Behind Blue Eyes

Me leve de volta aos dias em que éramos felizes e não sabíamos.

— Lupus Wild.

São as nossas escolhas que definem quem somos.

— Ryan Woodguard.

Feche os olhos e finja que é só um sonho ruim.

— Lass Isolet.

Cruzou a calçada em passos apressados, chegou a cruzar olhares com o ruivo de olhos esverdeados, mas não parara nem quando este e sua acompanhante de cabelos arroxeados curtos o chamaram. Limitando-se a enfiar as mãos nos bolsos o loiro seguiu seu caminho.

Arrependia-se do que dissera? Não, nunca! Ela merecia, todos mereciam muito mais. Ele próprio, inclusive. E então parou ao meio fio de um cruzamento qualquer, sua casa ainda se encontrava há uns bons quarteirões de distância e não conseguia conter a coceira em seus pulsos doloridos coberto por ataduras. Agora compreendia, mesmo que um pouco, o irmão. As olheiras ainda um pouco rasas entregavam as noites insones pensando no estado mental de Lass e em desde o desenrolar de tudo desde que o albino despertara.

Era tão frustrante, tão decepcionante e isso o estava devorando de dentro para fora; mas ele se continha, pelo irmão silencioso trancado num quarto de hospital.

Engolindo em seco deixou seus dedos calejados fecharem-se sobre a pequena lamina que havia em seu bolso. Sabia que nada voltaria a ser como antes, mas não conseguia conter-se de desejar por, mesmo que mínimo, uma sombra de seus dias de paz, da infância que tanto adorara, da convivência pacifica e divertida ao lado do irmãozinho; seus pais sempre haviam sido ignorantes sobre ambos e Lass só tinha a Lupus – e vice-versa -, ambos haviam praticamente se criado ao lado dos amigos, fora tolo ao se afastar uma vez, mas não repetiria o erro. Lass precisava de si naquele momento, e ele fazia tudo pelo irmão.

Com sua idealização ainda mais fixa em sua mente o loiro seguiu seu caminho para a própria residência ignorando os gritos que vinham ao fundo, o acumulo de pessoas em uma residência em particular, mesmo a ambulância que passara apressadamente alguns metros a sua direita com as sirenes aos berros alertando da emergência.

Bufou, o canto direito dos lábios puxando-se brevemente num sorriso que rapidamente desaparecera.

Ninguém sairia impune, era tudo o que podia pensar naquele momento enquanto adentrava em casa. Passou pela cozinha, onde a mãe preparava qualquer gororoba no fogão; pela sala, onde o pai via a reprise ridícula de um jogo de futebol qualquer; logo seguiu para as escadas, subindo e alcançando o quarto do irmão rapidamente e fechando a porta passando a tranca com uma facilidade da qual já havia se habituado.

Largou os sapatos em qualquer lugar e puxou o celular e a pequena lamina do bolso, isso antes de jogar-se sobre a cama desarrumada. No visor do aparelho sete mensagens de texto piscavam, isso junto a outras três ligações de Dio. Passou o olhar pelas mensagens. Dio e Eacnard perguntando-lhe se vira Elesis; aparentemente a ruiva desaparecera a três dias sem deixar rastros, até a policia havia se envolvido no ocorrido, os pais da garota e do moreno estavam desesperados; mas o loiro não se importava com isso.

Largando o aparelho celular sobre o criado mudo ao lado esquerdo da cama o adolescente virou-se sobre o leito, a lamina ainda em sua mão, e assim fechou os olhos, caindo no sono rapidamente com a certeza única de que mais tarde visitaria seu irmão querido no hospital, quem sabe ouviria boas noticias antes de seguir para o lugar.

É... quem sabe.