou fora a movimentação frente a seu quarto onde um corpo alto e forte encerrara os passos e o fitara com face branca e olhos carmins afogados num arrependimento imperdoável.

Dá mesma forma como o albino não sabia o que fazer; o irmão do mesmo - Lupus Wild - também não sabia mais o que, nem como, fazer algo para se reaproximar do irmão; ele também não entendia o que estava acontecendo, o que muito ouviu dizer era que aquilo que o mais novo passava era uma "fase", mas depois de três anos o loiro percebeu que aquilo, aquela coisa, deixara de ser uma fase - ou talvez nunca tenha sido.

Se houvesse tentado, persistido e buscado ajuda, e não ter sido apenas mais um que observou a destruição do albino; talvez, apenas talvez, o garoto não houvesse se tornado tão isolado e inalcançável.